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4 Resultados da Pesquisa

4.1 Discutindo os resultados

4.1.4 O uso das redes sociais

A partir das entrevistas informais, notou-se que na Escola Estadual Doutor Memória os alunos são muito influenciados pela mídia, sobretudo através do celular. Eles trocam entre si mensagens, imagens, vídeos, sobre assuntos de dentro e de fora do ambiente escolar e têm acesso a todos os tipos de aplicativos e redes sociais como Facebook e WhatsApp. Os alunos se utilizam muito destas redes sociais para exporem o corpo, apresentando suas vidas de forma aberta, sem se preocuparem com a repercussão. Há entre os alunos uma troca constante de vídeos postados no aplicativo WhatsApp, e que depois são compartilhados para outras pessoas em segundos.

Nas entrevistas formais questionamos sobre a influência que as redes sociais possam ter na construção da sexualidade e identidade dos alunos. Os entrevistados ressaltaram que acreditam nesta influência constante das redes sociais, em relação à sexualidade, positivamente, mas também negativamente, pois as redes podem produzir e reproduzir informações deturpadas. Além disso, o uso das redes sociais não acontece da melhor forma, da parte dos alunos jovens. Um exemplo disso foi um caso apresentado por Alves (2015), sobre uma aluna:

Na turma 801 teve uma aluna que tirou foto dos seios e passou para o namorado pelo WhatsApp. Ele foi passando de um para outro e ela ficou com apelido de peitinho. Eu pensei que ela fosse ficar com vergonha. Ela tem 12 anos, mas ela não ficou. Eu disse para ela, que agora ela faz isto, mas depois ela vai crescer e querer casar e ter uma família e esta situação poderá retomar. Algo que está na Internet é para a vida inteira. Aí você vai querer dar moral a seu filho e ele não vai respeitar. Vai dizer que você com 12 anos ficou pelada, tirou foto e passou para o namorado. Se eles usassem as redes

sociais para se informarem, mas não, eles só querem espalhar o que eles vivem.

Em abril de 2014 a aluna Eller43, de 14 anos de idade, foi encaminhada para a secretaria da escola aos prantos junto com uma colega. A aluna estava revoltada com algumas acusações que foram feitas na noite anterior através do aplicativo WhatsApp. Entre as brincadeiras e acusações, alguns meninos – alunos da escola – disseram que ela “mama” (faz sexo oral) com vários meninos. Apesar de o assunto ter iniciado em um grupo do WhatsApp, as mesmas brincadeiras e “zoações” chegaram através de alguns meninos que participam do grupo na sala de aula neste mesmo dia. A aluna sentiu-se envergonhada, se retirou da sala de aula e foi procurar ajuda na secretaria. A secretária Tamy44 tentou acalmá-la e pediu para ela não levar em consideração tais comentários, já que não tinha feito nada daquilo que estavam dizendo. Logo em seguida, chamou os alunos responsáveis pelos comentários e brincadeiras para conversar e suspendê-los das aulas.

Através das observações foi possível notar que questões relacionadas ao bullyng e ao

ciberbullyng acontecem com frequência, sobretudo em relação à sexualidade. Os grupos de WhatsApp são criados inicialmente para conversas, porém, por alguns conflitos que surgem

nas relações entre os amigos dos grupos de conversas, a intimidade, que por algum momento foi compartilhada, torna-se motivo de “zoação” e agressão.

Santos (2014) relatou que, certa vez ao passar pelo pátio, viu duas alunas rindo e olhando para o celular. Ela perguntou do que as meninas estavam rindo. Elas mostraram através do aplicativo WhatsApp um vídeo com cenas de uma relação sexual entre uma menina e dois meninos - alunos de outra estadual. A professora contou que na hora não teve reação para discursar, mas demonstrou certo apavoramento. As alunas que estavam assistindo aos vídeos disseram a ela que é comum receber vídeos deste padrão. De acordo com Santos, há muitas coisas que acontecem na escola em relação à mídia e à sexualidade. Ela também acredita que as redes sociais que mais influenciam são o Facebook e o WhatsApp.

A exemplo disto, alguns perfis públicos dos alunos da escola apresentaram comentários e publicações sobre sexualidade semelhantes aos que ocorrem no âmbito escolar. Abaixo, nas figuras 15, 16, 17, 18 e 19, as escritas destacadas esclarecem esta ideia.

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Nome fictício. 44

Figura 15: Perfil da Lissandra45.

Figura 16: Perfil do Vitor46.

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Nome fictício. 46

Figura 17: Perfil do Vitor.

Figura 18: Perfil do Vitor.

Diante dos relatos, das situações apresentadas e dos perfis do Facebook, percebe-se o quanto as redes sociais têm sido uma ferramenta em que os alunos compartilham e conversam sobre assuntos de sexualidade constantemente, e que isso se reflete no espaço da escola.

Nas entrevistas formais, os entrevistados disseram que também é comum a exposição no Facebook de fotos com armas. Alguns fazem o gesto da arma, com uma postura de bandido. Eles aparentam falar do que gostam sem se importar com a opinião dos outros. Curiosamente, no perfil público de uma aluna de apenas 12 anos de idade da Escola Estadual Doutor Memória, encontrei esta imagem (Figura 20) compartilhada como foto de capa. A imagem está relacionada não apenas à sexualidade, como também ao crime. Quando pesquisada pelo site Google47 a imagem aparece em vários compartilhamentos em sites internacionais e também em outros perfis de jovens no Facebook.

Figura 20: Perfil da Juliana.

É possível observar com frequência na escola, alunos e alunas fazendo selfies para serem postados no Facebook. Durante o intervalo entre uma aula e outra foi solicitada a minha presença em uma turma do 6º ano para ficar com os alunos até que o professor da disciplina entrasse em sala de aula. Neste pouco tempo percebi o quanto, a todo instante, as alunas faziam selfies mesmo que sentadas nas cadeiras e em silêncio. Ouvi a aluna Maiara

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afirmando que iria postar como foto de perfil no Facebook. Como mostra a Figura 21, pude encontrar no perfil público da aluna Dayene48 um exemplo de atitude semelhante.

Figura 21: Perfil da Dayene.

Na Figura 21, vemos um selfie feito em um dos banheiros femininos da escola e as alunas provavelmente estavam em período de aula, como é possível perceber no comentário que uma delas postou ao mencionar sobre a parte da manhã - período em que estudam na escola.