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desenvolvimento da crença de autoeficácia, estabelecendo um meio favorável ou desfavorável para o empoderamento individual e social. Este fator, associado ao fator pessoal e comportamental, resulta da composição de um modelo triádico de funcionamento.

O modelo triádico (Figura 2), proposto por Pajares e Olaz (2009) estabelece uma inter-relação de três componentes de causação recíproca. Tais elementos promoverão de forma sinérgica o pensamento e ação humana: (1) comportamento humano, (2) fatores pessoais, (3) fatores ambientais.

Este modelo demonstra a reciprocidade das influências na crença de autoeficácia do indivíduo. Na perspectiva de Bandura, as pessoas são protagonistas de suas ações e pensamentos, determinando seus anseios, antecipando resultados e construindo estratégias para atingir seus objetivos, bem como concebendo métricas para aferir seu rendimento durante a realização das etapas rumo ao sucesso. Essas etapas fazem parte da autodeterminação e autorregulação, desempenhando papel importante nos dois primeiros

13 Currículo formal: o currículo oficial, estabelecido pelos sistemas de ensino e expresso nas diretrizes

curriculares. (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2007)

14 Currículo real: é o que ocorre efetivamente na sala de aula, em decorrência do projeto pedagógico e do plano

de ensino. (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2007)

15 O currículo oculto é representado pelos rituais e práticas, relações hierárquicas e de poder, regras e

procedimentos; características físicas do ambiente escolar; característica da natureza do agrupamento humano presente na escola; e, finalmente, mensagens implícitas no discurso do professor. (MOREIRA, 1992, p. 24)

Fonte: PAJARES; OLAZ, 2009, p. 98

Figura 2 – Modelo ilustrando as relações entre determinantes na causação recíproca triádica

Comportamento Humano

componentes do modelo triádico. Cavalcanti (2009) explica o funcionamento da interação recíproca e bidirecional:

a perspectiva sociocognitiva apresenta uma interação recíproca entre sujeito (fatores pessoais – cognições e afetos), circunstâncias ou variáveis do meio e ações ou comportamento. As pessoas interferem na percepção do ambiente, criam autoestímulos e incentivos, avaliam o desenrolar dos acontecimentos e exercem influência sobre o próprio comportamento. Sendo assim, o comportamento, os fatores pessoais e o ambiente operam, todos interagindo e influenciando um ao outro bidirecionalmente. (CAVALCANTI, 2009, p. 94)

Outro aspecto importante na relação entre o ambiente e a crença de autoeficácia consiste no aspecto modulador e reforçador dos aspectos ambientais selecionados pelo indivíduo, proporcionados pela sua autoconfiança alta ou baixa. Dependendo de seu sentido de autoeficácia alta ou baixa, características de oportunidades ou riscos poderão ser percebidas, tendo em vista o fator inevitável da influência do ambiente físico e socioestrutural.

No entanto, apesar da falta de controle sobre tais fatores, as pessoas ainda são capazes de interpretá-los e reagirem sobre eles. Para a maioria delas, o ambiente é apenas uma potencialidade, com possibilidades e impedimentos, além de aspectos reforçadores e punitivos. Assim, o ambiente não existe até ser selecionado e ativado pela inferência do sujeito. Portanto, a parte do ambiente potencial que se tornará o ambiente que o indivíduo experimenta verdadeiramente depende daquilo que as pessoas fazem e selecionam dele. A partir de um mesmo ambiente potencial, indivíduos com um sentido elevado de eficácia concentram-se nas oportunidades que ele proporciona, enquanto que aqueles cuja autoeficácia é baixa enfatizam problemas e riscos. (BANDURA, 2009, p. 24)

Com relação ao modelo triádico, um importante constituinte do componente de fatores ambientais seria o fator social no qual está inserido o indivíduo, influenciando ativamente seu funcionamento autorregulatório. Desse modo, Azzi (2015), menciona que "como aponta Bandura (1991), na visão interacionista da teoria social cognitiva, os fatores sociais afetam o funcionamento do sistema autorregulatório". (AZZI, 2015, p. 11)

A autora vai mais além quando, ao revisar diversos estudos sobre autorregulação sob a perspectiva da TSC, menciona estudos sobre autorregulação e competência acadêmica, demonstrando que esta última ocorre primeiramente sob a égide social para depois ocorrer na esfera individual. Em outras palavras, a autora sugere que "a competência acadêmica se desenvolve por meio de fontes sociais e posteriormente se instaura como processos autorreferenciais". (AZZI, 2015, p. 12)

Vygotsky (1989) e Baquero (1988) já alertavam para o papel fundamental do convívio social na formação cognitiva e psicológica dos indivíduos, sendo a cultura elemento fundamental para a atribuição de significado e poder operatório dos signos. Dessa forma ocorre a influência direta sobre os processos psicológicos superiores do indivíduo – tais como a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho, atenção voluntária, elaboração de conceitos – conforme explica Nassif (2008) quando diz que

segundo Vigotski [sic] (1998a), o cérebro humano é um sistema extremamente plástico, sendo que as principais estruturas cerebrais (aquelas responsáveis pelas funções psicológicas superiores) vão ser formadas a partir da imersão do indivíduo numa determinada cultura. Desse modo, dependendo do tipo de cultura no qual se desenvolve, o indivíduo vai formar determinadas estruturas e não outras, ou seja, vai desenvolver algumas capacidades específicas. Assim sendo, não há como explicar as especificidades de cada tipo de comportamento (ou facilidades) apenas a partir do tipo biológico. Infere-se daí que não existe um desenvolvimento psicológico universal, pois este está sempre condicionado ao contexto social e cultural. (NASSIF, 2008, p. 439)

Ainda de acordo com Nassif, o aprendizado humano social se dá por meio de significações que nos são dadas pelos outros, por meio de mediadores simbólicos:

Essa incorporação da cultura à mente, que vai dar origem a diferentes estruturas mentais e diferentes modos de ação no mundo, não se realiza, de acordo com Vigotski [sic] (1998a), diretamente, mas por mediações. Não incorporamos o mundo tal qual ele se apresenta para nós, mas as significações de mundo que nos são dadas pelos outros. Para isso precisamos de mediadores simbólicos – a linguagem, a religião, a arte etc. Decorre daí a importância dada à aprendizagem como o principal modo de transmissão de significados e, consequentemente, de apropriação da cultura. (NASSIF, 2008, p. 440)

É possível estabelecer um paralelo entre esses mediadores simbólicos postulados por Nassif (linguagem, religião, arte), bem como outros aspectos de relacionamento interpessoal mencionados por Baquero e Vygotsky e os conceitos trazidos pela TSC de Bandura, tais como a modelação16 e a experiência vicária17. Ambos preconizam parte do aprendizado do sujeito a partir da interação com outros, estabelecendo uma rede de influências socioestruturais e ambientais. Sobre a relevância do fator social para o ser humano, Bandura explica que

16 Modelação: procedimento de tomar o outro como exemplo para espelhar-se nas características ideais para uma

performance de excelência.

17 Experiência vicária: prática de tomar o processo de aprendizado – tanto falhas quanto êxitos – do outro para

o funcionamento humano está enraizado em sistemas sociais. Portanto, a agência pessoal opera dentro de uma ampla rede de influências socioestruturais. Nessas transações agênticas, as pessoas criam sistemas sociais para organizar, guiar e regular as atividades humanas. As práticas dos sistemas sociais, por sua vez, impõem limitações e proporcionam recursos e estruturas de oportunidade para o desenvolvimento e o funcionamento pessoais. Como decorrência dessa bidirecionalidade dinâmica de influências, a teoria social cognitiva rejeita o dualismo entre a agência pessoal e uma estrutura social desconectada da atividade humana. (BANDURA, 2009, p. 16)

Comparados os enunciados acima, fica evidente uma proximidade conceitual de alguns aspectos da teoria sócio interacionista de Vygotsky e da Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura, principalmente na relevância social para o desenvolvimento de processos cognitivos e psicológicos que promovam ações direcionadas a um determinado objetivo.