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1.8 O cinema como ferramenta de ensino na perspectiva da Teoria da Atividade

1.8.11 O filme como facilitador do desenvolvimento de habilidades linguístico-culturais

após assistir a um filme ou parte dele, é comum as pessoas tecerem comentários a respeito do que gostaram ou não, lerem e compartilharem críticas nas redes sociais, descreverem/recontarem parte da cena vista, entre outras ações, orais ou escritas. Todas essas ações, se desenvolvidas na língua-alvo, reforçam o uso comunicativo da LE e, portanto, o desenvolvimento de habilidades linguísticas.

Stephens (2001) sugere que o filme seja exibido em fragmentos. Entendemos que esse modo de trabalhar o filme pode conquistar o aprendente, no sentido de que instiga sua curiosidade em assistir à cena seguinte, além de favorecer discussões e comentários mais pormenorizados do que seriam aqueles posteriores à exibição de uma obra completa. Porém, há professores que preferem exibir o filme na íntegra e só depois iniciar as atividades fundamentadas nele. A exploração didática de um determinado filme depende da abordagem do professor e dos interesses dos alunos. O importante é tornar a atividade significativa para alunos e professores, no contexto em que será aplicada.

Para Stephens (2001), o estímulo para que os alunos usem a língua-alvo é ainda mais eficaz se trabalharmos com partes pré-selecionadas do filme, que abordem conteúdos específicos. Nesse sentido, a autora justifica:

O desenvolvimento da proficiência linguística deve ser parceiro indispensável do conteúdo trabalhado em sala de aula. Os filmes podem ser parados para repetição de segmentos que exemplificam expressões idiomáticas ou estruturas gramaticais, como o subjuntivo. O filme também pode ser pausado periodicamente de forma que os estudantes possam resumir oralmente ou escrever o conteúdo de um segmento em particular. Estas atividades encorajam o uso da língua em um contexto e também aprofundam a compreensão cultural42 (STEPHENS, 2001, p. 03).

A autora propõe o uso do cinema como parceiro do conteúdo trabalhado em sala de aula e salienta, ainda, o fato de que o filme facilita também a compreensão cultural.

Sobre esse aspecto falaremos no item seguinte.

1.8.11 O filme como facilitador do desenvolvimento de habilidades linguístico-culturais

42

Minha tradução para: The development of linguistic proficiency must be an indispensable partner to the content component of the class. Films can be stopped to replay segments that exemplify idioms or a grammatical structure such as the subjunctive. Also, the film can be stopped periodically so that students can summarize orally or in writing the content of a particular segment. These activities encourage the use of language in context and also deepen cultural understanding. (STEPHENS, 2001, p. 03)

As vantagens do cinema para o ensino de aspectos linguísticos e culturais já foram comprovadas por diversos pesquisadores (TORRECILLAS e SÁNCHES (1993); STEPHENS (2001) CRUZ, SOUZA e LIMA, 2006; GARCIA-STEFANI, 2010; QUIROGA (2014), SOUZA (2014).

A aprendizagem da língua por meio do cinema facilita a compreensão linguístico- cultural, uma vez que torna possível a observação do uso da linguagem em contextos verossímeis de ocorrência – e essa observação é ainda mais nítida quando pausamos as cenas e recortamos algumas dessas mostras de linguagem -, e também a observação de aspectos culturais inerentes à língua, tais como gestos, posturas, movimentos, atitudes. Ao vermos no filme uma cena de despedida, por exemplo, é possível analisar como as pessoas, naquele determinado contexto, agem nesse tipo de situação: se há abraços, beijos, toques de mão etc. A partir da análise desse contexto determinado – o que não significa que se reproduz em todos os outros contextos de despedida – despertamos o olhar do aprendente para a observação de aspectos culturais.

Como descreve Quiroga (2014) em seus estudos sobre como o cinema influencia a consciência intercultural de aprendizes de espanhol língua estrangeira, o cinema pode ser um rico recurso que auxilia no desenvolvimento da percepção intercultural, principalmente, quando utilizado sob uma perspectiva descritivo-reflexiva – apresentando-se de antemão informações sobre o filme, bem como a(s) atividade(s) que se deseja(m) comentar posteriormente (QUIROGA, 2014, p. 225). Para a autora:

Constata-se que quando se realizam atividades que orientam os alunos a verificarem determinado aspecto, em procedimento prévio à apresentação do filme (ou trecho dele), o professor pode fazer com que os aprendizes percebam características que, sem um comentário anterior, não seriam observadas. Essas particularidades, quando notadas, geram comparações com o país dos estudantes, o que pode produzir debates significativos (QUIROGA, 2014, p. 225).

A pesquisadora Julie Stephens, professora de espanhol do Central Missouri State University também desenvolveu pesquisas sobre o ensino de cultura por meio de filmes de língua espanhola. Seus estudos revelam que o filme, por envolver trama, imagens, ideias, ideologias, memória nacional e identidade, oferece acesso profundo às atitudes culturais que formam a civilização (STEPHENS, 2001, p. 02).

Resultados das pesquisas de Cruz, Souza e Lima (2006) sobre o impacto que a diferença cultural exerce no processo comunicativo de ensino de espanhol LE mediado pelo filme, revelam que o cinema atua como um ótimo insumo, proporcionando aos participantes uma forma pluricultural de perceber o mundo e a si mesmos (CRUZ, SOUZA e LIMA, 2006, p. 01). Esses resultados vão ao encontro das atuais exigências da sociedade pós-moderna, em que a escola deve ser o lugar onde se tem acesso à pluriculturalidade43 para que o ensino de LE seja significativo.

A proposta do filme como recurso didático para o ensino da cultura pode ser observada também nos estudos de Cruz (2004). O autor menciona o cinema como forma de conhecer a cultura e a ideologia do outro, indicando-o como recurso didático apropriado para o ensino de línguas estrangeiras.

Nessa perspectiva, os estudos de Souza (2014) sobre as contribuições do cinema na formação inicial de professores de espanhol/LE, revelam que o filme é capaz de promover o trabalho com a variação linguística e cultural do idioma. O mesmo autor constatou em sua pesquisa que o cinema pode, ainda, despertar a conscientização de como se adquire/aprende a língua – algo que o permite ser caracterizado como ferramenta de mediação simbólica potencializadora do desenvolvimento humano (SOUZA, 2014, p. 31).

Esse resultado reafirma nossa hipótese de que o cinema é também propulsor do desenvolvimento da autonomia na aquisição de língua estrangeira. Explicitaremos esse argumento no item que segue.

1.8.12 O filme como propulsor do desenvolvimento da autonomia na aquisição de LE