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CAPÍTULO 4 A POLÍTICA DE FOMENTO À LEITURA DO MUNICÍPIO DE CAXIAS DO SUL

4.1 O fomento à leitura no estado do Rio Grande do Sul

Caxias do Sul está inserida num contexto estadual onde há mais de meio século existe um ambiente de estímulo à leitura que se destaca em relação ao restante do país. Na terra de Érico Veríssimo, Mario Quintana, Moacir Scliar entre tantos outros grandes escritores, iniciativas pioneiras e, hoje, também de abrangência nacional, de origem pública e privada, têm contribuído para a valorização social da leitura na região.

O Rio Grande do Sul é, provavelmente, o único estado a ter criado um Instituto do Livro. Fundado em janeiro de 1954, o Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul (IEL) é um dos mais antigos institutos de artes do estado e está ligado à Secretaria de Estado da Cultura. Visa preservar a memória literária e promover a leitura e a literatura regional por meio de atividades como “edições de textos originais de autores estreantes ou obras clássicas, promoção de encontros de escritores com a comunidade, organização de seminários, viabilização de uma política do livro e da leitura, cooperando com entidades públicas e casas editoriais locais” (RIO GRANDE DO SUL, Instituto Estadual do Livro, 2010).

O IEL funciona como uma editora de títulos regionais, que distribui a escolas do Sistema Estadual de Ensino, ao Sistema Estadual de Bibliotecas, a fundações culturais, bibliotecas escolares e municipais dentro do estado. O Instituto também desenvolve o programa Autor Presente, criado em 1972 e que continua em funcionamento até hoje. O programa promove encontros entre autores gaúchos e estudantes, com o objetivo de formar novos leitores e de divulgar a literatura sul-rio-grandense. As escolas, públicas e particulares, comprometem-se a trabalhar obras do autor previamente, tornando o encontro entre escritores e alunos bastante dinâmico (RIO GRANDE DO SUL, Instituto Estadual do Livro, 2010).

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Segundo o escritor e professor da PUC-RS Antonio Hohlfeldt, programas como Autor Presente do IEL e similares promovidos por outras instituições gaúchas, como a Câmara Rio- Grandense do Livro, que levaram escritores a milhares de escolas, explicam, em parte, “o consumo superior de livros naquele estado e o conhecimento acima da média que o público sul-rio-grandense tem de seus próprios escritores” (2007, p. 44).

No ano seguinte à criação do IEL, em 1955, foi realizada a primeira edição da Feira do Livro de Porto Alegre, uma das primeiras do país. Foi um esforço de um grupo de editores e livreiros de introduzir no Brasil uma tradição europeia, encontrada principalmente na França, Alemanha e Itália (ENTREVISTA..., 2006). A pesquisa MUNIC do IBGE (2006) revela que o Rio Grande do Sul é o estado que possui o maior número de municípios que promovem feiras de livros.

Outro movimento de referência originado no Rio Grande do Sul é a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, promovida bienalmente desde 1981 pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Idealizada e produzida pela professora de Teoria Literária da UPF Tânia Rösing, a Jornada visa a “a formação de um leitor que priorize o texto literário, mas que também possa se constituir em um intérprete das linguagens veiculadas em diferentes suportes e das características peculiares das várias manifestações culturais” (JORNADA NACIONAL DE LITERATURA, 2010). A programação do evento, que conta a cada edição com mais de 30 mil participantes, compreende cinco dias de palestras e debates com escritores, mas também oferece atrações culturais como exposições, espetáculos de música e teatro. Os debates abordam não apenas questões literárias, mas também a teoria e as práticas de leitura e formação do leitor. Sua proposta, como a do Autor Presente do IEL, é que o público entre em contato com as obras dos autores antes da realização do evento, a chamada Pré-Jornada (JORNADA NACIONAL DE LITERATURA, 2010). Tânia Rösing faz parte do Conselho Diretivo do PNLL e também se destaca como uma das principais pesquisadoras da atualidade na área da leitura no Brasil, com uma expressiva produção bibliográfica, assim como a professora Regina Zilberman da PUC-RS, que foi diretora do IEL entre 1987 e 1991.

O Rio Grande do Sul foi o primeiro estado a aprovar uma Lei do Livro, a Lei 11.670 de setembro de 2001, assinada no governo de Olívio Dutra do PT. A elaboração da lei, de autoria do Deputado Estadual Giovani Cherini do PDT, sofreu fortes influências da Câmara Rio-Grandense do Livro e do Clube dos Editores, que debateram o assunto entre seus associados (JÚNIOR, 2003).

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Atualmente, existem sete estados que instituíram uma lei tratando das questões do livro e da leitura, sendo que a lei gaúcha serviu de referência para a elaboração de diversas leis. Além do Rio Grande do Sul, os demais estados são: Rio de Janeiro - Lei 4.077/2003; Ceará – Lei 13.549/2004; Pernambuco – Lei 12.829/2005; Santa Catarina – Lei 13.848/2006; Rio Grande do Norte – Lei 9.105/2008; Sergipe – Lei 6.580/2009; sendo que apenas as leis do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro precedem a lei federal 10.573 de outubro de 2003. Em nível municipal, foram encontrados nessa pesquisa quatro municípios com lei do livro instituída, um paulista e três sul-rio-grandenses: Ribeirão Preto (SP) - Lei 9.353/2001, editada um mês após a lei do Rio Grande do Sul; Novo Hamburgo (RS) – Lei 1.162/2004; São Leopoldo (RS) – Lei 6.195/2007; e Taquara (RS) – Lei 3.914/2007. Muitas dessas leis, estaduais e municipais, são claramente baseadas na lei gaúcha, o que se nota pela redação extremamente semelhante. O município de Caxias do Sul, apesar de o governo municipal promover diversas iniciativas de incentivo à leitura, não possui uma lei semelhante.

A Lei do Livro do Rio Grande do Sul estabelece que seja elaborado o Plano Anual de Difusão do Livro (RIO GRANDE DO SUL, 2001), que será formulado com a participação da sociedade com o objetivo de “criar programas de leitura nos municípios e aumentar a participação do Estado em feiras nacionais e internacionais” (CORREIO DO POVO, 2001). No entanto, a lei ainda não foi implementada em nenhum de seus aspectos. É preciso que Assembleia Legislativa aprove o Plano Anual de Difusão do Livro, que determina as ações a serem priorizadas pelo governo e estabelece um orçamento para sua execução:

Criada em 2007, a comissão encarregada de elaborar o Plano Anual de Difusão do Livro, já enviado para a Assembleia Legislativa, ainda não teve seu orçamento aprovado. Este ano, os representantes da Câmara, das secretarias de Cultura e Educação do Estado, das bibliotecas públicas, do Instituto Estadual do Livro e do Clube dos Editores já encaminharam ao Legislativo as prioridades para 2011 (POR UM estado de leitores, 2010).