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O futuro dos negócios para a terceira idade

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CAPÍTULO II – Os idosos no Brasil

5. O futuro dos negócios para a terceira idade

O crescimento demográfico brasileiro, do qual resulta uma crescente participação da população idosa, se caracterizou por elevadas taxas de crescimento nos anos 50 e 60. A partir daí, essas taxas têm se reduzido continuamente e estima-se que o envelhecimento da população brasileira se acentuará nas próximas décadas.

A transição demográfica deixará uma série de implicações para o futuro dos negócios e, provavelmente, o mais importante seja o envelhecimento da população. Em 2025, o número de idosos será de quase 34 milhões. Mais à frente ainda, em 2050, serão 64 milhões de brasileiros na terceira idade. São pessoas com tempo e renda para gastar, por isso a demanda por serviços nas áreas de lazer e turismo para a terceira idade será enorme.16

Com efeito, isso não tem passado despercebido às empresas, que começam a desenvolver produtos para esse público. A Natura já completou testes em seus laboratórios em produtos voltados para mulheres de 80 anos. A experiência é resultado das incursões da empresa no mercado internacional. Ao observar os hábitos de consumidores nos países da Europa e no Japão, a empresa percebeu a importância desse mercado.

15 Em função do fator previdenciário, que diminui o valor do beneficio quando não se tem 65 anos com 35 anos

de contribuição. O assunto é parte do artigo de José Fucs, O gargalo da aposentadoria, da revista Época, em 25 de maio de 2009.

16 Conforme Ana Maria Camargo, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, em

A LG está trazendo para o Brasil os produtos focados na terceira idade que desenvolve na Coreia. Um exemplo disso são celulares com teclas maiores já oferecidos no mercado nacional. Outra novidade da empresa são aparelhos que, além de ser telefones, são capazes de aferir a pressão arterial ou medir o nível de glicose do usuário.

5.1 O envelhecimento e o mercado de consumo

Podemos verificar duas formas de compreensão da velhice no contexto brasileiro: numa delas, a velhice é entendida como um momento de perdas, decrepitude, inutilidade. Beauvoir (1990), discorrendo a respeito das sociedades e as imagens construídas pelas mídias em relação aos idosos, relata que, nas sociedades ocidentais a velhice foi (e continua sendo) ligada a uma imagem estereotipada. Em nossa sociedade, a velhice também tende a ser vista como um período dramático, associado à pobreza e invalidez.

Na segunda forma de compreensão da velhice, a visão contemporânea traz o entendimento da velhice como sendo uma fase de realizações, negando os estereótipos já relacionados. Esta nova visão do envelhecimento vem associada ao lazer, como aborda Debert (1999), os signos do envelhecimento são invertidos e assumem novas designações: “nova juventude”, a “idade do lazer”. A aposentadoria deixa de ser um momento de descanso e recolhimento para tornar-se um período de atividades de lazer. Neste contexto, o lazer aparece como possibilidade de evitar o envelhecimento, dentro de uma visão funcionalista, mas também compensatória, vem sob as vestes da saúde, trazendo a ideia da necessidade de manter uma vida ativa, adotar novas formas de comportamento levantando a bandeira da eterna juventude.

Consumir é um ato de bem-estar. Se antes a aquisição de produtos era basicamente para atender às necessidades, hoje o consumo passou a representar também poder, status. O consumidor da terceira idade é alvo de sofisticadas pesquisas de mercado para descobrir hábitos, comportamentos, desejos e preferências.

A força da terceira idade como consumidora já é bem real para empresas como a CVC, maior operadora de turismo do Brasil e que utiliza pesquisas para esse segmento. Nos cruzeiros marítimos, com roteiros que passam de 18 dias, a faixa etária média é acima dos 60 anos. A expectativa é que a CVC transporte pelo menos 1,4 milhão de passageiros com mais de 50 anos em 2011. A base desse prognóstico é que os idosos do futuro, além de mais numerosos devido ao aumento da expectativa de vida, tenham mais dinheiro, amparados pela

procura de uma previdência privada, que proporcionará uma aposentadoria com renda média bem maior.

As agências de viagens tentam abocanhar esse público oferecendo pacotes de viagem nos quais os aposentados podem fazer financiamentos por meio do crédito consignado. Esse tipo de produto, lançado inicialmente pelo Ministério do Turismo por meio de convênio com algumas operadoras, agora é oferecido diretamente pelas empresas. A demanda é tão elevada que faltam lugares nos pacotes.17

5.2 Aumento de renda dos idosos

De olho num público responsável por quase 15% do mercado de consumo no país, as empresas brasileiras estão se especializando em serviços para idosos. As ofertas são as mais variadas, desde pacotes de viagem com desconto em folha do INSS, passando por serviços de intercâmbio e exercícios, até aparelhos acionados de casa para receber atendimento médico emergencial. Tudo para atrair uma população de brasileiros, que deve chegar a mais de 34 milhões em 2025. Isso sem falar no aumento do poder de compra desse grupo. Com o ganho real do salário mínimo, as pessoas acima de 60 anos tiveram elevação da renda familiar nos últimos 18 anos.

Os idosos brasileiros são responsáveis por mais de 14 % do mercado de consumo no país, o que significa algo em torno de R$ 13 bilhões.18 Esse percentual vem subindo ano a ano. O poder de mercado dos idosos brasileiros cresce tanto pelo efeito da renda quanto pelo crescimento demográfico. As famílias com idosos ficaram mais longe da pobreza.

O reajuste do salário mínimo acima da inflação oficial tem sido um fator muito importante para aumentar a renda dessa população, pois 76% dos idosos no Brasil recebem algum beneficio vinculado a ele. Isso dá maior poder de compra a essa população, que hoje é muito mais ativa.19

17 Conforme a reportagem especial “Longevidade e juventude. Idosos jovens, a hora é agora!”, publicada na

revista Veja, edição 2094, de 17 de janeiro de 2009.

18 Segundo o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Néri, em

entrevista para o artigo de Martha Beck “Aumento de renda dos idosos atrai empresas” publicado no jornal O Globo.

As viagens para diversos países por meio de programas de intercâmbio, do qual participam principalmente idosos, é uma atividade bastante procurada, além de ginástica especializada para essa faixa etária. O idoso era relegado e não tinha opção de lazer.

Conforme o presidente do programa de intercâmbio Friendship Force no Brasil, Antônio Carlos Azevedo, 90% dos participantes contam mais de 60 anos: “os aposentados têm mais tempo para viajar e, por isso, viraram alvos”.

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