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2.2. A Palavra Prosódica e o Grupo Clítico

2.2.2. O Grupo Clítico

O constituinte denominado como Grupo clítico foi proposto inicialmente por Hayes (1984), mas publicado em (1989), e além de Hayes, Nespor & Vogel (1986) também argumentam em favor da sua existência. Segundo tais autores, esse constituinte fica entre o Sintagma Fonológico e a Palavra Prosódica, e é constituído por um clítico (formas átonas) e uma palavra de conteúdo (forma que carrega um acento primário). Como os outros domínios da hierarquia, o Grupo Clítico é domínio para a ocorrência de regras fonológicas, segundo Nespor & Vogel (1986), como por exemplo, a atribuição de acento no Latim. Então, quando uma palavra como ‘vírum’ seguida por um enclítico como ‘que’, formando ‘virúmque’, tem seu acento mudado de lugar22.

Há dois tipos de clíticos, de acordo com as autoras: aqueles que são dependentes da Palavra Prosódica, formando junto com ela uma unidade fonológica, como os afixos; e aqueles que revelam certa independência, além de sofrer as mesmas regras fonológicas, como as palavras funcionais, as quais não portam acento primário.

Nespor & Vogel (1986) argumentam que não é possível classificar os clíticos como parte de uma Palavra Prosódica ou do Sintagma Fonológico devido ao seu caráter híbrido, e comprovam isso com a análise de várias línguas.

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Diante das considerações feitas por Bisol, reforça-se a necessidade de um estudo sistemático da palavra prosódica (ou fonológica, como é tratada por Bisol) no PB, assim como já feito para o Português Europeu, por Vigário (2003). Este trabalho contribuirá ao estudo da palavra prosódica na medida em que define o estatuto prosódico das palavras funcionais.

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Zwicky (apud Nespor & Vogel, 1986) menciona que os clíticos pronominais não afetam de qualquer forma a localização do acento no Espanhol, e isso é evidência do seu estatuto independente à palavra hospedeira. Assim o verbo ‘dándo’ mantém a posição de seu acento principal, mesmo quando seguido por dois clíticos, como em ‘dándonoslos’ [[‘dando]ω[nos]C [los]C]GC.

O Grupo Clítico seria o nível da hierarquia que mapeia os componentes sintáticos e fonológicos, conforme o algoritmo proposto em (11).

(11) Formação do Grupo Clítico23:

I. Domínio de C: O domínio de C consiste de uma Palavra Prosódica que seja independente (não-clítico) mais todas as Palavras Prosódicas adjacentes, que sejam

a. um Clítico derivacional (que determina o lado em que se une ao hospedeiro, direito ou esquerdo), ou

b. um clítico (que pode encontrar seu hospedeiro tanto do lado direito, quanto do lado esquerdo), tal que não haja hospedeiro possível com o qual compartilhe mais categorias comuns.

II. Construção de C: Reunir em uma ramificação n-ária C todas as PWs incluídas em uma seqüência delimitada pela definição do domínio de C.

Embora alguns autores afirmem a existência desse constituinte nas línguas, Selkirk (1984, 1986), Selkirk & Shen (1990), Peperkamp (1997), Vigário (2003, 2007), entre outros vão contra essa posição, pois afirmam que os clíticos algumas vezes se comportam como afixos e se juntam à palavra vizinha, e ambos são prosodizados como um único constituinte, a Palavra Prosódica. Em outras se comportam como palavra independente, pertencendo ao Sintagma Fonológico.

O ponto mais discutido com relação à definição de Grupo Clítico conforme proposto por Nespor & Vogel (1986) é o fato dos clíticos formarem Palavras Prosódicas independentes, visto que a principal característica do clítico é ser acentualmente inerte, propriedade básica de uma Palavra Prosódica. Vigário (2007) afirma que essa assunção é contra-intuitiva e teoricamente problemática.

Inkelas (1990), utilizando o Princípio da Economia, sugere que o Grupo Clítico pode ser reinterpretado em Palavra Prosódica lexical e regras lexicais versus Palavra Prosódica pós-lexical (que podem incluir clíticos) e regras pós-lexicais.

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Trecho original de (Nespor & Vogel, 1986, p. 154): Clitic group formation. I. C domain. The domain of

C consists of a PW containing na independent (i.e. nonclitic) word plus any adjacent PWs containing a. a DCL, or b. a CL such that is no possible host with which it shares more category memberships. II. C construction. Join into n-ary branching C all PWs included in a string delimited by the definition of the domain of C.

Há ainda outras propostas de substituição ou eliminação desse domínio prosódico, mas o fato de que, em várias línguas os clíticos se ligam a níveis superiores na hierarquia prosódica, também é indicativo de que não existe um constituinte responsável pela organização dos clíticos, visto que os clíticos não podem variar, de língua para língua, o domínio ao qual se unem.

Vigário (2007) ressalta que a eliminação do Grupo Clítico cria novos problemas, como por exemplo, a prosodização dos compostos como ‘guarda-chuva’ que possuem mais de uma Palavra Prosódica, por isso a autora propõe estruturas recursivas em que um nó Palavra Prosódica domina outros nós do mesmo nível, como em [[guarda]PW[chuva]PW]PW.

Para suprir a problemática criada com a extinção do Grupo Clítico, Vigário (2007) propõe um constituinte do mesmo nível, o qual recebe a designação de Grupo de Palavra Prosódica. Assim, a hipótese formulada por Vigário é a de que o constituinte intermediário entre Palavra Prosódica e Sintagma Fonológico, agrupa Palavras Prosódicas. A autora ressalta que ‘este termo é intuitivo e transparente, uma vez que reflete o tipo de constituinte que se agrupa no seu interior, preservando a coerência terminológica da hierarquia prosódica’, além de ser conservador por manter a expressão ‘Grupo’. Como dito na seção anterior, o Grupo de Palavra Prosódica inclui outras designações como Palavra Prosódica Máxima/Maior ou Palavra Prosódica Composta e Mínima/Menor, já propostas em Vigário (2003).

Concluída a apresentação da definição do domínio de Palavra Prosódica, com base nas propostas teóricas e a discussão do constituinte Grupo Clítico na hierarquia prosódica, passamos à prosodização de palavras na seção seguinte. Vale ressaltar que dentre as propostas apresentadas a que melhor engloba os fatos a serem investigados neste trabalho e parece mais coerente, é a proposta de Vigário (2007), principalmente pelo modo com que lida com os clíticos em relação ao seu hospedeiro.

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