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A palavra prosodica no portugues brasileiro : o estatuto prosodico das palavras funcionais

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Academic year: 2021

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PRISCILA MARQUES TONELI

A PALAVRA PROSÓDICA NO

PORTUGUÊS BRASILEIRO:

O ESTATUTO PROSÓDICO DAS PALAVRAS

FUNCIONAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como requisito para obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientador: Profa. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre

Campinas

2009

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IEL - Unicamp

T612p

Toneli, Priscila Marques.

A palavra prosódica em Português Brasileiro: o estatuto prosódico das palavras funcionais / Priscila Marques Toneli. -- Campinas, SP : [s.n.], 2009.

Orientador : Maria Bernadete Marques Abaurre.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.

1. Fonética - Fonologia. 2. Análise prosódica (Linguística). 3. Gramática comparada e geral – Clíticos. 4. Língua portuguesa. I. Abaurre, Maria Bernadete Marques. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título.

oe/iel

Título em inglês: The prosodic word in Brazilian Portuguese: the prosodic status of the functional words.

Palavras-chaves em inglês (Keywords): Phonetic – Phonology; Prosodic analysis (Linguistics); Comparative and general grammar – Clitics; Portuguese language.

Área de concentração: Linguística. Titulação: Mestre em Linguística.

Banca examinadora: Profa. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre (orientadora), Profa. Dra. Luciani Ester Tenani e Profa. Maria Filomena Spatti Sândalo. Suplentes: Prof. Dr. Luiz Carlos Schwindt e Profa. Dra. Charlotte Marie Chambelland Galves

Data da defesa: 19/02/2009.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, aos meus pais, Jair e Silvia, e aos meus irmãos, Paula e Jair Henrique, que sempre confiaram em mim, e me incentivaram a correr atrás daquilo que eu sempre quis.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me ajudado a alcançar meus dois maiores sonhos, a faculdade e o mestrado, e por ter me presenteado com uma família e amigos, que me amassem e me apoiassem em todos os momentos. Essas pessoas maravilhosas têm me ajudado e me acompanhado ao longo do caminho da vida, comemorando comigo as minhas conquistas, e sem elas, provavelmente eu não estaria hoje concluindo o meu mestrado.

Dentre essas pessoas, tenho algumas como exemplo: minha mãe, uma grande batalhadora, mostrou-me que nunca devemos desistir de nossos sonhos, mesmo que as dificuldades sejam grandes; meu pai, meu herói, mesmo sem ter nível superior, sempre exigiu que estudássemos; e meus irmãos, que me acompanharam e me incentivaram a continuar; por isso dedico todas as minhas conquistas a eles especialmente.

Agradeço aos meus primos Luciana e Egídio, meus exemplos acadêmicos de luta e conquista me provando que mesmo aqueles que saem da escola pública são capazes de chegar à universidade pública. Sem contar o apoio moral de meus primos Rose, Luana, Luis, Vinícius e Lucas que me levavam e me acomodavam em sua casa na época do vestibular, Neuseli e Vilmar, que me ajudavam na digitação de trabalhos e idas na faculdade fora do horário de aula.

Agradeço aos meus amigos: Daniela, minha amiga de infância e comadre; Marcinha, companheira de festas; Tatiane, minha advogada; Marcela-Paraná, pronta para tudo; Charles, meu psicólogo; Machadinho e o seu divã; meus avós, meus tios, tias, primos e primas, e todos aqueles que contribuíram de algum modo e participaram da minha vida em José Bonifácio. Claro que não posso esquecer do Paulo, nosso biólogo, enfermeiro, médico, um irmão pirado, que seguiu meu caminho e também veio para a universidade pública, e do Zequinha, um garoto batalhador, meu massagista, fisioterapeuta, duas pessoas especiais que ainda hoje não me esquecem, e estão sempre me dando forças a continuar batalhando.

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Agradeço, especialmente, ao Flávio, que tem me acompanhado desde a época da faculdade, e que me levanta sempre quando caio e me sinto desanimada diante dos obstáculos da vida, com seu carinho, atenção e amor.

Agradeço novamente a Deus por me mostrar o caminho rumo a minha primeira conquista: entrar na faculdade. Nessa época, fiz amigos para a vida toda, os quais tenho no meu coração para sempre, mas não posso deixar de agradecer a Lilian, minha amiga de todas as horas; Danúbia, minha fiel colega de trabalhos da faculdade; Solange, nossa salva vidas; Serginho, meu amigo de cervejinha e parceiro; Marcão, meu amigo fiel e companheiro; Ana Lúcia, minha jovem mãe; Kelly, Fernando, Leandro, Patrícia, Priscila, Marcio, Grazielle, Marisa, Regiane, Angélica, Caio, Glauber, e Lívia.

Além dos amigos de graduação, agradeço aos professores do Ibilce/Unesp, por terem contribuído na minha formação acadêmica, profissional e pessoal, especialmente ao professor Raul, o qual foi o primeiro a me encaminhar na carreira acadêmica me auxiliando a decidir a área que me atraía a pesquisa; à Luciani Tenani, por ter despertado em mim o prazer em estudar fonologia, e quem me encaminhou durante a Iniciação Científica, além de ter contribuído com a reta final desse trabalho ao participar de minha banca de defesa.

Já em Campinas, mais uma vez Deus me abriu as portas para a minha segunda conquista: o mestrado na Unicamp. Novamente a amizade foi um dos suportes que me apoiaram na nova etapa que iniciara, casa nova, cidade nova, e amigos novos, os quais se tornaram a minha segunda família, já que a minha estava tão longe. Agradeço aos amigos que fiz aqui no IEL, Aquiles e Fábio, as duas pessoas que mais me ajudaram nos momentos difíceis, como a saudade de casa, as dúvidas das disciplinas, a falta de grana, as aulas de inglês, os almoços no Oggi, entre outras coisas; Aline, Rita, Adriana, Larissa, Renato, entre outros, que de algum modo participaram dessa nova fase.

Além dos amigos que fiz no IEL, sou imensamente grata à minha família de Campinas: tia Laide, Carla, tio Ari, Aline, Júlia, Emerson; turma da casa das bonecas, Natália, minha colega de quarto e confidente, Cíntia, minha irmã de Curitiba e nossos papilis Tia Vanda e Tio Valdemar; Vanessa, nossa mineirinha ‘arretada’; Karen, japinha mais linda; Giovana, pessoinha muito especial; Camilis, e para sempre com o Glauber; Julis Costa, Javã, Mateus, Thiago, Héber, Juliana Leite, Stella, Fabrizio, Juliana GO, amiga de

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IEL e irmãzinha na casa das bonecas, Tércio, Patrick, Gustavo, amigos com os quais convivo e sempre espero conviver.

Não posso esquecer de agradecer o carinho e atenção dos meus amigos de trabalho da escola Jornalista Roberto Marinho, professores, direção e funcionários, especialmente Yacy, minha mãe diretora, Manoel, Genny, Meire, Mariana, Adriana, os quais me suportaram reclamar do cansaço de acumular uma dupla função, professora da rede pública e pesquisadora.

Agradeço especialmente à Bernadete Abaurre, pela orientação desse trabalho e pelas discussões do mesmo; à Flaviane Fernandes, minha amiga de discussões teóricas e diversas orientações na vida acadêmica, profissional e pessoal; à Filomena Sândalo e Charlotte Galves, agradeço a leitura e discussão de meu trabalho no exame de qualificação, e novamente agradeço a elas e a Luís Carlos Schwindt pela participação na banca de defesa. Agradeço também a Leda Bisol, Elisa Battisti, Luciene Brisolara pelas contribuições com textos, e a Marina Vigário, pelas discussões e observações desde o projeto até ao desenvolvimento dessa dissertação.

Agradeço também as minhas informantes Juliana, Giovana, Carolina, Tábita e Vanessa, as quais contribuíram na gravação do corpus de pesquisa, além dos funcionários dos IEL que me ajudaram tão cuidadosamente, Carlos do setor de audiovisuais, Wilson, Carlos que antes era da secretaria de pós-graduação, Cláudio, Rose, e todos os funcionários do departamento e biblioteca que sempre me auxiliaram com muita dedicação e atenção.

Sou grata à FAPESP, por ter me concedido uma bolsa de pesquisa para o desenvolvimento do projeto, a qual, pelo fato de estar trabalhando no serviço público, não pude usufruir.

E enfim, agradeço a todos pelo carinho, atenção, otimismo, confiança, contribuição, amor, amizade, e a todos aqueles que passaram pela minha vida, e que de algum modo, contribuíram diretamente e indiretamente com a realização desse trabalho, principalmente a Deus, pois sem ele, nada disso seria possível.

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EPÍGRAFE

O Lutador

Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. [...] Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpassam levíssimas e viram-me o rosto. Lutar com palavras parece sem fruto. Não têm carne e sangue Entretanto, luto. Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate. [...]

Luto corpo a corpo, luto todo o tempo, sem maior proveito que o da caça ao vento. [...]

Iludo-me às vezes, pressinto que a entrega se consumará.

Já vejo palavras em coro submisso, esta me ofertando seu velho calor, outra sua glória feita de mistério, outra seu desdém, outra seu ciúme, e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra a essência captada, o sutil queixume. [...] O ciclo do dia ora se consuma e o inútil duelo jamais se resolve. [...]

‘Poesia Contemplada’ Carlos Drummond de Andrade

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RESUMO

Nas línguas, há vários elementos que são difíceis de classificar, principalmente no que se refere ao seu estatuto prosódico, e as palavras funcionais são um desses elementos, pois enquanto as palavras lexicais são sempre Palavras Prosódicas, já formadas no componente lexical, recebendo acento lexical, as palavras funcionais exibem um padrão variável entre as línguas, podendo se apresentar como clíticas ou como Palavras Prosódicas (cf. Selkirk 1984, 1995; Inkelas & Zec 1993, Peperkamp 1997; Zec 2005, Bisol 2005, entre outros). No caso do Português Brasileiro, não parece ser diferente, pois as palavras funcionais monossilábicas não formam um pé na maioria dos casos, não recebendo acento primário. Entretanto há palavras funcionais dissilábicas e até trissilábicas que preenchem essa condição e, portanto recebem acento primário.

Segundo Selkirk (1995), as palavras funcionais do inglês podem ser prosodizadas como palavras prosódicas independentes em três situações: (i) pronunciadas isoladamente; (ii) em posição final de sintagma; e (iii) estão focalizadas, pois recebem pitch accent nesses casos. Para Vigário (1999), no Português Europeu, somente os complementizadores podem ser Palavras Prosódicas independentes, quando em posição final de sintagma entoacional, pois recebem a proeminência desse domínio. Nos demais casos, as palavras funcionais serão formas ‘fracas’, portanto, clíticos.

Este trabalho propõe investigar as diferentes prosodizações das palavras funcionais (preposições, artigos, conjunções e pronomes clíticos) e o modo como são integradas à estrutura prosódica do PB, em um corpus de fala experimental, considerando a hipótese de que dependendo da posição em I e do contexto discursivo, podem ser prosodizadas como clítico, ou como Palavra Prosódica independente, formando, no caso de serem clíticos, o Grupo de Palavra Prosódica, de acordo com a proposta de Vigário (2007). Esse trabalho tem o objetivo maior de contribuir com os estudos do domínio da Palavra Prosódica no PB.

PALAVRAS-CHAVE: Fonética – Fonologia; Análise Prosódica; Gramática Comparada e Geral – Clíticos; Língua Portuguesa.

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ABSTRACT

In the language there are several elements that are difficult to organize, mainly to make reference to prosodic status, and the functional words are one of these elements, because while the lexical words are always Prosodic Word, they have already been formed in the lexical component, as they receive lexical stress the functional words show a variable standard between the language, they can show many things as clitics or prosodic words(cf. Selkirk 1984, 1995; Inkelas & Zec 1993, Peperkamp 1997; Zec 2005, Bisol 2005, between others). In the case of Brazilian Portuguese, it doesn’t seem be different, because the monosyllabic words don’t constitute a foot in the majority of the cases and they don’t receive primary stress. However there are disyllabics functional words and trisyllabics words that fill this condition, so they receive primary stress.

According to Selkirk (1995) the functional words in English can be prosodized like independent prosodic words in three situations: (i) they are pronounced isolately; (ii) they are in the ending of the phrase; and (iii) they are focalized, because they receive pitch accent in these cases. According Vigário (1999) in European Portuguese, only the complementizers can be prosodic words, when they are in the ending of the intonational phrase, because they receive a prominence of these domain. In both languages, in the other cases, the functional words will be ‘weak’ forms, so clitics.

This paper proposes investigate the different prosodizations of the functional words (prepositions, articles, conjunctions and clitics pronouns) and the way like are integrated to the prosodic structure of BP, in particular in the spoken variety at a Campinas’ s region in a corpus of experimental speech considering the hypothesis that depending of the position in intonational phrase, they can be prosodized like Clitics, or like Independent Prosodic Words. If they are clitics, they will form with the host the Minimal Prosodic Word proposed by Vigário (2007). This paper has the mayor goal to contribute with the studies to domain Prosodic Word in BP.

Key-words: Phonetics – Phonology; Prosodic Analysis; Comparative and General Grammar – Clitics; Portuguese Language.

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LISTAS DE TABELAS E FIGURAS

CAPÍTULO 3

QUADRO 1: Palavras funcionais investigadas... 42

FIGURA 1: Artigo ‘um’ produzido entre pausas em contexto de focalização... 47

CAPÍTULO 4 QUADRO 2: Palavras funcionais investigadas... 51

TABELA 1: Duração em contexto neutro (início, meio e fim de I) e em contexto de focalização... 54

FIGURA 2: Preposição ‘na’ em posição final e medial de I em contexto neutro... 55

FIGURA 3: Preposição ‘a’ em posição final e inicial de I em contexto neutro... 56

FIGURA 4: Preposição ‘de’ em posição medial de I em contexto de focalização... 57

FIGURA 5: Preposição ‘de’ em posição final e medial de I em contexto de neutro... 57

FIGURA 6: Preposição ‘de’ produzida entre pausas em contexto de focalização... 58

TABELA 2: Evento tonal em posição inicial de I em contexto neutro... 60

FIGURA 7: Artigo ‘a’ em posição inicial de I em contexto neutro... 61

FIGURA 8: Artigo ‘a’ em posição inicial de I em contexto neutro... 61

FIGURA 9: Preposição ‘sem’ em posição medial de I em contexto neutro... 63

FIGURA 10: Preposição ‘sob’ em posição medial de I em contexto neutro... 63

TABELA 3: Evento tonal em posição final de I em contexto de focalização... 64

FIGURA 11: Preposição ‘com’ em posição final de I em contexto neutro... 65

FIGURA 12: Preposição ‘para’ em posição final de I em contexto neutro... 65

TABELA 4: Evento tonal em contexto de focalização... 67

FIGURA 13: Pronome ‘nos’ em posição medial de I em contexto de focalização ... 68

FIGURA 14: Preposição ‘para’ em posição medial de I em contexto neutro... 73

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TABELA 6: Redução da vogal em contexto de focalização... 81

FIGURA 15: Pronome ‘me’ em posição medial de I contexto de focalização com vogal reduzida... 80

FIGURA 16: Artigo ‘a’ em contexto de focalização produzido entre pausas... 81

TABELA 7: DG e posições em I em contexto neutro... 84

FIGURA 17: DG entre a conjunção ‘porque’ em posição medial de I em contexto neutro e a vogal seguinte... 86

TABELA 8: DG e contexto de focalização... 87

TABELA 9: DT e posições em I em contexto de neutro... 89

FIGURA 18: DT entre a preposição ‘de’ em posição medial e final em contexto neutro... 93

TABELA 10: DT em contexto de focalização... 93

TABELA 11: EL e posições em I em contexto neutro... 96

TABELA 12: EL em contexto de focalização... 97

TABELA 13: Vozeamento da fricativa e posições em I em contexto de neutro... 99

FIGURA 19: Vozeamento em posição inicial e final de I em contexto neutro... 100

TABELA 14: Vozeamento em contexto de focalização... 100

FIGURA 20: Vozeamento da fricativa na conjunção ‘mas’ em posição inicial de I em contexto de focalização... 101

TABELA 15: Tapping e posições em I em contexto de neutro... 103

FIGURA 21: Tapping na preposição ‘por’ em posição medial de I em contexto neutro... 103

TABELA 16: Tapping em contexto de focalização... 104

FIGURA 22: Artigo ‘um’ produzido entre pausas em contexto de focalização... 107

FIGURA 23: Preposição ‘para’ em posição inicial de I em contexto neutro... 109

CAPÍTULO 5 FIGURA 24: (a) Adjunção de proclíticos a palavra seguinte e (b) Incorporação de enclíticos a palavra precedente no PE, segundo proposta de Vigário 2003... 127

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FIGURA 26: Estrutura prosódica denominada Grupo de Palavra Prosódica, nos termos de Vigário (2003), formada por uma palavra funcional clítica mais uma palavra lexical que funciona como hospedeiro... 133 FIGURA 27: Estrutura Prosódica formada pela palavra funcional prosodizada como Palavra Prosódica em contexto de focalização... 13

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ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS UTILIZADOS

SÍMBOLOS UTILIZADOS σ Sílaba Σ Pé ω/ PW Palavra Prosódica φ/PPh Sintagma Fonológico I/ IP Sintagma Entoacional

U/ Utt Enunciado Fonológico

W Palavra Morfológica L Tom Baixo H Tom Alto * Acento Tonal L+H/LH/H+L/HL Evento Bitonal ABREVIATURAS CPL Complementizador

GPW Grupo de Palavra Prosódica

PWmax Palavra Prosódica Máxima

PWmin Palavra Prosódica Mínima

Caixa Alta Acento De Palavra

PE Português Europeu

PB Português Brasileiro

DG Degeminação

DT Ditongação

EL Elisão

Lex Palavra Lexical

Func Palavra Funcional

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 01

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.0. Introdução... 07

2.1. Teorias da Fonologia Prosódica... 07

2.1.1. Nespor & Vogel (1986)... 07

2.1.2. Selkirk (1984, 1986)... 09

2.2. A Palavra Prosódica e o Grupo Clítico... 11

2.2.1. O domínio da Palavra Prosódica... 11

2.2.2. O Grupo Clítico... 17

2.3. A prosodização de palavras……… 19

2.3.1. Diagnóstico para a Palavra Prosódica... 19

2.3.2. A prosodização dos Clíticos………...…. 22

2.4. A prosodização das palavras funcionais na literatura... 23

2.4.1. Selkirk (1995)... 23

2.4.2. Vigário (1999)... 26

2.5. O estatuto prosódico dos clíticos no PB... 30

2.5.1. Bisol (2000, 2005)... 30 2.5.2. Brisolara (2004), (2008)... 34 2.6. Considerações finais... 37 3. METODOLOGIA 3.0. Introdução... 39 3.1. O experimento... 39

3.2. O Corpus e as variáveis analisadas... 41

3.3. Forma de análise dos dados... 46

3.4. Considerações finais... 48

4. DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.0. Introdução... 49

4.1. Descrição dos dados... 50

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4.1.1.1. A duração das palavras funcionais em contexto neutro e em contexto

de foco... 52

4.1.1.2. Descrição dos eventos tonais... 59

4.1.2. Processos fonológicos... 69

4.1.2.1. Redução da vogal: neutralização das átonas... 70

4.1.2.2. Sândi vocálico... 82 4.1.2.2.1. Degeminação... 83 4.1.2.2.2. Ditongação... 88 4.1.2.2.3. Elisão... 94 4.1.2.3. Vozeamento da fricativa... 98 4.1.2.4. Tapping... 102

4.2. Discussão dos resultados... 104

4.3. Considerações finais... 113

5. O ESTATUTO PROSÓDICO DAS PALAVRAS FUNCIONAIS NO PB 5.0.Introdução... 117

5.1. O comportamento prosódico das palavras funcionais no PB... 118

5.2. Evidências da inserção pós-lexical das palavras funcionais na estrutura prosódica... 122

5.3. Uma proposta para a estrutura prosódica das palavras funcionais no PB ... 126

5.4. Considerações finais... 134

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 137

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 141

ANEXOS... 147

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1. INTRODUÇÃO

Nas línguas em geral, há vários elementos que são difíceis de classificar, principalmente no que se refere ao seu estatuto prosódico, e as palavras funcionais são um desses elementos, pois enquanto as palavras lexicais são sempre Palavras Prosódicas independentes, já formadas no componente lexical, dado que recebem acento lexical, as palavras funcionais exibem um padrão variável entre as línguas, podendo se apresentar como clíticas ou como Palavras Prosódicas (cf. Selkirk 1984, 1995; Inkelas & Zec 1993, Peperkamp 1997; Zec 2005, Bisol 2005, entre outros).

No caso do Português Brasileiro (doravante PB), não parece ser diferente, pois as palavras funcionais monossilábicas não formam um pé1, não recebendo acento primário, logo, não são prosodizadas como Palavras Prosódicas. Entretanto há palavras funcionais dissilábicas e até trissilábicas que preenchem essa condição e, portanto recebem acento primário, sendo prosodizadas como Palavras Prosódicas. Apesar das palavras funcionais dissilábicas formarem um pé e receberem acento lexical, veremos no decorrer deste trabalho que algumas se tornam facilmente cliticizáveis, como por exemplo, a preposição ‘para’ e a conjunção ‘porque’ por sofrerem processos de redução vocálica na sílaba candidata a receber acento primário.

Segundo Cook & Newson (1996, p. 187)2, as palavras lexicais são definidas como núcleos de classes abertas; fonologicamente independentes; potencialmente acentuadas; têm um ou mais complementos; complemento separável; conteúdo descritivo, ligadas ao mundo ‘real’; não têm traços gramaticais; e não são ligadas a parâmetros. No PB, adjetivos, verbos e substantivos pertencem à classe aberta ou categoria lexical.

Para Mioto et al (2004), uma classe lexical caracteriza-se por ter um número indefinido de membros no dicionário mental e por permitir a criação pelos falantes de novas expressões. Isso significa que novos adjetivos, verbos e substantivos podem ser

1

É importante ressaltar que há exceções, pois algumas palavras funcionais monossilábicas são consideradas como tônicas, como por exemplo, os pronomes pessoais do caso reto, ‘eu, tu, ele (a), nós,

vós, eles (a)’.

2

O trecho original de Cook & Newson (1996): palavras lexicais são “open class of heads; phonologically

independent; potentially stressed; have one or more complements; separable complement; descriptive content, linked to 'real' world; do not have grammatical features; not linked to parameters” (p. 187).

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criados livremente pelos falantes, a partir de um item lexical já existente na língua, como os neologismos3 e as palavras derivadas4, além de ser sempre prosodizada como Palavra Prosódica, pois forma um pé e recebe acento primário no componente lexical.

Ao contrário das palavras lexicais, as palavras funcionais5, segundo Cook & Newson (1996, p. 187), são definidas como núcleos de classes fechadas; fonologicamente dependentes; normalmente não acentuadas; têm um único complemento, não tem um argumento e o complemento é inseparável; não têm ‘conteúdo descritível’; têm traços gramaticais; ligadas a parâmetros.

De acordo com Mioto et al (2004), as preposições, os artigos, as conjunções, e os pronomes pertencem à classe fechada ou categoria funcional, pois não derivam de um radical que pode originar outra categoria como o verbo, substantivo e adjetivo, ou seja, não permitem a criação de novos termos pelos falantes.

Isso quer dizer que as palavras da categoria funcional não formam novas palavras na língua, além do que, algumas delas, no caso as palavras monossilábicas, nem sempre formam um pé e recebem acento primário no componente lexical, como é o caso das preposições monossilábicas, dos artigos definidos, dos pronomes pessoais átonos (caso oblíquo) e algumas conjunções monossilábicas. Há ainda, como dito anteriormente algumas palavras funcionais dissilábicas que sofrem algum processo fonológico característico de sílabas átonas, o qual as torna facilmente cliticizável, pois a ocorrência do processo é evidência de que tal sílaba não porta acento lexical.

As considerações de Cook & Newson (1996) e Mioto et al (2004) se remetem aos aspectos sintáticos e morfológicos tanto das palavras lexicais quanto das palavras funcionais do PB. Quanto ao estatuto prosódico, podemos afirmar que as palavras lexicais são sempre prosodizadas como Palavras Prosódicas, pois formam um pé e recebem acento primário, requisito mínimo para a formação de uma Palavra Prosódica segundo Nespor & Vogel (1986).

3

Um exemplo de neologismo criado a partir do verbo ‘complicar’ é outro verbo ‘complicabilizar’. No texto ‘Complicabilizando, de Ricardo Freire’, publicado na Revista Época em 25 de setembro de 2003, todos os verbos são criados a partir da derivação de um verbo na sua forma infinitiva, mais o sufixo ‘ilizar’.

4 Um exemplo semelhante de formação de palavra derivada no português é o verbo ‘hospitalizar’ criado a

partir do substantivo ‘hospital’.

5

Trecho original de Cook & Newson (1996): palavras funcionais são “closed class of heads; dependent

phonologically; usually unstressed; have a single complement, not an argument; inseparable complement; no 'descriptive content', not linked to 'real' world; have grammatical features; linked to parameters” (p. 187).

(19)

Considerando que as palavras funcionais monossilábicas do PB são palavras átonas, esperamos que sejam prosodizadas como clíticos prosódicos, enquanto que as palavras dissilábicas e trissilábicas por formarem um pé e receberem acento lexical, sejam prosodizadas como Palavra Prosódica, se caso não sofrerem processos fonológicos característicos de sílabas átonas.

Diante dessas considerações, o nosso objetivo é investigar o estatuto prosódico das palavras funcionais do PB, como clíticos ou como Palavras Prosódicas, e o modo como são integradas à estrutura prosódica, ou seja, qual o domínio prosódico do qual fazem parte. Para alcançar tal objetivo, partimos da hipótese de que, dependendo da posição dentro do sintagma entoacional (I) e do contexto discursivo (neutro e focalização), elas podem ser prosodizadas de diferentes modos, como clítico ou como Palavra Prosódica. Nossa hipótese parte das afirmações feitas por Selkirk (1995) para o inglês, e Vigário (1999 e 2003) para o PE.

Segundo Selkirk (1995), as diferenças prosódicas da categoria funcional são analisadas por uma série de restrições ranqueadas, ou seja, diferentes prosodizações dos elementos funcionais vêm de diferenças nas propriedades morfossintáticas e no ranqueamento de restrições específicas de cada língua. Para a autora, as palavras funcionais podem ser prosodizadas como Palavras Prosódicas independentes em três situações: (i) pronunciadas isoladamente; (ii) em posição final de sintagma; e (iii) estão focalizadas, pois recebem acento tonal (pitch accent) nesse contexto. Nos demais casos, elas serão formas ‘fracas’, portanto, clíticos.

Em Vigário (1999), somente complementizadores podem ser prosodizados como Palavras Prosódicas independentes em posição final de I em contexto neutro. Vigário (2003) também afirma que algumas palavras lexicalmente inertes podem formar Palavras Prosódicas independentes quando sozinhas formam um I, sendo o núcleo desse domínio (p. 195).

No que se refere ao estatuto prosódico das palavras funcionais no PB, Bisol (2005, p. 164) afirma que “os clíticos são palavras funcionais que não pertencem a uma classe morfológica específica”. A autora ressalta que, devido ao seu caráter átono, os clíticos se apóiam no acento de uma palavra vizinha, e raramente se tornam o núcleo de um domínio fonológico, exceto nos casos em que, por razoes métricas motivadas por I, o clítico recebe o acento principal de I. Nesse caso, as palavras funcionais clíticas são

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integradas na estrutura prosódica do PB junto a uma Palavra Prosódica pronta, formando um constituinte prosódico, o Grupo Clítico ou Palavra Prosódica Pós-lexical.

Com relação ao estatuto prosódico dos clíticos, Brisolara (2008) também argumenta que os clíticos vão se adjungir a um hospedeiro no nível pós-lexical e formar uma estrutura recursiva.

Embora haja algumas discussões sobre os clíticos no PB, até o momento não encontramos trabalhos que tratem sistematicamente do comportamento prosódico das palavras funcionais a partir da análise de dados empíricos.

Partindo do princípio de que as palavras funcionais monossilábicas do PB são clíticos, e que as palavras dissilábicas e trissilábicas são Palavras Prosódicas (por serem lexicalmente acentuadas), exceto as que demonstram ser cliticizáveis, o presente trabalho propõe também, além de definir o estatuto prosódico de tais palavras funcionais, considerando as posições em I e o contexto discursivo, discutir em que nível da hierarquia prosódica as palavras funcionais vão ser integradas à estrutura prosódica (Grupo Clítico, Palavra Prosódica ou Sintagma Fonológico).

Para analisar essas questões, optamos por trabalhar com um corpus experimental a fim de obter dados controlados para que não houvesse uma distorção dos resultados ao observar as variáveis selecionadas. A variedade de português a ser analisada é a falada na região de Campinas-SP.

Nossa análise observará as seguintes variáveis: (i) o contexto discursivo (neutro e de focalização); (ii) posição da palavra funcional dentro de I (início, meio ou fim); (iii) a constituição particular (formação de pés) para a atribuição de acento primário; (iv) os correlatos acústicos do acento; e (v) a ocorrência de processos fonológicos que atingem as palavras funcionais.

A análise do contexto discursivo, neutro e foco, e da posição em I são relevantes, pois, segundo Selkirk (1995), as palavras funcionais sob focalização e em posição final de I são prosodizadas como Palavra Prosódica.

As evidências consideradas para que a palavra funcional seja uma Palavra Prosódica ao considerar o contexto discursivo e posição dentro de I serão a atribuição de (i) acento prosódico lexical quando há a formação de pés e (ii) acento pós-lexical (de foco ou de proeminência principal de φ ou I); a ocorrência de processos fonológicos

(21)

característicos de sílabas átonas; e o bloqueio de processos fonológicos como o sândi vocálico devido ao fato de portar acento lexical ou prosódico.

Com relação ao acento, para verificar se determinada palavra funcional é portadora de acento lexical ou pós-lexical, analisaremos algumas evidências acústicas, tal como a duração e a atribuição de evento tonal LHL, evento tonal característico de sílabas tônicas de palavra lexicais, pois somente palavras acentuadas recebem acento tonal (cf. Selkirk 1995 e Vigário 1999).

Além de ser uma pista importante para a prosodização das palavras funcionais, o acento também bloqueia a ocorrência de alguns processos fonológicos, como a regra de redução da vogal, a qual só ocorre em vogais átonas, e os processos de sândi externo tal como degeminação (DG), ditongação (DT) e elisão (EL). O acento e os processos fonológicos também podem fornecer pistas sobre o nível em que a integração prosódica das palavras funcionais ocorre: lexical ou pós-lexical.

É importante destacar que as palavras funcionais prosodizadas como clíticos prosódicos precisam se apoiar em um hospedeiro acentuado, pois a principal característica dos clíticos é não portar acento primário. Assim será necessário discutirmos a qual domínio da hierarquia prosódica o clítico se une para ser prosodizado.

Segundo Nespor & Vogel (1986), o clítico se une a Palavra Prosódica, e juntos formam o Grupo Clítico. Bisol (2005) afirma que o constituinte prosódico ao qual o clítico se une no PB é o Grupo Clítico ou a Palavra Prosódica pós-lexical. No entanto, segundo Selkirk (1984, 1986), Peperkamp (1997), Vigário (2003, 2007), Brisolara (2004, 2008), entre outros, esse constituinte não faz parte da hierarquia prosódica.

Com base nessas considerações, nos resultados e na análise das variáveis apontadas, faremos uma breve discussão sobre a existência do Grupo Clítico na hierarquia prosódica do PB, e o sobre o domínio ao qual os clíticos se unem para integrar a estrutura prosódica.

Para alcançarmos nossos objetivos baseamo-nos nas fundamentações teóricas propostas em Nespor & Vogel (1986) e Selkirk (1984, 1986), para a análise dos domínios prosódicos; e para a análise das palavras funcionais, Selkirk (1995) e Vigário (1999, 2003), entre outros.

(22)

Assim, esse trabalho está organizado da forma que se segue.

No capítulo 2, apresentamos o arcabouço teórico revisado, tal como (i) as teorias prosódicas de Nespor & Vogel (1986) e Selkirk (1984, 1986); (ii) os algoritmos de construção da Palavra Prosódica (Nespor & Vogel 1986; Selkirk 1984, 1986; Vigário 2003); (iii) alguns trabalhos sobre a Palavra Prosódica no PB (Bisol 2004; Leiria 2000); (iv) uma breve discussão sobre o Grupo Clítico; (v) propostas de prosodização das palavras funcionais na literatura(Selkirk 1995; Vigário 1999); (vi) estudos já realizados sobre os clíticos do PB (Bisol 2000, 2005; Brisolara 2004, 2008).

No capítulo 3, apresentamos a metodologia de trabalho a ser seguida, como por exemplo, experimento realizado, o corpus elaborado para a pesquisa, as variáveis analisadas, e por fim, a forma de análise dos dados.

No capítulo 4, apresentamos a descrição e discussão dos resultados, enfocando a análise dos correlatos acústicos do acento (duração e evento tonal) e da ocorrência de processos fonológicos (redução da vogal, sândi vocálico, etc).

No capítulo 5, apresentamos (i) o comportamento prosódico das palavras funcionais do PB; (ii) evidências da inserção pós-lexical das palavras funcionais; (iii) uma proposta de prosodização das palavras funcionais no PB.

Por fim, no capítulo 6, apresentamos nossas considerações finais sobre o estatuto prosódico das palavras funcionais, e possíveis desdobramentos futuros de nossa pesquisa.

Além de alcançar os objetivos propostos e investigar as questões levantadas, buscaremos, com a realização deste trabalho, trazer contribuições para o estudo da ‘Palavra Prosódica’ no PB, levando em conta quais fenômenos se referem a esse domínio.

(23)

2. ARCABOUÇO TEÓRICO

2.0. Introdução

O objetivo desta dissertação é investigar o estatuto prosódico das palavras funcionais no PB e o modo como são integradas à estrutura prosódica, considerando a hipótese de que, dependendo da posição em I e do contexto discursivo, as palavras funcionais podem ser prosodizadas como clíticos ou Palavras Prosódicas independentes. Para sustentar a pesquisa aqui proposta, neste capítulo, apresentamos uma revisão teórica dos trabalhos fundamentais dentro do quadro da Fonologia Prosódica que auxiliaram na análise e reflexão das questões levantadas. Entre eles, apresentamos: na seção 2.1, as teorias prosódicas propostas por Nespor & Vogel (1986) e Selkirk (1984, 1986). Na seção 2.2., apresentamos uma revisão de trabalhos que tratam da Palavra Prosódica (2.2.1.) e do Grupo Clítico (2.2.2.). Na seção 2.3., apresentamos a prosodização de palavras, como os diagnósticos para a identificação de Palavras Prosódicas (2.3.1.) e de clíticos (2.3.2). Na seção 2.4, apresentamos trabalhos que dizem respeito à prosodização de palavras funcionais nas línguas, tais como Selkirk (1995) para o inglês e Vigário (1999) para o PE. Na seção 2.5, revisamos os trabalhos já realizados no PB sobre o estatuto prosódico dos clíticos, Bisol (2000, 2005), e Brisolara (2004, 2008). Na seção 2.6, apresentamos nossas considerações finais sobre o capítulo.

2.1. Teorias da Fonologia Prosódica

As teorias prosódicas aqui revisadas são as desenvolvidas por Nespor & Vogel (1986) e por Selkirk (1984, 1986), as quais estudam a estrutura prosódica e o seu funcionamento nas línguas, propondo os constituintes prosódicos, os quais servem de domínio para a aplicação de regras fonológicas específicas. Tais teorias fazem o mapeamento entre a sintaxe e a fonologia. A seguir apresentamos as propostas mencionadas.

(24)

A teoria prosódica, proposta por Nespor & Vogel, é conhecida como relation based, por basear-se em diversos tipos de relações entre os constituintes sintáticos, e é a que aborda, como questão central, a interação entre a fonologia e o resto da gramática. A relação sintaxe-fonologia é definida a partir do mapeamento sintático-fonológico, o qual fornece uma representação prosódica, sendo que o output do componente sintático constitui o input do componente fonológico, com a possível intervenção de regras fonológicas. É importante acrescentar que a estrutura fonológica não é isomórfica à estrutura sintática.

De acordo com a teoria dessas autoras, a representação mental da fala é dividida em constituintes arranjados hierarquicamente, os quais são os constituintes prosódicos da gramática e que estão dispostos hierarquicamente como o indicado abaixo:

(1)

U → Enunciado fonológico (Phonological Utterance) I → Sintagma entoacional (Intonational Phrase)

φ→ Sintagma fonológico (Phonological Phrase) C → Grupo Clítico (Clitic Group)

ω→ Palavra fonológica (Phonological Word)

∑ → Pé (Foot)

σ→ Sílaba (Syllable)

Os constituintes apresentado em (1) são regulados por princípios da hierarquia prosódica para satisfazer a Strict Layer Hypothesis (SLH), tais como:

(2) Princípio 1: uma dada unidade não terminal da hierarquia prosódica, Xp, é composta de uma ou mais unidades da categoria imediatamente mais baixa, Xp-1.

Princípio 2: uma unidade de uma dado nível da hierarquia é exaustivamente contida em uma unidade de um nível superior da qual ela é uma parte.

Princípio 3: as estruturas hierárquicas da fonologia prosódica são de ramificação n-árias. Princípio 4: a proeminência relativa definida para os nós irmãos é tal que a um nó é marcado o valor ‘forte(s)’ e a todos os outros nós é marcado o valor ‘fraco(w)’6.

6 Trecho original de Nespor & Vogel (1986): Principle 1. A given nonterminal unit of the prosodic

hierarchy, Xp, is composed of one or more units of the immediately lower category, Xp-1.

Principle 2. A unit of a given level of the hierarchy is exhaustively contained in the superordinate unit of which it is a part.

Principle 3. The hierarchical structures of prosodic phonology are n-ary branching.

Principle 4. The relative prominence relation defined for sister nodes is such that one node is assigned the value strong (s) and all the other node are assigned the value weak (w). (cf. Nespor & Vogel, 1986: 7)

(25)

Tais princípios são caracterizados por uma configuração geométrica, que é a mesma para a construção de cada constituinte da hierarquia prosódica. A seguir apresentamos os princípios de formulação da configuração geométrica referida (3) 7.

(3) Construção do constituinte prosódico: junte em um Xp de ramificação n-ária todos os Xp-1 incluídos em uma seqüência delimitada pela definição do domínio de Xp.

Com base na regra acima apresentada, as autoras dão também as regras de construção de cada um dos constituintes da hierarquia prosódica apresentados em (1). Ainda na regra em (3), Xp representa um constituinte qualquer da hierarquia (pé, palavra fonológica, grupo clítico, sintagma fonológico, sintagma entoacional, ou enunciado fonológico), e Xp-1 representa o constituinte imediatamente inferior a Xp. Tais constituintes criam-se por meio da relação forte/fraco ou vice-versa, que se estabelece entre uma cabeça lexical.

Para as autoras, a menor unidade da hierarquia é a sílaba, mas isso não quer dizer que a sílaba não é divisível em unidades menores, no entanto os segmentos que compõem a sílaba, tais como onsets (ataques) e rimas, não servem como domínio de aplicação de regras, e por isso, não são considerados pelas autoras como constituintes da hierarquia.

2.1.2. Selkirk (1984, 1986)

A teoria proposta por Selkirk é conhecida por end-based, por ser baseada em bordas demarcadas da direita à esquerda de determinados constituintes sintáticos, e consiste em categorias prosódicas de diferentes tipos, as quais são organizadas hierarquicamente, assim como proposto também por Nespor & Vogel (1986). De acordo com a teoria proposta pela autora, em algumas línguas, as categorias prosódicas são organizadas na seguinte hierarquia prosódica (Selkirk 1978):

(4) Utt (Utterance) → Enunciado

IP (Intonational Phrase) → Sintagma Entoacional

7

Trecho original de Nespor & Vogel (1986): Join into an n-ary branching Xp all Xp-1 included in a string delimited by the definition of the domain of Xp. (cf. Nespor & Vogel, 1986: 7)

(26)

PPh (Phonological Phrase) → Sintagma Fonológico PWd (Prosodical Word) → Palavra Prosódica Ft (Foot) → Pé

σ (Syllable) → Sílaba

Cada uma dessas unidades apresenta estrutura interna organizada hierarquicamente e serve como domínio de aplicação de regras fonológicas, e os fenômenos fonéticos e fonológicos que ocorrem são definidos em termos de unidades da estrutura prosódica, não da estrutura morfossintática.

Em termos dessa hierarquia proposta em (4), Selkirk (1986) define certas restrições fundamentais na estrutura prosódica, que estão apresentadas em (5).

(5) Restrições na dominância prosódica (onde Cn = alguma categoria prosódica)8 (i) Camada: nenhum nível Ci domina um Cj, j > i.

Exemplo: ‘Nenhum σ domina um Ft’.

(ii) Núcleo: algum Ci deve dominar Cj-i, exceto se Cj = σ.

Exemplo: ‘Uma PW imediatamente domina uma σ’.

(iii) Exaustividade: nenhum Ci imediatamente domina um Cj, pois j < i-1. Exemplo: ‘Nenhuma PW imediatamente domina uma σ’.

(iv) Não recursividade: nenhum Ci domina Cj, pois j = i. Exemplo: ‘Nenhum Ft domina um Ft’.

Trabalhando com a relação de fronteiras, Selkirk (1986) afirma que a relação entre estrutura sintática e estrutura prosódica é capturada pelas restrições de alinhamento de fronteiras de constituintes. Para a autora, a relação entre a estrutura prosódica e a estrutura sintática é para ser capturada por restrições no alinhamento das duas estruturas, as quais requerem que, para algum constituinte de categoria α na estrutura sintática, a sua fronteira direita (ou esquerda) coincida com a fronteira direita (ou esquerda) de um constituinte de categoria β na estrutura prosódica, ou seja, os domínios prosódicos são construídos com base nos limites dos constituintes sintáticos, no entanto, não são isomórficos a eles.

(6) A teoria ‘edge-based’ da interface sintaxe-prosódia (Selkirk 1986 et seq.) 9

8

Trecho original de Selkirk (1995): Constraints on prosodic domination (where Cn = some prosodic category). (i) Layredness: No Cidominates a Cj, j > i. e.g. “A σ dominates a Ft”. (ii) Headness: Any Ci

must dominates a Ci-1 (except if Ci = σ). E.g. “A PW must dominate a Ft”. (iii) Exhaustivity: No Ci

immediately dominates a constituent Cj, j < i-1. e.g. “No PWd immediately dominates a σ”. (iv) Nonrecursivity: No Ci dominates Cj, j = i. e.g. “No Ft dominates a Ft” (cf. Selkirk 1995, p. 443).

(27)

Fronteira direita/esquerda de α = = = > fronteira de βα é uma categoria sintática, β é uma categoria prosódica.

Selkirk ressalta que as restrições de alinhamento das fronteiras dos constituintes têm mostrado caracterizar a influência da estrutura do sintagma sentencial na estrutura prosódica em um amplo número de línguas. Assim, a autora fundamenta sua proposta teórica, justificando a relevância da delimitação dos domínios prosódicos com base nas restrições de alinhamento.

Apresentada as noções gerais da construção de domínios prosódicos segundo a perspectiva de duas teorias, enfocamos na seção seguinte a construção de dois domínios prosódicos, a Palavra Prosódica e o Grupo Clítico.

2.2. A Palavra Prosódica e o Grupo Clítico

Como um de nossos objetivos é discutir o estatuto prosódico das palavras funcionais no PB, como clíticos ou Palavras Prosódicas, é necessário revermos as propostas de construção do domínio prosódico da Palavra Prosódica e do Grupo Clítico de acordo com literatura. Para isso, apresentamos a seguir as propostas de Nespor & Vogel (1986), Selkirk (1984, 1986), e Vigário (2003), além de discussões já realizadas no PB por Leiria (2000) e Bisol (2004).

2.2.1. O domínio da Palavra Prosódica

De acordo com Nespor & Vogel (1986), a Palavra Prosódica 10 é um dos menores constituintes da hierarquia, e é construída com base em regras de mapeamento que fazem uso de noções não fonológicas. Dentro do domínio de Palavra Prosódica, podem se reajustar as sílabas e os pés, quando necessário ou construí-los de acordo com os princípios universais e restrições específicas da língua.

Embora se tenha afirmado que não há isomorfismo entre a estrutura prosódica e a estrutura morfossintática, nota-se que, em algumas línguas, Palavra

9

Trecho original de Selkirk (1995): The edge-based theory of the syntax-prosody interface (Selkirk 1986 et seq.). Right/Left edge of α = = = > edge of β, α is a syntactic category, β is a prosodic category (cf. Selkirk 1995, p. 444).

10

(28)

Prosódica e unidade morfológica podem ser isomórficas, como por exemplo, no PB, [[casa]W] PW11.

Como já fora mencionado pelas autoras, a Palavra Prosódica representa o mapeamento ente os componentes fonológicos e morfológicos da gramática, no entanto, as noções morfológicas usadas para discutir a formação de Palavra Prosódica não são as mesmas para todas as línguas, e, por isso, várias opções estão disponíveis para a definição desse constituinte. Por conta disso, as autoras reuniram todas as possibilidades já apresentadas e formularam a definição geral dada abaixo:

(7) Domínio de Palavra Prosódica (ω) 12

A. O domínio de ω é Q (Q = nó sintático terminal). ou

B. I. O domínio de ω consiste de: (a) uma raiz; (b) algum elemento identificado por critérios morfológicos e/ou fonológicos; (c) algum elemento marcado com o diacrítico [+W].

II. Qualquer elemento solto dentro de Q faz parte da ω adjacente mais próxima da raiz. Se nenhuma palavra existir, eles formam uma ω por conta própria.

Apesar da definição em (7) permitir um número considerável de opções de formação de Palavra Prosódica, é previsto que não há línguas em que existam palavras maiores que o elemento terminal de uma árvore sintática, sendo igual ou menor que este.

A definição ainda prevê que não haverá mais que uma Palavra Prosódica em uma única raiz, e, em línguas nas quais a Palavra Prosódica inclui ambos membros de um composto, não haverá afixos ou seqüências de afixos que formam uma Palavra Prosódica

independente. Tal definição ainda oferece a possibilidade de reagrupar elementos morfológicos de modo a confirmar a não isomorfia entre a estrutura prosódica e estrutura morfossintática. Uma vez definida a Palavra Prosódica, é possível processar sua construção como em (8):

(8) Construção de Palavra Prosódica13

11

Os símbolos utilizados referem-se às iniciais das respectivas palavras em inglês. O primeiro ‘W’ é

Palavra Morfológica (Word) e o segundo ‘PW’ Palavra Prosódica (Prosodic Word).

12

Trecho original (Nespor & Vogel, 1986, p. 141): ω domain. A. The domain of ω is Q. Or. B. I. The domain of ω consists of: a stem; b. any element identified by specific phonological and/or morphological criteria; c. any element marked with the diacritic [+W]. II. Any unattached elements within Q form part of the adjacent ω closest to the stem; if no such ω exists, they form a ω on their own.

(29)

Unir em ramificações n-árias toda Palavra Prosódica incluída dentro de uma seqüência delimitada pela definição do domínio de Palavra Prosódica.

Apesar de a regra de construção de Palavra Prosódica agrupar pés e Palavras Prosódicas, é claro que a estrutura fonológica abaixo do nível da Palavra Prosódica deve estar presente no momento em que são criadas. A sílaba de uma Palavra Prosódica deve estar unida a um pé n-ário ramificado pela regra geral de construção do constituinte prosódico, e, assim, por possuir apenas um elemento proeminente, não pode apresentar mais do que um acento primário. Uma Palavra Prosódica inclui um radical mais todos os afixos adjacentes, assim como os membros de compostos.

Diferentemente de Nespor & Vogel (1986), Selkirk (1986) propõe que o domínio da Palavra Prosódica é definido com base nas bordas de determinados constituintes sintáticos. O parâmetro ]w seleciona as bordas direitas das palavras

lexicais, agrupando juntamente a elas, palavras funcionais imediatamente adjacentes, neste caso, localizadas à esquerda da palavra lexical, pois as palavras funcionais são invisíveis para o mapeamento sintaxe-fonologia.

(9) Estrutura sintática (PFun) + (PLex) Estrutura prosódica [[PFunc[PLex]PW]PW

Essa combinação de palavra funcional (clítico) mais palavra lexical (hospedeiro) constitui um caso em que a Palavra Prosódica extrapola os limites do nó sintático terminal (cf. Booij 1996). Para resolver essa questão Nespor & Vogel (1986) haviam proposto um constituinte que envolvesse esse tipo de seqüência, o Grupo Clítico. No entanto esse constituinte também tem sido discutido e questionado, e até mesmo excluído da hierarquia prosódica, como propõem Booij (1996), Perperkamp (1997) e Vigário (1999, 2003) 14.

De acordo com Vigário (2003), os clíticos tem sido alvo de muitas discussões e atraído grande atenção dos pesquisadores no que se refere à prosodização e o modo de integração na estrutura prosódica, principalmente por ser independente

13

Trecho original (Nespor & Vogel, 1986, p. 142): ω construction: Join into an n-ary branching ω all Σ included within a string delimited by the definition of the domain of ω.

14

(30)

morfologicamente e também pelo fato de possuir mobilidade na sentença. Entretanto, a principal característica prosódica dos clíticos é ser destituído de acento primário. Por esse motivo, o clítico precisa se unir a um item que corresponde a algum domínio prosódico para integrar-se estrutura prosódica.

Vigário (2003), ao investigar as propriedades fonológicas que definem a

Palavra Prosódica no PE, propõe que algumas unidades morfossintáticas são agrupadas juntas para formar uma Palavra Prosódica Mínima, a qual é dotada de apenas um acento primário, e composta por estruturas incorporadas (palavras com sufixos ou hospedeiros mais enclíticos), ou estruturas adjungidas (palavras com prefixos ou hospedeiros mais proclíticos). A autora também propõe a construção de uma Palavra Prosódica Máxima ou Composta, a qual é formada por duas Palavras Prosódicas (caso das palavras compostas que não formam um sintagma fonológico), entretanto tem apenas um elemento proeminente que carrega a proeminência principal desse domínio.

As construções formadas por duas ou mais Palavras Prosódicas estão agrupadas em: (i) compostos morfossintáticos e algum composto sintático (palavra + palavra), como por exemplo15, ‘salto alto’ [[salto]W[alto]W]PWMAX, ‘verde-água’

[[verde]W[água]W]PWMAX; (ii) palavras derivadas com sufixos que constituem domínios

de acento independentes de sua base, como ‘francamente’ [[franca]W[mente]W]PWMAX;

(iii) palavras derivadas com prefixos acentuados, como em ‘pré-estréia’ [[pré]W[estréia]W]PWMAX; (iv) composto morfológicos (raiz+raiz), como

‘socioeconômico’ [[sócio]W[econômico]W]PWMAX; (v) estruturas mesoclíticas, como

‘falar-te-ei’ [[falar-te]W[ei]W]PWMAX; (vi) abreviações, como em ‘CD’

[[se]W[de]W]PWMAX; e por fim, (vii) seqüência de Palavras Prosódicas consistindo de (a)

pares de nomes de letras, como em ‘RN’ [[erre]W[ene]W]PWMAX; (b) nome de letras

seguidas por numerais, como em ‘P-dois’ [[pe]W[dois]W]PWMAX; e (c) alguns numerais

seguidos por palavras freqüentes ‘horas’ e ‘anos’, como em ‘onze horas’ [[onze]W[horas]W]PWMAX.

Já em Vigário (2007), a autora propõe a Palavra Prosódica Mínima/ Menor (Minimal/ Minor PW) e Palavra Prosódica Máxima/ Maior/Composta (Maximal/ Major PW, Compound PW) formam um único domínio prosódico, o qual ela denomina de

15

(31)

‘Grupo de Palavra Prosódica (Prosodic Word Group)’. Tal grupo, segundo a autora, é o antigo Grupo Clítico de Nespor & Vogel (1986) reciclado e não um constituinte novo.

No que se refere ao domínio da Palavra Prosódica no PB, Leiria (2000) afirma que esse constituinte faz parte da hierarquia prosódica dessa variedade de português, e propõe que a Palavra Prosódica é o domínio de aplicação da regra de apagamento da vogal com conseqüente alongamento das obstruintes, em ambiente C1V1C2V2, a qual

apaga a C1V1 e alonga a C2, como por exemplo, ‘canto tonal ~ can[t:]onal’. Segundo

Leiria, em contextos que envolvem palavras funcionais, a regra não se aplica, como em ‘aula d[e] didática’, pois se a vogal for apagada, a regra de palatalização não ocorre ‘aula *[d:]idática’16.

Leiria ressalta que, em contextos que envolvem duas Palavras Prosódicas, a regra se aplica, como em ‘grande domador ~ grand[o:]mador, entretanto a regra não é aplicada dentro de uma Palavra Prosódica como em ‘tato ~ *t:o’. Assim a autora justifica a existência desse domínio da Palavra Prosódica no PB, pois segundo Booij (1996), o requisito básico para se ter uma categoria prosódica é o fato de ela ser domínio para a ocorrência de regras fonológicas, e no caso analisado, a Palavra Prosódica no PB é o domínio para a aplicação do apagamento da primeira vogal em posição de final de palavra seguida por sílaba semelhante.

Já Bisol (2004) afirma que, no português, há varias regras que ocorrem no domínio de Palavra Prosódica, como por exemplo, a neutralização das vogais átonas, e a harmonia vocálica (cf. Bisol 2000). Observe os exemplos 17 a seguir.

(10) i) Neutralização das vogais átonas caf[ε] > caf [e]teira

s[]l > s[o]laço

bolo > bol[u] [verde > verd[i] ii) Harmonia vocálica

coruja > c[u]ruja menino > m[i]nino peregrino > p[i]r[i]grino

16

Em trabalhos recentes, foram mostrados os contextos em que é possível o apagamento de sílabas semelhantes, o qual, de acordo com a literatura é denominado como haplologia. Como foge de nosso objetivo discutir tais questões, indicamos a leitura de Leal (2006) para mais informações sobre a ocorrência desse processo de apagamento silábico em contexto que envolve palavra funcional e palavra lexical.

17

(32)

A partir da descrição do sistema fonológico do Português Brasileiro feita por Câmara Jr. (1970), na qual ele coloca a necessidade de distinguir palavra morfológica de palavra prosódica18, Bisol desenvolve um estudo firmado na distinção e na discussão da interação entre palavra morfológica de palavra prosódica19, cujos limites nem sempre coincidem. Baseando-se nos algoritmos de construção de constituintes prosódicos propostos por Nespor & Vogel (1986), Bisol afirma que a condição mínima para se estabelecer uma palavra fonológica, também no PB, é ser dotada de apenas um acento primário.

Quanto ao tamanho de uma palavra fonológica, no PB, a isomorfia entre palavra morfológica e palavra fonológica não se mantém, pois dados do PB mostram que um mesmo prefixo se comporta ora como uma palavra independente, ora não, e isso depende do grau de coerência20. Quando ocorre a prefixação do prefixo ‘pré’ mais a raiz ‘fixo’, temos a formação de apenas um vocábulo fonológico ‘prefixo’, pois, no PB, não há vogais médias baixas // na posição pretônica, porque são neutralizadas em favor da

vogal não-alta /e/. No entanto, quando há justaposição, como em ‘pré+estréia’, o prefixo ‘pré’ é um vocábulo fonológico independente, pois mantém seu acento primário durante o processo morfológico de justaposição. Esse caso é evidência de que a palavra fonológica é menor que o elemento terminal de uma árvore sintática.

Entretanto Palavras Prosódicas maiores do que sua contraparte também podem ser encontradas no PB quando há a ressilabificação, após a ocorrência de algum processo fonológico, como em ‘lápis azul’, por exemplo. Nesse contexto ocorre a regra de vozeamento da fricativa, na qual a fricativa surda /s/ ao entrar em contato com a vogal da palavra seguinte assimila o traço [+voz] da vogal, e é ressilabificada com a vogal, /’la.pi.za.’zul/.

Com base na discussão de Booij (1983), Bisol diz que a Palavra Prosódica em PB tem três funções: (i) portadora de proeminência relativa, ou seja, a Palavra Prosódica tem apenas uma sílaba proeminente; (ii) domínio de aplicação de regras fonológicas, como por exemplo a regra de neutralização das átonas finais, a harmonia vocálica e o abaixamento datílico, entre outras; e (iii) o domínio de restrições

18

No texto original, o autor utiliza o termo palavra fonológica.

19

No texto original, o autor utiliza o termo palavra fonológica.

20

(33)

fonotáticas, como por exemplo consoantes palatais como /¥/ não podem iniciar Palavra

Prosódica.

Em suma, o que se pode concluir, de acordo com Bisol, sem esgotar o assunto no PB, é que não há isomorfia entre Palavra Prosódica e Palavra Morfológica, pois assim como há Palavras Prosódicas menores do que as morfológicas correspondentes, há também maiores, principalmente quando a ocorrência da ressilabificação após processo de juntura entre palavras, como por exemplo, o sândi externo21. Apresentados os trabalhos que tratam da Palavra Prosódica nas línguas e no PB, apresentamos uma breve discussão sobre o constituinte Grupo Clítico.

2.2.2. O Grupo Clítico

O constituinte denominado como Grupo clítico foi proposto inicialmente por Hayes (1984), mas publicado em (1989), e além de Hayes, Nespor & Vogel (1986) também argumentam em favor da sua existência. Segundo tais autores, esse constituinte fica entre o Sintagma Fonológico e a Palavra Prosódica, e é constituído por um clítico (formas átonas) e uma palavra de conteúdo (forma que carrega um acento primário). Como os outros domínios da hierarquia, o Grupo Clítico é domínio para a ocorrência de regras fonológicas, segundo Nespor & Vogel (1986), como por exemplo, a atribuição de acento no Latim. Então, quando uma palavra como ‘vírum’ seguida por um enclítico como ‘que’, formando ‘virúmque’, tem seu acento mudado de lugar22.

Há dois tipos de clíticos, de acordo com as autoras: aqueles que são dependentes da Palavra Prosódica, formando junto com ela uma unidade fonológica, como os afixos; e aqueles que revelam certa independência, além de sofrer as mesmas regras fonológicas, como as palavras funcionais, as quais não portam acento primário.

Nespor & Vogel (1986) argumentam que não é possível classificar os clíticos como parte de uma Palavra Prosódica ou do Sintagma Fonológico devido ao seu caráter híbrido, e comprovam isso com a análise de várias línguas.

21

Diante das considerações feitas por Bisol, reforça-se a necessidade de um estudo sistemático da palavra prosódica (ou fonológica, como é tratada por Bisol) no PB, assim como já feito para o Português Europeu, por Vigário (2003). Este trabalho contribuirá ao estudo da palavra prosódica na medida em que define o estatuto prosódico das palavras funcionais.

22

(34)

Zwicky (apud Nespor & Vogel, 1986) menciona que os clíticos pronominais não afetam de qualquer forma a localização do acento no Espanhol, e isso é evidência do seu estatuto independente à palavra hospedeira. Assim o verbo ‘dándo’ mantém a posição de seu acento principal, mesmo quando seguido por dois clíticos, como em ‘dándonoslos’ [[‘dando]ω[nos]C [los]C]GC.

O Grupo Clítico seria o nível da hierarquia que mapeia os componentes sintáticos e fonológicos, conforme o algoritmo proposto em (11).

(11) Formação do Grupo Clítico23:

I. Domínio de C: O domínio de C consiste de uma Palavra Prosódica que seja independente (não-clítico) mais todas as Palavras Prosódicas adjacentes, que sejam

a. um Clítico derivacional (que determina o lado em que se une ao hospedeiro, direito ou esquerdo), ou

b. um clítico (que pode encontrar seu hospedeiro tanto do lado direito, quanto do lado esquerdo), tal que não haja hospedeiro possível com o qual compartilhe mais categorias comuns.

II. Construção de C: Reunir em uma ramificação n-ária C todas as PWs incluídas em uma seqüência delimitada pela definição do domínio de C.

Embora alguns autores afirmem a existência desse constituinte nas línguas, Selkirk (1984, 1986), Selkirk & Shen (1990), Peperkamp (1997), Vigário (2003, 2007), entre outros vão contra essa posição, pois afirmam que os clíticos algumas vezes se comportam como afixos e se juntam à palavra vizinha, e ambos são prosodizados como um único constituinte, a Palavra Prosódica. Em outras se comportam como palavra independente, pertencendo ao Sintagma Fonológico.

O ponto mais discutido com relação à definição de Grupo Clítico conforme proposto por Nespor & Vogel (1986) é o fato dos clíticos formarem Palavras Prosódicas independentes, visto que a principal característica do clítico é ser acentualmente inerte, propriedade básica de uma Palavra Prosódica. Vigário (2007) afirma que essa assunção é contra-intuitiva e teoricamente problemática.

Inkelas (1990), utilizando o Princípio da Economia, sugere que o Grupo Clítico pode ser reinterpretado em Palavra Prosódica lexical e regras lexicais versus Palavra Prosódica pós-lexical (que podem incluir clíticos) e regras pós-lexicais.

23

Trecho original de (Nespor & Vogel, 1986, p. 154): Clitic group formation. I. C domain. The domain of

C consists of a PW containing na independent (i.e. nonclitic) word plus any adjacent PWs containing a. a DCL, or b. a CL such that is no possible host with which it shares more category memberships. II. C construction. Join into n-ary branching C all PWs included in a string delimited by the definition of the domain of C.

(35)

Há ainda outras propostas de substituição ou eliminação desse domínio prosódico, mas o fato de que, em várias línguas os clíticos se ligam a níveis superiores na hierarquia prosódica, também é indicativo de que não existe um constituinte responsável pela organização dos clíticos, visto que os clíticos não podem variar, de língua para língua, o domínio ao qual se unem.

Vigário (2007) ressalta que a eliminação do Grupo Clítico cria novos problemas, como por exemplo, a prosodização dos compostos como ‘guarda-chuva’ que possuem mais de uma Palavra Prosódica, por isso a autora propõe estruturas recursivas em que um nó Palavra Prosódica domina outros nós do mesmo nível, como em [[guarda]PW[chuva]PW]PW.

Para suprir a problemática criada com a extinção do Grupo Clítico, Vigário (2007) propõe um constituinte do mesmo nível, o qual recebe a designação de Grupo de Palavra Prosódica. Assim, a hipótese formulada por Vigário é a de que o constituinte intermediário entre Palavra Prosódica e Sintagma Fonológico, agrupa Palavras Prosódicas. A autora ressalta que ‘este termo é intuitivo e transparente, uma vez que reflete o tipo de constituinte que se agrupa no seu interior, preservando a coerência terminológica da hierarquia prosódica’, além de ser conservador por manter a expressão ‘Grupo’. Como dito na seção anterior, o Grupo de Palavra Prosódica inclui outras designações como Palavra Prosódica Máxima/Maior ou Palavra Prosódica Composta e Mínima/Menor, já propostas em Vigário (2003).

Concluída a apresentação da definição do domínio de Palavra Prosódica, com base nas propostas teóricas e a discussão do constituinte Grupo Clítico na hierarquia prosódica, passamos à prosodização de palavras na seção seguinte. Vale ressaltar que dentre as propostas apresentadas a que melhor engloba os fatos a serem investigados neste trabalho e parece mais coerente, é a proposta de Vigário (2007), principalmente pelo modo com que lida com os clíticos em relação ao seu hospedeiro.

2.3. A prosodização de palavras

Referências

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