• Nenhum resultado encontrado

Considerando que dependendo da posição dentro de I e do contexto discursivo, as palavras funcionais podem ser prosodizadas de modos diferentes, apresentaremos nesta seção quais os principais modos de se diagnosticar uma Palavra Prosódica. Se as palavras funcionais não forem Palavras Prosódicas na representação fonológica, elas serão clíticos prosódicos.

Segundo Vigário (2003), os mais comuns diagnósticos para a Palavra Prosódica são: atribuição de acento primário; fenômenos fonológicos que se referem ao domínio da Palavra Prosódica; generalizações fonotáticas; apagamento sob identidade24; clipping25; requerimento de palavra mínima; e silabificação. No caso do PE, a autora ressalva que nem todos esses fenômenos são diagnósticos confiáveis para o domínio da Palavra Prosódica. No caso do PB, discutiremos apenas os fenômenos que forem importantes para a prosodização das palavras funcionais quando Palavras Prosódicas, pois estudar amplamente o domínio da Palavra Prosódica na variedade brasileira foge ao objetivo deste trabalho. Por hora, restringir-nos-emos às palavras funcionais.

O domínio da Palavra Prosódica deve aceitar apenas um acento, logo a atribuição de acento primário é um dos principais diagnósticos para analisar nossos dados. Considerando que as palavras funcionais investigadas são monossilábicas e destituídas de acento primário por não formarem um pé, somente serão prosodizadas como Palavras Prosódicas se receberem algum tipo de proeminência pós-lexical, tal como proeminência principal de I ou φ.

Assim como outros domínios, o domínio da Palavra Prosódica é um domínio de aplicação de regras fonológicas (cf. Nespor & Vogel 1986). As palavras funcionais do PB sofrem alguns processos fonológicos tal como redução da vogal, sândi externo entre outros. Entretanto, somente a ocorrência desses processos em seqüências que envolvem palavras funcionais não é suficiente para diagnosticá-las como Palavras Prosódicas. Mesmo porque, por não haver muitos trabalhos que tratam desse assunto, é necessário investigar quais fenômenos fonológicos referem-se somente ao domínio da Palavra Prosódica em PB.

Além desses dois diagnósticos, como afirmado por Vigário, a Palavra Prosódica é o domínio para generalizações fonotáticas, como por exemplo, no italiano,

24

Deletion under identity.

25

palavras prosódicas não iniciam com consoantes palatais como [ ] (cf. Peperkamp

1997). Segundo Bisol (2005) e Vigário (1999), o português aceita que os clíticos pronominais como o ‘lhe’ iniciem por consoante palatal [¥], o que seria inaceitável se

fosse uma Palavra Prosódica, exceto em casos de empréstimos como ‘nhoque’ e ‘lhama’.

Há também o apagamento sob identidade. Autores como Booij (1985, 1988), Wiese (1993, 1996), e Kleinhenz (1994) propõem que no holandês e no alemão o apagamento de um elemento dentro de palavras complexas em estruturas coordenadas depende não somente de informações morfossintáticas, mas também do estatuto prosódico do elemento a ser omitido na seqüência, ou seja, esse elemento deve ser uma Palavra Prosódica independente. No caso do PB, o apagamento entre termos coordenados parece ser bastante produtivo, como em ‘pré-avaliação e pós-avaliação> pré e pós avaliação’, no entanto, não parece o ser quando um dos termos é uma palavra funcional ‘por amor e pelo ódio > *por e pelo ódio’.

Além dos fenômenos mencionados acima, algumas línguas têm mostrado ter a síndrome da palavra mínima, isto é, uma Palavra Prosódica tem que ter um tamanho mínimo, como por exemplo, tem que ser dissilábica ou bimoraica. Em línguas como o PE e o PB, uma Palavra Prosódica pode consistir em um monossílabo tônico, como ‘dê’, ou átono ‘de’. Logo esse requerimento não serve para identificar uma Palavra Prosódica no PB.

Outro processo que serve como evidência do domínio da Palavra Prosódica é o clipping (truncation). Em algumas línguas, operações morfológicas consistem no encurtamento de palavras, das quais as formas de output formam uma Palavra Prosódica (mínima), como por exemplo, no italiano, ‘amplificatore > ampli’. O mesmo acontece no PB, como por exemplo ‘faculdade > facul’, e alguns até já são fossilizados como ‘motocicleta > moto’. No entanto, o mesmo não é notado quando a palavra a ser encurtada é uma palavra funcional, pois não é uma palavra de conteúdo.

Um último diagnóstico é o domínio da silabificação. Em línguas românicas, segundo Vigário (2003), esse critério não é claro devido à existência da silabificação no nível da palavra e a ressilabificação entre palavras, logo não é adequado para diagnosticar uma Palavra Prosódica em português.

Vários fenômenos podem ser pistas do domínio de Palavra Prosódica, de acordo com Vigário (2003), entretanto somente alguns podem identificar Palavras Prosódicas em determinadas línguas. No caso do PB, veremos nos capítulos a seguir, a discussão dos fenômenos relevantes para a prosodização das palavras funcionais.

2.3.2. A prosodização dos clíticos

Nos casos em que as palavras funcionais não são prosodizadas como Palavras Prosódicas, elas serão clíticos, os quais irão se apoiar em algum hospedeiro. De acordo com as propostas encontradas na literatura, e excluindo o Grupo Clítico da hierarquia prosódica, os clíticos podem ser integrados a estrutura prosódica de modos diferentes: (i) ser diretamente ligado ao Sintagma Fonológico; (ii) ser adjungido à Palavra Prosódica; ou (iii) ser incorporado à Palavra Prosódica.

Selkirk (1995) afirma que os clíticos funcionais podem ser prosodizados de três modos diferentes: clíticos livres, clíticos afixais e clíticos internos. A diferença entre um e outro está no tipo de configuração prosódica em que o clítico aparece em relação à Palavra Prosódica. A autora assume que as diferentes prosodizações das palavras funcionais deve-se ao fato dos critérios de não-recursividade e exaustividade serem violáveis, pois ambos ferem a Strict Layer Hypothesis, o que impediria tais prosodizações.

Para Vigário (2003), é necessário usar como diagnóstico alguns processos fonológicos para estabelecer qual modo com que o clítico será integrado à estrutura prosódica, tal como a regra de atribuição de acento primário. No caso do PB, palavras funcionais monossilábicas não formam um pé, logo não recebem acento primário, sendo prosodizadas como clíticos.

Quanto à prosodização dos clíticos, Vigário (2003, p. 28-29) afirma que pode haver variação, e isso depende da direção de cliticização de cada língua, ou também da seqüência segmental que resultará a combinação entre palavra lexical e palavra clítica. No holandês, por exemplo, os proclíticos são adjungidos à Palavra Prosódica seguinte, enquanto que os enclíticos são incorporados à Palavra Prosódica antecedente (cf. Booij 1996). No caso do PB, segundo Bisol (2005) e Brisolara (2008),

os clíticos são adjungidos à Palavra Prosódica no pós-léxico, independentemente de serem proclíticos ou enclíticos.

Brisolara (2008, p. 154) argumenta que se a seqüência clítico+hospedeiro fosse inserida no nível do sintagma (fonológico ou entoacional), isso implicaria mudar o domínio de aplicação de regras da língua, como a neutralização das átonas finais e a palatalização das plosivas coronais.

No decorrer desse trabalho, discutiremos novamente tais questões sobre o PB.

Documentos relacionados