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1.2 – O Grupo de São Bernardo e a opção pelo tema Saúde

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No estudo da temática Comunicação para a Saúde, objeto principal deste trabalho, a opção pela Universidade Metodista de São Paulo, cujos pesquisadores fazem parte do denominado Grupo de São Bernardo, foi fundamental. Criado em 1978, o PÓSCOM-UMESP optou inicialmente por uma linha de trabalho orientada para a comunicação não-hegemônica (MARQUES DE MELO, 2000 p. 676). Em 1995, a instituição cria seu Curso de Doutorado, procurando valorizar os paradigmas constituídos na América Latina pelos comunicólogos que inspiraram as políticas democráticas de comunicação. Desde 2000 o programa, reconhecido pela CAPES, estimula os alunos a pesquisar temas e problemas comunicacionais que se encaixem nas seguintes áreas de interesse: 1 – Comunicação massiva: (a) Grupos de mídia: história dos grupos midiáticos, internacionalização midiática e indústrias publicitárias; (b) Cultura midiática: transcodificação midiática e contexto da audiência; (c) Conhecimento midiático: midiologia comparada, mídia local e comunitária, folk-mídia. 2 – Comunicação segmentada: (a) Comunicação científica: divulgação científica e políticas de C&T, comunicação da saúde [grifo nosso], discursos da comunicação científica;

(b) Comunicação corporativa: comunicação empresarial, comunicação mercadológica, segmentação publicitária; (c) Educomídia: teletrabalho, teleformação, telemática educativa e mídia eletrônica. No balanço da produção acadêmica do Grupo de São Bernardo, no período de 1998-

2002, FADUL (2003, p. 101) identificou uma alta nos trabalhos ligados à divulgação científica e em Comunicação para Saúde:

(...) Outra tendência forte que se observa é a presença de pesquisas na área da comunicação científica,

representando 11,8% dos produtos dos últimos cinco anos. Essa é uma linha de pesquisa que vem quase desde o início do programa, mas que teve um aumento significativo,

principalmente no que se refe re à comunicação para a saúde. (...) O que se nota, no entanto, é a ausência, no caso da comunicação para a saúde, de um enfoque sobre a comunicação interpessoal, que permitiria pensar as relações entre médico e paciente, bem como do pessoal da saúde em ge ral. O grande desenvolvimento da área da comunicação interpessoal nos Estados Unidos pode ser percebido pela existência de faculdades, cursos e programas, assim como de revistas de associações científicas que privilegiam essa área. Dessa forma se entende esse enfoque da comunicação para a saúde.

A escolha da linha de pesquisa de Comunicação para a Saúde está diretamente relacionada à instalação da Cátedra UNESCO/UMESP, dirigida pelo Prof. Dr. José Marques de Melo. Segundo o pesquisador (In: EPSTEIN et al., 2001, p. 18), a opção pelo campo da saúde da Cátedra UNESCO veio da centralidade ocupada pelas Ciências da Saúde nos processos de reprodução humana, na melhoria da qualidade de vida e, conseqüentemente, na longevidade das pessoas que tecem a malha da vida cotidiana. Marques de Melo lembra que “cidadãos sadios, nutridos e felizes podem desencadear

mecanismos de desenvolvimento capazes de sustentação autônoma, tornando factíveis, estáveis e duradouras as sociedades onde vivem”. Conforme MARQUES DE MELO (2004, p.

264):

Ao decidir ampliar suas atividades, em meados de 90, tanto no âmbito da especialização (reciclagem profissional) quanto do doutorado (pesquisa avançada), o grupo de pesquisadores em comunicação estabeleceu algumas prioridades temáticas. Dentre elas a construção de estratégias midiáticas e alternativas difusionistas aplicadas à saúde. Para tanto, buscou a parceria da Organização Panamericana de Saúde (OPS). Com assessoria da Dra. Glória Coe, iniciou-se em 1995 um Curso de Especialização (Pós-Graduação Lato Sensu) voltado para a relação entre Comunicação e Saúde Pública. (...) O principal objeto de estudos foi a

prevenção às drogas.(...) Dois professores do curso – Drs. Isaac Epstein e Wilson Bueno – realizavam estudos e reflexões sobre a questão, sendo os responsáveis pela orientação das várias dissertações de mestrado defendidas nos últimos anos.

MARQUES DE MELO (2004, p. 264) ressalta que a opção pela Comunicação para a Saúde teve desdobramentos na área de pesquisa em toda a América Latina:

Essa iniciativa [a UMESP investir na pesquisa em Comunicação e Saúde] certamente influiu no crescente interesse da comunidade acadêmica brasileira e latino-americana pelo tema. Resultado disso foi a decisão da Asociación

Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), criando um grupo de estudos sobre “Comunicação e Saúde”. Essa microcomunidade reuniu-se pela primeira vez em Recife (Brasil), em setembro de 1998, sob a coordenação do Dr. Luis Ramiro Beltrán, tendo continuidade nos congressos de Santiago do Chile (2000) e Santa Cruz de la Sierra, Bolívia (2002), sob liderança do Dr. Isaac Epstein.

O próprio MARQUES DE MELO (2005), informa que outras iniciativas no campo de pesquisa em Comunicação para a Saúde teriam sido preconizadas em outras instituições, mas que a UMESP seria a tentativa mais duradoura:

Creio que o interesse pela temática originou-se na Escola de Saúde Pública da USP, onde foram feitas tentativas, nem sempre bem-sucedidas, de parceria com a ECA e UNICAMP, nos tempos do Reitor Pinotti, deu ênfase a essa questão, contemplada na linha de pesquisa da Dra. Nelly de Camargo. Contudo, parece que os resultados não foram promissores. Trata-se de episódio a ser mais bem dimensionado. A tentativa mais duradoura tem sido a da UMESP, desde a instituição do Doutorado em Comunicação, quando a instituição fez parceria com a OPAS [Organização Pan-Americana da Saúde] e estimulou o Dr. Epstein a liderar um grupo de pesquisas sobre o tema. Antes disso, foram relevantes as incursões feitas pelo Dr. Wilson Bueno, que se interessa pelo objeto sem, contudo, dar-lhe atenção exclusiva. Mais

recentemente, nota-se o interesse do Dr. Antônio Fausto Neto, na UNISINOS, e da Dra. Isaltina Gomes, na UFPE, além do Dr. Murilo Ramos, na UNESP-Bauru.

A informação é confirmada por EPSTEIN (2005), que traça um pequeno histórico do surgimento da pesquisa em Comunicação para a Saúde na UMESP: A Comunicação Pública da Saúde é uma subárea da Comunicação Pública da Ciência, setor a que venho me dedicando desde o início dos anos 90. A minha atenção específica ao setor da comunicação da saúde surgiu devido a uma proposta que veio por parte da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 1997. Eles haviam convidado a Metodista – por intermédio do Prof. Dr. José Marques de Melo – para participar de uma pesquisa na qual participariam 13 universidades latino-americanas e onde se deveria verificar como a saúde era divulgada nos veículos latino-americanos impressos e eletrônicos de circulação nacional na área da saúde. Fui a convite da OPAS para Lima e lá participei de uma reunião prévia com representantes das 13 universidades mencionadas para estudar o protocolo da análise de conteúdo do Proyecto Comsalud. A finalidade deste projeto era justamente fazer um levantamento da divulgação da saúde na mídia Latino-Americana A Metodista foi uma das universidades integrantes deste projeto e numa reunião posterior os representantes das universidades participantes me elegeram coordenador latino-americano do projeto. Terminada a pesquisa pelas universidades referidas e que consistia numa análise de conteúdo, foi realizada uma análise crítica do Comsalud, que mais tarde foi objeto de tese de doutorado de Elizabeth Maurenza de Oliveira [Proyecto Comsalud para a América Latina: uma análise crítica. UMESP, 2002] e também de alguns artigos publicados.

A produção acadêmica do Grupo de São Bernardo na área da Comunicação para a Saúde foi devidamente mapeada até 2002 por PESSONI & SANTOS (2004, p. 304). Através de quadro explicativo, os autores mo stram que, além das teses e dissertações, alguns artigos sobre o tema haviam sido veiculados na revista científica da UMESP Comunicação &

Quadro 2 – Artigos sobre Comunicação e Saúde publicados na revista Comunicação & Sociedade

Número da revista

Data Título do trabalho

Autor

07 Março/1982 As revistas brasileiras do setor saúde Antônio A. Briquet de Lemos 11 Junho/1984 Rádio: um canal de interação entre o

profissional de saúde e a comunidade

Eymard Mourão Vasconcelos e

Nelsina Melo 17 Agosto/1991 A divulgação científica no controle de

doenças tropicais: um ponto de vista

Marco Túlio Antonio Garcia

Zapata 20 Dezembro/1993 Jornalismo e Saúde: reflexões sobre a

postura ética dos meios de comunicação no Brasil

Wilson da Costa Bueno 23 Junho/1995 Aprimorando a efetividade das

campanhas antidrogas na televisão

José Antonio Daniello (coord.) 23 Junho/1995 Proposta de um modelo de currículo para

comunicação em saúde

Alfonso Contreras 27 Junho/1997 Os possíveis efeitos negativos devido à

publicação prematura de notícia inesperada ou “novidade” na divulgação científica em medicina. O caso da bactéria Chlamydia

Isaac Epstein

31 Junho/1999 Mulheres e AIDS: escritos do jornal

Folha de S.Paulo

Rosana de Lima Soares 35 Janeiro/2001 Promoción de la salud: uma estratégia

revolucionaria cifrada en la comunicación

Luis Ramiro Beltrán 35 Janeiro/2001 Comunicação e saúde Isaac Epstein 35 Janeiro/2001 A cobertura da saúde na mídia brasileira:

os sintomas de uma doença anunciada

Wilson da Costa Bueno 35 Janeiro/2001 Comunicación y salud: el caso del

sistema de salud chileno

Lucía Castellón Aguayo e Carlos

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