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CAPÍTULO 4 – COMO O AGENDAMENTO FUNCIONA NO

4.4 A RELAÇÃO DAS EMISSORAS PESQUISADAS COM OUTROS

4.4.1 O Interagendamento que Garante a Cobertura Regional

As duas emissoras participantes desta pesquisa informam que realizam cobertura jornalística dos acontecimentos nas cidades em que o telejornal da emissora é captado pela antena de TV. Assim, a área de cobertura da RPC TV abrange 34 municípios40: Ponta Grossa (geradora), Antônio Olinto, Arapoti, Carambeí, Castro, Conselheiro Mairinck, Figueira, Guamiranga, Ibaiti, Imbaú, Imbituva, Ipiranga, Ivaí, Jaboti, Jaguariaíva, Japira, Mallet, Palmeira, Paulo Frontin, Piraí do Sul, Porto Amazonas, Reserva, Salto do Itararé, Santana do Itararé, São João do Triunfo, São José da Boa Vista, São Mateus do Sul, Sapopema, Sengés,

39 Durante a pesquisa empírica quem apresentava a produção era um apresentador provisório, já que Ratinho Júnior estava em campanha para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná. O candidato foi eleito o deputado mais votado do Paraná com 300.928 votos, o mais votado. 40 Dados do Atlas de Cobertura. Disponível em: >http://comercial.rpctv.com.br/mapa-de- cobertura/rpc-tv-ponta-grossa/>.

Siqueira Campos, Telêmaco Borba, Tibagi, Ventania e Wenceslau Brás.

A TV Guará tem uma área de cobertura de 63 municípios no Paraná41: Ponta Grossa (geradora), Adrianópolis, Antônio Olinto, Arapoti, Bituruna, Campina do Simão, Candói, Carambeí, Castro, Cerro Azul, Chopinzinho, Clevelândia, Coronel Domingos Soares, Cruz Machado, Curiúva, Doutor Ulysses, Fernandes Pinheiro, Foz do Jordão, Francisco Beltrão, General Carneiro, Guamiranga, Guarapuava, Honório Serpa, Imbaú, Imbituva, Inácio Martins, Ipiranga, Irati, Ivaí, Jaguariaíva, Laranjeiras do Sul, Mallet Mangueirinha, Mariópolis, Palmas, Palmeira, Paula Freitas, Paulo Frontin, Piên, Pinhão, Piraí do Sul, Porto Amazonas, Porto Barreiro, Porto Vitória, Prudentópolis, Rebouças, Reserva, Reserva do Iguaçu, Rio Azul, Rio Bonito do Iguaçu, São João do Triunfo, São Matheus do Sul, Sapopema, Saudade do Iguaçu, Sengés, Sulina, Teixeira Soares, Telêmaco Borba, Tibagi, Tunas do Paraná, Turvo, União da Vitória e Ventania.

Embora estejam presentes através da transmissão de sinal em uma quantidade de municípios, a estrutura que as duas emissoras oferecem para cobrir jornalisticamente essas cidades é muito pequena. No caso da RPC TV, a redação de Ponta Grossa conta com 17 profissionais para cobrir os 34 municípios. Não há jornalistas contratados pela emissora nas demais cidades que englobam a área de cobertura.

Na TV Guará, a redação de Ponta Grossa conta com 23 profissionais e a emissora ainda mantém uma empresa que presta serviços à emissora na cidade de Guarapuava, com um repórter e um repórter cinematográfico. Na cidade de Francisco Beltrão, a emissora possui outra redação que gera o Programa Tribuna da Massa regionalmente, mas que também envia conteúdo para a cidade de Ponta Grossa.

Mas como as demais cidades são cobertas jornalisticamente? Quando elas se tornam notícia no telejornal? Como a redação descobre aquilo que é noticiável nessas cidades? A resposta para essas questões está no centro do objeto desse estudo: o interagendamento. Nas duas emissoras pesquisadas é possível identificar uma rede estruturada de vigilância regional a partir de dispositivos de mídia42 que funcionam nas cidades que fazem parte da área de cobertura.

41 De acordo com o Atlas da emissora. Disponível em:

<http://www.redemassa.com.br/paginas/sobrenos/685OK/Area_de_cobertura.html>.

42 O Uso do termo “dispositivo de mídia” pareceu mais apropriado para a situação uma vez que a vigilância regional não se dá apenas em veículos jornalísticos, mas também (ou principalmente) em mídias geradas por fontes, como prefeituras, polícia, câmara de vereadores, entre outros.

O funcionamento de uma rede estruturada de vigilância de mídia em escala regional opera dentro do conceito de rede noticiosa. O conceito de rede noticiosa mantém a ideia de um emaranhado de conexões (contatos) que se estabelecem entre redação jornalística e mundo social. Trata-se de uma estrutura relativamente estável que garante ao jornalista um controle relativamente eficiente de seu trabalho. Hall et al. (1993) indicam que rede noticiosa é, em primeira instância, o local para onde os jornalistas olham. Para eles, não se trata de um olhar despreocupado, mas sim de um processo de vigilância guiado por um complexo sistema de valores construídos e confirmados processualmente durante o contato que se estabelece nessa rede.

Tuchman (1983) chama esse fenômeno de rede informativa. Para ela, o fenômeno engloba os locais para os quais os jornalistas olham frequentemente para garantir a produção diária de notícias. Trata-se de uma maneira de ordenar o espaço social e ganhar tempo no trabalho de colher informações a serem selecionadas para se tornarem notícias. Para a autora, qualquer rede informativa apresenta furos que são situações com valores-noticia, porém não são capturados por essa organização jornalística. Por outro lado, a mesma rede noticiosa é capaz de identificar mais temas do que a capacidade do veículo de imprensa pode publicá-los.

Diariamente, os produtores das emissoras pesquisadas realizam uma vigia em portais, blogs, sites e perfis em redes sociais de dispositivos de mídia que funcionam nas cidades que compõem a área de cobertura. Além dessa vigia, recebem e-mails com sugestões de pauta e releases de assessorias de imprensa das prefeituras, empresas e câmara de vereadores das cidades da região.

Sobre as duas emissoras pesquisadas, é possível dizer que essa vigia é orientada a partir de um sistema de valores-notícia, conforme discutido por Hall et al. (1993). Para os autores, os valores são “transmitidos e codificados” largamente, embora não estejam estruturados de maneira sistemática nas redações, acabam por marcar a produção noticiosa e se tornam elementos importantes na orientação do trabalho prático do jornalista. É possível entender esse conceito como um método para identificar ocorrências no mundo social e inseri-las em contextos sociais identificáveis, ou seja, tornar a realidade social perceptível/conhecida. Há na formulação dos valores-notícia uma noção de consenso, seja naquilo que se imagina ser de interesse coletivo ou ainda na tentativa de falar sobre aquilo que é de preocupação da vida social.

Hall et al. (1993) explicam que a existência desses valores estão relacionados à necessidade dos jornalistas em se aproximar de assuntos jornalisticamente interessantes. Esse processo de vigilância a partir da rede noticiosa é marcado por dois fatores importantes na produção da notícia. O primeiro diz respeito às pressões internas da produção jornalística e o segundo, a questão do tempo na produção noticiosa, ou seja, os jornalistas precisam organizar seu trabalho a ponto de conseguirem cumprir aquilo que se espera deles a cada intervalo de tempo que é determinado pela periodicidade jornalística. Há também uma pressão que diz respeito aos recursos que esse profissional pode utilizar para realizar seu trabalho.