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CAPÍTULO 4 – COMO O AGENDAMENTO FUNCIONA NO

4.2.4 Outras Mídias do Grupo Agendam o Telejornal Regional

Além do interagendamento nas produções de TV, outra forma de se pautar conteúdo dentro da própria emissora pesquisada envolve outras produções jornalísticas do grupo GRPCOM e também da Rede Globo. Trata-se de um recurso utilizado pelos produtores da RPC TV Ponta Grossa para conseguirem cumprir a tarefa diária de realizar três marcações de pauta para cada uma das duas equipes

de reportagem (dois VTs e uma Nota Coberta ou um VT, uma nota coberta e mais um link ao vivo).

Para realizar essa programação diária, o produtor precisa estar informado sobre aquilo que está acontecendo na cidade e/ou então gerar temas que obedeçam a política editorial da emissora. Breed (1993, p. 153) define a política editorial do jornal como “orientação mais ou menos consistente, evidenciada por um jornal, não só no seu editorial como também nas suas crônicas e manchetes, relativas a questões e acontecimentos selecionado”. Nesse caso, a política editorial está expressa em uma expectativa de cobertura, mas nem por isso deixa de ser uma orientação consistente sobre o fazer jornalístico.

Por não se tratar de uma orientação explícita, a política editorial é apreendida pelos jornalistas a partir de códigos não objetivos que vão orientando o profissional quanto às expectativas da empresa. O processo de aprendizado da política editorial leva a uma socialização pela qual os jornalistas passam a identificar e compreender códigos que lhe são oferecidos para compreensão das orientações. Breed (1993) chama esse processo de conformismo, onde os redatores aprendem as normas internas do seu ambiente de trabalho.

Soloski (1993) lembra que nem sempre a política editorial está em conflito com aquilo que ele define como profissionalismo jornalístico. Como já mencionado, as políticas editorias servem para diminuir a tensão entre direção da empresa e jornalistas, uma vez que afina os interesses gerais de empresa de notícia com os valores profissionais.

É bem verdade que o produtor já tem uma noção do que a estrutura espera que ele agende como pauta para cada um dos telejornais da emissora. Embora não esteja escrito de forma clara em nenhum lugar, a produtora do telejornal reconhece que há um relativo consenso na emissora de que a 1ª edição do Paraná TV tem um “perfil” (conforme ela mesma se refere) voltado para assuntos de comportamento, saúde, moradia, educação, entre outros. Já a 2ª edição do telejornal tem como política editorial uma cobertura voltada para assuntos de política, economia e agropecuária. Na redação, a ideia geral é que o jornal da noite é mais “sério” que o jornal do almoço.

Para cumprir essa tarefa ao longo do seu dia jornalístico, o produtor muitas vezes recorre às próprias produções do grupo GRPCOM que, em alguma medida, também estão afinadas com a política editorial mais geral da emissora. Isso acaba

facilitando seu trabalho.

16 horas - Depois de passar quase metade do expediente tentando marcar uma pauta sugerida pelo editor-chefe na reunião de pauta, sobre a falta de padrão em plugs e tomadas vendidos no comércio, o produtor visita portais do grupo Globo de outros estados. Ele se interessa por uma matéria publicada em um desses sites que fala das promoções realizadas pelas agências de viagem para roteiros oferecidos no final do ano. A matéria traz dados sobre a porcentagem de desconto que representa se alguém fechar o negócio agora e não esperar o fim do ano para escolher seu destino. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

É possível perceber que nesse momento em que o produtor do telejornal havia demorado a cumprir uma única pauta, precisou dar uma resposta rápida às demais pautas a serem marcadas a fim de cumprir sua tarefa diária. A saída encontrada por ele foi buscar pautas em notícias já publicadas em outros dispositivos de mídia do grupo, uma vez que esses assuntos, em alguma medida, também se encaixam naquilo que a estrutura espera.

A maneira como ele se apropriou do assunto é diferente do modo como o jornal do estado se apropria dos conteúdos produzidos regionalmente, uma vez que ele precisou agendar uma produção sobre o tema que encontrou nos sites do grupo e não houve troca de produto final entre eles (VT ou nota coberta):

O produtor liga para duas agências de viagem em Ponta Grossa para saber se na cidade também existe algum tipo de desconto para quem decidir viajar com antecedência. Em uma das agências ele é informado que decidir com antecedência de seis meses ou mais há um desconto de 10% a 30 %. Diante da confirmação da fonte sobre o desconto, o produtor deixa agendada uma entrevista com o agente de viagem para o dia seguinte. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

O mesmo tipo de agendamento também foi verificado quando uma das produtoras é agendada por uma notícia publicada pelo site da Gazeta do Povo, que também pertence ao grupo GRPCOM:

Ao ler o jornal Gazeta do Povo, a produtora descobre que o número de empregos formais no Paraná teria aumentado. O assunto chama a atenção da jornalista que liga para a agência do Trabalhador para saber se esse aumento também foi identificado em Ponta Grossa. Diante da resposta positiva do responsável pela agência do Trabalhador a produtora marca uma entrevista com a fonte. Na indicação da pauta que segue para a reportagem, a produtora sugere o mesmo enfoque que a matéria da Gazeta, inclusive usando dados que estavam na notícia e além do diretor da Agência do Trabalhador, sugere ouvir pessoas que estão na agência em busca de emprego. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

No caso descrito acima, uma particularidade foi revelada pela produtora da RPC TV em Ponta Grossa. Como a notícia envolvia muitos números sobre a quantidade de empregos formais, ela revelou que esse tipo de dado só poderia ser utilizado quando extraído de alguma produção do grupo GRPCOM. Nesses casos, de acordo com ela, é possível utilizar os dados estatísticos sem a confirmação da fonte primária.

Os dois casos também ilustram a relação que esse tipo de estratégia tem com a noticiabilidade. Como já apontado neste trabalho, Wolf (1999) defende que as notícias são classificáveis em um grupo de situações que atendem às necessidades do profissionalismo dos jornalistas e também à estruturação do veículo no qual estas notícias são produzidas. Dessa forma, é possível compreender que para se tornar notícia, os acontecimentos precisam obedecer a política editorial, que ajuda o jornalista a selecionar aquilo que merece ser destacado na realidade social.