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CAPÍTULO 4 – COMO O AGENDAMENTO FUNCIONA NO

4.5 O AGENDAMENTO LOCAL NAS EMISSORAS PESQUISADAS

4.5.1 A Relação da RPC TV com Veículos Locais

O monitoramento das mídias locais acontece de forma sistemática na rotina jornalística dos produtores da RPC TV. Ao longo do expediente, os jornalistas da casa estão frequentemente checando as informações publicadas em portais de notícia e redes sociais a fim de identificar se algo jornalisticamente interessante está em curso. Trata-se de uma preocupação com algo factual, que é orientada pelos “furos” na rede noticiosa, conforme aponta Tuchman (1983) em seu estudo. É através desse monitoramento que os jornalistas confirmam ou corrigem suas escolhas jornalísticas a partir daquilo que outro dispositivo de mídia publicou.

As situações que merecem correção, ou seja, quando o jornalista percebe em outro dispositivo algo que considera noticiável, mas que sua emissora não está cobrindo, são as que chamam mais a atenção. Esses casos exigem que o jornalista modifique sua programação acertada na reunião de pauta e invista na apuração de um assunto que outro dispositivo de mídia já demonstra interesse.

Um desses casos verificado durante a coleta de dados foi quando uma das produtoras da emissora descobriu em seu monitoramento de outras mídias que um portal de notícias da cidade havia publicado a denúncia de uma suposta negligência no atendimento médico do Pronto-Socorro Municipal (PSM). A partir do texto publicado no portal, ela entrou em contato por telefone com o PSM em busca de alguém que pudesse falar sobre o caso.

O diretor do hospital retorna a ligação e diz que aceita falar sobre o caso em uma coletiva de imprensa, agendada para às 11h30min. Ele é convencido pela produtora a falar com a equipe da RPC antes da coletiva. A ideia da produtora é mesmo com a sonora do diretor sendo gravada antes do jornal ir ao ar, ainda manter o link na porta do Pronto-Socorro para falar sobre a denúncia, já que sobre isso não se tem imagens ou mesmo o depoimento da família. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

A mudança na programação da rotina jornalística ameaça o controle organizacional da redação, que precisa ser restabelecido o mais rápido possível. Assim, entra em cena a figura da editora-chefe:

Ao desligar o telefone, a produtora conversa com a editora-chefe e com o editor apresentador sobre o caso. Eles consideram que não é possível mudar a programação de outra equipe de reportagem, visto que já há uma alteração nas equipes por conta da cobertura na rebelião de presos em Telêmaco Borba. Sugerem um link no pronto socorro para a primeira edição do telejornal. A proposta dos editores permitia que a equipe de reportagem cumprisse as pautas agendadas e ainda entraria mais uma pauta durante o telejornal. Durante a negociação, cogitou-se antecipar a entrada de uma equipe da tarde para que pudesse fazer o link no Pronto-Socorro, porém diante da agenda de pautas da tarde e por ter no estafe um repórter mais novo na casa (cerca de um mês de experiência na casa) a editora-chefe considera arriscado colocá-lo para fazer o ao vivo e sugere que a produtora atrase a saída da equipe da manhã que está em Ponta Grossa fazendo outras pautas. A sugestão é acatada pela produtora. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

Além da preocupação com o funcionamento da organização durante a cobertura do assunto, a editora-chefe revela também uma preocupação com o enquadramento do caso. Ao confirmar que o diretor do hospital vai falar, a produtora é questionada pela editora-chefe sobre o que ele diz do caso, ela afirma que não sabe e então a editora-chefe cobra que nos casos de link, é preciso antecipar a fala da fonte para evitar que a fonte fale algo que “não tem nada a ver”, como ela mesma se refere.

Na cobertura de situações factuais, em especial de ocorrências policiais e casos de denúncia, a RPC TV demonstra um controle editorial mais forte sobre aquilo que é veiculado. Durante a observação, a preocupação editorial demonstrada pelas editoras-chefe fizeram com que assuntos desse tipo (de ocorrências policiais e denúncias) fossem publicados em produções menores na emissora, como notas peladas para os casos de ocorrências polícias. Já nos casos de denúncia era agendado com o denunciante o quadro “Bronca”:

Antes de seguir para a reunião de pauta, a produtora encontra uma nota no Portal A Rede sobre um possível estupro que teria acontecido em Ponta Grossa na noite anterior. A nota é copiada pela produtora que liga para Polícia para checar as informações. O caso é confirmado, mas o policial que atende à ligação não ter os detalhes do caso, a produtora combina que retornará a ligação em uma hora e segue para reunião de pauta. A pauta é oferecida na reunião e a editora-chefe acredita que o assunto possa render uma nota pelada no telejornal 1ª edição. A editora-chefe só pede que as informações do caso sejam checadas antes de ser envidas para ela. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

É possível identificar ainda a tentativa dos produtores em fazer com que o assunto “renda” mais que uma nota pelada, como foi identificado durante o período

de observação, no caso de um acidente de motocicleta. O caso foi descoberto pela estagiária da emissora durante a ronda telefônica às 17 horas. Ao ser informado que o estado do motociclista era grave, o produtor checou se o caso foi publicado na internet por alguns dos veículos monitorados pela redação. Encontrou o relato da ocorrência no portal RS notícias, mas sem qualquer imagem (fotografia) publicada sobre o caso.

O produtor liga para o responsável pelo site para saber se ele foi até o local e fez alguma imagem (foto) sobre a ocorrência. O dono do site O produtor liga para a rádio, mas o contato diz que não pode falar, pois está no ar. O produtor vai até a mesa da editora-chefe e fala do caso, pergunta se ela quer as informações para uma nota pelada. Antes de responder ela dá uma olhada no espelho do jornal e diz que não precisa. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

Além da tentativa do produtor em fazer o assunto render, é possível identificar que o news promoters que foi contatado pelo produtor da emissora e se interessou em atender ao telefone mesmo estando no ar em sua emissora. Minutos depois de o assunto ser descartado pela editora-chefe, o produtor da RPC TV recebeu uma ligação do dono do site que havia conversado há pouco dizendo que tinha sim as fotos do acidente. O produtor da RPC TV agradeceu a iniciativa, mas avisa que o “pessoal” já havia descartado o caso.

De acordo com uma das produtoras da RPC TV, a publicação de ocorrências policiais como nota pelada se deve ao fato de nem sempre a redação saber dos casos enquanto estão em desenvolvimento. Assim, a nota pelada é um recurso para não deixar de “registrar” o ocorrido. Sobre os casos de denúncia, a produtora informa que problemas como “buraco nas ruas” e problemas de trânsito são mesmo delegados ao quadro Bronca, mas em se tratando de algo mais “sério” (conforme ela se referiu) a situação pode “render” um VT.

A política editorial favorece que o agendamento de assuntos que partiram de outros dispositivos sejam trabalhados com mais profundidade quando não se tratam de questões factuais. É o caso da pauta sobre o novo recurso da Polícia Científica para investigar crimes:

[...] a reunião tem destaque ainda para um VT que está sendo preparado pela produtora sobre um perito do Instituto de Criminalística de Ponta Grossa que adaptou um drone para ajudar nas investigações da Polícia Científica dos Campos Gerais. O equipamento grava imagens áreas e assim ajuda os peritos a identificar diversos tipos de crime como desmatamento ou

locais de difícil acesso. O assunto foi tema de uma matéria publicada em um jornal impresso da cidade durante o fim de semana e a produtora se interessou pelo assunto ao ler a matéria no jornal. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

O VT sobre o equipamento foi realizado durante um dos dias de observação e utilizou vários recursos de imagens aéreas do próprio equipamento, geradas especialmente para o VT e também imagens do equipamento em uso durante uma das investigações.