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CAPÍTULO 4 – COMO O AGENDAMENTO FUNCIONA NO

4.3 TV GUARÁ

O interagendamento dentro da própria emissora também é uma prática utilizada na TV Guará. As negociações que se estabelecem entre produtor regional e editor estadual consideram os materiais que devem ser “fechados no dia”, conforme a própria redação se refere. O valor que orienta o produtor na conversa com a capital do estado é sempre no sentido de conseguir fazer com que seu material seja aceito pelo telejornal do estado.

É preciso considerar que a tentativa de pautar (agendar) o jornal do estado, revela um status profissional, conforme Tuchman (1983) identifica em seu trabalho quando se refere às fontes. Nesse caso, o status gerado não se dá por conhecer uma fonte específica e conseguir entrevistá-la, mas sim pela capacidade do jornalista em gerar assuntos regionais que consigam despertar interesse em todo o Paraná.

Sobre como a política editorial da emissora atua na produção da notícia, percebe-se que um dos pontos que favorecem sua existência é a norma institucional (“aspiração de mobilidade”) apontada por Breed (1993). O autor considera que os jornais se valem do desejo individual de cada profissional (jornalista) de ascender a

cargos de chefia e assim, fazem prevalecer a obediência à política editorial. Os profissionais mais afinados com a política interna teriam mais chances de subir na cadeia hierárquica da redação (BREED, 1993).

As negociações acontecem por telefone e não envolvem outras praças. Diariamente, um editor do jornal “SBT Paraná” liga para a redação de Ponta Grossa duas vezes ao dia (pela manhã e à tarde – sempre no meio do expediente), a fim de identificar o que a praça regional está produzindo e o que pode ser aproveitado pelo jornal do estado. Na conversa entre produtor estadual e regional, repassam-se as notícias que estão no espelho do telejornal dando mais ênfase aos casos factuais que envolvem ocorrências policiais.

Ainda sobre o interagendamento na TV Guará, outra questão que merece ser destacada diz respeito ao modo como os jornalistas que trabalham em outro programa da emissora conseguem agendar os jornalistas do Tribuna da Massa. Esse tipo de interagendamento ocorre com mais facilidade nessa redação, pois a equipe de jornalistas que constrói o telejornal estudado divide o mesmo espaço físico que a equipe de outro programa da casa, o “Destaque”.

Em essência, o interagendamento trata do interesse despertado por uma determinada produção jornalística a partir de um estímulo de outro dispositivo de mídia. Assim, é preciso reconhecer que o interagendamento não ocorre somente quando esse estímulo parte de uma produção já construída que circula em algum dispositivo. Ao utilizar esse conceito na observação de ambientes de produção, é possível reconhecer que esse interesse despertado por uma produção jornalística também é construído a partir de como outros dispositivos de mídia se interessam pela pauta em construção e não apenas pela produção acabada.

Assim, em uma redação que compartilha o mesmo espaço físico com outro programa, o interesse gerado pelos jornalistas desse outro programa pode aumentar o valor-notícia de um acontecimento. Foi o que aconteceu na TV Guará no caso de um homicídio na região de Olarias.

O caso chegou à redação através do radiofrequência que monitora o movimento da polícia que é utilizado pela redação da TV Guará. Logo que a produtora percebeu que o carro do IML iria ser chamado na ocorrência (que ela ainda não sabia ao certo do que se tratava), ela ligou para uma equipe de reportagem que estava cumprindo outra pauta e determinou: “Tem um B.O feio lá. Eu ainda não tenho o endereço, mas pode seguir para Olarias que eu já confirmo para vocês”. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

A política editorial da TV Guará indica que qualquer caso que envolva morte, seja homicídio ou acidental, deve ser tratado como prioritário. Toda a redação, inclusive aqueles que trabalham no programa “Destaque” já sabem que se trata de um caso mais “grave”, como eles mesmo se referem. Assim que o repórter que fazia o VT sobre o homicídio chegou na redação, foi abordado por diversos jornalistas, tanto do Tribuna da Massa quanto do programa “Destaque”, pois queriam mais detalhes sobre o ocorrido. Ele sentou em um dos computadores e começou a escrever o texto do Off. Enquanto escrevia, o repórter foi interrompido por outros repórteres, pela produtora e até pela chefe de redação que comentavam sobre o caso que ele acabou de cobrir.

O interesse gerado dentro da redação, o fez perceber que o caso teria uma repercussão maior que outros casos de homicídio. É justamente nesse momento, quando diversos jornalistas de outros programas demonstram interesse pelo caso, que ele deve ser agendado. A participação de outro programa na definição do modo como o Tribuna da Massa cobre o caso fica ainda mais evidente no dia seguinte, quando logo pela manhã, todos conversam sobre o homicídio e um dos produtores do programa “Destaque” sugere que seja feito um VT que retome o caso do homicídio, que sirva como um alerta para evitar que crimes como esse sejam cometidos. A participação da equipe que produz o programa “Destaque” é tão grande que a sugestão de fonte que possa participar do VT parte de uma das produtoras do programa (Destaque). A proposta de VT foi aceita pela produtora do Tribuna da Massa.

O caso do da morte em Olarias é tão comentado na redação que o produtor do programa Destaque sugere uma pauta que “alerte” as pessoas para o risco em se relacionar com pessoas desconhecidas. Uma psicóloga que normalmente é fonte do programa “Destaque” é sugerida como uma pessoa que fala bem e poderia ser fonte na pauta. (TRECHO DO RELATO DE PESQUISA).

Ainda sobre o interagendamento na TV Guará, há um quadro no programa Tribuna da Massa que é produzido fora cidade. Trata-se do Direto de Brasília, produção que é realizada pela geradora da Rede Massa de Curitiba e que é repassado para todas as praças locais do estado.

O quadro trata do esclarecimento de alguma questão de utilidade pública envolvendo o poder público, como restituição de imposto de renda, projetos de lei

que visam incidir sobre a diminuição de impostos, aposentadorias, entre outros. A apresentação é feita deputado estadual Ratinho Júnior, que é filho do proprietário da emissora no Paraná, Carlos Roberto Massa39.

4.4 A RELAÇÃO DAS EMISSORAS PESQUISADAS COM OUTROS VEÍCULOS DE