O PROCESSO DE PRODUÇÃO LENHOSA 2.1 A LEI EMPÍRICA DO CRESCIMENTO LENHOSO
3.4. O INVESTIMENTO FLORESTAL E A TAXA DE JURO ALTERNATIVA
3.4.1. A característica, frequentemente já referida, da produção florestal, em particular da produção lenhosa, que é a da sua natureza essencialmente «capitalística» íentenda-se no sentido próprio do termo, de um tipo de produção que recorre a doses elevadas do factor pro dutivo capital, em relação à aplicação dos factores produtivos primá rios, terra e trabalho), tal característica que permite, bàsicamente, esta fundamentação em termos de teoria de investimento, determina também, por isso mesmo, que se centrem no problema do juro flores tal, das taxas de juro, questões fundamentais da teoria e prática económico-florestais.
Lembre-se que todas as regras normativas da exploração florestal, mesmo as mais embrionárias, que suportam uma inclusão numa pers- pectiva económico-florestal, se encostam a uma ideia «antiga» de identificação da população arbórea com um capital que a si próprio se acrescenta, e ao qual só deve retirar-se de cada vez uma certa quantidade, a chamada 'possibilidade, que não é mais, diz-se, do que o «juro» desse capital.
Sob esta perspectiva da análise do investimento, e num sentido objectivo, é bem saliente a importância da escolha da taxa de juro a utilizar nos cálculos, quer, por um lado, directamente, pela influên cia que exerce sobre os valores de capital, quer, por outro, indirecta- mente, pela necessidade eventual de comparação com os valores das taxas internas calculadas. Torna-se por isso importante acrescentar alguma coisa sobre o problema das taxas de juro.
3.4.1.1. Antes de mais, lembre-se que estamos colocados numa perspectiva de planeamento, de estabelecimento dum programa flo restal a longo prazo, logo a trabalhar com grandezas ex-ante, resul tantes duma prospecção do futuro, o que faz intervir nas decisões de investimento certo e elevado grau de subjectividade. O empresário, tenderá a impor na fixação do valor dos dados a utilizar, particular mente na fixação da taxa de juro com que efectuará as «suas contas», a marca da sua personalidade como decision-maker económico. A sua preparação técnica, armá-lo-á contra um subjectivismo elevado, que não interessará a um enquadramento económico, mas o seu compor tamento dentro duma posição «em mercado» de escolha entre usos alternativos para o seu ou para o capital emprestado, não deixará de ser influenciado por factores subjectivos. Pode dizer-se, pois, que
são as oportunidades efectivas de uso alternativo de capitais (pró prios ou alheios) e a avaliação que delas faz o investidor, os factores determinantes da taxa de juro a utilizar nos cálculos.
Esta taxa de juro subjectiva, taxa de capitalização subjectiva ou taxa de juro alternativa (10) é, portanto, uma taxa de juro pró pria do empresário-investidor, à qual ele se dispõe a tomar as suas decisões, ter a iniciativa e assumir riscos dum modo geral, taxa essa que difere, ou pode deferir, em cada caso, da taxa de juro no mer cado dos capitais.
A taxa de juro no mercado dos capitais, é uma taxa de equilíbrio definida pela posição de encontro das curvas: da oferta de fundos, determinada essencial e significativamente pelas poupanças e pela moeda posta à disposição pelo sistema bancário, e da procura de fundos, resultante da conjugação entre investimentos projectados e a preferência pela liquidez. Nesta síntese, reunem-se as teorias «reais» e teorias «monetárias» de juro, as primeiras dando importância a factores típicos de influência a longo prazo (analisáveis no âmbito dos conceitos de reprodutividade do capital e de preferência de tempo) e, as segundas, reflectindo os factores típicos de actuação a curto
prazo, como a preferência pela liquidez. Tal definição das determi nantes da taxa de juro, sob a forma geral de teoria da formação do preço dos factores, coloca-nos perante a noção de juro puro. As taxas de juro) praticadas, incluem, entretanto, uma parcela impor tante, variável, directamente originada na consideração de factor
risco que impende sobre os fundos emprestáveis, risco, por seu lado,
directamente dependente do tempo de imobilização dos capitais e da natureza dessa imobilização.
3.4.I.2. Podemos também representar o investidor perante cur vas individuais da oferta e procura de fundos, as quais lhe deter minam a sua própria taxa de juro. Essa taxa, a taxa de juro subjec tiva, resultará da posição de equilíbrio entre uma curva de oferta a
(10) Schneider [1956], fala na maioria das vezes de «taxa de juro calcula- tória». Na terminologia financeira portuguesa encontra-se com frequência a de signação de «taxa subjectiva de capitalização». Os autores americanos que têm tratado o investimento florestal, utilizam o termo «taxa de juro alternativa». Jorgensen [1961], um economista florestal norueguês, emprega a designação de «individual rate of interest». Também se encontra neste sentido a designação de «desired rate of return».
determinar as possibilidades de dispor de fundos (próprios ou alheios) destinados a consumo ou investimento e uma curva de procura, tra dutora das suas oportunidades de investimento e consumo.
Sob o plano de investimento, aquele que nos interessa destacar, a questão da origem dos fundos, pode analisar-se em 3 níveis, cada qual informado duma posição particular do investidor — Schneider
[1956:69]: 1) o investimento feito apenas com capitais alheios; a taxa de juro subjectiva terá de ser mais elevada do que a taxa de juro do empréstimo; a pretensão lucrativa do investidor e o risco
que caracteriza o investimento, determinarão o montante a que se
elevará, para além da taxa de juro do empréstimo, a taxa de capi talização subjectiva; 2) o investimento feito apenas com capital pró
prio; a fixação da taxa de capitalização subjectiva, atenderá à com paração com taxas de juro de investimentos alternativos, sujeitos a um, mesmo grau de risco; atingirá portanto um valor que será,
pelo menos, igual ao das taxas de juro admitidas como normais no sector de actividade em causa; 3) o investimento feito com capitais
próprios e alheios; tem de entrar-se em consideração com os dois con
juntos de determinantes anteriores.
Uma hipótese básica de toda a presente teorização sobre o in vestimento, relacionada com a fixação da taxa de juro subjectiva, é a de que o empresário-investidor deve considerar-se colocado frente
ao mercado de capitais numa situação na qual se admite que ele pode pedir emprestado ou emprestar fundos sem limites àquela taxa.
O empresário florestal, seja duma empresa privada ou pública, enfrenta como qualquer outro, portanto, curvas individuais de oferta e procura de fundos que se destinam a ser gastos ou a ser inves tidos. Na hipótese alternativa de investir, relevemos aqui que, em bora a actividade de investimento fundamental, seja a de investi mento na população arbórea, na expressiva designação anglo-saxó- nica, o «timber-growing investment», existem outras hipóteses alter nativas (internas) de investimento. Exemplificando, tais hipóteses vão desde a regeneração de novas áreas, intensificação das práticas culturais ou de ordenamento nas áreas já existentes, até à aquisição de maquinaria de extracção de produtos, estabelecimento de redes de comunicação ou defesa contra fogos. Nesta hipótese, frequente mente, refere Jorgensen [1961], «a preferência pelo investimento pode ser expressa pela taxa interna de juro».
Mas as oportunidades de investimento podem também ser exter nas à empresa, desde a compra de títulos que nada tenham a ver
com a actividade florestal, ao investimento noutro ramo de activi- dade como por exemplo na exploração agrícola.
Introduzindo, agora, as oportunidades de consumo dos fundos próprios ou emprestados, fica desenhado o quadro, nada diverso daquele que se levanta a qualquer outro investidor, dentro do qual o empresário florestal pode definir a sua taxa subjectiva de capita lização ou taxa de juro alternativa.