• Nenhum resultado encontrado

Neste capítulo busca-se situar a atividade do jornalismo como fruto do desenvolvimento do capitalismo e da sociedade urbano-industrial, com a crescente necessidade de circulação de informação e a transformação desta em uma mercadoria, a notícia, que também passa a ser um produto de compra e venda.

Embora a comunicação e a troca e circulação de informação possa ser localizada desde o início da história, o que hoje conhecemos como meios de comunicação de massa surge no contexto do desenvolvimento capitalista, a partir da Revolução Industrial, no século XVIII (TRAVANCAS, 1992).

A invenção da imprensa por Gutenberg, em 1454, representou uma revolução na forma de produção de impressos, mas o jornalismo somente surge como atividade a partir da produção em grande escala e da necessidade e distribuição e da informação. Inicialmente uma atividade exercida por letrados, com poucos veículos e público restrito. A partir da Revolução Industrial vão surgindo os grandes meios, como necessidade de circulação de ideias e informação no desenvolvimento do capitalismo.

(...) é sem dúvida no século XVIII, com a Revolução Industrial, que a imprensa vai se desenvolver, ganhar força como resultado de um produto industrial com profissionais especializados. Os principais interesses dos jornais de então eram mercantis e políticos. Com a Revolução Francesa, em 1789, começa a se fazer jornais como se entende hoje, com várias páginas e assuntos diversos: um espaço de opinião e polêmica (TRAVANCAS, 1992, p.17).

A aceleração da industrialização, no início do século XIX representou também um grande salto para imprensa, com o surgimento de várias inovações, como a impressora a vapor, que tinha a capacidade de rodar 1100 folhas por hora, que possibilitou a impressão em larga escala e a produção dos jornais de grande circulação. É também neste período que os jornais passam a veicular anúncios pagos (TRAVANCAS, 1992).

Outra inovação que irá transformar a produção de impressos e torná-los veículos de circulação de massa é a criação da máquina de composição, conhecida como linotipo, que possibilitou a publicação de jornais com tiragens de milhares de exemplares. Outras invenções deste período foram fundamentais para a transformar a circulação de informação em um dos grandes negócios do capitalismo nascente. Também surgem nesse período o telégrafo, a instalação do primeiro cabo transatlântico e o telefone, que proporcionaram novos recursos para a produção e distribuição de notícias no mundo todo (TRAVANCAS, 1992).

A partir dessas inovações, a publicidade irá se tornar parte fundamental para o financiamento dos meios de comunicação de massa, uma vez que para atender a demanda crescente de informações, geradas num ritmo cada vez mais rápido, maior é a necessidade de estruturas física, de equipamentos, logística de distribuição e recursos humanos (KUNCZIK, 2002).

O encarecimento da produção dos jornais de grande circulação criou uma barreira econômica à sobrevivência de pequenos jornais e levou à cartelização do setor, que passou a ser dominado por grandes empresas. Arbex Jr. escreve que:

O desenvolvimento das tecnologias da comunicação (após o telégrafo e o telefone, o telégrafo sem fio, a telecomunicação e o rádio, o cinema e a televisão) implicou a unificação tecnológica das formas de produzir e imprimir a notícia, acelerando processos de cartelização da imprensa: os pequenos jornais locais tornaram-se dependentes dos jornais urbanos das circunvizinhanças e passaram a ser incorporados a estes como redações municipais ou afiliadas. Quanto mais rapidamente um jornal era impresso, e quanto maior o seu alcance, maior a sua importância para os interesses econômicos privados que o sustentavam, assim como o seu papel de “pórtico de entrada” para dar visibilidade social a empresas e anunciantes (ARBEX Jr., 2001, p. 58).

Genro Filho (1987), por outro, aborda a questão da mercantilização da imprensa do ponto de vista de uma necessidade do capitalismo:

(...) as empresas precisam vender mercadorias que, antes de se constituírem como valor de troca, como condição para isso, devem ser valores de uso. Devem ser objetos ou serviços úteis. Sabemos que o capitalismo cria, constantemente, novas necessidades, muitas delas falsas e degradantes, e os produtos correspondentes para supri-las. Seguindo esse raciocínio, só duas alternativas a serem consideradas. Ou as modernas empresas jornalísticas criaram nos consumidores a falsa necessidade das notícias e informações, tal como elaboradas atualmente, ou então seguiram a tendência do mercado que estava se criando com o surgimento de novas necessidades reais. Quer dizer, ou os capitalistas inventaram, conforme seu arbítrio, o moderno jornalismo e as necessidades que ele satisfaz, ou perceberam as novas e reais necessidades (da informação do tipo jornalístico) e fizeram dela uma fonte de lucros. (GENRO FILHO, 1987, p. 111, grifos no original).

Assim, a informação passa a ter valor de uso e de troca e cria seu produto de compra e venda: a notícia. Marcondes Filho (1986) define a notícia como uma mercadoria a ser comprada e vendida, como qualquer produto disponível em um mercado:

Assim como uma roupa que se pode adquirir numa loja, assim como uma fruta que se pode obter em uma quitanda, também notícias podem ser compradas. Elas não são somente produtos, como se supõe a acepção mais ingênua. Elas são, de fato, “a forma elementar da riqueza no capitalismo” (Marx); são

mercadorias. São produzidas para um mercado real e encerram em si a dupla dimensão da mercadoria: o valor de uso e o valor de troca. (1986, p. 25). Genro Filho, no trabalho acima citado, observa ainda que:

A mercadoria-notícia, ou seja, a informação jornalística comercializada, continua tendo um valor de uso cujo conteúdo, por definição, jamais pode ser dissolvido ou abolido, pois ele é a condição para a realização do valor troca. Mais concretamente, essa persistência do valor uso da notícia se manifesta do seguinte modo: o espaço ocupado pelas notícias e reportagens, mesmo que secundários conforme a ótica econômica, deve corresponder a uma necessidade ao público consumidor para que o espaço publicitário seja valorizado. (GENRO FILHO, 1987, p. 112 – grifos no original)

Com a expansão do capitalismo e a consequente necessidade de produção e circulação de notícias, surgem os grandes conglomerados de comunicação, que irão representar e difundir, através da produção da notícia, os interesses de outros conglomerados econômicos, que via de regra os controlam, seja através do aporte econômico, da propriedade direta ou mesmo pela identidade de classe.

Os jornais nascem arquitetados e vocacionados para a lógica empresarial do capitalismo e não, como apregoa a historiografia corrente, no sentido de emergir com uma posição ideológica, voltada para o exercício do poder político.

O surgimento da imprensa e do jornalismo está associado imanentemente ao comércio. A atividade comercial, isto é, o interesse em desenvolver um negócio lucrativo, foi sem dúvida, a mola que ativou o processo de criação dos jornais (MARSHALL, 2003. p. 71).

A partir da análise de Marcondes Filho (1986) pode-se acrescentar que, com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, a imprensa, entendida neste contexto como meios de comunicação de massa que englobam os meios disponíveis (rádio, televisão, internet), se conforma como um centro aglutinador das diversas demandas da sociedade.

Na era tecnológica, [...] emerge a imprensa como único grande canalizador capaz de “organizar” de alguma maneira as aspirações, as reivindicações ou a insatisfação de uma sociedade, diante do esvaziamento e mesmo desaparecimento de algumas instituições intermediárias entre Estado e povo, especialmente daqueles grupos que lutavam ou se engajavam por uma causa política, ideológica ou moral. (MARCONDES FILHO, 1993, p. 140).

Com o “poder” de se colocar como intermediadora e porta-voz de uma ampla gama de interesses sociais, os meios de comunicação construíram a narrativa que busca a legitimação como uma instituição de interesse comum, isenta de interesses políticos e econômicos e tão somente o lócus de reinvindicações e debates da sociedade. Conforme observado por Fígaro:

O jornalismo está vinculado à determinada lógica de organização empresarial, que enquadra a informação nos objetivos da lucratividade. Na origem, o arcabouço discursivo que dá sustentação ao jornalismo está vinculado aos valores da autonomia e da emancipação do cidadão. O jornalismo nasce inspirado nos ideais do Iluminismo e do Racionalismo, a partir dos quais o homem adquire centralidade nas decisões dos rumos da sociedade. É uma narrativa da urbanidade, da polis, do cidadão e da cidadania, mas sempre delimitada pelos valores do liberalismo econômico. Ao longo do século XX, o jornalismo consolidou-se como uma narrativa produzida por profissionais especializados, dedicados exclusivamente a selecionar os fatos do cotidiano que merecem, a partir de determinada avaliação, ganhar o status de notícia (2012, p.7)

Da mesma forma, Marcondes Filho descreve como se processa uma narrativa que tem por objetivo escamotear o caráter mercadológico que envolve a atividade, o que lhe confere mais poder e social que lhe caberia, uma vez que se trata de atividade mercadológica, com objetivo de lucro, como em toda empresa capitalista.

Ela é um meio oportuno, veículo possível para a condução dessas campanhas e, atuando como que por delegação, acaba por absorver muito mais importância e não raro poder social do que em princípio lhe cabe. Isso porque, como já dito, a imprensa é uma instituição de natureza econômica. Sua intenção é manter-se como empresa no mercado, garantir renda e lucro satisfatório, a ponto de pagar seus encargos sociais, a manutenção de seus equipamentos, a renovação de seus sistemas técnicos e, como qualquer outra empresa, não coloca questões éticas ou morais no produto que faz. Simplesmente vende (MARCONDES FILHO, 1993, p.141).

Moraes (2013) observa que como proprietários dos meios de produção e de toda infraestrutura e logística necessária, os grandes grupos midiáticos formam um sistema de produção material e imaterial, que transmite valores e significados que não são meramente abstratos. Assim, este sistema interfere na circulação de informação e interpretação e cria consensos sociais.

No contexto do capitalismo globalizado, das grandes corporações financeiras, os meios de comunicação de massa não são apenas constituídos de instrumento de dominação ideológica. Eles são parte do próprio sistema, de uma engrenagem de geração de lucros, produção e circulação de informações e de construção de consensos dentro dos interesses do mundo das finanças global.

Os medias [meios de comunicação de massa], numa primeira aproximação, podem ser localizados, sobretudo em fases mais recentes, sob o capitalismo monopolista e sob hegemonia no capital financeiro, como parte da base econômica, à medida que, de um lado, as empresas que os compõem são hoje grandes conglomerados, envolvidos muitas vezes não só nos negócios da área de comunicações, como em tantos outros, e de outro lado, pelo fato de tais meios de comunicação, vistos sob um aspecto mais amplo, são elementos

constitutivos, estruturantes deste atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, especialmente se se considera o predomínio do capital financeiro, dependente da rapidez de informações que só a infraestrutura dos media pode proporcionar (JOSÉ, 2010, p. 111).

Portanto, não é possível analisar a imprensa e o jornalismo dissociado de seu papel no sistema capitalista e do processo de industrialização, que proporcionou seu crescimento, tornando possível colocar a informação como um produto de consumo de massa, e mesmo como um vetor de construção de narrativa e legitimação do capitalismo. Conforme observa Marshall (2003), a imprensa como conhecemos hoje é fruto das necessidades de informação decorrente da sociedade baseada no modo de produção capitalista. Assim, a mídia, que se traduz por meio, é onde se colocam as informações a serem mercantilizadas, vendida como produto para o consumo.

Considerando os postulados apresentados por Karl Marx e desenvolvidos por uma corrente significativa de teóricos, é necessário recuperar-se a compreensão de que a história da imprensa e do jornalismo encerra, em sua essência, o modo de produção da sociedade capitalista. Esse é o eixo central. A imprensa periódica surgiu em decorrência da necessidade de informação mercantil na florescente sociedade capitalista e, portanto, veio suprir objetivamente uma necessidade do capitalismo (MARSHALL, 2003, p. 64). Ainda na análise de Marcondes Filho:

O jornalismo, via de regra, atua junto com as grandes forças econômicas e sociais: um conglomerado jornalístico raramente fala sozinho. Ele é ao mesmo tempo a voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e particulares o foro da objetividade (1986, p. 11).

O controle da rentabilidade, os altos lucros financeiros que mantém o sistema de geração ininterrupta do fluxo de informações requerem que elas recebam o tratamento de uma mercadoria como quaisquer outras, sujeitas as regras do capitalismo, conforme já assinalado. Desta forma, conforme Moraes:27

O êxito do sistema corporativo de mídia, em larga medida, vincula-se ao aprimoramento de tecnologias que favoreçam o comando à distância e a velocidade circulatória do capital. A produtividade e a competitividade dependem da capacidade dos agentes econômicos de aplicar, com rapidez inaudita, os dados e conhecimentos obtidos, de forma sincronizada e em amplitude global. A informação estratégica nos circuitos digitais torna-se uma mercadoria como outra qualquer, sujeita à lei da oferta e da procura, ao mesmo

tempo convertida em precioso insumo básico para a geração de dividendos competitivos (MORAES, 2013, p.29).

Accardo (2007), anota que, atualmente, mais do que em períodos anteriores, os medias conformam uma indústria sujeita a todas as limitações e imperativos da economia liberal. No cenário de avanço da tecnologia, com a hegemonia da indústria audiovisual, e particularmente da televisão, fortaleceu, através da publicidade, a submissão ao mercantilismo de industriais, banqueiros e outros grandes investidores que agora detêm a posse de quase todas as informações e meios de comunicação.

Nas sessões seguintes será feita uma reconstrução histórica de como o jornalismo se estruturou enquanto atividade profissional no Brasil, passando de um ofício exercido de forma quase amadora até se tornar uma profissão regulamentada, com a obtenção de algumas conquistas importantes, como a organização em sindicato, a regulamentação legal, o estabelecimento da obrigatoriedade do diploma de ensino superior específico para seu exercício e a criação do piso salarial.

Na sequência, será observado o desmonte dessas conquistas, como o fim da obrigatoriedade do diploma, a crise nos veículos de comunicação, notadamente os impressos, as demissões em massa, a crescente onda de contratos de trabalho terceirizados, seja como Pessoa Jurídica, MEI ou trabalho freelance, os impactos da mídia online e a entrada de novos atores no mercado de comunicação.

2.1 - Breve histórico da imprensa no Brasil

A história registra como primeiro jornal brasileiro o “Correio Brasiliense”, fundado em Londres em 1808, por Hipólito José da Costa. O periódico, publicado em língua portuguesa, chegava ao Brasil de forma clandestina para driblar a censura prévia. Com o fim dessa censura e a Independência, em 1822, foram surgindo novos jornais, em sua maioria em tom panfletário. (TRAVANCAS, 1992).

O jornalismo como característica de empresa surge no Brasil no final do século XIX, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, a época capital e centro das decisões políticas e econômicas do país, recém-saído de um regime monárquico para república.

Medina (1978) anota que neste período foi possível observar duas tendências que transformaram a atividade jornalística em atividade de exploração comercial e industrial. De um lado, jornais como a Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio, veículos tradicionais que remontavam ao tempo do Império, se modernizaram do ponto de vista da estrutura econômica,

com aquisição de equipamentos e passaram a faturar principalmente com a venda de espaços publicitários. Por outro lado, os novos órgãos que surgiram no período, como o Jornal do Brasil e em seguida o Correio da Manhã, já nasceram com estrutura empresarial, voltados ao objetivo principal de obter lucro, como em qualquer atividade capitalista.

A segunda tendência é refletida em outros centros do país neste período, como é o caso dos periódicos Diário Mercantil, de São Paulo e Correio do Povo, de Porto Alegre (MEDINA, 1978).

No início do século XX, com a possibilidade de veicular propaganda, a imprensa torna- se definitivamente um negócio empresarial. Isso reflete também em transformações na forma de apresentar o conteúdo, para se tornar mais atraente para venda em banca e consequentemente conseguir mais anunciantes. Assim,

As páginas dos jornais não se destinam apenas à política e a literatura, mas abrem espaço agora para entrevistas e reportagens ao estilo europeu e americano, o noticiário esportivo, a crônica. Além dessas inovações, a fotografia e as cores começam a ser utilizadas pela primeira vez (TRAVANCAS, 1992, p. 19).

Outra característica que irá marcar profundamente não só a imprensa, mas a sociedade brasileira, é a forma como se desenvolveu o crescimento das empresas jornalísticas no país, caracterizado por grandes oligopólios familiares e dinastias regionais que utilizaram esses meios como uma poderosa ferramenta de influência política, econômica e cultural que prevalece ainda hoje.

Como consequência desta concentração, cabe registrar também que o contraponto, na forma de resistência de setores populares também tiveram grande importância na história da imprensa brasileira, notadamente a imprensa operária que surge entre o final do século XIX e início do século XX.

Entre o fim do século XIX e começo do século XX, uma imprensa especial ganha terreno e destaque: a imprensa operária. São muitas publicações, várias delas em italiano, espanhol e alemão, algumas com tiragem de 4.000 exemplares. É uma imprensa característica de uma época e específica para um tipo de público, que não se reconhecia na grande imprensa (TRAVANCAS, 1992).

A imprensa operária, também chamada imprensa alternativa, embora minoritária e muitas vezes atuando de forma clandestina terá importante papel ao longo do século XX, seja como órgão de divulgação de partidos e correntes políticas de esquerda, como instrumento de agitação, formação e identidade, sendo que muitas organizações assumiram o nome dos

periódicos que editavam. Em alguns momentos de grave repressão política, formavam a principal voz de oposição, como ocorreu no Brasil no final da década de 1970 e nos anos 1980, no enfrentamento à ditadura militar e no processo de redemocratização do país28.

Sodré (1999), em análise sobre o desenvolvimento da imprensa no Brasil, anota que, como ocorreu historicamente, a imprensa nasceu e se desenvolveu com o capitalismo e aqui ela também apresentou as características do capitalismo dependente. Conforme o autor:

A imprensa, [...], nasceu com o capitalismo e acompanhou seu desenvolvimento. Ela espelha, atualmente, a ampla crise que caracteriza a atual etapa do avanço do capitalismo. Etapa bem definida, aliás, pelo extraordinário surto e influência dos referidos meios de massa. Como estamos às vésperas de avanço tecnológico de proporções inéditas, nesse terreno, é de crer que profundas mudanças serão operadas nas atividades dos meios de comunicação, sempre em detrimento da imprensa. Mas, se a imprensa nasceu com o capitalismo e acompanhou seu avanço, esse processo assinala, no Brasil, traços particulares, estritamente ligados aos aspectos que o avanço capitalista apresentou por aqui (SODRÉ, 1999, p. X).29

O que Sodré aponta como aspectos do avanço do capitalismo no Brasil, reflete-se na concentração da propriedade dos meios de comunicação no Brasil, perpetuada como instrumento de dominação política, econômica e cultural que permanecem ainda no período atual, em que pese a advento de novas tecnologias de difusão e das diversas crises enfrentadas pelo setor.

Dados apresentados pela ONG Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e do Media Ownership Monitor Brasil – MOM, frutos de uma pesquisa realizada em 2017, apontam para a manutenção da alta concentração de audiência, propriedade e concentração geográfica, numa análise de 50 veículos, nos segmentos rádio, TV, mídia impressa e online aponta a predominância de grandes grupos econômicos30.

Os 50 meios de comunicação analisados são de propriedade de 26 grupos: 9 pertencem ao Grupo Globo, 5 ao Grupo Bandeirantes, 5 à família Macedo (considerando o Grupo Record e a Igreja Universal do Reino de Deus - IURD, ambos do mesmo proprietário), 4 ao grupo de escala regional RBS e 3 ao Grupo Folha. Outros grupos aparecem na lista com dois veículos cada: Grupo Estado, Grupo Abril e Grupo Editorial Sempre Editora/Grupo SADA. Os demais grupos possuem apenas um veículo da lista. São eles: Grupo Sílvio Santos, Grupo Jovem Pan, Grupo Jaime Câmara, Diários Associados, Grupo de Comunicação Três, Grupo Almicare Dallevo & Marcelo de Carvalho, Ongoing/Ejesa, BBC – British Broadcasting Corporation, EBC – Empresa

28 Mais sobre a imprensa operária em: GIANNOTTI (2007; 2014); MOMESSO (2013).

29 O trecho citado encontra-se no artigo “O pensamento de Nelson Werneck Sodré sobre a imprensa e os meios

de comunicação de massa no Brasil, nos últimos anos”, inserido como anexo no livro citado, por isso, apresenta paginação em numeral romano, diferentemente do restante da obra.