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3.2 OS ILÍCITOS TRIBUTÁRIOS E A LAVAGEM DE DINHEIRO

3.2.4 O Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro

A ENCCLA estabeleceu como uma de suas metas a criação do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro - LAB-LD, laboratório-modelo de soluções de análise tecnológica para grandes volumes de informações e difusão de estudos sobre melhores práticas em hardware, software e adequação de perfis profissionais necessários no combate ao crime. Vinculado ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional – DRCI (estrutura da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça – SNJ/MJ), o LAB-LD utiliza a Ciência Aplicada e a Teoria da Informação, com o apoio de hardwares e softwares modernos e adequados, objetivando estabelecer uma metodologia de trabalho, o mais eficiente possível, para processamento de grandes volumes de informação. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2017).

Conforme destacado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (2017):

Na forma como foi concebido, uma das propostas do LAB-LD é a replicação de seu modelo para órgãos que atuam na investigação e na persecução criminal da lavagem de dinheiro, um dos facilitadores que motivaram a decisão do Ministério da Justiça de implantar tal estrutura na RFB. A implantação desta solução na Receita Federal possibilita o uso intensivo de tecnologia aplicada na coleta, tratamento e análise de elementos evidenciais obtidos durante o processo investigativo que a instituição realiza de forma integrada com outros órgãos, tanto no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro, quanto em seus reflexos no âmbito tributário e aduaneiro. Por meio do estudo e do desenvolvimento de técnicas e metodologias para a produção de informações estratégicas, com foco na produção de provas de alto valor agregado e na difusão do conhecimento produzido por meio de casos-piloto de alta complexidade, o Laboratório é um centro de excelência tecnológica capaz de responder com eficácia ao tratamento massivo de grandes volumes de informação. Inaugurado em abril de 2014, o Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro da Receita Federal do Brasil é resultado da conjugação de esforços da instituição com o Ministério da Justiça que, em alinhamento com diretriz de Estado, efetivamente contribui no combate a grupos organizados nacionais e transnacionais vinculados a crimes contra a ordem tributária, às fraudes aduaneiras, à corrupção e à lavagem de dinheiro.

Desta forma a utilização intensiva de recursos tecnológicos utilizados no LAB-LD, tem possibilitado a detecção de transações atípicas que possam ser oriundas da lavagem de dinheiro.

3.3 CONVENÇÃO MULTILATERAL SOBRE ASSISTÊNCIA MÚTUA ADMINISTRATIVA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA

Como foi já exposto neste trabalho, uma das características do crime de lavagem de dinheiro, com o fulcro de dissuadir as autoridades, é a transnacionalidade das operações, o que dificulta o rastreamento do caminho do crime. O fluxo internacional de divisas vinculado ao crime organizado é uma realidade. A troca de informações entre países, às vezes chamada de assistência mútua, é de grande importância para o combate à evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Havendo instrumentos legais para a troca de informações, ela deverá ser encorajada, de forma a levar ao conhecimento de parceiros institucionais a existência de transações suspeitas que sejam relevantes.

Pegando como exemplo um cidadão de um país em específico que possua uma propriedade imobiliária em outro país. Este fornece àquele todas as informações relevantes, tais como dados da escritura pública, o valor da propriedade e dados sobre o financiamento. Isto possibilita ao país do domicílio fiscal avaliar a posição fiscal e financeira de seus nacionais especialmente com relação à origem de capitais. Requerimentos por informações devem ser ajuizados quando houver necessidade de se conhecer mais sobre determinadas atividades ou transações atípicas realizadas no exterior, como a obtenção de um financiamento no exterior sem o pagamento de juros ou do principal, por exemplo. Por se tratar de uma operação atípica, informações a respeito de quem concedeu o empréstimo podem revelar a veracidade de tal empréstimo e a origem do dinheiro. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2017).

Nesse sentido importante avanço foi Decreto nº 8.842/2016 que promulgou a Convenção Multilateral sobre Assistência Mútua Administrativa em Matéria Tributária.

A Convenção alcança a assistência administrativa para prevenção e combate a ilícitos tributários relativos aos períodos iniciados a partir de 1º de janeiro de 2017, sem prejuízo da previsão expressa de que duas ou mais partes contratantes possam acordar sua aplicação em relação a períodos anteriores. É o instrumento mais completo para intercâmbio internacional de informações tributárias entre os entre as Administrações Tributárias. Com isso, conclui-se o processo de ratificação e internalização desse acordo, que conta atualmente com 103 países e jurisdições

signatários, 86 dos quais já a tendo ratificado. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2017).

Com a entrada em vigor da Convenção no Brasil, a partir de 1º de outubro de 2016, completam-se os passos necessários, do ponto de vista legal, para a implementação de diversas formas de assistência administrativa em matéria tributária entre os signatários — o intercâmbio de informações para fins tributários, nas modalidades a pedido, espontâneo e automático, as fiscalizações simultâneas e, quando couber, a assistência na cobrança dos tributos.

A Convenção alcança a assistência administrativa para prevenção e combate a ilícitos tributários relativos aos períodos iniciados a partir de 1º de janeiro de 2017, sem prejuízo da previsão expressa de que duas ou mais partes contratantes possam acordar sua aplicação em relação a períodos anteriores.

Além de triplicar a rede de acordos do Brasil para intercâmbio de informações tributárias a pedido, a entrada em vigor da Convenção insere o País no ambiente global de intercâmbio automático dessas informações, conforme os novos padrões internacionais aprovados e endossados pelo G20. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2017).

Segundo a Secretaria da Receita Federal(2017), o intercâmbio automático é a forma mais efetiva de prevenção e combate à evasão tributária, à ocultação de ativos e à lavagem de dinheiro, tendo sua origem nos trabalhos do Fórum Global de Transparência e Intercâmbio de Informações Tributárias e do Projeto G20/OCDE sobre Erosão das Bases Tributárias e o Deslocamento de Lucros, e sua implementação se fará por meio de diversos formatos:

 Padrão para intercâmbio automático de informações financeiras para fins tributários (Standard for Automatic Exchange of Financial Account Information in

Tax Matters, também conhecido como CRS – Common Reporting Standard), com

dados sobre ativos financeiros e seus rendimentos;

 Intercâmbio automático dos relatórios de operações de grupos multinacionais, em relatório por país (“country-by-country reporting – CbC”); e

 Intercâmbio sobre decisões administrativas que concedem tratamento tributário especiais a determinados contribuintes (“Exchange on tax rulings - ETR”).

Sobre a troca automática de informações, discorre Rezende (2016):

A troca automática de informações estabelece que as Partes trocarão informações relevantes relativamente a determinadas categorias de casos e de acordo com os procedimentos que estabeleçam de comum acordo. Assim, o fornecimento de informações sem pedido prévio e de maneira sistemática permite que a Administração Tributária exerça maior controle sobre a conformidade das negociações fiscais realizadas pelos contribuintes à sua legislação interna.

A troca espontânea de informações, que dispensa pedido prévio, acontece quando uma das Partes toma conhecimento de informações que presumam perda de receita tributária na outra Parte; que possam ocasionar redução, isenção ou aumento de imposto a ser arrecadado pela outra Parte; que diminuam a carga tributária em virtude de transferência fictícia entre empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico; e que sejam de interesse para a determinação de tributo na outra Parte.

Em resumo, pode-se dizer que abarca as situações nas quais um Estado, de posse de informações de interesse de outro Estado, a este transfere os fatos de seu conhecimento para que adote as providências cabíveis.

As fiscalizações tributárias simultâneas consistem na fiscalização levada a cabo em virtude de um acordo nos termos do qual duas ou mais Partes concordam em fiscalizar simultaneamente, cada uma delas no respectivo território, a situação tributária de uma ou mais pessoas, que se revista de interesse comum ou relacionado, com vista à troca de informações relevantes assim obtidas.

Por fim, a fiscalização tributária no exterior consiste na concessão, pelo Estado requerido, de autorização para que representantes do Estado requerente presenciem a verificação fiscal realizada em seu território. É oportuno, também, sinalizar que as informações obtidas serão consideradas sigilosas e só poderão ser comunicadas às pessoas e LEI Nº 13.254 DE 2016 autoridades que acessam e se beneficiam das informações – aquelas encarregadas do lançamento, arrecadação, cobrança e execução dos tributos.

Posto isso, convém ressaltar que a Convenção, já assinada por 103 jurisdições – até a data de 25 de agosto de 2016 -, vem se consolidando como uma significativa ferramenta para a intensificação da transparência fiscal em âmbito internacional e combate à evasão tributária, à ocultação de ativos e à lavagem de dinheiro.

A adesão a uma disciplina internacional de troca automática de informações pressupõe padronização dos procedimentos relativos à divulgação das informações, diligência prévia e adoção de uma mesma base operacional entre as partes interessadas.

Por ora, certo é que, para a eficácia da Convenção Modelo, o Brasil deve organizar uma estrutura capaz de sustentar as modalidades de troca de informações, fortalecer as ações conjuntas entre a Receita Federal, o Banco Central e o Conselho do Controle de Atividades Financeiras e respeitar o segredo das informações recebidas, de modo a aproximar a teoria da prática, garantindo aplicabilidade da Convenção e proteção ao contribuinte, alinhando-se, assim, ao novo paradigma do Fisco Global.

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