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3.1 ALGUMAS FORMAS E TENDÊNCIAS DA LAVAGEM DE DINHEIRO

3.1.3 Operações com Paraísos Fiscais

As organizações aperfeiçoaram o sistema, e descobriram que a melhor forma de ocultar os ativos ilegais seria colocando o dinheiro fora do alcance das autoridades do país, o que deu origem às offshores - centros bancários extraterritoriais não submetidos ao controle das autoridades administrativas de nenhum país, sendo, portanto, isentos de qualquer tipo de controle, geralmente localizados em paraísos fiscais.

3.1.3.1 Países com Tributação Favorecida, Paraísos Societários e Paraísos Penais

A definição de “países com tributação favorecida”, como vem sendo apresentada pela doutrina, designa aqueles países que, para o tratamento fiscal dos rendimentos de não residentes ou equiparados a residentes, aplicam “reduzida” ou “nula” tributação sobre os rendimentos e que contam ainda com segredo bancário, falta de controle de câmbios e mantêm uma grande flexibilidade para a constituição e administração de sociedades locais. Mas suas manifestações variam caso a caso. Mister, pois, separar os países com tributação favorecida (“paraísos fiscais’” dos países com regime societário favorecido (“paraísos societários”), daqueles com regime penal favorecido (“paraísos penais”), mesmo sendo impossível encontrar uma forma exclusiva de um ou de outro, prevalecendo sempre as formas híbridas, segundo a vocação preponderante de cada um deles. (RAMOS, 2016).

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico(2012), quatro fatores-chave são usados para determinar se uma jurisdição é um paraíso fiscal:

1. Se a jurisdição não impõe impostos ou estes são nominais. A OCDE reconhece que cada jurisdição tem o direito de determinar se a impor impostos diretos. Se não houver impostos diretos, mas indiretos, utilizando os outros três fatores para determinar se uma jurisdição é um paraíso fiscal;

3. Se as leis ou práticas administrativas não permitem a troca de informações para efeitos fiscais com outros países em relação aos contribuintes que se beneficiam de baixos impostos;

4. Se for permitido a não-residentes, benefícios de reduções de impostos, enquanto na verdade não desenvolvem uma atividade no país.

No ordenamento jurídico nacional, o primeiro diploma legal que veio a tratar da matéria foi a Lei Federal nº 9.430 de 27 de dezembro de 1.996. A norma em questão trouxe regras até então inexistentes, normatizando as noções preços de transferência, pessoa vinculada, além da previsão dos caracteres dos países com tributação favorecida, denominação legal dos paraísos fiscais. (RAMOS, 2016).

No lastro lei 9.613/98, em seu art. 24-A, no seu parágrafo único, fixa com precisão as características entendidas pelo estado brasileiro como características de um país com tributação favorecida.

O Brasil, normalmente, considera paraísos fiscais todos os países com tributação da renda inferior a 20%. A Secretaria da Receita Federal publica periodicamente uma lista dos países considerados "paraísos fiscais", sendo a mais recente a Instrução Normativa SRF nº 1.037, de 2011.

A verdade é que a prática da sonegação fiscal foi facilitada pela proliferação de “paraísos fiscais” ao redor do mundo. Nesses países, o rastreamento de recursos visando à identificação de seu verdadeiro beneficiário é dificultado por leis de segredo bancário e comercial rigorosas, bem como pela ausência de um regime de controle do câmbio. Alguns converteram-se em verdadeiros paraísos legais e policiais, locais onde se organiza de forma deliberada o desvio de todas as leis do planeta. Tais países criam legislações cuja única finalidade é a de permitir interessados de escapar dos preceitos legais de outros países, utilizando sua soberania como mercadoria do comércio mundial. (OLIVEIRA,2012).

3.1.3.2 Modus Operandi em Paraísos Fiscais

A literatura especializada sugere que grupos criminosos americanos dos anos 1930 foram os primeiros a explorar as oportunidades apresentadas pelo sistema financeiro internacional, quando criaram contas em paraísos fiscais que podiam ser utilizadas para ocultar ganhos provenientes de atividades ilegais realizadas nos Estados Unidos.

É nesse contexto que surge o mito do mafioso Meyer Lansky o grande financista da Cosa Nostra norte-americana e braço direito do capo Lucky Luciano. Considerado o grande pioneiro mundial da lavagem de dinheiro, percebe-se que a preocupação fundamental de Lansky era na verdade com a sonegação fiscal, uma vez que ficara particularmente incomodado com a falta de cuidado de Al Capone em permitir que fosse preso por algo tão óbvio. Tendo como premissa o fato de que qualquer dinheiro que fosse ocultado das autoridades fiscais não poderia ser tributado, Lasky passou a realizar pesquisas sobre o melhor modo de esconder os rendimentos obtidos por seu grupo e rapidamente descobriu as vantagens das contas numeradas em bancos suíços (OLIVEIRA, 2012).

Segundo a Receita Federal Americana (Internal Revenue Service – IRS), entre um e dois milhões de norte-americanos escapam dos impostos depositando dinheiro secretamente em paraísos fiscais, que posteriormente são retirados por meio de cartões de crédito e outros meios de pagamento. Estes recursos pertencem a pessoas colocadas na faixa superior de 1% dos contribuintes, tais como artistas, proprietários de empresas, investidores e outros, que têm o controle sobre as rendas declaradas e usam contas no exterior para ocultar honorários, lucros, dividendos, juros e ganhos de capital (WOODIWISS, 2006).

É claro que nem todas as formas de evitar o pagamento de impostos são ilegais, mas existem vários mecanismos internacionais de evasão fiscal especialmente desenvolvido por advogados tributaristas, sempre sob o argumento da necessidade de aliviar seus clientes da pesada carga tributária imposta pelos governos.

Dentre essas técnicas utilizadas nas operações em paraísos fiscais, destaca-se a chamada “proteção de bens”, que consiste basicamente na constituição de companhia domiciliada no exterior, geralmente offshore localizadas nos paraísos fiscais mais conceituados e tradicionais do mundo, para a aquisição dos bens pertencentes a uma pessoa jurídica local. Desta forma, empresários nacionais podem atuar no país sem possuir imóveis ou outros ativos, protegendo seus bens contra ameaças externas representadas pelo Fisco e outros credores. (PINTO, 2007).

Outro método utilizado para promover a evasão fiscal através de operações internacionais consiste no subfaturamento de exportações. Por esta prática, a empresa local vende certo produto por um preço artificialmente abaixo de seu valor real para uma empresa coligada ou controlada localizada no exterior, usualmente uma

offshore num paraíso fiscal. Logo em seguida, o produto é revendido pelo preço real,

sendo a diferença contabilizada e mantida no exterior fora do alcance das autoridades do país de origem. As metodologias desenvolvidas para a promoção da sonegação fiscal através de operações de comércio internacional são também utilizadas pelos lavadores de dinheiro, apenas com o diferencial de que neste caso as operações de importações ou exportações são em sua maioria fictícias, não existindo produtos reais, mas apenas a documentação correspondente (PINTO, 2007, p. 125).

Entretanto, todos os métodos de evasão fiscal ou de lavagem de dinheiro fundamentados na manutenção do capital no exterior têm como etapa necessária o fluxo, pelas fronteiras nacionais, dos recursos a serem ocultados, estando a prevenção destes crimes, desta forma, relacionada ao efetivo controle da evasão de divisas.(RAMOS, 2016).

A reintegração do dinheiro sujo não é perseguida a qualquer custo pelos criminosos. Pelo contrário, a decisão de como, quanto, quando e onde efetuá-la depende de diversos fatores segundo Pinto(2007), como:

 Volume dos recursos envolvidos;

 Credibilidade/honorabilidade ou status que se pretende alcançar;  Invisibilidade - evitar o rastreamento;

 Fatores ambientais ligados às restrições da lei e do mercado.

Assim, dependendo dos riscos e do objetivo do lavador, haverá maior ou menor complexidade e extensão no processo de lavagem.

Um fator de extrema importância é a pressão legal. Quanto maior ela for, maior necessidade haverá de dissimular as atividades ligadas ao processo de lavagem de dinheiro e, quanto mais dissimuladas, mais complexas tendem a ser as operações, com o objetivo de auferir credibilidade e invisibilidade à lavagem. O método utilizado para a lavagem de dinheiro tem por objetivo oferecer maior segurança para o lavador. Isto porque não se busca apenas mudar a forma do recurso ilícito. Por exemplo, operações realizadas dentro de um mesmo sistema financeiro- bancário, pode resultar em maior facilidade de rastreabilidade pelos órgãos de investigação e controle, aumentando os riscos para o lavador.(PINTO,2007).

Por outro lado, a operação em diferentes circuitos ou sistemas (financeiro, comercial, imobiliário, empresarial), dificulta a identificação da real origem dos recursos e, por consequência, oferece maior invisibilidade à lavagem.

Não obstante à utilização dos paraísos fiscais, bem como dos centros offshore para utilização na pratica da lavagem de dinheiro, vale destacar alguns instrumentos financeiros que são objeto de uso por parte de agentes lavadores de capital ilícito.(RAMOS, 2016).

Instrumento utilizado com o intuito de mascarar transações de capital ilícito, o Smurffing consiste na fragmentação de grande quantia monetária, oriunda na sua totalidade de crime antecedente à lavagem de dinheiro, com o objetivo de fugir do controle de autoridades administrativas. No Brasil, o Banco Central é o órgão competente para fiscalizar estas transações. O limite pra transações é R$ 10.000,00 (dez mil reais), segundo Carta Circular 2.852/98, Art. 4, inc. I. (RAMOS, 2016).

Desta forma, o agente utiliza movimentações ou transferências abaixo o valor fiscalizado, dividindo-o em tantas quantias que forem suficientes para não levantar desconfiança e, assim, macula a origem e afastando a possibilidade de fiscalização. (RAMOS, 2016).

Outro instrumento financeiro utilizado é o Commingling. Trata-se da conjunção entre o capital lícito e o ilícito com o intuito de branquear/ regularizar a quantia monetária ilícita advinda de algum crime antecedente. De forma a exemplificar, entende-se quando da utilização de recursos provenientes de crime antecedente são incorporados em empresa lícita, utilizando deste capital maculado para realizar pagamentos, aquisições para a própria empresa e, desta maneira, inviabilizando o seguimento do capital e seu rastreamento, tendo como objetivo misturar os capitais lícitos e ilícitos. (RAMOS,2016).

Verifica-se que estes mecanismos financeiros são utilizados para dificultar o rastreamento do capital oriundo de atividade ilícita e, mais, dificultar a responsabilização do agente causador do ilícito.

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