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2.2 Gestão da Qualidade

2.2.4 Metodologias e ferramentas para a gestão de obras

2.2.4.1 Preparação da Execução de Obras (PEO)

2.2.4.1.1 O “Last Planner”

Para estruturar o processo de planejamento e controle da produção (PCP), vem sendo adotada na indústria da construção o método chamado “Last Planner” (o último planejador), o qual teve sua origem nos conceitos e princípios da Produção Enxuta. De acordo com Ballard (2000), esse sistema é uma filosofia que busca melhorar o desempenho do processo PCP, através de medidas que protejam a produção dos efeitos da incerteza, provendo um ambiente de produção confiável através da redução da variabilidade do fluxo de trabalho. Para Ballard (2000), o “Last Planner” é definido como uma filosofia, regras e procedimentos, e um conjunto de ferramentas que facilitam a implementação dessas medidas.

A Tabela 5 abaixo apresenta um resumo das principais diferenças entre o planejamento tradicional e a abordagem baseada nos conceitos e princípios da produção enxuta:

Tabela 5 - Principais diferenças entre o planejamento tradicional e o “Last Planner”

PCP TRADICIONAL PCP NO NOVO CRONOGRAMA Detalhado desde o início Detalhamento gradual

Formalizado só no nível de longo prazo Formalizado em todos os níveis Muitas revisões dos planos devido à

variabilidade

Mecanismos de proteção à variabilidade e de redução da mesma

Ênfase na produção empurrada Combinação de produção empurrada e puxada

Fortemente centrado no método do caminho crítico

Utiliza várias técnicas (simples) Foco em aumentar a taxa de utilização

de recursos

Foco em aumentar a confiabilidade do sistema de produção (elevada

produtividade é uma consequencia da primeira)

Longos ciclos de controles Curtos ciclos de controle Foco em indicadores de resultados

(prazo)

Utiliza tanto indicadores de resultado como de processo

Ênfase nos relatórios de acompanhamento

Ênfase em sistemas de controle local Tomada de decisão centralizada Tomada de decisão participativa Fonte: Adaptado de FORMOSO (2010)

A produção puxada é aquele sistema que “[...] libera materiais ou informações no sistema de produção com base no estado do mesmo, observado por meio da quantidade de trabalho em progresso e qualidade de tarefas disponíveis, entre outros fatores [...]” e na produção empurrada ocorre que a etapa anterior “empurra” o produto semi-acabado para a etapa seguinte, gerando estoque7 e propagando os erros que provavelmente serão corrigidos com retrabalhos (GUIDUGLI, 2001). No “Last Planner” é utilizada uma combinação de produção empurrada e puxada, já que o planejamento de longo prazo continua sendo executado.

O planejamento no “Last Planner” é dividido em três níveis: longo prazo, médio prazo e curto prazo. As principais características de cada nível são apresentadas na Tabela 6:

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No caso da construção Civil o “estoque” deve ser entendido como uma etapa da obra concluída que aguarda (fica estocada) a fase seguinte de processamento. (GUIDUGLI, 2001)

Tabela 6 - Planejamento longo prazo, médio prazo e curto prazo Longo prazo (Plano Mestre) Médio prazo (Lookahed Planning) Curto prazo

Baixo grau de detalhes Utilizado para facilitar a identificação dos objetivos principais Metas gerais

Destina-se à alta gerência Base para o

estabelecimento de contratos

Define-se o seqüenciamento, a duração e o ritmo das grandes etapas de obras

Vincula as metas fixadas no plano mestre com aquelas designadas no curto prazo

Tende a ser móvel Descreve o processo de produção que será utilizado: métodos construtivos e a identificação de recursos Identificação e remoção das restrições Realização de ações direcionadas à proteção (física e organizacional) da produção contra os efeitos da incerteza. Requisitos: Pacotes de trabalho bem definidos, sequenciados, e corresponder à capacidade produtiva Disponibilidade dos recursos

Análise dos pacotes das semanas anteriores

Fonte: elaborado pelo autor com base nos estudos de BERNARDES (2001)

De acordo com Ballard (2000), o Plano Mestre, como é chamado o planejamento de longo prazo, deve estabelecer os objetivos globais e restrições que envolvem o projeto. Esse planejamento, que normalmente é executado próximo ao início dos empreendimentos, refere-se a toda a fase de construção, com propósitos desde a coordenação de algumas atividades no longo prazo à projeção dos gastos e desembolsos. Segundo TOMMELEIN e BALLARD (1997), o Plano Mestre se destina a manter a alta gerência informada sobre as atividades que estão sendo realizadas na obra.

O “Lookahead Planning”, como é denominado o planejamento de médio prazo, tende a ser móvel, sendo essencial na melhoria de eficácia do plano de curto prazo e, consequentemente, ajuda na redução de custos e durações (BALLARD, 1997). Esse planejamento tem como principal função dar forma e controlar o fluxo de trabalho, e os seguintes propósitos destacados por Ballard (1997):

• Modelar o fluxo de trabalho na melhor sequência possível, de forma a facilitar o cumprimento dos objetivos do empreendimento;

• Facilitar a identificação da carga de trabalho e recursos necessários que atendam o fluxo de trabalho estabelecido;

• Ajustar os recursos disponíveis ao fluxo de trabalho;

• Possibilitar que trabalhos independentes possam ser agrupados, de forma que o método de trabalho seja planejado de maneira conjunta;

• Auxiliar na identificação de operações que podem ser executadas de maneira

conjunta entre as diferentes equipes de produção;

• Identificar um estoque de pacotes de trabalho que poderão ser executados caso haja algum problema com os pacotes designados às equipes de produção.

No planejamento de médio prazo deve ser feita a avaliação do desempenho das operações. Segundo Howell e Ballard (1997), nessa etapa faz-se um plano completo de como as pessoas, ferramentas, materiais, equipamentos e informações serão aplicados no desenvolvimento da tarefa.

O planejamento de curto prazo é o nível no qual se especificam meios para atingir os objetivos estabelecidos no planejamento mestre, através de planos semanais com atribuição de pacotes de trabalho para as equipes (BALLARD, 2000). É nessa etapa que se busca o comprometimento das equipes operacionais, através da participação de um representante de cada uma delas na reunião semanal de planejamento e exerce-se o gerenciamento do que vai ser feito, após a avaliação do

que pode e o que deve ser feito, baseados nos recursos disponíveis e no cumprimento de pré-requisitos (BALLARD; HOWELL, 1998).

De acordo com Formoso (2010), a utilização desse mecanismo de planejamento “[...] permite obter a chamada estabilidade básica, definida como a capacidade de produzir resultados coerentes ao longo do tempo, decorrente da disponibilidade constante em relação a recursos.”.

Para a geração dos planos e a avaliação dos resultados são realizadas reuniões sistematicamente nos níveis de médio e curto prazo, envolvendo representantes das diversas equipes e áreas funcionais da organização, discutindo-se os problemas referentes a datas, recursos e formas de execução. Formoso (2010) elucida que “[...] a combinação da gestão participativa, da transparência de processos e do curto ciclo de controle cria condições para a ocorrência de melhoria contínua e, consequentemente, aprendizagem ao longo da obra.”.

O “Lookahead” e o planejamento de curto prazo são formalizados por planilhas, facilitando a comunicação e o controle entre os envolvidos. Segundo Marozesky e Thomas (2002), a ferramenta de gerenciamento do “Last Planner” prevê uma revisão semanal comparando as tarefas executadas com as planejadas no planejamento semanal calculando um “percentual de plano de atividades cumprido” ou "percentage of planned activities completed” (PPC). Pelo indicador e pelo registro do motivo das falhas pode-se inferir se as mesmas estão associadas à má qualidade dos planos ou se ocorrem por fatores externos ao planejamento como, por exemplo, a ocorrência de chuvas.