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O lazer e esporte para além do centro: sociabilidades e gostos

Em fins do século XIX e início do século XX, alguns dos antigos hábitos dos paulistanos vão se tornando menos frequentes, desafiados pelos modos de viver de feição mais cosmopolita que a Cidade estava adquirindo. Este é o caso de procissões e festas religiosas tradicionais que começam a dar lugar a quermesses e piqueniques. Os espaços abertos da cidade e as ruas ganham movimento; hábitos e práticas de recreação mais e mais passam a ser articulados a espaços próprios como parques e clubes e associados a diversas práticas esportivas.

Neste processo os espaços públicos são remodelados, locais de passeio e lazer, como clubes recreativos parques e jardins iam surgindo na cidade, como o Jardim da Luz, o Jockey Clube, na Rua XV de novembro, o Hipódromo, na Mooca e o Velódromo Paulistano à Rua da Consolação. Nestes locais as novas formas de lazer e sociabilidade como as competições esportivas de várias modalidades assim como os novos hábitos de passeios e confraternizações ao ar livre, passam a configurar novos modos do viver urbano.

Esses novos espaços de lazer e sociabilidade que se constituem na Cidade de São Paulo em fins do século XIX e início do XX ganham visibilidade nas notas sociais e anúncios nas revistas que promovem os signos e valores de novos hábitos e comportamentos. Alguns destes novos espaços de lazer e sociabilidade pública como o Jardim da Luz e o Jardim da Aclimação estão situados nas proximidades do centro, mas vários deles localizavam-se em regiões distintas e afastadas do “centro”, como o Velódromo Paulistano na Rua da Consolação, o Parque Antarctica, na Água Branca, o Parque da Cantareira, os Clubes Tietê e Esperia junto a Ponte Grande e o Hipódromo no bairro da Mooca.

Saindo do Triângulo, em direção a Ponte Grande – região norte da Cidade, pela Rua Brigadeiro Tobias e Avenida Tiradentes, chegava-se ao Jardim da Luz, originalmente um jardim botânico, transformado em jardim público em fins do século XIX. É considerado o mais antigo Jardim Público da Cidade.

100 Este era enriquecido com jardins, árvores, flores, cisnes, macacos, veados, marrecos, pássaros engaiolados (araras, perdizes, rolinhas, jacus, papagaios e garças brancas), belos canteiros e até um observatório astronômico, construído sob a gestão de João Teodoro em 1874 e demolido em 1900. Outras intervenções e melhoramentos foram executados como a colocação de quatro estátuas de mármore representando as quatro estações do ano, vindas do Rio de Janeiro, assim como mandou vir várias mudas de árvores e flores102.

O Jardim da Luz merecia cuidados especiais da Prefeitura e era uma autêntica área de lazer muito frequentada pelos paulistanos. Os concertos de banda eram frequentes no jardim e algumas festas reuniam as famílias em torno do lago para apreciar a apresentação de réplicas de embarcações fartamente ornamentada com flores103.

Era nesse cenário que uma vez por semana se apresentava a banda da Força Pública tocando Carlos Gomes, Wagner, Waldteufel e Verdi no coreto do Jardim da Luz, das seis às oito da noite.

Neste sentido, recorrendo às reminiscências de Americano, no Jardim da Luz, ao cair da tarde, chegavam os apreciadores de música, de diferentes os grupos sociais. Importante indicar, que até mesmo nas lembranças deste memorialista, construídas numa narrativa de empatia com os valores das elites, indicam práticas de hierarquização dos espaços e das práticas sociais. Assim, na recomposição do autor, em seus passeios por espaços como o Jardim da Luz, todos os homens, mesmo os operários, usavam colarinho, gravata e chapéu, todas as mulheres usavam chapéu e sentavam-se nos bancos. À medida que chegavam os “funcionários”, os operários se levantavam cedendo-lhes os bancos e ficavam passeando ao redor do lago. Os “abastados” chegavam mais tarde e sentavam-se nas mesas ao ar livre no bar, pediam gasosas, chopes, sanduíches e sorvetes. Os operários nada compravam e os funcionários compravam cartuchos de pipoca, amendoim e balas dos vendedores ambulantes 104.

102 MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo antigo, 1554-1910. São Paulo: Paz e Terra, 2003 p. 193. 103

TOLEDO, Benedito L. de. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p.100. 104AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo: 1895-1915. São Paulo: Carrenho editorial/ Narrativa/Carbono 14: 2004 p. 194.

101 Além de servir ao passeio público, no Jardim da Luz podia-se caminhar, namorar, flertar, encontrar os amigos, organizar e realizar eventos sociais e beneficentes.

Em 1914, a nota da Vida moderna, descrevia com detalhes a Quermesse em prol do Hospital para Tuberculosos, realizada no Jardim da Luz:

“A inauguração da Kermesse, mau grado a aspereza do tempo, que do Jardim da Luz afastou muita gente que lá desejaria estar, foi um succésso e veio demonstrar o quanto a nossa sociedade elegante é solicita em accudir a prestar o seu auxilio a commettimentos que tenham por alvo o exercício da caridade e o socorro dos que sofrem. Procurando secundar as esforços da generosa Commissão que a si tomou o encargo de realisar a Kermesse, muitas senhoras e senhoritas da elite paulista, offereceram-se para exercer o rude e trabalhoso encargo de vender nas barracas os objetos que para a Kermesse foram enviados. E, a despeito do mau tempo, na tarde de inauguração, todas ellas estavam nos seus postos, a tiritar de frio, mas, com o sorriso nos labios. Postas num scenario formoso, no meio do verde luxuriante dos grammados e de fronde espessa das arvores do Jardim da Luz, enfeitadas garridamente e illuminadas com brilho e com arte, as barracas da Kermesse, animadas pelo vaivem da multidão, constituíam um conjunto de feerie que attrahia a gente e a retinha alli. Juntae a isso a amabilidade captivante e o sorriso convidativo das formosas e elegantes vendedoras e dizei-me depois se era possivel resistir e deixar de abrir a bolsa em beneficio dos attingidos pelo horroroso flagello da tuberculose?”105.

Por meio desta nota social, podemos observar a preocupação do redator em ressaltar as benesses da “nossa elegante sociedade”, praticada pelas senhoras e senhoritas da elite paulista, demonstrando que apesar do tempo e de ser considerado um trabalho rude foram capazes de executá-lo com simpatia e apreço em prol da caridade.

Vale considerar que ao analisarmos a crônica de Americano e a nota veiculada na revista, o Jardim da Luz, diferentemente de outros espaços anteriormente mencionados neste estudo, acolhia um público mais diversificado, tanto para apreciar

102 música, quanto para participar de eventos sociais como quermesses em benefício do Hospital de Tuberculosos, uma vez que quermesse nos remete a um tipo de festa de caráter mais popular, com barracas de prendas, de brincadeiras e de comidas típicas.

Também nas proximidades do centro em direção a região sul da Cidade encontramos outro Jardim Público: o Jardim da Aclimação. Idealizado pelo Dr. Carlos José de Arruda Botelho, proprietário de terras na região do vale da Aclimação, que em 1892, inaugurou o primeiro zoológico da Cidade inspirado no Jardin d’Acclimation de

Paris. Além da exposição zoológica com leões, onças, jacarés, antas, cutias, tamanduás, carneiros, cabritos, macacos e ursos, o jardim tinha por objetivo a criação e a reprodução de animais dos mais variados tipos, sendo palco da primeira exposição estadual de gado bovino. Contava ainda com salão de baile, rinque de patinação e barracas de tiro ao alvo 106.

Em 1914, em seu número de lançamento, A cigarra trazia uma nota descrevendo uma das atividades esportivas realizadas no Jardim da Aclimação:

“Realisam-se, quasi diariamente, no Jardim da Acclimação, séde da Sociedade Hippica, trainings preparatorios para a grande festa a realisar-se em principios de Abril.

O concurso constará de saltos de altura e obstaculos, travessia do lago a cavallo, corridas de cavallo em pello e em burro, montaria em burros chucros, bezerros, bois, etc.

A elegante e aristocratica sociedade trabalha activamente para proporcionar ás familias de seus socios espectaculos interessantes”. Aos domingos a concorrencia de cavalheiros e familias tem sido extraordinaria”107.

Desta forma, por meio da nota esportiva podemos observar que o Jardim da Aclimação também abrigava a sede da Sociedade Hípica, que por sua vez organizava as competições de hipismo realizadas aos domingos, e é claro ressaltando mais uma vez, como em outras notas anteriormente analisadas, a preocupação em se trabalhar para bem atender um seleto grupo de nossa sociedade, que apreciava esse tipo de competição.

106 PONCIANO, Levino. Bairros paulistanos. São Paulo: SENAC, 2003, p.11-12. 107 A cigarra, edição nº 1 (06/03/1914).

103 Em edições posteriores d‟A cigarra pudemos observar que outros eventos também foram realizados no Jardim da Aclimação, como piqueniques, festas, tardes dançantes e almoços em homenagem a figuras ilustres da nossa sociedade108.

A Vida moderna que também não deixava de acompanhar os eventos sociais da Cidade noticiava em 1916:

“Festa realisada no Jardim da Aclimação pelo operariado da Companhia Nacional de Tecidos de Juta. Na ocasião foi inaugurado o estandarte do Centro Musical recreativo e Beneficente Sant‟Anna, offerecido pelo gerente dessa importante Companhia, o Coronel Jose Rodrigues Costa” 109.

Por meio desta nota relatando a festa da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, podemos observar que o Jardim da Aclimação, além de zoológico e de servir para as elites acompanharem as competições de hipismo, outros eventos recreativos foram promovidos em suas dependências como, piqueniques, festas de empresas e almoços. Isto nos leva a considerar que este espaço assim como o Jardim da Luz, de acordo com o tipo evento acolhia um público diversificado. Por esta razão, não podemos considerá- lo um espaço de lazer exclusivo das elites.

Depois de passearmos pelo Jardim da Luz e pelo Jardim da Aclimação, voltamos a caminhar um pouco mais pela Avenida Tiradentes, ainda em direção a Ponte Grande, na região norte da cidade, chegando a dois clubes dedicados à natação e ao remo, frequentados por pessoas “distintas”, que consideravam que praticar esportes era mais elegante que “tomar banho no rio”, prática proibida pelas autoridades policiais entre 1880 e 1889110.

Importante assinalar, como indica Rago que mesmo as práticas esportivas constituíam-se como espaço de forte segregação e hierarquização dos modos de viver dos diferentes grupos sociais na cidade 111. Já em 1903, a crônica citadina de A Vida

108 A cigarra, edição nº 30 (30/12/1915). 109 Vida moderna, edição nº 299 (09/11/1916).

110 ANTUNES, Fátima Martin R. Ferreira. Do Velódromo ao Pacaembu, in Revista do Departamento do patrimônio histórico - signos de um novo tempo – a São Paulo de Ramos de Azevedo. Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo, janeiro/1998, ano V, nº 5, p.89.

111 RAGO, Margareth. “A invenção do cotidiano na metrópole: sociabilidade e lazer em São Paulo, 1900- 1950”, in PORTA, Paula. História da cidade de São Paulo. São Paulo, Editora Paz e Terra, vol. 3, p.400.

104

Paulista, incentiva o variado gosto esportivo dos paulistanos e a diversidade de gêneros

esportivos cultivados por seus habitantes:

“O gosto pelos gêneros de sports desenvolve-se cada vez mais em São Paulo. Além das corridas de cavalo, cultiva-se o jogo da pelota, o remo, a peteca, o cyclismo, o tiro ao alvo e aos pombos, e a esgrima”112.

Por meio desta nota esportiva do início do século XX, podemos observar que a diversificação e divulgação dos esportes se desenvolviam em São Paulo, cultivando outros esportes como o jogo da pelota, o remo, o tiro ao alvo e aos pombos.

O jogo da pelota era praticado desde o início do século no Frontão Boa Vista, como apuramos nesta nota veiculada na Vida Paulista de 1903:

“O club Athletico da Pella, realisou no domingo passado, na cancha do Frontão Bôa Vista, mais uma magnífica funcção. Foram jogadas diversas partidas simples e duplas, sendo os amadores muito aplaudidos” 113.

112

Vida Paulista, edição nº 1 (12/09/1903). 113 Vida Paulista, edição nº 9 (08/11/1903).

105

Figura 46: Vida Paulista, edição nº9 (08/11/1903)

Assim, além das notas esportivas, veiculava o anúncio da casa, destacando mais uma opção de lazer para os paulistas aos domingos, mas não para todos os paulistas, somente para os considerados descentemente trajados pela diretoria do clube, demonstrando o tom excludente ao selecionar os frequentadores pelos trajes, o que nos leva perceber que era mais um espaço de lazer apreciado pela por um seleto grupo da sociedade paulistana.

Em 1907, a Vida moderna reforçava a prática e a apreciação do esporte pelos paulistas destacando em nota que:

“Eis um estabelecimento de diversões que tem funccionando com toda regularidade proporcionando bellissimos espectaculos aos inúmeros adeptos do salutar Sport da pélla. O Frontão da Boa Vista com a zelosa administração que tem satisfaz inteiramente as

106 exigencias do publico, que nelle encontra um verdadeiro centro de diversões, onde os regulamentos são severos e observados a risca” 114.

Desta forma, enaltece-se a boa administração e os rígidos regulamentos da casa, o que demonstrava a preocupação com a organização e com as normas estabelecidas pelo clube, embora fosse um centro de diversões prezava pela ordem e moralidade.

Figura 47: Vida Moderna, edição nº 221 (14/05/1914)

Já na segunda década, podemos observar que, segundo o anúncio da Vida

Modernade 1914, o “Sport da Péla” continuava sendo apreciado pelos paulistas como

“o mais attrahente dos Sports” e, nesse anúncio mais elaborado, se comparado com o da

Vida Paulista, de 1903, além da mudança do horário de funcionamento, trazia no

rodapé, embora discretamente em letras miúdas, a recomendação de que a diretoria continuava vedando a entrada daqueles que não estivessem de acordo com as normas do

114

107 clube, o que sugere ser um espaço diferenciado, reforçando o caráter preconceituoso da casa ao se permitir somente a entrada de frequentadores bem trajados.

Paralelamente, as práticas dessas modalidades esportivas surgiam os clubes destinados a esses novos esportes. Assim, junto a Ponte Grande estavam instalados às margens do Tietê o Clube Espéria (1899), o Clube Regatas de São Paulo (1905) e, posteriormente o Clube de Regatas Tietê. Além dos esportes náuticos, cultivavam o tênis por influência de sócios ingleses115.

No início do século XX, quatro anos depois de sua inauguração, o Clube Esperia já aparecia nas notas esportivas:

“Vae de vento em popa o novel e elegante Club Esperia, que todos os domingos proprociona umas deliciosas festas intimas aos seus associados. As regatas, o tiro aos pombos, etc., são os divertimentos predilectos da magnifica sociedade que dia a dia, conquista ás sympatias do publico” 116.

O texto acima reforça a existência de espaços destinados as novas práticas esportivas apreciadas pelas camadas abastadas, considerando que somente os sócios poderiam frequentar, principalmente as festas promovidas pelo clube aos domingos. Tudo leva a crer que era mais um espaço de lazer da Paulicéia destinado a um seleto grupo.

Com o correr das primeiras décadas, como sugerem a crônica social e esportiva e os anúncios, algumas modalidades de esportes vão caindo em desuso, enquanto outros como o remo, o turfe e o futebol ganham força.

O remo ou “rowing” como se escrevia nas notas sociais contava com numerosos e entusiasmados afeiçoados pelo esporte náutico.

“O valoroso Club Eperia, desta capital, realisou domingo uma bellissima festa náutica, em commemoração ao décimo aniversario de sua fundação e dedicada ao Dr. Washington Luis, digno prefeito municipal de S. Paulo.

115ANTUNES, Fátima Martin R. Ferreira. Do Velódromo ao Pacaembu, in Revista do Departamento do patrimônio histórico - signos de um novo tempo – a São Paulo de Ramos de Azevedo. Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo, janeiro/1998, ano V, nº 5, p.89.

116

108 A pittoresca sede social do esperia, á margem direita do Tieté, esteve sempre apinhada de convidados e sócios, notando-se entre aquelles o homenageado Dr. Washington Luis, além de muitíssimas famílias do nosso melhor meio social.

O festival, que nada deixou a desejar, terminou pela inauguração do „pavilhão feminino‟, há pouco concluído, tendo servido de „padrinhos‟ o Dr. Washington e sua Exma. Senhora e sendo, por essa ocasião, trocados vários e amistosos brindes” 117.

Além de espaços dedicados às práticas esportivas, os clubes realizavam festas comemorativas. As revistas enalteciam sua importância bem como, a grande presença de sócios, convidados e famílias “ilustres” da nossa sociedade; contando ainda com a inauguração do “Pavilhão Feminino”, ou seja, um espaço no clube reservado às mulheres, apadrinhado pelo prefeito Dr. Washington Luis e sua esposa.

O clube também promovia bailes e recepções, como a oferecida aos jogadores de futebol do Club do Torino, noticiada pela Vida Moderna em 1914:

“O Club Speria offereceu-lhes domingo uma esplendida festa esportiva, em sua sede, correndo ella com muita animação. Foi-lhes tambem offerecido um baile á noite, que se prolongou até ás primeiras horas da madrugada”118.

Passados mais de dez anos de sua inauguração, o Clube Esperia continuava encantando seus sócios com suas festas e bailes, bem como organizando festas beneficentes nas dependências do clube. Em nota, A cigarra sempre atenta aos acontecimentos da Cidade relatou:

“„A FESTA DO ESPERIA‟

Bellissimas as ultimas regatas realisadas pelo „Esperia” na Ponte Grande, em beneficio das victimas da secca119.

Neste sentido, o Clube Esperia embora fosse um espaço de lazer reservados aos sócios, não deixava promover eventos beneficentes, assim como o anteriormente citado Jardim da Luz e como outro espaço que será tratado mais adiante, o Salão Germânia.

117

Vida Moderna, edição nº221 (14/05/1914). 118 Vida Moderna, edição nº234 (13/08/1914). 119 A cigarra, edição nº 31 (24/11/11915).

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Figura 48: Vida Moderna, edição nº 234 (13/08/1914)

Saindo da Ponte Grande em direção região leste da cidade chegava-se ao Bairro da Mooca, onde estava instalado desde 1876, o Hipódromo Paulistano120, nas Ruas Bresser e Taquari, com sede social na Rua XV de novembro, nº 59. O gosto pelos

120“Inicialmente Clube Paulista de Corridas de Cavalo criado por Rafael Aguiar Paes de Barros, senhor de muitas terras, que trazia os cavalos da Inglaterra e da França, os quais criava em sua fazenda no Alto da Mooca, o que significava o nascimento do turfe no Brasil e a semente do atual Jóquei Clube”. LUCIANO, Eugenio; MARTIRE, Lybio e PONCHIROLII, Riccieri Eugenio. Bairro Operário, como se o operário não fosse a força e o fulcro da ordem societária. In, Memória urbana: a Grande São Paulo até 1940. São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, 2001, p. 61.

110 cavalos e pelos prados vinha desde o Império. Como indica Antunes, os principais apreciadores desse esporte pertenciam à elite paulistana, representada pelas famílias do “melhor meio social”. Comparecer ao hipódromo era um acontecimento chique e distinto121.

“Estamos em plena força da temporada turfista.

Regorgitam de distinctos cavalheiros dedicados ao soberbo Sport e de senhoras e senhoritas da nossa mais fina sociedade as archibancadas do nosso veterano Jockey Club, em cada reunião organizada.

No principio deste anno tivemos bem boas reuniões, mas, foi depois das férias, isto è, de setembro em diante, quando se reabriram os portões do pitoresco prado da Mooca, que ellas se tornaram mais concorridas, e mesmo os programas começaram a ser feitos em melhores condições e os pareos disputados com mais lisura”122.

Tamanha era a importância do turfe, que a São Paulo Railway, criou uma linha de bonde Mooca-Centro, exclusiva para o Jockey Clube123. Assim, da Estação da Luz partia o “trem das corridas”. Segundo Americano, “toda gente preferia ir de trem, a ir de automóvel. O trem partia, parava na Estação do Brás, seguia, tomava por uma chave à esquerda e parava em frente ao Hipódromo da Mooca, na Rua do Hipódromo”.124

“Auxiliado por um esplendoroso dia, o Jockey-Club Paulistano effectuou domingo mais uma soberba corrida, á qual serviu de base o „Grande Premio de Piratininga, de 2:000$000 ao vencedor, offerecidos pela Municipalidade.

Todas as dependências do Prado da Mooca estiveram repletas de gente, sobresahindo entre ella o gentil elemento feminino, que, já agóra, não deixa de concorrer com sua elegância e o seu chic ás brilhantes festas do Jockey-Club.

121ANTUNES, Fátima Martin R. Ferreira. Do Velódromo ao Pacaembu, in Revista do Departamento do patrimônio histórico - signos de um novo tempo – a São Paulo de Ramos de Azevedo. Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo, janeiro/1998, ano V, nº 5, p.89.

122Vida Moderna, edição nº 29/30 (25/12/1907).

123 LUCIANO, Eugenio; MARTIRE, Lybio e PONCHIROLII, Riccieri Eugenio. Bairro Operário, como se o operário não fosse a força e o fulcro da ordem societária. In, Memória urbana: a Grande São Paulo até 1940. São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, 2001, p. 61.

124AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo: 1895-1915. São Paulo: Carrenho editorial/ Narrativa/Carbono 14: 2004 p. 301-302.

111 A reunião esteve innegavelmente magnífica, pois mesmo quanto á parte propriamente hippica nada deixou a desejar: todos os pareos foram lismente disputados, proporcionando a maioria peripercias e chegadas verdadeiramente electrisantes.

O premio „Piratininga‟, de acordo com a prophecia da Vida Moderna, foi ganho pelo potro Iago II, por Gallimoor e Nancy, criação e

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