O Lazer no espaço citadino

Manifestações culturais, como os espetáculos de caráter circense, não eram impedidas de serem realizadas nas ruas da cidade, desde que tivessem a autorização da Câmara Municipal183. No entanto, o “Bando Mascarado do Teatro” por estar burlando o estabelecido, foi denunciado junto ao quartel pelo fiscal da 2ª Freguesia, João Batista Orey Júnior, que requisitou dois soldados para prender o referido grupo, “a fim de fazer efetiva a postura nº 37 da Câmara Municipal, do que resultou serem apreendidos um negro e um

183 _{Postura nº 37 – Todo aquele individuo que produzir espetáculos pelas ruas, praças e arraiais deste termo sem}

licença da Câmara será multado em dois mil reis e nesta proporção até ao máximo pelas reincidências (MARANHÃO, 1843, p. 6).

jumento, os quais foram entregues a seus donos por assim requisitar o fiscal da 1ª Freguesia José Themoteo da Costa” (CORPO DE POLÍCIA... PGND, 25/10/1846).

De acordo com os parâmetros da cidade institucionalizada através do Código analisado, nenhuma pessoa deveria permanecer nos botequins, tabernas ou casas de jogos após o toque de recolher a promover a “desordem”, principalmente se fosse escravo. Caso isso ocorresse, havia a determinação de castigo público ao escravo e ao caixeiro da casa pública o pagamento da pena de seis mil réis. Mesmo com tais determinações, na cidade possível, foram constatados vários registros de infrações cometidas por taberneiros, que permitiram escravos dentro de seus estabelecimentos a se entreterem. A tabela abaixo denota que a infração foi geralmente praticada por homens, sendo difícil ser controlada, uma vez que tais estabelecimentos são de pequeno porte e sua clientela possivelmente, em sua maioria, era de escravos.

TABELA 15

INFRATORES DA POSTURA Nº 46184

GÊNERO CONDIÇÃO JURÍDICA

HOMEM MULHER LIVRE ESCRAVO

51 (94,4%) 03 (5,6 %) 47 (87,03%) 07 (12,97%)

FONTE: CORPO DE POLÍCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Partes Gerais das Novidades do Dia. [São Luís], 1842-1866.

A esse respeito é interessante destacar o registro do ocorrido às 10 horas da noite na taberna localizada na rua da Estrela, pertencente ao Sr. Francisco Rodrigues, que foi compreendido na Postura nº 46, por estar com os pretos Joaquim e João, escravos de Boaventura José Rodrigues, que foram presos por estarem dentro da mesma taberna em

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Postura nº 46 – Toda a pessoa que depois do toque de recolher for achada nas vendas, tabernas, botequins ou casas de jogo, pagarão quatro mil réis pela primeira vez, pela segunda o duplo, e assim progressivamente; excetuam-se os bilhares e jogos privados, que deverão ter depois daquela hora a porta fechada: pena de seis mil réis e na reincidência oito mil réis. Se for escravo o infringente desta postura, será entregue ao seu senhor para o fazer castigar publicamente, faltando ao que, pagará a pena de quatro mil réis; e o caixeiro da casa pública pagará a multa em todo o caso referido (MARANHÃO. Edital..., 1842. p. 7).

desordem com outros que se evadiram na ocasião da prisão (CORPO DE POLÍCIA... PGND, 18/01/1848).

Essa questão é ainda pontuada nos registros que se referem às infrações à Postura nº 47 que se reportava diretamente a todo dono de venda, taberna, botequim ou casa pública que consentisse em sua loja escravos entretidos em jogos, rifas e danças que corrompessem o “bom regime” que tais indivíduos deveriam ter.

TABELA 16

INFRATORES DA POSTURA Nº 47185

GÊNERO CONDIÇÃO JURÍDICA

HOMEM MULHER LIVRE ESCRAVO

20 (100%) 00 (0 %) 12 (60%) 08 (40%)

FONTE: CORPO DE POLÍCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Partes Gerais das Novidades do Dia. [São Luís], 1842-1866.

A tabela acima, assim como a anterior, apontam para a idéia de que era difícil aos comerciantes de pequeno porte impossibilitar a permanência de escravos em seus estabelecimento, sendo alvo permanente da vigilância policial, conforme os registros de infrações a esse respeito.

É interessante pontuar o caso da multa aplicada pelo soldado da 2ª Companhia ao quitandeiro Manoel Antonio Suarez, morador na praia Pequena, casa nº 17, às 9 horas da noite, “por consentir ajuntamento de escravos, os quais se achavam com dança” (CORPO DE POLÍCIA... PGND, 24/01/18453).

Ainda se tratando de vigilância aos donos de estabelecimentos comerciais, eles também eram punidos por consentirem neles escravos envolvidos com quaisquer objetos de distração. A tabela abaixo, assim como as antecedentes que se reportaram a questões dessa

185 _{Postura nº 47 – Todo o dono de venda, taberna, botequim ou casa pública que consentir em sua loja escravos}

entretidos em jogos, rifas e danças que corromperem o bom regime que tais indivíduos devem ter será multado em seis mil réis; e na reincidência trinta mil réis; e se continuar, o duplo desta pena, e quinze dias de cadeia; pertencendo à patrulha de Polícia, que verificar a infração deste artigo a metade das multas pecuniárias nele impostas (MARANHÃO. Edital..., 1842. p. 7).

natureza, continuam revelando que o desejo dos legisladores de São Luís era praticamente impossível de ser alcançado no espaço citadino.

TABELA 17

INFRATORES DA POSTURA Nº 109186

GÊNERO CONDIÇÃO JURÍDICA

HOMEM MULHER LIVRE ESCRAVO

14 (100%) 00 (0 %) 05 (35,7%) 09 (64,3%)

FONTE: CORPO DE POLÍCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Partes Gerais das Novidades do Dia. [São Luís], 1842-1866.

Essa impossibilidade fica demarcada pela resistência em cumprir o estabelecido, o que gerava uma série de conflitos entre a polícia e os proprietários. A esse respeito é interessante citar o caso do português José Caixeiro, cuja taberna ficava por baixo da casa de Raimundo Munis, quando a 3ª Patrulha tentou prendê-lo, às 8 horas da noite na rua da Palma, ele começou a “insultá-la com palavras por ela pretender dispersar a reunião de escravos que existia dentro da mesma taberna”, não conseguindo a referida patrulha conduzir o preso ao quartel (CORPO DE POLÍCIA... PGND, 18/06/1844).

As posturas de nº 47 e 109, pelo que pude perceber, se complementavam, pois encontrei registros em que elas eram infringidas simultaneamente. A esse respeito é pertinente o caso da multa aplicada pela 6ª Patrulha às 8 horas da noite na rua de Santana, a Antonio Ventura de Barros, “por consentir em sua taberna pretos entretidos a fumar diamba e com grande barulho, infringindo a postura nº 109 da Câmara Municipal, com referência à de nº 47, sendo testemunhas o ourives Fulano de tal Vianna e o oficial da ronda” (CORPO DE POLÍCIA... PGND, 07/01/1850).

Em relação aos jogos “de parar”, contestados pela legislação local, em consonância com o Código Penal vigente no Império, sendo definido que tipos de jogos eram

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Postura nº 109 – Ficam sujeitos às penas da postura nº 47 os que consentirem em suas tabernas, botequins ou casas públicas, escravos entretidos em quaisquer objetos de distração (MARANHÃO. Edital..., 1842. p. 17).

permitidos na cidade por eles idealizada. Mesmo assim, a tabela abaixo se refere à prisão decretada a Florencio de Évora Garrido, feita pelo furriel às 11 ½ horas da noite, na praça de João do Valle, por estar a praticar jogo não permitido pela Câmara Municipal da cidade [...] (CORPO DE POLÍCIA... PGND, 26/04/1852). Tais jogos poderiam ser de cartas, de dados ou de outra qualquer natureza, inclusive rifas. Infelizmente o registro da infração não designa que tipo de jogo estava sendo praticado pelo infrator.

TABELA 18

INFRATORES DA POSTURA Nº 85187

GÊNERO CONDIÇÃO JURÍDICA

HOMEM MULHER LIVRE ESCRAVO

01 (100%) 00 (0 %) 01 (100%) 00 (0%)

FONTE: CORPO DE POLÍCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Partes Gerais das Novidades do Dia. [São Luís], 1842-1866.