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O lo>gov e o relacionamento com Deus Pai

1. As divisões, os Conteúdos e a exegese do Prólogo

1.2. O lo>gov e o relacionamento com Deus Pai

“…kai< oJ lo>gov h+n pro<v

183

to<n

184

qeo>n

185

,” (Jo 1.1b) – “…e o lo>gov estava

com Deus” (Jo 1.1b)

João não só procura evidenciar a eternidade do lo>gov, mas procura

também situar o lo>gov no seu relacionamento com Deus Pai, afirmando que

o mesmo vivia na direcção de Deus, tal como indica a preposição pro>v

186

,

juntamente com o complemento directo, o que sugere uma eterna comu-

nhão entre o Pai e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade

187

. Comunhão

176Cf. Idem, ibidem, p. 405. « JOmoio>w, (o[moiov) … I transitivo, assemelhar, comparar… II intran-

sitivo, ser semelhante.» A forma verbal oJmoi>wsin encontra-se no aoristo modo conjuntivo voz

activa. É um verbo contracto.

177Cf. Idem, ibidem, p. 85. « jArcw, …mandar… dominar…» A forma verbal ajrce>twsan encon-

tra-se no presente modo imperativo voz activa 2ª pessoa do plural, “dominai”.

178Cf. Idem, ibidem, p. 457. «Peteino>v, h>, o>n, adjectivo [triforme], voador [ave]…»

179Cf. Idem, ibidem, p. 335. «Kth~nov, eov ou ouv (kta>omai) substantivo neutro … bens, posses-

sões, riquezas em rebanhos, em gados, animal, besta de carga.»

180Cf. Idem, ibidem, p. 441. «Pa~v, pa~sa, pa~n, ad. triforme, todo, toda”.

181Cf. Idem, ibidem, p. 230. « JErpeto>n, ou~, substantivo neutro (e[rpw) …serpente, réptil.» 182Cf. Idem, ibidem, p. 230. « [Erpw … arrastar-se penosamente, avançar lentamente, ir, vir,

mover-se.» A forma verbal eJrpo>ntwn encontra-se no presente modo particípio voz activa mas- culino genitivo plural.

183Pro>v,(+ acusativo) para, contra, conforme, em comparação, respeito a, (até, em direcção a);

(+ Genitivo, procedência), de, de junto de, do lado de, em nome de, diante de, por; (+ Dativo) junto de, alem de. Cf. COENEN, Op. Cit., vl. II p. 1781. «… No grego Clássico pros [pro>v] era regular- mente seguido por três casos, mas no Novo Testamento há uma só ocorrência com o genitivo (Act 27.34 …) e 6 com o dativo, em comparação com 679 ocorrências com o acusativo. No seu sig- nificado básico espacial pros [pro>v] denota o movimento real ou direcção literal…»

184Cf. FREIRE, Op. cit., p. 26. «to>n… o». Artigo Definido masculino acusativo singular. 185Cf. PEREIRA, Op. cit., p. 265. «qeo>v, ou~, substantivo masculino, Deus, a divindade…»

Cf. VINE, Op. cit., pp. 558-559 «theos (qeo>v)…(a) a palavra foi apropriada pelos judeus e retida pelos cristãos para denotar “o único verdadeiro Deus”. Na Septuaginta, o termo qeo>v traduz (com poucas excepções) as palavras hebraicas Elohim e Jehovah, a primeira indicando o Seu poder e preeminência, a última, Sua existência não originada, imutável, eterna e sustentada por Si mesmo. No novo Testamento, estes e todos os outros atributos divinos lhe são predicados. A Ele são atri- buídos, por exemplo, Sua unidade, ou monismo (por exemplo, Mc 12.29; 1 Tm 2.5); auto-existência (Jo 5.26); imutabilidade (Tg 1.17); eternidade (Rm 1.20); universalidade (Mt 10.29; Act 17.26-28); poder todo-poderoso (Mt 19.26); conhecimento infinito (Act 2.23; 15.18; Rm 11.33); poder criativo (Rm 11.36; 1 Co 8.6; Ef 3.9; Ap 4.11; 10.6); santidade absoluta (1 Pe 1.15; 1 Jo 1.5); justiça (Jo 17.25); fidelidade (1 Co 1.9; 10.13; 1 Ts 5.24; 2 Ts 3.3; 1 Jo 1.9); amor (1 Jo 4.8, 16); misericórdia (Rm 9.15,18); verdade (Tt 1.2; Hb 6.18)....»

186Pro>v,com acusativo significa: para, a, até, em direcção a.

188Cf. FREIRE, Op. cit., p. 165. «o[ti, [conjunção subordinativa causal e consecutiva], porque,

[que].»

189Cf. COENEN, Op. cit., vl. I, pp. 338-340. «katabai>nw (katabainõ), [descer, vir para baixo]

…denota a chegada escatológica do ku>riov (Senhor) e da Jerusalém celestial (1 Ts 4.16; Ap 3.12; 21.2, 10) já, porém, as boas dádivas vivificantes de Deus descem até nós, sobretudo na Sua pro- messa fidedigna de que devemos ser um tipo de primícias das Suas criaturas (Tg 1.17-18). Jesus, de modo semelhante, é o pão vivo que já veio até nós da parte do próprio Deus, tornando-se em rea- lidade presente (Jo 6.50,58)…» A forma verbal katabe>bhka é uma forma composta e encontra-se no perfeito modo indicativo voz activa.

190Cf. COENEN, Op. cit., vl. I, pp. 341-348. «oujrano>v (ouranos) [ou~, substantivo mascu-

lino] “céu”, que possivelmente se relaciona com a raiz indo-europeia que significa “água”, “chuva”, significa “aquilo que molha ou frutifica”… No Novo Testamento, ouranos [oujrano>v] ocorre 272 vezes; com maior frequência em Mateus (82 vezes), especialmente na frase basi- lei>an to>n oujrano>n, “o reino dos céus”… o próprio céu é o trono de Deus (Mt 5.34), e diz-se que o trono de Deus está no céu (Act 7.49; Hb 8.1; Ap caps. 4 e 5) … (f) O NT também fala de tesouros de salvação no céu – recompensas existem no céu (Mt 5.12 par. Lc 5.23). Há tesouros no céu (Mt 6.20). Os nomes dos discípulos estão registados no céu (Lc 10.20; Cf. Hb 12.23). Sua herança também está ali (1 Pe 1.4). Os cristãos Têm um edifício (2 Co 5.1-2), e sua cidadania ou lar (Fp 3.20) está no céu … Declarações cristológicas (a) As declarações acerca do céu são de especial importân- cia quando ficam em relacionamento com Jesus Cristo. Na ocasião do seu baptismo, abriram-se os céus … (Mt 3.16-17) … Jesus ensinou seus discípulos a orarem que a vontade de Deus seja feita na terra como também no céu (Mt 6.10)…»

191Cf. PEREIRA, Op. cit., p. 416. «Ouj, oujk, oujc, advérbios [de negação] não.» A forma ouj apa-

rece quando é seguida de uma consoante; a forma oujk aparece quando é seguida de uma vogal, sem ser aspirada; a forma oujc aparece quando é seguida de uma vogal aspirada, com espírito áspero. Cf. VINE, Op. cit., pp. 813. «ou (ouj), “não”, expressando uma negação absoluta (por exem- plo, Mt 5.37; 13.29; Jo 7.12; Act 16.37; 2 Co 1.17-19; Tg 5.12). ouchi (oujci), forma fortalecida … [de oujc], é usado, por exemplo, em Lc 12.51; 13.3,5; 16.30; Rm 3.27.»

192 [Ina,conjunção final, significa: para que, a fim de que, que. Quando surge na oração pede

frequentemente o modo conjuntivo.

193Poie>w,fazer, realizar, produzir. A forma verbal poiw~ encontra-se no presente modo

conjuntivo voz activa.

194Cf. FREIRE, Op. cit., p. 27. «to>, o, a». Artigo Definido neutro singular.

195Cf. PEREIRA, Op. cit., p. 263. «Qe>lhma, atov, substantivo neutro, vontade, desejo.» 196Cf. FREIRE, Op. cit., p. 63. «ejmo>n, minha [referente a coisas]…» Pronome possessivo neutro

singular.

197Cf. PEREIRA, Op. cit., p. 27. « jAlla>, conjunção adversativa, mas.» Tem outros significa-

dos: porém, contudo, todavia.

198Cf. Idem, ibidem, p. 445. «Pe>mpw … enviar …» A forma verbal pe>myanto>v encontra-se no

aoristo modo particípio masculino genitivo singular voz activa.

199Cf. FREIRE, Op. cit., p. 88.

essa expressa no ministério terreno de Jesus, quando orava e destacava

publicamente que o seu desejo e vontade estavam em sintonia com o de-

sejo e a vontade de Deus Pai, conforme nos é mostrado no seguinte texto:

“o[ti

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katabe>bhka

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ajpo< tou~ oujranou~

190

oujc

191

i[na

192

poiw~

193

to<

194

qe>lhma

195

to< ejmo<n

196

ajlla<

197

to< qe>lhma tou~ pe>myanto>v

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me.” (Jo 6.38) –

“Porque eu desci do céu, não para que faça a minha vontade, mas a vontade do que

me enviou.” (Jo 6.38)

O presente texto realça três formas verbais importantes: “katabe>bhka”,

verbo composto que se encontra no Perfeito, no Modo Indicativo, transmi-

tindo a ideia de uma acção realizada há bem pouco tempo, que se prolonga

até ao presente da acção “acabei de descer”

199

, ou “tenho descido”, compa-

rando a eternidade de Jesus com o tempo de chegada a este mundo, e mos-

trando o desejo da sua descida.

O substantivo “oujranou~”, “do céu”, caracteriza o local donde Jesus des-

ceu, não se tratava de um lugar qualquer, mas da pátria celestial. O local da

habitação e do trono eterno de Deus, o lugar dos tesouros e das recompen-

sas; o sítio onde os nomes dos discípulos estão registados e onde a sua heran-

ça permanece; o grande edifício de que o apóstolo Paulo falou, não feito por

mãos, eterno, nos céus; o local que se abriu, por altura do baptismo de Jesus,

e ao qual Jesus ensinou seus discípulos a orarem, para que a vontade de Deus

seja feita, tanto na terra, como no céu; o lugar da descida do Espírito Santo

de Deus (1 Pe 1.12). A habitação dos anjos (Mt 18.10; 22.30; Ap 3.5); o local

onde o apóstolo Paulo foi arrebatado (2 Co 12.2); o lugar da habitação dos

santos após a ressurreição e o arrebatamento da igreja (2 Co 5.1; 1 Ts 4.16;

Fp 3.20,21); o local que Jesus deixou, tendo em vista a salvação da humani-

dade. O local onde o lo>gov, mantinha a sua eterna comunhão com Deus Pai.

A segunda forma verbal encontra-se no Presente do Conjuntivo “poiw~”

– “que eu faça”, exprimindo uma acção concebida como desejável, recomen-

dável, possível, ou potencial

200

. O que Jesus quer transmitir é a ideia de um

desejo intenso por estar em conformidade com a vontade do Pai, visto que

desde a eternidade a vontade de ambos se cruzam e se enquadram.

A terceira forma verbal “pe>myantov” encontra-se no Aoristo que corres-

ponde ao Perfeito, no Modo Particípio, exprimindo uma acção plenamente

realizada (“enviado” por alguém). O lo>gov foi enviado pelo Pai, para cum-

prir a vontade divina. Desde a eternidade, Jesus sempre viveu em comu-

nhão com o Pai, num relacionamento pessoal, e numa estreita comunhão

quanto aos desígnios, intenções e propósitos divinos, incluindo o plano da

criação e da redenção da humanidade.

Um segundo aspecto prende-se com a identidade do lo>gov. Possuindo

vontade própria, o lo>gov é apresentado como uma entidade divina distinta

do Pai, que não obstante, forma com Ele um só Deus. “Entre o Pai e o Verbo,

ainda que duas pessoas distintas, há uma união inefável. Onde quer que estivesse

Deus Pai por toda a eternidade, aí estava também o “lo>gov”, o Filho de Deus: iguais

em glória, co-eternos em majestade, um em essência.”

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É importante realçar ainda que esta ligação harmoniosa entre o lo>gov e o

Pai foi manifestada na vida de oração de Jesus. Por dezoito vezes os Evan-

gelhos nos dão conta de que Jesus dirigiu as suas orações a Deus Pai: orou a

Deus Pai por altura do baptismo (Lc 3.21,22); antes de escolher os doze

apóstolos (Lc 6.12,13); pelas crianças (Mt 19.13-15); no Monte da Transfigu-

ração (Lc 9.28-29); em favor de Pedro (Lc 22.31-34); diante do túmulo de

Lázaro (Jo 11.41-42); por si mesmo (Jo 17.1,5); pelos seus discípulos e por

200Cf. BORREGANA, Index, 1996, p.170.

202Cf. SILVA, Index, 1984, p. 1237. «predicado (Lat. Praedicatu), s.m. Qualidade ou atributo

característico de uma coisa, pessoa… qualidade, que se afirma do sujeito, numa oração gramatical.»

todos os crentes (Jo 17.11,20-26); aquando da missão dos setenta discípulos

(Lc 10.21); no Jardim de Getsêmani (Mt 26.39,42; Mc 14.36; Lc 22.42; Jo

12.27,28); na cruz (Lc 23.34,46; Mt 27.46; Mc 15.34), etc. Todos estes episódios

contêm em si o facto da importância da oração de Jesus. São episódios dis-

tintos, com lições distintas, mas com um mesmo alvo, a compreensão e a

simultaneidade entre a vontade do Pai e a vontade do Filho, visto que desde

sempre o lo>gov se moveu e continua a mover na direcção do Pai. Este não se

tratou em tempo algum de um relacionamento forçado, mas de um relacio-

namento desejado e apetecido, tal como nos indica a expressão do prólogo

“…kai< oJ lo>gov h+n pro<v to<n qeo>n,” (Jo 1.1b) – “…e o lo>gov estava em direcção

a Deus” (Jo 1.1b), transmitindo a ideia de uma comunhão inefável entre o

lo>gov

e o qe>ov, coexistindo juntos e formando uma mesma vontade, um

mesmo alvo, e um mesmo propósito.