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1. TRAMAS E VIVÊNCIAS DAS RENDEIRAS DE RENASCENÇA

1.4 O Lugar

A paisagem que as rendeiras viam, além do casario e do intenso movimento de pessoas, era também formada por imagens dos casebres dos bairros periféricos,

como os da Pitanga, Salgado, Prado, Mandioca e em outro, chamado de favela. Na Mandioca, bairro localizado ao pé da Serra do Ororubá, podia-se ver pequenos alojamentos, feitos de materiais rústicos e sem reboco, cobertas de telhas ou flandres. Da mesma forma eram vistas casas de taipas, margeando a via férrea, no Bairro da Favela e Pitanga.

Ilustração nº 22, planta da cidade de Pesqueira – localização dos bairros.

Do alto do Monumento do Cruzeiro, ou do Bairro da Mandioca, localizados nas escarpas da Serra do Ororubá, uma rendeira anônima ao quedar seu olhar para as chaminés, ruas e praças da cidade de Pesqueira, na década de 1950, logo perceberia que estava diante de uma estrutura urbana dividida e definida: Na área central, o lugar das trocas comerciais, moradia dos mais aquinhoados, lugar reservado para as repartições públicas; No canteiro central, a Igreja Matriz; Nas laterais, as fábricas e o cemitério; Na periferia, fazendo a ponte entre o rural e o urbano, os bairros operários e as casas de taipas, moradia de índios Xucurus desterritorializados, e de outros migrantes rurais.

No caminho que liga a cidade à região Oeste, temos o Bairro da Pitanga, localizado próximo ao cemitério novo da cidade, em direção à localidade denominada de Tambores; Prado, que fica localizado próximo a Fábrica Peixe, na direção da estrada que leva ao município de Sanharó; Bairro do Salgado, localizado

por trás da Fábrica Peixe, às margens do riacho Salgado, hoje, conhecido como “canal da baixa” em razão da canalização feita em parte do seu percurso; Bairro de São Sebastião, localizado no entorno da Igrejinha de São Sebastião106, plantada em uma pequena elevação, composto de casas regulares na parte inferior, e na parte superior contendo um conjunto de casas muito pobres, que ficou conhecido como “bairro da favela”. O jornal A Voz de Pesqueira107

denunciava periodicamente as condições de pobreza e da imundice de determinadas casas localizadas nos bairros do Salgado e de São Sebastião, com seus muros feitos de latas enferrujadas. No lado diametralmente oposto temos o Bairro da Mandioca que fica localizado nas escarpas da Serra, próximo a Rua de Santa Rita, no caminho que dá acesso a Vila de Cimbres e a divisa com o Estado da Paraíba.

Ilustração nº 23, Igrejinha de São SebastiãO

A localização do Bairro da Mandioca, segundo Sette (1956), é determinada pela proximidade da água e do centro urbano, entre o vale do riacho Izabel Dias, e o povoado da Serrinha, no caminho que dá acesso ao monumento do cruzeiro. Do alto do cruzeiro podemos observar através da ilustração nº 24, casas de famílias muito pobres construídas ao logo da rua conhecida como Rua dos Xucurus que vai em direção a área central. São áreas intermediárias entre o perímetro urbano e o rural.

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Ver Ilustração nº 23. Disponível Em:<https://www.facebook.com/CulturaPesqueirense>. Acesso em: 22 de abril de 2013.

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O Bairro da Mandioca passou a ser chamado de Bairro da Caixa d’água, depois da instalação dos tanques da estação de tratamento de água que abastecia a cidade, mas também era conhecido pela alcunha de “Fato Cego”, segundo Neves (1980), o bairro recebeu este nome porque, houve vazamento em um dos tanques, provocando o nascimento de uma “fonte”, como a água encanada era privilégio de poucos, a chamada “fonte” logo foi adotada pela comunidade, especialmente pelas fateiras - mulheres que se encarregavam de fazer a limpeza das vísceras dos caprinos e ovinos. “A designação de fato-cego, segundo as fressureiras, era porque ‘a cabeça dos bichos com os “zôios” bem abertos e pescoço’ era decepada acerta altura do pescoço, antes de conduzir as vísceras para a “fonte”, onde eram lavadas. E concluem: Os fatos ficavam cegos” (NEVES, 1980:124).

Das Serras do Ororubá e do Acaí, convergiam pessoas que vinham em direção à cidade, que não encontrando condições favoráveis à sua estadia nas áreas centrais, estabeleciam-se em localidades periféricas, como o Bairro da Baixa Grande, no caminho que vai para a vila de Poção, no Bairro da Mandioca, ou na ladeira dos Xucurus, como a rua era mais conhecida.

Ilustração nº 24, casas do bairro dos Xucurus 1955

Como podemos ver (Ilustração. nº 24), nas encostas da Serra há um arruado de casebres, uma junto à outra, na parte superior, lembrando as favelas dos grandes centros urbanos e, na parte mais baixa, podem ser visualizadas as edificações mais

arrojadas de pessoas bem aquinhoadas, próximas ao centro comercial, como era a casa de Consuelo Trevas, uma das damas da sociedade pesqueirense que arregimentava moças pobres da periferia para tecerem renda Renascença sob encomenda. Nas imediações, entre a Rua dos Xucurus e o centro comercial encontravam-se alguns armazéns, lojas, mercearias, torrefações de milho e café, oficinas de concertos de sapatos, relógios e barbearias, etc., esta rua é o caminho mais curto entre o povoado da Serrinha e o centro comercial, indicando que aquela artéria seria mais um dos caminhos utilizados pelos moradores da Serra do Ororubá e ou do município de Monteiro/PB para chegar à cidade.

Em outra via, localizada ao lado da rua “dos Xucurus” temos um conjunto de casebres que formariam o logradouro que hoje é chamado de Alto da Bela Vista, no alto desta via, ficava localizada a moradia de João Queimado, um “negro” esguio, apreciador de aguardente de cana, e de sua companheira “branca”, conhecida como, Maria de João Queimado, que mendigavam na cidade; o casal, não dispondo de meios para pagar o aluguel de uma casa ou para construir uma moradia descente, resolveu arranchar-se na fenda de uma pedra, conhecida como, “Pedra de João Queimado”, como aquele imenso inselberg granítico passou a ser conhecido na cidade (Ilustração nº 25).

I lustração nº 25, Pedra de João Queimado

Do alto da Bela Vista ou da rua “dos Xucurus” a cidade era vista, através de seus símbolos, com seu casario e os palacetes dos bem afortunados; Suas indústrias, praças, ruas e avenidas. A pedra de João Queimado é talvez, o ponto

mais representativo das condições de vida em que uma grande parte da população de Pesqueira vivia, contrastando com as condições de vida de um pequeno grupo de moradores mais bem afortunados. Sette (1956) observou em 1955, que 72,67% das moradias de Pesqueira eram compostas de casas modestas, classificando outras 278 (11,79%), como casebres miseráveis; Entre palacetes e casas suntuosas, contabilizando 09 unidades e outras 353 casas de pessoas de classe média. Ao todo, foram registradas 2.359 residências na sede do município, para uma população de 13.124, temos 5,56 pessoas por residência, número um pouco superior à média nacional de 5,20. Esses números, no entanto é referente à população recenseada, a população presente é ligeiramente superior, segundo o Relatório108 Preliminar da SUDENE, a diferença girava em torno de 1%.