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2. A ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO DE

2.2. PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

2.2.5 Princípio da defesa do meio ambiente

2.2.5.5 O meio ambiente do trabalho e seus instrumentos processuais de

montante da indenização compatível ou equivalente ao dano causado, atribuído com o objetivo de ressarcir o prejuízo”. COSTA, Judith Martins; PARGENDLER, Mariana Souza. Usos e abusos da função punitiva (punitive demagers no direito brasileiro). In: Revista CEJ. Brasília, p.15-32, jan/mar 2005, p. 15-32. Disponível no site www.justicafederal.gov.br. Acesso em 17.11.2005. Apesar de discordarmos de alguns argumentos das articulistas em seu magistral artigo, a noção por elas exposta é suficientemente didática para a compreensão do instituto.

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O próprio STF já admitiu a aplicação do conceito de punitive demages no direito brasileiro, como no AI 455846/RJ que teve como relator o Ministro Celso de Mello. A decisão está disponível em www.stf.jus.br. Acesso em 15.02.2010.

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No voto vista no RE 172.720, julgado em 06.02.1996 (DJ de 21.02.07), disse o Ministro Francisco Rezek:

"Tenho para mim que a razão de se haver produzido, no plano internacional, uma imagem do Brasil como o "país da impunidade", e de se haver forjado em nossas próprias consciências a idéia penosa de que temos vivido no país da impunidade, não é só a suposta leniência do foro criminal. Isto, na realidade, é o resultado da fiel aplicação da lei quando o processo penal não oferece prova idônea à condenação. Penso que, no plano do direito criminal, a impunidade é quase sempre o resultado da nossa situação econômica, no que concerne à alocação de verbas idôneas para que a máquina policial funcione a contento, e para que a prova no juízo criminal seja sólida o bastante, de modo que juízes conscienciosos possam proferir condenações. Em alguns casos não é isso. Em alguns casos a leniência é ideológica, como na sabida tendência do tribunal do júri a absolver homicidas em nome do bisonho argumento da legítima defesa da honra. Volto ao que agora nos interessa: receio que seja também ideológica a leniência do foro cível — que responde, tanto quanto o foro criminal, pela imagem do "país da impunidade" — no domínio das relações do cidadão, visto na sua qualidade de consumidor, com todas as forças estabelecidas no plano econômico: o comerciante, o industrial, o prestador de serviços, o banqueiro, o próprio Estado— empresário. A tendência do poder público diante dos reclamos do consumidor sempre foi — neste país mais do que nos outros — a de reagir com surpresa. O que é isto ? Que história é esta? Não é o caso de indenização; não é o caso de a pessoa sentir-se tão lesada; não é o caso de pedir em juízo reparação alguma. Parece-me que essa forma de leniência no foro cível deveria finalmente, à luz da Constituição de 1988, encontrar seu paradeiro, produzindo-se uma situação nova, condizente com os termos da Carta..." Disponível em www.stf.jus.br. Acesso em 15.02.2010.

O meio ambiente de trabalho é, na verdade, o local de trabalho do trabalhador, podendo ocorrer em um meio ambiente artificial ou construído, ou mesmo em um ambiente natural, embora sua ocorrência seja menos frequente, haja vista a existência de alguma intervenção humana que possibilite sua fruição.106

Vinculando-se a noção de meio ambiente do trabalho ao local de trabalho, tem-se que as infrações às normas que objetivam proporcionar um equilíbrio no local de trabalho, afetam a todos os que lá trabalham ou que desenvolvem alguma atividade inserida na engrenagem produtiva.

Ao afetar a todos os indivíduos, que de forma direta ou indireta, mantenham contato com o local de trabalho, as violações às normas protetivas do meio ambiente do trabalho podem ser corrigidas por intermédio de ação civil pública, considerando a indeterminação dos titulares ao direito ao meio ambiente equilibrado. Esse é o posicionamento de Braga Júnior107 quando assevera:

A princípio, quando da instituição da Ação Civil Pública houve um acirrado embate sobre a possibilidade de seu ajuizamento na Justiça do Trabalho. Entretanto, na atualidade, de acordo com o inciso III, do art. 83 da Lei Complementar nº 75/93, tanto a doutrina quanto a jurisprudência brasileiras são unânimes no que tange ao entendimento de que é cabível Ação Civil Pública na Justiça do Trabalho quando os direitos trabalhistas difusos e coletivos, previstos em nosso ordenamento jurídico forem violados ou estejam ameaçados de lesão.

Contudo, duas observações importantes devem ser feitas. A primeira, é que a Ação Civil Pública referente ao meio ambiente do trabalho não se limita à percepção de indenizações. A própria CLT estabelece uma série de medidas preventivas que podem ser requeridas judicialmente, tais como a interdição de

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FERNANDES, Fábio de Assis F. O princípio da prevenção no meio ambiente do trabalho. O Ministério Público do Trabalho e o licenciamento ambiental trabalhista. Revista de direito ambiental. Nº 49, ano 13, janeiro-março de 2008, p.126.

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BRAGA JÚNIOR, Sérgio Alexandre Moraes. A ação civil pública e a proteção do meio ambiente do trabalho. In: Revista Complejus. V 1. Nº 2. Jul/dez 2011. p.18.

equipamentos ou setores da empresa, bem como o embargo de obras que possam causas danos à saúde dos trabalhadores.108

A segunda consideração refere-se ao raio de abrangência de Ação Civil Pública, pois seu objeto não se limita a proteger as condições de trabalho dos empregados, mas de todos os trabalhadores. O meio ambiente do trabalho não é um direito privativo dos empregados (aqueles ligados às empresas por contrato de trabalho regido pela CLT), mas de todos os trabalhadores, ou seja, qualquer indivíduo que preste serviços remunerados em favor de uma unidade produtiva. Sobre esta questão, a lição de Fernandes109 é precisa, verbis:

Apesar de se tratar de apenas uma palavra, a mesma tem repercussões relevantes no raio de incidência da norma, porquanto, como é sabido, se todo empregado é um trabalhador, nem todo trabalhador será empregado. A diferenciação dimana da espécie de vínculo que se forma entre as partes contratantes: se o contrato celebrado o for por uma pessoa física com outra física ou jurídica e no plano fático existirem a subordinação, pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade e alteridade – realização de trabalho em proveito de outrem – estar-se-á diante de um típico contrato de trabalho subordinado restando configurada o que se denomina relação de emprego, cujos sujeitos é o empregado e o empregador. Caso tais elementos configuradores da relação contratual

stricto sensu não se encontrem presentes ter-se-á a ocorrência de uma

relação de trabalho que não dispensará a existência de um contrato de trabalho, aqui tomada em sua acepção ampla, que não se confunde com o contrato de trabalho subordinado. É o caso dos trabalhadores autônomos, dos avulsos e dos eventuais, etc.

Fora da órbita de incidência das normas atinentes à relação de emprego, os servidores admitidos pelo regime estatutário-administrativo, não deixam de ser destinatários das normas de saúde e segurança do trabalho, enquanto trabalhadores que inegavelmente são.

Dito de outra forma, não é a natureza da relação jurídica que une o trabalhador ao tomador do serviço que obriga este a proporcionar um meio ambiente do trabalho equilibrado, mas a tão só existência de qualquer contrato de atividade que enseja a responsabilização do tomador do serviço.

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Art. 161 - O Delegado Regional do Trabalho, à vista do laudo técnico do serviço competente que demonstre grave e iminente risco para o trabalhador, poderá interditar estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento, ou embargar obra, indicando na decisão, tomada com a brevidade que a ocorrência exigir, as providências que deverão ser adotadas para prevenção de infortúnios de trabalho. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

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FERNANDES, Fábio de Assis F. O princípio da prevenção no meio ambiente do trabalho. O Ministério Público do Trabalho e o licenciamento ambiental trabalhista. In: Revista de direito ambiental. Nº 49, ano 13, janeiro-março de 2008, p.127.

A competência para processar e julgar ação civil pública que tenha por objeto as normas de proteção à saúde do trabalhador e ao meio ambiente do trabalho cabe à justiça do trabalho, conforme previsto no art. 114, I, da Constituição Federal110 e já resta pacificado no âmbito do Supremo Tribunal Federal.111