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2. A ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO DE

2.2. PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

2.2.4 Princípio da defesa do consumidor

Trata-se de uma consequência da livre concorrência, pois o mercado também é composto de consumidores. Se constitui em princípio impositivo, pois exige do Estado a adoção de medidas tendentes à realização de seus fins, tanto no plano jurídico quanto no econômico.

Essa é a perspectiva de José Geraldo Brito Filomeno68, ao analisar o significado da proteção ao consumidor, pois afirmou:

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GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 8ª ed. São Paulo: Malheiros editores. 2003, p.189.

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No Brasil, encontra-se regulado pela lei 12.529/2011 que em seu artigo primeiro determina que a lei “estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.

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PETTER, Lafayete Josué. Princípios constitucionais da ordem econômica. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008, p. 249.

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Essa interferência geralmente é feita na tipificação de certas condutas como infrações à ordem econômica, como acontece no Brasil com a lei 12.529/11, art. 36, incisos I a IV, § 3ºincisos I a XIX. O texto disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm. Acesso em 17.02.2013.

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FILOMENO, JOSÉ GERALDO BRITO. Manual de direitos do consumidor. São Paulo. Editora atlas. 3ª ed., 1999, p. 59.

Assim, em uma economia de mercado – como ainda pretende ser a nossa, porquanto ainda não o é – é fundamental que exista a livre concorrência entre empresas, já que é por seu intermédio que se obtém a melhoria da qualidade de produtos e serviços, o desenvolvimento tecnológico na fabricação e melhores opções ao consumidor ou usuário final.

Conclui-se facilmente, por conseguinte, que se a livre concorrência não e garantida e o mercado passa a ser dominado por poucos, sem que haja fiscalização governamental, a tendência é o aumento de preços dos produtos e serviços, a queda da sua qualidade, a redução de alternativas de compras e a estagnação tecnológica. Tudo isso porque, como curial, inexiste a competitividade, que obriga ao aperfeiçoamento dos processos de fabricação, mediante pesquisas e adoção de métodos produtivos e administrativos mais eficientes.

Considerando o consumidor como o elemento mais vulnerável na relação produtiva, o ordenamento jurídico constitucional determina sua proteção através da criação de um sistema69 de direitos e privilégios, que, em última análise, é titularizado por toda a sociedade. Esse é o entendimento de Leonardo Vizeu Figueiredo70:

Outrossim, uma vez que o consumidor é a parte que, durante a relação jurídica econômica de aquisição final do bem ou serviço, tem menor conhecimento sobre o mesmo, decorrente de forte assimetria informativa sobre como se opera as etapas de produção e circulação, mister se faz outorgar-lhe privilégios legais e processuais, reconhecendo sua posição de hipossuficiência em relação ao produtor e ao vendedor. Assim, por estar em relação de hipossuficiência e desvantagem em relação aos detentores dos fatores de produção, o consumidor merece defesa especial por parte do Estado, contando com legislação própria.

Ao falar-se na defesa do consumidor, devem ser observados três aspectos preocupantes, a saber: a) promover a atomização dos interesses do trabalho, pois todos somos consumidores, de forma que em eventuais conflitos a tendência das forças do trabalho é ficarem ao lado de quem fornece o emprego (não dos consumidores); b) a noção de consumidor, que deve fundar-se numa debilidade ou subordinação estrutural em relação ao produtor71; c) a promoção da defesa do

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No caso brasileiro, lei 8.078/90. 70

FIGUEIREDO, LEONARDO VIZEU, Lições de direito econômico. Rio de Janeiro. Forense. 3ª ed, 2010, p.68..

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O conceito de consumidor no Brasil é legal, eis que especificado no art. 2º da lei 8.078/90, que conceitua consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, equiparando-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que

consumidor deve ser concretizada através de medidas normativas e de intervenção.72

Dentre as medidas normativas de proteção mais relevantes ao consumidor, tem-se uma proteção contratual especial73, operacionalizada em 03 (três) situações distintas: a limitação da liberdade contratual; relativização da força obrigatória dos contratos e a proteção da confiança e dos interesses legítimos.74

A limitação da liberdade contratual é inerente à sociedade de massa, onde a vontade como elemento fundamental do contrato encontra-se sob forte questionamento. Aqui se pretende que a lei – não apenas a vontade –, em certas circunstâncias, possa definir o conteúdo e a existência de certos negócios jurídicos.75

A relativização da força obrigatória dos contratos incide quando o negócio já se encontra plasmado, permitindo a interferência do Estado no conteúdo e economia do contrato, quando constata a existência de cláusulas abusivas.

A proteção da confiança e dos interesses legítimos, significa a tutela jurídica das expectativas legítimas dos contratantes quando da estipulação de negócios de consumo, observando-se os riscos normais de cada relação, sendo isso uma consequência da boa-fé inerente às obrigações.

Desse modo, no plano jurídico, a ordem econômica nacional não pode se pautar pelas regras utilitárias e da maximização de resultados, devendo existir

indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. O texto integral da lei está disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em 17.02.2013.

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GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 8ª ed. São Paulo: Malheiros editores. 2003, p.217-218.

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Cláudia Lima Marques sustenta que essa proteção contratual constitui uma nova concepção de contrato fundada em 03 (três) premissas: a) a socialização da teoria dos contratos; b) imposição do princípio da boa-fé objetiva; c) intervencionismo dos Estados. MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1995, p.76-89.

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MARQUES, Cláudia Lima. Op cit. p.90-97. 75

MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1995, p.90-97.

uma ética entre seus agentes, especialmente entre fornecedores e consumidores, objetivando o equilíbrio dessa relação.