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estratégias x falta de políticas públicas

POSICIONAMENTO DOS

6.5 O Mercado e a Comercialização de Cacau

6.5.1 O processo de comercialização do cacau

O processo de comercialização estabelecido no Município de Uruará segue a dinâmica de mercado dos produtos agrícolas desenvolvida no âmbito do Território da Transamazônica, onde há muitos fornecedores (os produtores de cacau) e poucos compradores (os agentes de comercialização), ou seja, trata-se de um oligopólio enraizado há anos nesta região.

Os agentes de comercialização, estabelecidos na escala local - atuando também em todo o Território da Transamazônica -, compram a produção de 86,7% dos produtores de cacau do Município, podendo-se observar ainda que apenas 8,8% transacionam diretamente com grandes indústrias processadoras e/ou exportadoras integradas nos mercados, nacional e internacional.

A comercialização da produção no Município é realizada através de três modalidades distintas, a saber: venda do produto na folha (antes da colheita), venda mediante pagamento no ato da entrega do produto (predominantemente durante a colheita) e entrega do produto para efetuar a venda posteriormente (depois da colheita). Predomina, na escala local, a comercialização durante a colheita do cacau, que ocorre no período de abril a setembro, concentrando-se nos meses de junho e julho (pico de safra), em que 61,1% dos produtores negociam o produto nesta etapa do ciclo produtivo da cultura.

No que tange à valoração do produto final, 58,3% dos produtores afirmaram que os critérios estabelecidos para a fixação do preço do cacau são definidos pelos compradores. Estes critérios, segundo dados das entrevistas realizadas com estes agentes, são norteados pelos instrumentos e mecanismos de formação de preços de produtos agrícolas (commodities) no mercado internacional, a exemplo do cacau, sob comando das bolsas de Nova Yorque e de Londres. Em outras palavras, a formação do preço do cacau em Uruará sofre influência do mercado externo.

Dentro deste contexto, deve-se dar evidência a um dos entraves enfrentados pelos produtores de cacau: o acesso às informações relativas ao comportamento dos mercados regional, nacional e internacional que, decerto, regem

os mecanismos e a dinâmica de formação dos preços pagos pelo cacau, tanto no território como no Município de Uruará. Neste caso, os dados retratam que 31,9% dos produtores não têm acesso às referidas informações, e, embora 66,7% desses produtores tenham afirmado que recebem informações pertinentes ao mercado agrícola, estas estão inseridas em um sistema precário de comunicação existente nesta região.

Dessa forma, em virtude do sistema de comercialização (oligopólio) estabelecido nas escalas territorial e local, foram criadas, historicamente, fortes relações de dependência dos produtores de cacau junto aos agentes de comercialização, que podem ser caracterizadas como estruturais, comerciais e financeiras, demonstrando claramente o vínculo entre as partes, que perpassa o caráter meramente comercial (apontado por 52,8% dos produtores), adentrando em relações financeiras mais aprofundadas, que, decerto, comprometem a estabilidade e a sustentabilidade econômica desses produtores no curto, médio e longo prazos, haja vista que 36,1% deles desenvolvem especificamente este tipo de negócio.

6.5.2 A cadeia de comercialização

Na cadeia de comercialização do cacau, no Território da Transamazônica (Figura 09), estão inseridos vários setores e/ou segmentos representados pelos produtores de cacau, varejistas, atacadistas e as indústrias de beneficiamento e transformação do produto, em âmbito nacional. Os resultados deste estudo demonstram que há uma forte intermediação de agentes na região, que atuam em diversos níveis hierárquicos, às vezes de forma integrada, mas sempre em interconexão com as grandes empresas processadoras de cacau, instaladas principalmente nos estados da Bahia e São Paulo, principalmente a BARRY CALEBOULT e a CARGILL, que são as indústrias compradoras de cacau da região, ocupando a posição de primeiro e segundo lugar em volumes de produção transacionados, respectivamente.

Esta realidade, observada no campo, confirma fatos relevantes pertinentes à problemática levantada por este estudo, notadamente quanto ao estrito interesse de grandes empresas multinacionais - inseridas no sistema econômico global e integradas no mercado internacional do cacau - no uso corporativo do Território da Transamazônica. Essa estratégia prende-se ao fato de se tratar de um

dos mais importantes pólos de produção de cacau do mundo, especializado na produção dessa commodity, sendo dessa maneira classificado como uma região funcional para a ofensiva corporativa, de forte atratividade (histórica) para o capital (privado) financeiro e agroindustrial.

Figura 09 - Circuito de comercialização do cacau no Território da Transamazônica Fonte: Adaptado de Dürr (2002)

6.5.3 Os principais “gargalos” e constrangimentos dessa realidade para os Produtores

A partir desta realidade observada no Município de Uruará, a pesquisa permitiu identificar os principais problemas e gargalos encontrados no sistema de comercialização do cacau. Dessa forma, pode-se observar, dentre os constrangimentos detectados, que 49,9% dos produtores afirmam ser a desorganização do processo produtivo o principal entrave, que vem dificultando o acesso ao mercado de produtos agrícolas, impedindo assim o estabelecimento de quaisquer relações comerciais diretas com as grandes indústrias processadoras e exportadoras de cacau, assim como a conquista de novos nichos (promissores) de mercado, a exemplo do “mercado de cacau orgânico”.

Por outro lado, em segundo plano não menos importante, 27,4% dos produtores ressaltam que o “cartel” estabelecido pelos agentes de comercialização

também representa um obstáculo à classe produtora, na medida em que se configura na principal causa da relação de dependência dos cacauicultores junto aos compradores, à qual nos referimos anteriormente, o que tem comprometido o desempenho financeiro dos agricultores, além de contribuir sobremaneira para aumentar o grau de inadimplência rural na municipalidade.

Adicionalmente, 13% dos produtores envolvidos no estudo apontam a falta de apoio do governo como sendo o terceiro grande constrangimento comercial. Neste aspecto, destacou-se, fundamentalmente, a falta de incentivo através da concessão de crédito/financiamento (bancário) adequado à realidade dos produtores de cacau e a deficiente infra-estrutura referente à malha viária (estradas) e ao transporte, vitais no processo de escoamento e mobilidade da produção, notadamente das estradas vicinais (travessões) perpendiculares ao eixo central (faixa) da Rodovia Transamazônica, onde se concentra o maior volume da produção de cacau do Município de Uruará.

Assim, a análise dos resultados do estudo, relativo ao contexto que envolve as questões pertinentes à estrutura de mercado e comercialização do cacau no Município de Uruará, possibilitou o mapeamento de alternativas capazes de melhorar e tornar mais eficiente esse sistema, em nível territorial e na escala local.

Para uma melhor visualização, as alternativas mencionadas estão sistematizadas e evidenciadas na Figura 10, abaixo, permitindo-nos inferir que as proposições dos agricultores guardam estreita relação com os aspectos essenciais da problemática levantada por este estudo, quais sejam: a organização do processo produtivo, a estrutura de mercado e comercialização e as políticas públicas de apoio à economia cacaueira. Tais proposições, nesta seqüência, foram apresentadas por 56,2%, 20,3% e 14,1% dos produtores de cacau envolvidos neste estudo, respectivamente.

Figura 10 – Alternativas apontadas pelos produtores visando à melhoria do sistema de comercialização de cacau em Uruará

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa de campo (2010)

6.6 A industrialização do Cacau no Território e no Município de Uruará