• Nenhum resultado encontrado

Mapa 5: Município de São José do Seridó – RN

3. O Mercado e seu funcionamento no sistema capitalista

O mercado é visto por diversas correntes teóricas como portador de indiscutíveis virtudes. Das muitas atribuídas a essa instituição, é preciso destacar um de seus maiores atributos: o de prover prosperidade através de trocas de econômicas, essas últimas regidas pelos sistemas de preços e competição entre os agentes econômicos envolvidos nas trocas.

Ploeg (2016) define os mercados como “locais, ou estruturas, através das quais, bens ou serviços são trocados” (PLOEG, p. 21, 2016). Já Schneider (2016), afirma que o senso comum e os economistas convencionais definem o mercado como:

[...] uma situação que expressa competição entre dois ou mais agentes econômicos (empresas, lojas, produtores, etc.) que estabelece uma disputa para vender ou trocar um produto determinado, tendo como alvo um ou mais agentes (consumidor) (SCHNEIDER, p. 96, 2016). O que está expresso neste entendimento é que o mercado se resume a competição, preços e demanda. Em todo caso, esta visão reduz o entendimento do que seja o mercado e quais relações o permeia. Neste caso, Schneider (2016) afirma que, para uma melhor compreensão do que seja o mercado, se faz necessário visitar três formas de defini-lo:

a) O mercado como um lócus, um espaço físico, em que se realizam trocas materiais de produtos e mercadorias; b) O mercado como princípio ordenador da sociedade e da economia, tal como funciona no capitalismo; e c) o mercado é uma construção social, que resulta de processos de interação entre agentes que trocam e intercambiam por diferentes motivos, sejam eles econômicos, sociais e culturais (SCHNEIDER, p. 97, 2016).

Esses três pontos são fundamentais para compreender o tema em questão. Primeiro, entender o mercado enquanto lócus, nos implica a perceber sua formação desde a pré-história, onde começaram a acontecer as primeiras trocas e foi fundado o mercado. Durante a pré-história as trocas eram realizadas por tribos e grupos étnicos de regiões diferentes, os itens eram posteriormente partilhados. Logo após esse período, já na história antiga as trocas começaram a ser realizadas por grupos sociais. Desse modo, as relações de intercâmbio passaram a integrar a estrutura social, o que ocasionou o surgimento das primeiras regras, legislações e espaços físicos destinados às trocas e ao

comércio. Já na Idade Média, surgiram as feiras, locais onde se reuniam comerciantes, consumidores, artesãos e até ocorriam manifestações culturais. Contudo, as feiras foram crescendo e se generalizando por toda a Europa, de modo que houve rápida necessidade para se criar regras, regulamentos e impostos para o comércio e as trocas. É a partir da expansão dessas feiras e suas regulamentações que surgem os mercados nacionais, em que os Estados tiveram grande importância no crescimento dessa instituição, uma vez que a cobrança de impostos poderia retrair ou estimulá-los. Surge então, a dependência do Estado para com o mercado, e vice-versa (SCHNEIDER, 2016). De acordo com Schneider (2016), dois efeitos decorrem desse processo: o primeiro é que o aumento das trocas criou uma nova classe social composta por mercadores e comerciantes; e o segundo efeito seria que essa classe começou a comprar diretamente dos agricultores e produtores, o que os desconectou dos consumidores finais. Esse processo junto ao desenvolvimento do mercantilismo, criaram as condições ideais para o desenvolvimento do capitalismo.

Para entender melhor o funcionamento dos mercados no sistema capitalista é preciso retomar a discussão feita por Polanyi (1977), ao afirmar que a economia de mercado criou um novo tipo de sociedade em que o capitalismo, a partir da revolução industrial, ditou e modificou o estilo de vida das pessoas, na medida em que transformou a economia humana em um sistema econômico autorregulado, com base no livre mercado. O mesmo autor define economia de mercado como “[...] um sistema econômico controlado, regulado e dirigido apenas pelos mercados, onde a ordem de produção e distribuição dos bens é confiada a esse mecanismo auto regulável” (POLANYI, p. 89, 2000). Isso implica dizer que, para os economistas neoclássicos, os mercados vão prover o equilíbrio social através da “oferta-demanda-preços-equilibro, na medida em cria uma sociedade que serve ao mercado.

Outro importante aspecto apontando por Polanyi (2000), a transformação do trabalho e da terra em mercadoria rompeu com os moldes tradicionais dos mercados. Uma vez que tratados como mercadoria, terra e trabalho estão sujeitos a precificação, e uma vez precificados vão ser vendidos no mercado, de modo que os meios de vida de muitos estavam à venda no mercado.

[...] o capitalismo pode ser conceituado como uma “sociedade de mercado”, pois não apenas os produtos, mas a própria produção destes e a reprodução social dos indivíduos – que precisam vender sua força de trabalho para sobreviver – dependem de tal mecanismo (SCHNEIDER, p. 195, 2011).

Desse modo, para sobreviver, o homem foi obrigado a obter ganhos através da venda da sua força de trabalho para consumir os bens no mercado, garantindo sua sobrevivência e o desenvolvimento do mercado através do consumo. Assim, o capitalismo criou um mecanismo institucional de reprodução de força de trabalho, ao fazer com que a vida fosse condicionada pela esfera econômica e pelas necessidades do mercado. Dessa forma, “os motivos econômicos reinavam num mundo próprio, e o indivíduo foi obrigado a subordinar a eles as suas ações sob pena de ser esmagado pelo mercado monstruoso” (POLANYI, 1977, p. 5). Este último aspecto criou a falsa impressão de que o sistema econômico determinaria as instituições e criaria um sistema de mercado autorregulado, por consequência, para o autor, “tentar aplicar o determinismo econômico a todas as sociedades humanas é pouco menos do que uma fantasia” (POLANYI, 1977, p. 13). Logo, a ideia de que existe um mercado puro, que não sofre influência das instituições, das estruturas sociais, das relações de produção e que se autorregula, não passaria de uma falácia.

A ideia de mercado autorregulado foi introduzida por Adam Smith e posteriormente utilizada por David Ricardo. Ambos possuíam uma visão utilitarista da economia e também acreditavam que haviam leis naturais que governavam a economia e os mercados. Estas leis naturais eram a expressão do que chamavam de “mão-invisível”, que sempre em último caso traria a harmonia social através do livre-mercado e livre-comércio (HUNT, 1989).

Segundo Scoville (2014), a visão utilitarista da economia tem como base princípios filosóficos do utilitarismo, de Bastiat. A ideia é que os desejos humanos sempre buscam a obtenção de prazer e de evitar a dor. Nesse caso, os humanos seriam movidos pelo egoísmo e a maximização da utilidade dos bens adquiridos nas trocas. O que significa dizer que a dor e o prazer são os balizadores da utilidade dos bens adquiridos nas trocas, como afirma Scoville (2014): “[...] estes princípios determinarão a utilidade, que pode ser quantificada, tornando-se

também a medida invariável do valor de troca de qualquer objeto” (SCOVILLE, p. 5, 2014).

A troca seria a base central do pensamento do Bastiatque, segundo Hunt (1989), toda a sociedade se beneficiaria com a trocas. Em todo caso, todos poderiam escolher entre morrer de fome e vender sua mão-de-obra aos proprietários de terra, que ficariam com as rendas e lucros, desse modo toda a sociedade sairia ganhando. Para tal, ainda seria necessário que o Estado garantisse os privilégios da propriedade privada, da liberdade o do direito individual de troca, o que inclui o ideário do laissez-faire4, introduzido nos termos

da economia, por Bentham apud Hunt. A visão se tornou hegemônica na época e foi uma das bases para formação das teorias dos economistas neoclássicos (HUNT, 1989).

Ainda de acordo com Hunt (1989), Bentham, Smith e Ricardo, tinham uma visão em comum, a que de que o Estado não deveria interferir no livre-mercado. Neste caso, o Estado deveria somente prover condições para que o livre- mercado se desenvolvesse e este geraria a harmonia social. O autor destaca que o egoísmo estrutural causado pela divisão social do trabalho e a atomização da produção causou a impressão de que os indivíduos não faziam parte de um único grupo social. Este último fator foi também causado pela impessoalidade que as relações de mercado os impunham. Outro aspecto seria a dependência estrutural da sociedade e do Estado para com o mercado, no sentido da total dependência dos indivíduos ao seu sucesso.

Contudo, o desenvolvimento do capitalismo, ou seja, da sociedade de mercado, sempre dependeu do Estado. Visto isso, Chang (2015) exemplifica de maneira bastante simples que países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, durante muito tempo foram protecionistas. A Grã-Bretanha só aderiu ao livre- comércio após 1860, quando o país já respondia por 20% da produção mundial de produtos manufaturados e dominava o comércio mundial, sem contar os diversos planos de desenvolvimento industrial bancados pelo Estado. Nos Estados Unidos, afirma Chang (2015), houveram iniciativas governamentais de proteger a indústria manufatureira que nascia e foi, a partir daí, que as indústrias do país se desenvolveram.

Outro famoso utilitarista foi Stuart Mill, pois o seu pensamento diferia do de Bastiat, isso porque Mill também considerava que todas as trocas são feitas com base no interesse dos atores, porém destacava que os interesses eram racionais e podiam ser variados de acordo com valores éticos e morais. Além disso, apontava também que a maximização da utilidade e os interesses próprios nas trocas só eram visíveis em indivíduos que tivessem moldado sua personalidade de acordo com a lógica concorrencial do mercado (apud SCOVILLE, 2014).

Contudo, no que diz respeito ao papel do Estado, Stuart Mill (apud SCOVILLE, 2014) possuía uma visão diferente dos demais utilitaristas, pois acreditava também que o Estado não deveria tomar medidas protecionistas, mesmo assim, apontava que a intervenção do governo seria necessária, pois considerava inadmissível que o Estado atuasse apenas para proteger as pessoas e o direito à propriedade. Desse modo, Mill, apud Scoville (2014), afirma que:

O governo deveria intervir para alterar os efeitos maléficos do livre mercado capitalista, que desembocava naturalmente em uma concentração de renda sem precedentes. A maioria trabalhava e pouco usufruía do produto de seu trabalho, estando condenada desde o seu nascimento à pobreza, enquanto isso, uma minoria gozava de todas as vantagens da produção de riquezas sem ter o direito a elas, pois não foi fruto de seus próprios esforços (apud SCOVIILE, 2014, p. 196-197). As teorias de ambos os autores utilitaristas, Bastiat e Mill, serviram para o desenvolvimento de diversas teorias posteriores, notadamente desenvolvidas pela escola neoclássica. Elas oferecem suportes teóricos para entender o comportamento dos indivíduos dentro dos mercados, nas relações de trocas de bens e na definição do valor das mercadorias, mas também reduzem a relações de trocas dentro do mercado aos interesses, ao prazer e ao cálculo racional. Dessas ideias deriva a teoria da utilidade marginal, posteriormente desenvolvida por Jevons e descrito por Hunt (1989).

De acordo com Hunt (1989), Jevons acreditava que os agentes econômicos tinham duas características: a primeira é que todos os agentes econômicos extraem utilidade das mercadorias que consomem; a segunda é que todos os indivíduos são por natureza maximizadores racionais e calculistas, e esse comportamento é o único a ser estudo pela economia. Neste caso, a utilidade de um bem deriva de seu emprego total e marginal que, de maneira

simples, quanto maior a utilidade de um bem, menor vai ser sua utilidade marginal e maior será sua utilidade total, e quanto mais escasso o bem, maior será sua utilidade marginal. Em suma, quando maior a utilidade do bem, mais valor ele terá. Foi a partir destas teorias que o credo liberal se consolidou, derivando-se também os preceitos filosóficos básicos da escola austríaca5 (HUNT, 1989).

Para Hodgson (1994), os economistas neoclássicos em suas definições de mercado pecaram exatamente por não conferir importância das instituições nas relações de trocas, além disso, o autor aponta que o mercado em si é uma instituição que funciona através da interação de diversas instituições sociais que intermediam as trocas, definindo o mercado como:

[...] um conjunto de instituições sociais em que se verifica normalmente um grande número de trocas de mercadorias de um tipo especifico, sendo suas trocas facilitadas e estruturadas por essas instituições. A troca, como já referimos, implica um acordo contratual, e intercambio de direitos de propriedade, o mercado consiste, em parte, de mecanismos para estruturas, organizar e legitimar essas atividades. Em resumo, os mercados são trocas organizadas e institucionalizadas (HODGSON, p. 175, 1994).

De maneira geral, a visão de que as instituições afetam as escolhas eram pouco consideradas pelos economistas neoclássicos, de modo que estas eram vistas como meras externalidades que poderiam ou não influenciar o desenvolvimento dos mercados.

As primeiras teorias do institucionalismo na economia surgiram com Thorstein Veblen, ao apontar que:

[...] o processo de vida, que é um “processo “secular”, cheio de diferenciações, imperfeições, poderes diversos, contextos variados onde os atores socioeconómicos se capacitam ou são sujeitos a restrições (VEBLEN, 1994, apud REIS, p. 1, 2007).

Veblen (1994) nos mostra que o processo histórico era importante no entendimento do comportamento humano e que esse era influenciado pelas instituições sociais vigentes no contexto histórico da ação. Essas mesmas instituições sociais evoluíram junto da humanidade, na medida em que era observável padrões comuns de comportamento a cada época. Em essência,

esses padrões de comportamento eram desencadeados pela cultura humana, o que o autor aponta como esquema de instituições, um processo cumulativo de hábitos, experiências e meios (HUNT, 1989). Para North apud Bastos (2006) as instituições são:

[...] regras do jogo de uma sociedade, ou, mais formalmente, são os constrangimentos recebidos humanamente que dão forma a interação humana. Em consequência, essas estruturas incentivam mudanças no homem, tanto político, social ou economicamente (NORTH (1990)

apud BASTOS, 2006, p. 97).

O que se destaca é que os indivíduos estão sujeitos às influências das instituições, e estas são “o elo de ligação entre o mundo secular, prosaico, composto por sujeitos reais e diversos e o mundo idealizado” (REIS, 2007, p. 5). Desse modo, nas ideias do autor, essas instituições agiriam tanto para capacitar, quanto para restringir a ação dos indivíduos dentro do mercado, na medida em que “fornecem modelos verdadeiros dos mundos acerca dos quais eles fazem escolhas” (REIS, p. 3, 2007).

Reis (2007) coloca que as instituições, como nas ideias de Williamsom (1987), agem para reduzir as incertezas e os custos de transação, pressupondo que os atores são racionais e que essa seja racionalidade limitada. As trocas econômicas acontecem nos mercados e este contém imperfeições (ex.: custos para conseguir e transmitir informação). Para superar essas imperfeições, as instituições agem norteando a ação dos indivíduos e diminuindo os custos para que a transação ocorra. Nesse caso, como exposto por Reis (2007) apud North (1990), as instituições “reduzem a incerteza na medida em que fornecem uma estrutura para a vida diária” e “são um guia para a interação humana” (NORTH apud REIS, p. 6, 2007).

Granovetter (2007) destaca que as concepções utilitaristas vislumbradas pelos economistas clássicos e neoclássicos, nas quais os indivíduos pautam seu comportamento econômico em seus interesses próprios e tomam decisões baseadas na racionalidade, não contam com o peso das estruturas sociais nas relações de troca e consumo. Esses economistas rejeitam este último fato, tratando apenas como empecilho o peso das estruturas sociais e das relações sociais no funcionamento e desenvolvimento dos mercados. Essas concepções, segundo Granovetter (2007) se encaixam em uma abordagem subsocializada da

ação humana, com a consequente atomização dos indivíduos na busca por interesses próprios. O autor, ainda observando a análise pela via das instituições, destaca a inversão da abordagem subsocializada da ação humana, na qual os indivíduos recorrem e acreditam nas regras sociais externas (também instituições), como um “deus”, de forma que todos os termos das relações de trocas econômicas são feitos de maneira automática (GRANOVETTER, 2007).

Granovetter (2007) sob a ótica do que o autor chama de Embbeded, observa que os atores econômicos estão sob constante influência das redes de relações sociais, assim, sua ação será baseada na confiança adquirida através dessas redes. Logo, o autor afirma que “o argumento da imersão enfatiza, por sua vez, o papel das relações pessoais concretas e as estruturas (ou “redes”) dessas relações na origem da confiança e no desencorajando a má-fé” (GANOVETTER, 2007, p. 12).

Dessa maneira, o que se coloca é que as relações sociais têm mais peso em gerar relações econômicas bem-sucedidas do que a ação racional, dispositivos institucionais ou valores morais, na medida em que estas são geradoras de confiança na vida econômica. O que não significa dizer que o autor negue ambos os postulados, mas expressa que o mercado pode ser melhor entendido como uma estrutura de redes. Logo, com a expansão dessas redes podem-se obter novas informações relevantes para acesso a novos mercados, com isso, gerando novos ganhos econômicos e conectando mais pessoas (GRANOVETTER, 2007).

De acordo Wilkinson (2008), a abordagem do mercado como redes socais e de sua construção social nos permite entender melhor o conjunto de sanções e pressão sociais em que estão imersas as trocas. Assim, é mais eficiente para entender a ação dos rent-seeking6 oferecendo mais possibilidades de análise do

que o entendimento da teoria dos custos de transação de Williamsom (1987). A abordagem teórica realizada por Granovetter (2007) retoma a discussão sobre os mercados feitas por Polanyi, ao usar o termo embbeded, ensejando um entendimento de que os mercados são criados por processos de interação social, econômica e cultural. Para Polanyi apud Schneider (2011), o enraizamento é o que oferece significado às ações de indivíduos em diferentes

6 Busca por lucros através de manipulação do ambiente social e econômico onde a troca acontece, o atravessador na agricultura exemplifica o que se postulado.

contextos. Esta visão expressa que as estruturas sociais estão enraizadas nas regras, normas e hábitos, de modo que esses condicionam o comportamento dos atores. Assim, a ação dos agentes econômicos está imersa (embbeded), em relações e dentro de um contexto histórico, de modo que as instituições, essas relações e esse contexto influencia a decisão dos agentes (GRANOVETTER, 2007) (SCHNEIDER, 2016).

Ploeg (2016) reforça a ideia afirmando que o mercado é permeado por diversas relações sociais, de modo que essas relações podem influenciar o fluxo das trocas de mercadorias. Assim sendo, a realização de trocas econômicas entre indivíduos implica em relações sociais entre os agentes. Assim, como Granovetter (1989), Ploeg (2016) também entende que o mercado seja um processo social constituído historicamente, logo a ação dentro do mercado vai estar sobre a influência das instituições e das estruturas sociais.

Schneider (2011) também afirma que até a criação da sociedade de mercado, os mercados eram só um acessório pertinente a estrutura social. De modo que, com a emergência da sociedade mercado, o sistema de preços e funcionamento do mercado causou uma escassez estrutural, naturalizando os motivos econômicos. Como consequência, temos o desenraizamento da economia, pois “em vez de a economia estar embutida nas relações sociais, são as relações sociais que estão incrustadas [embedded] no sistema econômico” (SCHNEIDER, p. 197, 2011), de modo que os motivos econômicos se sobrepuseram sobre as estruturas sociais, assim como é pregado com credo liberal na sociedade de mercado.

A sociedade de mercado, em última instância, como observado nos tempos atuais, por concentrar o capital nas mãos de poucos, acaba por gerar grandes oligopólios que controlam globalmente setores da economia.

Ainda de acordo com Schneider (2011), esse desenraizamento é um projeto político, arquitetado por grupos e classes sociais especificas. Esse processo se concretizou através de mudanças institucionais, cooptação do Estado, ação legislativa, violência e principalmente, pela criação e disseminação do culto liberal, no sentido de que este diz que a economia não deveria ser alterada pelas práticas sociais e, muito menos, alvo da intervenção do Estado. Destaca-se também que Polanyi (2000) elencou três modos de organização social do processo econômico, nomeando-as de formas de

integração, essas têm base no que o autor chama de reciprocidade e centralidade, dois comportamentos ordenadores de trocas não-econômicas em sociedades primitivas. Essas formas se institucionalizam através da socialização de práticas, que são baseadas em sistemas de regras sociais e são parte da vida social. Desse modo, fornecendo modelos culturais de integração que moldam o comportamento humano. Schneider (2011) resume de maneira muito clara as três formas de integração de Polanyi (2000):

1) Reciprocidade e simetria: descreve os movimentos de bens e de serviços entre pontos correspondentes de um agrupamento simétrico. Ou seja, a disposição dos elementos e as sanções que determinam o uso produtivo e distributivo destes recursos derivam de normas comportamentais ou de expectativas impostas por sistemas

Documentos relacionados