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Mercados institucionais no território do seridó potiguar: potencialidades e limitações para inserção da agricultura familiar

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - DPP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS - PPEUR

Vinícius Klause da Silva

Mercados institucionais no Território do Seridó Potiguar: potencialidades e limitações para inserção da agricultura familiar.

Natal/RN 2018

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Mercados institucionais no Território do Seridó Potiguar: potencialidades e limitações para inserção da agricultura familiar.

Dissertação apresentada para no Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais – Departamento de Políticas Públicas, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento a exigências legais.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Bastos Costa

Natal/RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte.

UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA

Silva, Vinícius Klause da.

Mercados institucionais no território do seridó potiguar: potencialidades e limitações para inserção da agricultura familiar / Vinícius Klause da Silva. - Natal, 2018. 151f.: il. color.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Pós-graduação em Estudos Urbanos e Regionais. Natal, RN, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Bastos Costa.

1. Mercados institucionais - Dissertação. 2. Arranjos institucionais - Dissertação. 3. Agricultura familiar -

Dissertação. 4. Programa do Leite Potiguar - Dissertação. 5. PAA-Leite - Dissertação. I. Costa, Fernando Bastos. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 631.1.017.3

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Agradeço,

Primeiro agradeço à minha queria mãe, Maria do Socorro Silva, pela vida e por me dar todo o amor necessário para realizar essa pesquisa. Ao meu pai, Francisco Assis da Silva, por sempre me incentivar e apoiar minhas decisões. À minha querida Avó, que me acolheu e me deu suporte para terminar essa etapa da minha vida. Ao meu irmão, irmã, sobrinha e todos os familiares que me apoiaram e me deram suporte nesta jornada.

Ao amigo e orientador, Fernando Bastos, pelos valorosos ensinamentos, apoio, oportunidades e compreensão. À professora Joana Moura, que sempre esteve presente contribuindo para a minha formação acadêmica. À professora Cimone Rozendo, pela paciência e pela contribuição para minha formação acadêmica. Aos professores João Matos e Sabrina França, que deram valiosas contribuições para este trabalho.

Aos membros do LabRural, pelo companheirismo, experiências e aprendizado proporcionado ao longo desses 6 anos de pesquisas.

Aos meus companheiros e companheiras de turma, pelas vivências, risadas e angustias compartilhadas.

Aos minhas amigas e amigos, pelo apoio, companheirismo e incentivo durante todo esse processo.

Finalmente, agradeço novamente a minha família pelo apoio e encorajamento durante essa jornada.

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ADESE – Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó ASA – Potiguar - Articulação do Semiárido Potiguar

BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento CEDRUS – Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CRAS – Centro de Referência em Assistência Social

CUT - Central Única dos Trabalhadores

DNTR - Departamento Nacional dos Trabalhadores Rurais

EMATER-RN - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Governo do Rio Grande do Norte

FAO – Food and Agriculture Organization

FETRAF-RN - Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte

FETARN - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IDIARN – Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário MDS – Ministério do Desenvolvimento Social MEC – Ministério da Educação

MF – Ministério da Fazenda NIS – Número de inscrição social

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar

PAA-Leite – Modalidade do PAA destinada a compra de leite e seus derivados PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PLP – Programa do Leite Potiguar PPM – Pesquisa Pecuária Municipal

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PTDRS – Plano Territorial Desenvolvimento Rural Sustentável

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Social

UFRN – Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SINDILEITE - Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Norte

RN – Rio Grande do Norte

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Mapa 1: Território do Seridó Potiguar-RN... 28

Mapa 2: Município de Acari - RN... 40

Mapa 3: Município de Cruzeta – RN... 42

Mapa 4: Município de Currais Novos – RN... 44

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Número de estabelecimentos rurais no do Seridó Potiguar... 31 Gráfico 2: Leite bovino produzido no RN, por território e por categoria... 33 Gráfico 3: Linha histórica do total de cabeças bovinas no RN... 34 Gráfico 4: Série histórica do total produzido de Leite bovino no RN e no Seridó Potiguar- RN... 36 Gráfico 5: Total de leite recebido por laticínios com inspeção municipal, estadual e federal no Rio Grande do Norte... 38 Gráfico 6: – Série histórica com número de total fornecedores do PAA-Leite entre 2010 e 2016... 86 Gráfico 7: Histórico de desembolso do total recursos entre produtores e empresas entre 2010 e 2016... 88 Gráfico 8: Total de litros de leite (MIL LITROS) adquiridos pelo PAA-leite entre 2010 e 2016... 89 Gráfico 9: Total de leite produzido no, total de leite industrializado e total distribuído pelo PAA-Leite entre 2011 e 2016... 90 Gráfico 10: Total de leite produzido, industrializado e distribuído pelo Programa do Leite Potiguar no Rio Grande do Norte, entre 1986 e 1989... 94 Gráfico 11: Linha do tempo com total de recursos investidos na compra de leite in natura pelo Programa do Leite Potiguar no Rio Grande do Norte... 96 Gráfico 12: Total de leite produzido, industrializado e distribuído pelo Programa do Leite Potiguar no Rio Grande do Norte, entre 2011 e 2014... 100 Gráfico 13: Total de fornecedores do PLP e do PAA-Leite entre 2011 e 2015 no Rio Grande do Norte... 101 Gráfico 14: Total de recursos investidos na compra de leite in natura pelo PLP e o PAA-Leite no Rio Grande do Norte, entre 2011 e 2015... 102 Gráfico 15: Produção total de leite no RN, total de leite processados pelos laticínios e total de leite absorvido pelo PLP e PAA-Leite... 107 Gráfico 16: Nivel de escolaridade dos entrevistados...120 Gráfico 17: Principais fontes de renda dos entrevistados... 121 Gráfico 18: Principais fatores que dificultam a produção de leite apontados pelos entrevistados... 126 Gráfico 19: Principais destinos do leite produzido pelos entrevistados…... 129

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LISTA DE TABELA

Tabela 1: Total de leite produzido (mil litros) por categoria nas microrregiões do RN... 32 Tabela 2: Histórico com total de fornecedores, total de litros de leite e total de recurso do PAA-Leite entre 2010 e 2016 em Acari-RN... 41 Tabela 3: Histórico com total de fornecedores, total de litros de leite e total de recurso do PAA-Leite entre 2010 e 2016 em Cruzeta-RN... 43 Tabela 4: Histórico com total de fornecedores, total de litros de leite e total de recurso do PAA-Leite entre 2010 e 2016 em Currais Novos-RN... 45 Tabela 5: Histórico com total de fornecedores, total de litros de leite e total de recurso do PAA-Leite entre 2010 e 2016 em São José do Seridó-RN... 47 Tabela 6: Histórico com total de fornecedores, por território da cidadania no RN entre 2010 e 2016... 87 Tabela 7: Variação do preço pago pelo litro de leite in natura pelo PAA-Leite no Rio Grande do Norte, entre 2013 e 2016... 91 Tabela 8: Número total de municípios participantes e quantidade total de litros de leite comprada pelo Programa do Leite Potiguar em mil litros no Rio Grande do Norte... 95 Tabela 9: Série histórica da variação do preço pago pelo litro do leite no Brasil, no RN e pelo PLP ... 104 Tabela 10: Variação do preço pago pelo litro de leite in natura pelo PLP no Rio Grande do Norte, entre 2012 e 2016 ... 105 Tabela 11: Distribuição em percentual dos tipos de vínculos com a terra... 122 Tabela 12: Distribuição de área das propriedades por tipo de vínculo com a terra... 123 Tabela 13: Distribuição do rebanho por tipo de vínculo com a terra... 124 Tabela 14: Principais atores que mediaram a inserção dos agricultores familiares no PAA-Leite...127

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Tipologia de mercados para a agricultura familiar... 74 QUADRO 2: Organograma de relações da agriculta familiar com os

mercados... 76 QUADRO 3: Síntese das modalidades de execução do PAA em 2017... 81 QUADRO 4: Organograma do arranjo institucional para inserção e continuidade no PLP e no PAA-Leite... 117

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No Brasil, a adoção de mercados regulados (mercados institucionais) para a agricultura familiar tem se mostrado eficiente para inserção desse grupo social, abrindo novas possibilidades para a reprodução da vida no campo. Esse tipo de mercado segue a lógica de interação de redistribuição e centralidade, descrita por Polanyi (2000), através de políticas públicas de compra de alimentos. Nesse sentido, os arranjos institucionais escolhidos para esses mercados regulados podem resultar no bom ou mau funcionamento, uma vez que esses arranjos delimitam as ações dos agentes envolvidos no processo. É a partir dessas perspectivas que este trabalho buscou analisar quais as limitações para inserção e continuidade dos agricultores familiares no Programa do Leite Potiguar (PLP) e do PAA-Leite. Para tal, estudamos os arranjos institucionais de ambos os programas, observando seus desdobramentos ao longo do tempo e como eles influenciaram a inserção da agricultura familiar. Além disso, analisamos também as limitações enfrentadas pelos próprios agricultores familiares, através da coleta de dados primários e de uma caracterização construída através de dados secundários. Após a realização da pesquisa, os resultados mostram que as limitações são diversas, sendo a dispersão geográfica e os problemas de natureza produtiva, as mais latentes por parte dos produtores. No que diz respeito aos arranjos institucionais adotados pelos programas, destaca-se que o modelo adotado pelo PLP, acabou por colocar agentes do mercado como definidores de critérios de seleção de produtores. Esse fato acabou influenciando tanto as atividades do PAA-Leite, como também restringindo a inserção dos agricultores em ambos os programas, uma vez que, sendo parte das indústrias de laticínios com inspeção dependentes do PLP para funcionar, é essencial que o programa não seja paralisado. Ao estabelecer critérios de seleção que os pequenos produtores não podem cumprir, as empresas de laticínios procuram mitigar os custos inerentes a inserção dos agricultores familiares nos programas, uma vez que a categoria precisa de um arranjo institucional diferenciado para se inserir nos programas.

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Palavras-chave: Mercados institucionais, Arranjos institucionais, Agricultura familiar, Programa do Leite Potiguar, PAA-Leite.

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In Brazil, the adoption of regulated markets (institutional markets) for family farming has proved to be efficient for the insertion of this social group, opening new possibilities for the reproduction of rural life. This type of market follows the logic of the interaction of redistribution and centrality, described by Polanyi (2000), through public policies of food purchase. In this sense, the institutional arrangements chosen for these regulated markets can result in good or bad functioning, since these arrangements delimit the actions of the agents involved in the process. It is from these perspectives that this work sought to analyze which are the limitations for the insertion and continuity of family farmers in the Programa do Leite Potiguar (PLP) e do PAA-Leite. To that end, we've studied the institutional arrangements of both programs, observing their unfoldings over time and how they have influenced the insertion of family agriculture. Besides that, we've also analyzed the limitations faced by the family farmers themselves, through the collection of primary data and a characterization built through secondary data. After the research execution, the results show that the limitations are diverse, being the geographic dispersion and the problems of productive nature, the more latent on the part of the producers. With regard to the institutional arrangements adopted through programs, it is highlighted that the model adopted by the PLP, turned out to become a market as a criterion for the selection of seals of producers. This fact influenced both the PAA-Leite, as also restricting the insertion of farmers in both programs, since, being part of the dairy industries with inspection dependent on the PLP to function, it is essential that the program is not paralyzed. In establishing selection criteria that small farmers can not meet, dairy companies seek to mitigate the costs inherent in the inclusion of family farmers in the programs, since the category needs a differential institutional arrangement to be included in the programs.

Keywords: Institutional markets, Institutional arrangements, Family agriculture, Programa do Leite Potiguar, PAA-Leite.

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1. INTRODUÇÃO... 15

2. Território do Seridó Potiguar – RN: Caracterização, Agricultura Familiar e Pecuária Leiteira... 27

2.1. Acari... 40

2.2. Cruzeta... 41

2.3. Currais Novos... 43

3.4. São José do Seridó... 45

3. O Mercado e seu funcionamento no sistema capitalista... 48

4. Agricultura familiar: Contexto e histórico de criação... 60

5. Os Mercados para a Agricultura Familiar no Brasil... 69

6. O PAA-LEITE: Histórico e seus desdobramentos no Rio Grande do Norte... 81

7. O Programa do Leite Potiguar e seus desdobramentos no Rio Grande do Norte... 94

8. Aspectos e mudanças nos arranjos institucionais do PAA-LEITE e do PLP no RN e no Seridó Potiguar... 108

9. Agricultura Familiar: Limitações e outras características do fornecedor de leite dos mercados institucionais no Seridó... 120

10. Considerações finais... 133

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 138

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1. INTRODUÇÃO

Os mercados institucionais para a agricultura não são novidade no Brasil, porém, este tipo de mercado voltado exclusivamente para a agricultura familiar é uma inovação recente1. Quando observadas as fragilidades da agricultura familiar quanto ao acesso ao mercado formal, é preciso destacar alguns fatores históricos que contribuíram para isso. As condições nas quais se deu a formação histórica do rural brasileiro, o modelo de modernização do campo escolhido e, por fim, as mudanças estruturais sofridas pelo Estado e pela economia no fim dos anos 80.

O mercado é uma instituição dotada de muitas virtudes, para entender melhor essa instituição, é preciso compreender como a disseminação do credo liberal, ou seja, a análise do comportamento econômico dos agentes nos mercados baseada apenas em ideias utilitaristas, veio a influenciar o desenvolvimento do mercado. Uma primeira ideia predominante vinda daí é o entendimento de que o Estado não deve intervir na economia, para que a concorrência dinamize o mercado e, uma vez havendo essa dinamização, o mercado trata da prosperidade social. Tal visão foi hegemonizada através da consagração da sociedade de mercado, da qual resultou a sobreposição dos motivos econômicos sobre a vida, a partir do uso ação legislativa, da força e da imposição da dominação através do estabelecimento de moeda. Tais fatos, aliados a mercantilização do trabalho e da terra, consagraram a dominação do homem pelos motivos econômicos, estando a sociedade condenada a satisfazer as necessidades do mercado.

Apesar da hegemonia de tais ideias, Polanyi (1979) apud Schneider (2011) aponta que tal tipo de interação só foi vista na história da humanidade a partir da sociedade de mercado. Antes os mercados eram apenas acessórios controlados pelas instituições sociais vigentes. Tal entendimento embasa a ideia de que as instituições podem de fato alterar o comportamento dos indivíduos nas suas relações cotidianas, logo, nas relações de troca dentro do mercado.

1Mercados institucionais voltados para pequenos produtores rurais no Brasil não são novidade, esse tipo de política pública já vem sendo executada no Brasil desde os anos 50. Assim como o conceito Agricultura Familiar adotado pelo Estado brasileiro, políticas públicas para esse grupo social em especifico são recentes no Brasil (BASTOS, 2006).

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Uma vez que as instituições vão agir para reduzir as incertezas quanto a consagração de relações cotidianas, elas também vão agir para enraizar mercados, ou seja, as instituições sociais criam mercados que só existem graças as interações que está proporciona. Esses tipos de mercados, podem ser mercados com base em outros valores que não sejam fundamentados no simples interesse utilitarista. Isso quer dizer que as trocas no mercado podem ocorrer através de outros tipos interação, não desprezando o cálculo racional. Assim, Polanyi (2000) apud Schneider (2011), destaca o modo de interação denominado redistribuição e centralidade, descrevendo o movimento de bens que vão até um centro (Estado) e retornam a sociedade. Neste caso, estão incluídas nesse tipo de interação de vários tipos de políticas públicas.

Ao abordarmos os tipos de mercados disponíveis para a agricultura familiar, no caso brasileiro, vemos a importância dos mercados institucionais, tal qual o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para inserção da agricultura familiar nos mercados. Ao longo dos últimos anos, esse tipo de política pública tem se mostrado eficiente para tal tarefa.

No Brasil, a pequena produção familiar2 de alimentos além de lidar com um processo de modernização tido como perverso (SILVA, 1996), ainda sofreu com o desmantelamento da intervenção estatal, não incorporação de novas tecnologias na produção de alimentos e, principalmente, com a necessidade de aumento da produtividade (para satisfazer as cadeias de commodities). Estes fatores fizeram com que essa pequena produção de alimentos, na qual a partir dos anos 90 se tornou a agricultura familiar, possuindo as formas tradicionais de produção como base, perdesse bastante espaço nos circuitos de mercado (WILKINSON, 2008).

Esses aspectos geram incertezas quanto à manutenção da vida no campo, uma vez que os mecanismos de mercado, como descrito por Polanyi (1978, p.5), “tornou-se determinante para a vida do corpo social”, pois as instituições criadas pelo capitalismo, principalmente a transformação da terra e do trabalho em mercadorias, subordinaram o homem a dois aspectos: a fome e

2 Tipo de produção de alimentos em propriedades rurais que tem a família como base de sustentação, sendo caracterizada também pela baixa escala de produção e pela fragilidade no acesso aos circuitos do mercado.

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ao ganho, “[...] mais precisamente, medo de passar sem as necessidades vitais; e a expectativa de lucro” (POLANYI, 1978, p. 5).

Nesse sentido, os mercados institucionais suprem exatamente essa necessidade de comercialização da agricultura familiar, na medida em que oferecem outros tipos de critérios para seleção de produtos, diminuindo os custos, através de regras, garantia preços mínimos e de estabilidade na oferta do produto.

O funcionamento dos mercados institucionais ocorre através de arranjos institucionais capazes de reduzir incertezas quanto à comercialização, gerando, assim, trocas econômicas eficientes. Então, faz-se necessário observar a importância da atuação do Estado na economia, visto como ator responsável pela mediação entre interesses de escalas diferentes de poder econômico e como indutor de políticas públicas voltadas para determinados grupos sociais.

Então, a partir de 1996, temos a institucionalização da agricultura familiar e da criação do PRONAF e, posteriormente, como ação do PROGRAMA FOME ZERO (PFZ), foi criado o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): um mercado institucional que tem como principal foco a compra de alimentos da agricultura familiar.

Estimava-se que grande parte dos orçamentos públicos eram destinados para compra de alimentos e esse montante poderia ser canalizado para a agricultura familiar. Essa inovação na esfera pública e o debate que se punha sobre os temas fome, segurança alimentar e nutricional e agricultura familiar, culminaram na criação do Programa de Aquisição de Alimentos, que visa também suprir as demandas institucionais por alimentos (alimentação, escolas, hospitais, presídios, distribuição de cestas básicas, etc.) (GRISA, 2015).

O arranjo institucional do PAA foi concebido no bojo de uma série de políticas emergenciais desencadeadas pelo PFZ, visando fortalecer ações de combate à fome e ao fortalecimento da agricultura familiar. Em 2003, a implementação do PAA abriu novas perspectivas para a manutenção dos agricultores familiares no campo. Desse modo, foi criado um novo circuito de comercialização mediado pelo Estado e operacionalizado por diversas instituições estatais e da sociedade civil, sendo que, em 2003, foi criada a modalidade de compra de leite in natura direto da agricultura familiar, o denominado PAA-Leite.

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No Rio Grande do Norte, desde meados dos anos 80, já estava em execução um mercado institucional, o Programa do Leite Potiguar (PLP), que seguindo o exemplo do PAA, muda suas regras em 2016, passando a ter que obter, no mínimo, 50% do leite in natura diretamente da agricultura familiar.

No ano de 1986, o PLP foi instituído no estado do Rio Grande do Norte, pelo governador Geraldo Melo, baseado em duas experiências realizadas, no nível municipal e federal.

Na gestão do governo de José Agripino (1991-1994), o programa foi completamente paralisado, causando um desmonte da bacia leiteira do RN. Porém, o programa é retomado em 1995, pelo governador Garibaldi Alves, se efetivando como política de Estado nos governos posteriores, na medida em que continua sendo executado.

O Programa do Leite Potiguar (PLP) foi concebido sob a égide de ser um programa de promoção da agricultura familiar e da agropecuária em geral. Ele foi incentivando a agricultura familiar e a atividade de bovino cultura de leite, através da compra do leite in natura a preço fixo, garantindo uma demanda permanente na venda do leite. Além disso, o PLP foi um dos programas que contribuíram para melhorar o padrão genético do rebanho potiguar. O leite in natura comprado pelo programa é pasteurizado pelos laticínios e distribuído para famílias em vulnerabilidade social e de baixa renda, com prioridade para idosos, crianças e gestantes.

A gestão do programa passou por diversos órgãos estaduais ao longo do tempo, até que, no governo Garibaldi (1995-2002), foram constatados problemas com relação à regulamentação, efetividade e a operacionalização do PLP. Em 2003, foi instaurada “CPI do Leite”, com o intuito de apurar as irregularidades ao programa. Apesar disso, foi sendo executado sem licitação pública, quando em 2005, por pressão da sociedade, foi realizada a primeira licitação. Porém, os pecuaristas beneficiados, temendo perder o controle das ações dos recursos financeiros, criaram o Consórcio do Leite Potiguar, que representava 25 usinas de beneficiamento de leite distribuídas por todo o RN. O consórcio acabou por ganhar a licitação e ficou responsável pela execução do PLP no RN.

Nesse mesmo período, o MDS começava a implementar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), em sua modalidade PAA-Leite. Porém, o fato do consórcio ser composto por médios e grandes produtores bem articulados e com

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relevante força política, fez com que o ministério adiasse a implementação da modalidade no RN. O PAA-Leite tinha recursos oriundos do Fundo Nacional de Erradicação da Pobreza, sendo também necessária contrapartida financeira do estado.

Já nessa ocasião, o discurso dos representantes do consórcio era de que no RN não haviam agricultores familiares produzindo leite comercialmente e que os recursos do programa federal deveriam ser destinados ao tradicional PLP. Para tal, as indústrias de laticínios criaram outro consórcio com as mesmas empresas, somente mudando o nome para Consórcio União, fato que gerou um impasse na execução do PAA. Com isso, posteriormente foi formada a Rede de Controle Social, responsável por fiscalizar a execução do PAA-Leite no RN. Sendo que o programa foi retomado em 2008, já sob a fiscalização de Rede.

De acordo com Bastos (2009), é nesse período que organizações sociais da agricultura familiar começaram a se mobilizar para pedir o começo das atividades do PAA-leite e a inserção dos agricultores familiares no Programa do Leite Potiguar. Contudo, o PAA-Leite seguiu sem funcionar até 2010, quando somente após a transferência da SETHAS (Secretaria de Estado do Trabalho, Habitação e da Assistência Social) para a EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Governo do Rio Grande do Norte) o programa finalmente conseguiu ser executado.

Apesar dos apelos, o PLP seguiu sendo executado pelo governo Rosalba Ciarlini (2011-2014) sem a inserção dos pequenos produtores. Esse período foi marcado por intenso atraso nos pagamentos e paralisações na distribuição do leite. Ainda durante o período, o PAA-Leite seguiu suas operações e em 2013, chegando a adquirir leite de mais de 1.300 agricultores familiares, desse modo, reforçando a capacidade da agricultura familiar para ser inserida no PLP.

Mas é no governo de Robinson Faria que o Programa sofre uma mudança significativa. O Decreto n° 25.447, de 19 de agosto de 2015, regulamenta o novo Programa do Leite Potiguar. Este decreto muda o arranjo institucional e, a partir daí, a agricultura familiar foi incluída de maneira explícita como fornecedora do PLP. Então, o PLP passou operacionalizado através de gestão compartilhada entre a SETHAS e a EMATER.

No total, foram cadastrados 2.256 fornecedores, dos quais 293 são médios e grandes produtores e 1.963 são agricultores familiares. Até 2015, o

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PLP só reunia 176 fornecedores, fato que evidencia concentração dos recursos do programa nas mãos de poucos produtores. De acordo com o ex-diretor da EMATER, os fornecedores da agricultura familiar selecionados ficarão responsáveis pelo fornecimento de até 89.793 litros de leite bovino e 4.725 litros de leite caprino, enquanto os médios e grandes produtores deverão entregar 47.076 litros de leite bovino e 850 litros de leite caprino.

Contudo, de acordo com o técnico da EMATER, os agricultores familiares não haviam sido inseridos no PLP por causa de uma ação judicial que questiona as novas regras do PLP, movida pelos laticínios que não conseguiram se credenciar para processar o leite e posteriormente distribuí-lo. Mesmo após a resolução das pendências jurídicas, a execução do PLP em seus novos moldes vem sendo postergada através de decretos, paulatinamente. Enquanto isso, o PAA-Leite segue sendo executado de maneira bastante transparente e o PLP segue o caminho contrário, na medida em que não dispõe sequer da lista de fornecedores.

O novo PLP tem como base as regras do PAA-Leite, nesse caso, este já surgiu como um mercado institucional destinado exclusivamente para a agricultura familiar, enquanto o PLP, somente a partir de 2015, se modificou para inserir a agricultura familiar como fornecedora.

A proposta de trabalhar com o Programa do Leite Potiguar e o PAA-Leite se justifica pelo fato de ambas serem políticas públicas com longo período de execução no RN, possuem o mesmo público alvo, e o novo arranjo institucional do PLP, criado em 2015, o tornou bastante semelhante com o PAA-Leite e ambos os programas são alvos de disputa por diversos setores da sociedade que estão inseridos no mercado do leite no RN; como os agricultores familiares, médios produtores, grandes produtores e as indústrias de laticínios locais. Além disso, o PLP é constantemente colocado como a salvação da bacia leiteira estadual, mesmo que nos últimos 5 anos, o PLP não tenha tido mais de 200 fornecedores e não tenha inserido agricultores familiares como fornecedores de leite, já que esses últimos somam mais de 70 mil no RN.

O recorte espacial deste estudo será o território do Seridó, por ser uma região tradicionalmente produtora de leite, que possui um diagnóstico de sua bacia leiteira realizado em 2010, e ainda, de acordo com o mesmo diagnóstico, todos os municípios têm tanques de resfriamento de leite.

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De acordo com o Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2006), o Seridó possuía um total 11.266 estabelecimentos de agricultura familiar de acordo com a Lei Federal nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Estes estabelecimentos produziram em 2006 mais de 30 milhões de litros de leite e possuíam um efetivo de mais de 97 mil cabeças bovinas.

O PLP cadastrou, apenas no Seridó potiguar, um total de 401 agricultores familiares aptos a fornecer leite ao programa, distribuídos em 13 municípios, que seriam responsáveis por fornecer 17.487 litros de leite por dia, o que totaliza mais de 6,3 milhões de litros de leite ao ano. Além disso, quando observados os dados do PAADATA (BRASIL, 2017), o Seridó lidera em número de fornecedores ao PAA-Leite em quantidade de leite in natura vendido ao programa, desde 2010. No Seridó, de acordo com dados do Censo Agropecuário 2006, os estabelecimentos da agricultura familiar produziram mais de 12,9 milhões de litros de leite in natura/ano, dados que confirmam que os agricultores familiares desse território são potencialmente capazes de fornecer a quantidade de leite que se comprometeu para o Programa, se observado o total produzido em 2006.

Ressalta-se que, de acordo com o Diagnóstico da Bacia Leiteira do Seridó (ADESE, 2010), o território possuía um total de 314 queijeiras, em 2010, representando um mercado local (mercados de proximidade) bastante importante para os agricultores familiares. Essas queijeiras ajudam a equilibrar os preços do leite, na medida em que concorrem no plano local com as unidades de recepção de leite in natura do Programa. Além disso, pressionam para manter o pagamento em dia por parte dos programas aos agricultores, haja vista que, apesar de ter um preço fixo normalmente acima do praticado no mercado, o programa costuma atrasar seus pagamentos.

Em seu novo formato, o PLP tem sido alvo de comentários por diversos setores da sociedade: os sindicatos de produtores de leite e os grandes produtores alegam que os agricultores familiares seriam incapazes de produzir e entregar essa quantidade de leite. Já os movimentos sociais comemoraram o novo formato do programa, alegando que uma parte significante do leite que é fornecido ao programa já vem da agricultura familiar, visto que o PLP recentemente inseriu a agricultura familiar explicitamente como fornecedora de leite in natura e o PAA-Leite, já fazendo isso desde 2010.

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Nos propomos a verificar através de dados secundários, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e entrevistas, qual a produção de leite da agricultura familiar no Seridó Potiguar e do RN; e quais as principais limitações para a inserção e continuidade da agricultura familiar enquanto fornecedores nos programas. Para esse propósito, também se faz necessário uma retrospectiva histórica sobre os principais desdobramentos do PLP e do PAA-Leite no estado, além de uma análise sobre a importância de ambos para a bacia leiteira do RN, do Seridó e para a agricultura familiar.

A coleta e análise de dados secundários englobou diversas dimensões e as fontes de dados utilizadas foram o Censo Agropecuário do IBGE de 2006 (IBGE, 2006), Censo Demográfico de 2010 do IBGE (IBGE, 2018), a Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE (IBGE, 2018), a Pesquisa Trimestral do LEITE do IBGE (IBGE, 2018), o Diagnóstico da Bacia Leiteira do Seridó realizado pela ADESE em 2010 (ADESE, 2010), a própria EMATER, através de consulta ao banco de dados da entidade e do sistema CERES CIDADÃO, o PAA-DATA, Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Seridó (BRASIL, 2010) e também através de consulta a documentos, relatórios de gestão, artigos, dissertações e monografias. Além disso, essa pesquisa também conta com dados da pesquisa, Governança e performance do PAA: um estudo comparativo entre Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte com dados MCTI-CNPq/ MDS-SAGI nº 24/2013.

Para tal, também foram realizadas entrevistas com os gestores de ambos os programas e aplicados questionários junto aos agricultores familiares que forneceram leite ao PAA-leite em 2016, visto que até o momento o PLP não foi executado nos novos moldes. Contudo, boa parte dos agricultores fornecedores do PAA-Leite já forneceram ao PLP, desse modo, espera-se coletar informações pertinentes sobre o PLP.

Além desse fator, a escolha da microrregião para aplicar os questionários se deu observando os seguintes fatores. Primeiro, após a construção da caracterização da área de estudo desta pesquisa, constatamos que o recorte do Seridó histórico seria a região mais propícia para aplicação dos questionários, devido as semelhanças econômicas e climáticas entre os municípios. Segundo, tivemos que excluir os municípios que interagem com a microrregião da Serra de Santana da amostra, pelo mesmo motivo já apresentado anteriormente,

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sobrando, então, as microrregiões do Seridó Oriental e Ocidental. Contudo, o PAA-Leite estava suspenso na microrregião do Seridó Ocidental. A partir da constatação desses fatos e a de que a região do Seridó Oriental, é onde a agricultura familiar mais produziu leite de vaca. Além disso, é a microrregião onde a agricultura familiar obteve maior produtividade de leite bovino por estabelecimento rural, sendo também a região onde se concentram o maior número de estabelecimentos rurais da agricultura familiar que produziram leite.

A amostra estatística para aplicação dos questionários foi definida a partir do número total de fornecedores de leite ao PAA-leite em 2016, possuindo 10% de margem de erro e intervalo de confiança de 80%. Na microrregião escolhida foram cadastrados 58 agricultores familiares, sendo assim, a quantidade de entrevistados foi definida através de amostragem estatística obedecendo a seguinte fórmula:

n = (Z)² x P x Q x N (d)² (N – 1) + (Z)² x P x Q Neste caso,

n = tamanho da amostra

Z = abscissa da normal padrão para nível de confiança de X%. No caso da pesquisa foi adotado o nível de confiança de 80%, por isso, Z = 1,28 P = 0,5 é a estimativa da proporção

Q = 1 - 0,5 = 0,5 N = 58

d = erro amostral. No caso da pesquisa foi adotado o erro amostral de 10%, logo, d = 0,1

Desse modo, foram entrevistados 22 agricultores familiares que estão distribuídos proporcionalmente em 5 municípios da microrregião do Seridó Oriental, como destacado no mapa abaixo. No total foram aplicados 22 questionários divididos proporcionalmente entre Acari com 5 questionários, São José do Seridó com 5, Cruzeta com 4 e Currais Novos com 8. Todos os dados

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coletados foram tratados através do software Microsoft Excel, através da criação de bancos dados e posteriormente analisados.

Os questionários aplicados tiveram o objetivo de reunir diversas informações essenciais sobre como os agricultores familiares, tais quais: informações sobre os membros da família, informações sobre a propriedade, aspectos produtivos do estabelecimento, informações sobre o rebanho (leiteiro ou não), composição da renda, impacto da agropecuária de leite na renda total da família, acesso aos mercados, acesso a financiamento, dificuldades enfrentadas na produção de leite, principais dificuldades enfrentadas para ter acesso e seguir fornecendo ao PAA-Leite, informações especificas sobre mediações para acesso aos mercados institucionais, impacto dos mercados institucionais na composição da renda e na produção de leite da família, dentre outros aspectos ligados à dinâmica que envolve a produção de leite no estabelecimento. Desse modo, buscou-se entender quais as principais limitações desse grupo social, tanto para se inserir nos programas quanto para compreender quais as limitações enfrentadas para produzir e fornecer o leite aos programas em questão.

As entrevistas com os gestores objetivaram de coletar informações sobre aspectos da gestão do PLP e do PAA-Leite; e quais são os principais gargalos para que a agricultura familiar produza leite no RN. Além disso, as entrevistas também nos permitiram analisar, a partir da visão dos gestores, como se deu o processo de criação dos programas, informações sobre o histórico dos programas, quais as principais mudanças em seus arranjos institucionais e como isso afetou os programas. Buscamos também, a partir dessas entrevistas, compreender quais as principais limitações para que os agricultores familiares sejam inseridos e continuem o fornecendo leite in natura para os dois programas. Desse modo, o presente trabalho investigou qual a produção total da agricultura familiar para o fornecimento de leite in natura ao PLP e ao PAA-Leite no território do Seridó e no RN, de modo a determinar a produção de leite da categoria e caracterizar a partir de dados do IBGE, a produção de leite no RN e no Seridó. Além disso, buscou-se entender os limites para inserção dos agricultores familiares nos programas, quanto aos arranjos institucionais que conduzindo a gestão do PLP em particular, têm dificultado a inserção agricultores familiares, apesar do potencial de produção de leite já demonstrado.

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Para tal, está pesquisa teve como objetivo principal investigar quais os limites e as potencialidades para a maior inserção e continuidade da agricultura familiar no Programa do Leite Potiguar e no PAA-Leite no território do Seridó Potiguar, dessa forma, contribuindo com o esforço na execução dos programas no RN. Tendo como objetivos específicos, primeiro: compreender, a partir da análise de dados primários, quais os fatores que limitam a inserção e o fornecimento de leite in natura por parte da agricultura familiar ao PAA-Leite e ao Programa do Leite Potiguar. Segundo: analisar a partir de dados primários e secundários, a quantidade de leite in natura comprado pelo PAA-Leite e pelo Programa do Leite Potiguar, ao longo dos anos, comparando com a produção total do RN, avaliando a relevância de ambos para a bacia leiteira do estado. Terceiro: investigar, a partir de dados secundários, as características da produção de leite in natura e as condições da oferta do produto por parte da agricultura familiar no Rio Grande do Norte e no território do Seridó Potiguar; em particular. E quarto: Compreender, a partir de dados primários e pesquisa bibliográfica, os diversos arranjos institucionais do Programa do Leite Potiguar e do PAA-Leite e seus principais desdobramentos no Rio Grande do Norte. Diante dos fatores apresentados, o presente trabalho responde a seguinte pergunta: Qual a produção de total leite in natura por parte da agricultura familiar no Seridó e no RN; e quais as limitações para inserção e continuidade deste grupo social enquanto fornecedores do Programa do Leite Potiguar e do PAA-Leite no Seridó Potiguar?

Por fim, este estudo trabalhou com a hipótese de que os agricultores familiares têm potencial produtivo para atender a demanda por leite dos programas, porém, a inserção e o fornecimento de leite in natura deste grupo aos programas são limitados pela falta de arranjos institucionais capazes de superar as principais fragilidades desse grupo social; e que essa inserção nos mercados institucionais só pode ser alcançada através da mediação do Estado, gestando acordos que possam resultar em um ambiente institucional adequado à ação dos mercados institucionais. Na medida em que esses mercados possam reduzir as incertezas na comercialização e estabilizem a oferta da produção familiar, poderão aumentar a renda dessas famílias e contribuir para a reprodução da vida no campo.

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Esta pesquisa é estruturada em 7 capítulos, contendo introdução, caracterização da área de estudo, referencial teórico, principais desdobramentos do PAA-Leite e PLP, análise dos arranjos institucionais dos programas, resultados das coletas da aplicação de questionários e considerações finais.

O primeiro capítulo traz a caracterização da área de estudo deste trabalho. A partir desta caracterização é possível observar diversas peculiaridades quanto a produção de leite no RN e observar através de análise algumas das limitações que afligem a agricultura familiar.

O segundo capítulo aborda o funcionamento dos mercados através de diferentes perspectivas teóricas, afim de que embase as discussões posteriores sobre a importância do mercado e como seu funcionamento afeta a sociedade. O terceiro capítulo traz uma breve discussão sobre a formação do rural brasileiro e como esse processo influenciou a formação da agricultura familiar que conhecemos hoje. O quarto capítulo traz uma discussão teórica sobre quais os tipos mercados que os agricultores familiares acessam, como suas peculiaridades e critérios específicos.

O quinto e o sexto capítulos trazem uma análise dos principais desdobramentos históricos do PAA-Leite e do PLP no RN, possibilitando uma análise de como os arranjos podem influenciar a inserção e continuidade da agricultura familiar nesses mercados.

O sétimo capítulo trata dos dados coletados através de entrevistas com gestores e ex-gestores do PAA-Leite e PLP. A partir da visão dos gestores foi possível delimitar mudanças importantes nos arranjos institucionais dos programas, comparando com os principais desdobramentos históricos dos programas entendendo como os arranjos institucionais influenciaram a inserção e continuidade dos agricultores familiares nos programas.

O oitavo capítulo traz uma análise do perfil e das limitações dos agricultores familiares de acordo com os dados coletados com a aplicação dos questionários na área de estudo, possibilitando um maior entendimento das fragilidades do grupo social e suas dificuldades em acessar os programas.

Por fim, o oitavo capítulo nos traz as considerações finais e uma última análise das principais limitações e quais os aspectos dos arranjos institucionais causam as limitações na inserção e na continuidade dos pequenos agricultores enquanto fornecedores dos programas.

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2. TERRITÓRIO DO SERIDÓ POTIGUAR – RN: CARACTERIZAÇÃO, AGRICULTURA FAMILIAR E PECUÁRIA LEITEIRA

O território do Seridó Potiguar está localizado no interior do semiárido nordestino, mais exatamente no estado do Rio grande do Norte. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE (2010), o RN possui um total de 3.168.027 habitantes, dos quais residem 29% da zona rural. Enquanto que o Seridó potiguar possui 295.748 habitantes, dos quais 63.535 vivem na área rural, o que corresponde a 30% do total de habitantes do território e 9% da população total de residente no rural. O território Seridó Potiguar possui uma área 10.954,50 km², o que corresponde a 21% da área total do RN. O seu Índice de Desenvolvimento Humano IDH médio é de 0,69, pouco superior aos 0,68 do RN, contudo, é válido observar que 14 dos municípios da região estão entre os municípios que possuem maior IDH do RN.

De acordo com as bases do PTDRS (BRASIL, 2010), o Seridó Potiguar apresenta-se como um espaço de forte identidade cultural, favorecendo a recriação das estratégias de sobrevivência para a reprodução da vida no campo, visto que a região é castigada pela seca, o que ocasiona a criação de novas estratégias de desenvolvimento dentro desta perspectiva. A região possui clima semiárido e baixo índice pluviométrico, ocasionado pela irregularidade das chuvas e do alto índice de evaporação. Além disso, possui solos rasos, pouco produtivos, e toda a região é coberta pela vegetação da Caatinga.

Os principais reservatórios de água do território são o açude Boqueirão e o Caldeirão no município de Parelhas, o Itans em Caicó, o Santo Antônio e a barragem da Carnaúba em São João do Sabugi, o Marechal Dutra em Acari, o açude de Cruzeta, a Passagem das Traíras em São José do Seridó, o Esguicho em Ouro Branco, o Rio da Pedra e o Alecrim em Santana do Matos e a Barragem da Dinamarca em Serra Negra do Norte. Ainda está sendo construída a barragem de Oiticica no município de Jucurutu, com previsão para término em 2017.

Ainda de acordo com o PDTRS (BRASIL, 2010), o território deve ser entendido através da interação de diversos aspectos como: culturais, ambientais, sociais, econômicos e políticos. Constituído da interação desses diversos aspectos citados acima, o Seridó possui 25 municípios: Acari, Bodó,

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Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Matos, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, São Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz e Timbaúba dos Batistas, como apresentado no mapa a seguir:

Mapa 1: Território do Seridó Potiguar.

Fonte: BRASIL, 2010.

Há também a divisão geográfica denominada de Seridó. Historicamente, de acordo com Morais (2005), o Seridó histórico é constituído de 23 municípios (sendo retirados alguns municípios da Serra de Santana), todos eles originários direta e indiretamente do município de Caicó e foram se desmembrando durante o tempo. Ainda de acordo com Morais (2005), a região possuía forte identidade cultural, fruto de uma revitalização regional depois decadência econômica sofrida com o declínio da conicultura e exploração mineral.

De acordo com o IBGE (2017), o território se divide em três microrregiões: Serra de Santana (Bodó, Cerro Corá, Florânia, Lagoa Nova, Santana do Matos, São Vicente e Tenente Laurentino Cruz), Seridó Ocidental (Caicó, Jardim de Piranhas, São Fernando, São João do Sabugi, Serra Negra do Norte, Timbaúba dos Batistas, Jucurutu e Ipueira) e Seridó Oriental (Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas,

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Santana do Seridó e São José do Seridó). Duas dessas microrregiões estão em processo de desertificação, sendo os municípios de Acari, Cruzeta, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, Parelhas e Equador, todos localizados no Seridó Oriental, os que se encontra em estado mais grave, sendo considerado o núcleo de desertificação da região.

A região do Seridó Ocidental também está em estado muito grave de desertificação. O processo em ambas as regiões é causado por práticas inadequadas a utilização da caatinga ao longo dos anos, de acordo com o PTDS (2010), tais quais: como a queima do solo para plantação de pastagem para o gado, uso da lenha, produção do algodão e, mais recentemente, o desenvolvimento de cerâmicas, olarias e queijeiras. Diferente disso, a microrregião da Serra de Santana se destaca pelo seu microclima proporcionado pela altitude e nessas condições a região possui melhor índice pluviométrico, tornando-a menos suscetível a seca.

O Seridó Potiguar teve no passado uma economia baseada na pecuária, cotonicultura, agricultura e mineração. Essa base foi desfeita com a crise econômica sofrida nos 80, o que ocasionou a paralisação da venda de algodão e minerais. As atividades econômicas desenvolvidas hoje em dia têm a ver com as especificidades de cada município, nas áreas rurais as principais atividades desenvolvidas são pecuária leiteira, piscicultura, ovino-caprinocultura e as lavouras temporárias, ainda há também a fruticultura praticada na Serra de Santana, atividade que só é possível devido as condições climáticas da região. Nas áreas urbanas, a principal atividade econômica é baseada em serviços, comércios locais, serviço público e pequenas indústrias.

A atividade pecuária no RN, se constitui como umas das principais fontes de renda de muitas famílias rurais (ADESE, 2010). Historicamente, o território sempre teve potencial para o desenvolvimento da pecuária. Já no povoamento da região, o rebanho bovino foi introduzido para estabelecer o domínio da terra sobre os indígenas onde ali habitavam. Além disso, o desenvolvimento desse espaço estava atrelado às necessidades da atividade canavieira do litoral do estado. Após o colapso da atividade canavieira, a pecuária ainda era a atividade predominante, que promovia a exportação de couro. Após a Grande Seca de 1920, a atividade da cotonicultura é introduzida na região, mas também fracassa.

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Desse modo, a produção de leite, substituindo a pecuária de corte, passou a garantir a renda e a sobrevivência de muitas famílias (BRASIL, 2010).

Segundo ADESE (2010), a introdução da pecuária leiteira na região ocorreu principalmente em pequenas propriedades, que possibilitava o retorno financeiro imediato. Desse modo, a pecuária leiteira no Seridó rompeu com o ideário de que somente grandes produtores poderiam produzir leite. Ainda de acordo com o autor, a região Seridó sofreu um processo de “minifundização”3 causado pela divisão de terras, o que ocasionou a consolidação da pecuária leiteira em pequenas propriedades, viabilizando a produção de leite por parte dos pequenos produtores rurais.

Contudo, isso não quer dizer que no Seridó Potiguar não tenha concentração de terras. Como destaca o Diagnóstico da Bacia Leiteria do Seridó (ADESE, 2010), constatando-se que as propriedades com mais de 500 hectares estão concentradas em uma pequena parcela de grandes produtores de leite da região e que os estabelecimentos com até 100 hectares eram a grande maioria na região, sendo que quase metade do total de estabelecimentos da região tem até 25 hectares.

A concentração fica ainda evidente quando são observados os dados de extensão territorial do diagnóstico da ADESE. Nele pode-se ver pequena parcela de grandes produtores, que representam apenas 4% dos entrevistados. Deste diagnóstico acumulam pouco mais de 260 mil hectares e isso representa 48% do total da área propriedades pesquisadas. Enquanto as propriedades com até 25 hectares, que representam 46% do total, acumulam pouco mais de 97 mil hectares e isso representa 18% do total da área das propriedades pesquisadas, sendo que a grande maioria desses estabelecimentos rurais com até 25 hectares são dependentes da produção de leite para obter renda. Deste modo, fica evidente a dificuldade do pequeno produtor de desenvolver a atividade, quando o tamanho da terra é um dos principais obstáculos (ADESE, 2010).

Apesar da entrada dos grandes fazendeiros na produção de leite na região, nos estabelecimentos rurais do Seridó são predominantes os estabelecimentos de agricultores familiares, como destacado no gráfico a seguir:

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GRÁFICO 1: Número de estabelecimentos rurais no do Seridó Potiguar. 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 SERIDÓ OCIDENTAL

SERIDÓ ORIENTAL SERRA DE SANTANA

SERIDÓ

Agricultura Familiar Agricultura não-familiar

Fonte: IBGE, 2006

Ainda de acordo com Censo Agropecuário (IBGE, 2006), o RN possui 83.053 estabelecimentos agropecuários, 73% deles são da agricultura familiar e 16% estão localizados no Seridó, totalizando 13.897 estabelecimentos agropecuários, e a agricultura familiar representa 77% desse valor e ainda 67% do total de estabelecimentos da região possuem bovinos. Desses quase 14 mil dos estabelecimentos agropecuários do Seridó, 5.943 produziram leite bovino, o que representa 43% do total de estabelecimentos do território. Além disso, 41% do total de que produziram leite bovino na região eram da agricultura familiar, o que totaliza mais de 30 milhões de litros de leite.

A microrregião da Serra de Santana concentra mais da metade dos estabelecimentos da agricultura familiar e não familiares do Seridó. Apesar disso, é a região do Seridó Oriental que concentra maior número de agricultores que produziram leite na região – um total de 2.184 estabelecimentos, sendo que desse total, 72% são de estabelecimentos da agricultura familiar, esses estabelecimentos foram responsáveis por produzir 27% do total leite do Seridó Potiguar naquele ano (IBGE, 2006).

Outro importante fator a ser observado é a dispersão espacial desses estabelecimentos da agricultura familiar, já que esses estabelecimentos se distribuem por todo o RN, como destaca Rufino (2015):

Quanto à distribuição geográfica, os dados do Censo Agropecuário indicam que os produtores familiares de leite localizam-se em graus

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variados em todas as regiões do RN. Todavia, a maioria absoluta dos pecuaristas familiares, bem como a maior parte do leite de vaca produzido pela categoria está concentrada em 11 microrregiões, conforme a seguinte ordem: Seridó Oriental (1º), Pau dos Ferros (2º), Vale do Açu (3º), Seridó Ocidental (4º), Agreste Potiguar (5º), Serra de Santana (6º), Chapada do Apodi (7º), Borborema Potiguar (8º), Médio Oeste (9º), Umarizal (10º) e Serra de São Miguel (11º). Juntas, elas abrigavam 86% do público potencial do PLP e 90% da produção estadual de leite de vaca oriunda da agricultura familiar. Já o restante da produção encontrava-se pulverizada nos pequenos sítios dispersos nas demais oito microrregiões constituintes do espaço geográfico potiguar (RUFINO, 2015).

Como observado, o Seridó Oriental é a microrregião onde a agricultura familiar mais produziu leite de vaca no RN, o que destaca o seu potencial na produção de leite. Também vale destacar que a microrregião do Seridó ocidental é a microrregião que mais produziu leite de vaca no RN e também é a região onde os produtores não familiares produziram mais leite, assim como demonstrado na tabela a seguir:

TABELA 1: Total de leite produzido (mil litros) por categoria nas microrregiões do RN Microrregião Agricultura familiar Agricultura não familiar Total Seridó Oriental 10.756.666 12.732.605 23.489.271

Pau dos Ferros 9.980.515 6.875.804 16.856.319

Vale do Açu 9.867.124 6.896.633 16.763.757

Seridó Ocidental 9.589.306 20.296.126 29.885.432

Agreste Potiguar 6.531.666 17.891.145 24.422.811

Serra de Santana 6.302.661 6.913.423 13.216.084

Fonte: IBGE, 2006

Com relação aos seis territórios do RN e observados os números absolutos o Seridó Potiguar é de longe o mais produziu de leite bovino, chegando a produzir 38% de todo o leite bovino do estado. Sendo que o território ainda é responsável por 35% da produção de leite bovino advindo da agricultura familiar

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e 40% da agricultura não familiar do RN. O gráfico abaixo demonstra os níveis dessa produção.

Gráfico 2: Leite bovino produzido no RN, por território e por categoria.

Fonte: IBGE, 2006

Além de ser o território que mais produziu leite de vaca, quando observada a produção per capita por estabelecimentos da agricultura familiar, o Seridó Potiguar também é o território com maior produção de leite, seguidos do território do Açu-Mossoró (2°), Sertão do Apodi (3°), Potengi (4°), Mato Grande (5°) e Alto Oeste (6°). Sendo que o Seridó ainda é também o segundo território, quando observada a produção por per capita estabelecimentos de agricultura familiar, e também ocupa o primeiro lugar quando observados números totais.

Outro importante aspecto a ser destacado é o tamanho do rebanho bovino, como já demonstrado antes neste trabalho, a agricultura não familiar concentra mais terras e tem menor número de estabelecimentos agropecuários, porém, ela concentra a maior quantidade de cabeças bovinas do RN. Em 2006, o rebanho de bovinos dos agricultores familiares somava em todo RN, pouco mais de 427 mil cabeças, os da agricultura não familiar somavam 479 mil cabeças. Somente no Seridó a agricultura familiar somava um rebanho de mais 97 mil cabeças, enquanto a agricultura não familiar somava mais de 120 mil cabeças. 0 50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 Mato Grande Açu-Mossoró Potengi Alto Oeste Sertão do Apodi Seridó Rio Grande do Norte

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O tamanho do rebanho potiguar variou bastante durante o tempo, exceto no período entre 2006 e 2011, quando se manteve pouco superior a um milhão de cabeças. Os piores anos para o rebanho bovino no RN foram os anos 1993 e 1994, onde houveram uma acentuada queda do rebanho que passou de mais de 900 mil cabeças para 565 mil. Além desse ano, 1999 e 2012 também foram dramáticos para o rebanho potiguar, devido a prolongada estiagem o rebanho, que diminuiu em mais de 25%.

O gráfico a seguir traça uma linha histórica do tamanho do rebanho bovino região.

Gráfico 3: Linha histórica do total de cabeças bovinas no RN

0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1986 1990 1996 2000 2006 2010 2015 Rio Grande do Norte Seridó

Fonte: IBGE, 2017

A região do Seridó apresenta menor variação no número de cabeças bovinas, que se manteve com mais de 200 mil cabeças ao longo dos anos. Em um dos seus piores anos, em 1993 o rebanho seridoense de bovinos chegou a perder mais de 50 mil cabeças e teve seu melhor desempenho em 2010, quando o rebanho ultrapassou 250 mil cabeças bovinas. Logo em seguida, devido à forte estiagem o rebanho chegou a diminuir em 60 mil cabeças.

O número de vacas ordenhadas em todo RN varia entre em 20% e 25% do total do rebanho de bovinos do estado, sendo que no ano de 2015, esse valor chegou a 29%. De acordo com o Diagnóstico da Bacia Leiteira do Seridó

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(ADESE, 2010), em 2010 o número de vacas lactantes do Seridó chegou a 41.528, o que representa 16% do rebanho total de bovinos no RN.

Quando observados os dados da PPM (IBGE, 2017), os piores e os melhores anos da quantidade de vacas ordenhadas são os mesmos em que a produção de leite foi baixa, como já comentado anteriormente, o que o ocorre principalmente pela incidência de secas na região. Em 1986, ano de início do PLP, o número de vacas ordenhadas eram pouco mais de 170 mil o que representa 18% do total de rebanho bovinos no RN. Já em 2015, o RN registrou seu segundo melhor resultado desde o início da série histórica, quando mais de 267 mil vacas foram ordenhadas, essa quantidade representa 29% do total de bovinos do RN, se ainda observamos que o rebanho bovino encolheu em relação a 1986 e o número de vacas ordenhas cresceu, revelasse uma tendência de mudança na atividade pecuária no RN.

No Seridó é possível observar que a tendência é mesma que a do RN, o ano de 2015 foi o melhor ano em vacas ordenhas, o número passa de 38 mil vacas em para mais de 82 mil em 2015, além disso, a quantidade de vacas ordenhas na região representa 33% do rebanho total de cabeças bovinas.

Já quando observados os números das microrregiões do Seridó, o rebanho bovino teve uma alteração fundamental, quando o rebanho do Seridó Ocidental supera, desde 2012, a quantidade de cabeças bovinas do Seridó Oriental. A tendência também é observada no número de vacas ordenhadas pois enquanto o Seridó Oriental se mantém mais estável, o Seridó Ocidental oscila mais durante ao longo dos anos. Contudo, o ano de maior crescimento foi registrado entre 2013 e 2014, em que a fração de vacas ordenhadas passou de 24 mil para mais de 34 mil, um aumento bastante significativo, principalmente se analisado sob a ótica de que a região passa por um longo período de estiagem. Quanto à produção de leite bovino, o RN ocupa a 20º posição no Brasil em produção de leite bovino em 2015, quando a produção de leite no estado oscila de acordo com a ocorrência de secas. Desse modo, pode-se notar variações nos níveis de produção ao longo dos anos.

Desde a criação do PLP em 1986, a produção do leite se manteve em evolução, e são notórios alguns períodos de queda, mas sempre há significativa retomada após esses períodos, como pode ser observado no gráfico a seguir:

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Gráfico 4: Série histórica do total Produção de Leite bovino no RN e no Seridó Potiguar 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5

Rio Grande do Norte Seridó

Fonte: Pesquisa Pecuária Municipal – IBGE/2017

Na região do Seridó, as oscilações na produção de leite bovino não são diferentes do estado, apesar de sofrer uma queda menos acentuada em 1993, a produção da região se manteve estável e vinha crescendo até 2006, onde houve uma drástica queda da qual a região só veio se recuperar em 2015. Quando observados as microrregiões do Seridó, se destacam o Seridó Oriental e Ocidental, no período 1990 a 1997 o Seridó Ocidental produziu mais leite. Contudo, a partir de 1998 até 2012, a região do Seridó Oriental foi quem mais produziu, chegando a marca de mais de 35 milhões de litros de leite em 2006.

Apesar disso, a partir de 2013 o Seridó Ocidental retomou a dianteira na produção de leite na região, obtendo seu melhor resultado em 2015, na ocasião, produzindo mais 32 milhões de litros de leite bovino. A região da Serra de Santana em nenhum momento chegou a ser a microrregião que mais produziu leite no Seridó. Seu melhor resultado foi alcançado em 2006, quando produziu pouco mais de 16 milhões de litros de leite bovino.

Ainda de acordo com a PPM (IBGE, 2016), o Seridó tem como principais produtores de leite os municípios de Caicó, Jucurutu, Jardim de Piranhas, Currais Novos e Cruzeta. Somente no ano de 2015, esses cincos municípios produziram juntos 43% do total de leite produzido na região, sendo que, quando observado os dados do censo agropecuário, alguns desses municípios também

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se destacam pela produção da agricultura familiar, sendo os produtores familiares de Caicó, Jucurutu e Cruzeta os que mais produziram leite bovino em 2006.

É preciso fazer algumas ressalvas sobre a agricultura familiar no RN. De acordo com o censo agropecuário (IBGE, 2006), apenas 7% desses agricultores receberam assistência técnica periódica em 2006, pouco mais da metade desses agricultores familiares eram alfabetizados. A falta de assistência técnica juntamente a baixa capacidade de conseguir financiamentos a qual está submetida à agricultura familiar no RN, visto que boa parcela dos agricultores que produzem leite no RN estão enquadrados no grupo “B” do PRONAF. Expõem também a precariedade a qual está submetida a produção de leite da agricultura familiar no RN.

A realidade do Seridó nos últimos quesitos expostos não chega a ser da realidade do RN, pois de acordo com o Diagnóstico da Bacia Leiteira do Seridó (ADESE, 2010), a prática da atividade pecuária no território é predominantemente realizada pela família. Ainda é destacado que mais de 80% dos agricultores não utilizam forragem na forma de silagem, fazendo com que o a produção de alimento para o rebanho seja ainda mais precária e dependente de produtos industrializados, que encarecem os custos de produção.

Outro fator limitador da produção de leite pela agricultura familiar é a necessidade de armazenamento do leite, tornando essencial a existência de tanques de resfriamento para o desenvolvimento da atividade. Apesar disso, de acordo com o BRASIL (2010), apenas o município de São José do Seridó não possuía tanque de resfriamento de leite. Já o sistema CERES CIDADÃO, do governo do RN, indica a existência de 21 tanques de resfriamento em atividade que estão distribuídos nos municípios de Serra Negra do Norte (1), Acari (3), Cruzeta (1), Currais Novos (3), Florânia (5), Santana do Matos (7) e São Vicente (1). Além disso, a região conta com 5 unidades de laticínios instaladas, que produzem uma

grande variedade de produtos lácteos e seus derivados.

O mercado local para o leite no RN é limitado pela concentração de beneficiadoras. Em 2015, o RN possuía trinta e nove (39) indústrias de laticínios operando e esse número representa somente as que receberam algum tipo de inspeção no ano. Além disso, o RN também tem um sindicato de produtores de

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leite, o SINDILEITE (Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do estado do Rio Grande do Norte) que possui 22 indústrias de laticínios associadas. De acordo com IBGE (2017), os níveis de absorção de leite pela indústria de laticínios no RN até 1986, passava de pouco mais de 15 milhões de litros de leite. Com o incremento do PLP as indústrias chegaram a absorver mais de 42 milhões de litros de por ano.

Gráfico 5: Total de leite recebido por laticínios com inspeção municipal, estadual e federal no Rio Grande do Norte

0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 19 97 19 98 19 99 2 0 00 2 0 01 2 0 02 20 03 2 0 04 2 0 05 2 0 06 2 0 07 20 08 2 0 09 2 0 10 2 0 11 2 0 12 2 0 13 2 0 14 2 0 15

Total de Leite Recebidos por Laticinios

Fonte: Pesquisa Trimestral do Leite. IBGE, 2017

Desde 1997, quando começou a ser realizada a pesquisa trimestral do leite, o nível de absorção de leite pelos laticínios só vinha crescendo quando, em 2009, esses níveis começaram a cair até que, em 2015, atingiu números iguais aos de 1989. A queda pode ser atribuída ao longo período de estiagem que o RN passa.

O Seridó também já dispõe de um mercado local para a comercialização de leite e seus derivados, apesar do mercado local não chegar a absorver todo o leite da região, o que ocasionalmente causa queda no valor do produto. O leite produzido no território tem como principal destino as queijeiras, intermediários (atravessador), laticínios, cooperativas, entrega direta na casa do consumidor, programas de governo e docerias.

A região contava em 2010 com cerca de 315 queijeiras. Essa atividade é que mais compra leite dos produtores da região. Inclusive, essas queijeiras abastecem todo o mercado do RN, chegando a outros estados. Além disso, o

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leite também é muito consumido na região, pois existe uma vasta tradição de produção de alimentos, como: doces, biscoitos, bolos e outros.

Recentemente, o Governo do RN lançou edital para reestruturação da bacia leiteira da região, com o objetivo de financiar a adequação das normas sanitárias e financiar o surgimento de novas queijeiras, que se constituem da melhor alternativa para os pequenos produtores de leite do RN.

O intermediário ou atravessador tem forte atuação, o que de certo modo diminui ainda mais os ganhos pelo pequeno agricultor. As indústrias de laticínios também atuam na região: a Cooperativa de Laticínios de Natal (CLAN) situada no município de Natal, Master Leite e a Cooperativa de Eletrificação e Desenvolvimento Rural do Seridó (CERSEL), ambas localizadas em Currais Novos, a Cooperativa de Eletrificação e Desenvolvimento Rural do Vale do Piranhas Ltda (CERPIL) situada em Caicó, a LS Lacticínios em Jardim de Piranhas, a Laticínios Caicó (LACOL) em São José do Seridó e a Associação dos Pequenos Agropecuaristas do Sertão de Angicos (APASA) no município de Angicos (ADESE, 2010).

De acordo com ex-gestor do programa, o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) realizou pesquisa de campo em 2014, foi contatado que o RN possuía 30 indústrias de laticínios com algum tipo de inspeção sanitária operando. Contudo, o estado possui 99 de unidades de processamento de leite sem nenhum tipo de inspeção, sendo que 90 estão localizadas no Seridó. Além disso, o Seridó (43%) é que possuía a menor ociosidade da capacidade de processamento registrada na pesquisa, sendo menor até que a do RN (55%), valendo ressaltar que a região tem a maior capacidade processamento instalada. Ainda de acordo a pesquisa de SEBRAE, em 2014, as unidades no Seridó tiveram pouco mais de 1230 fornecedores, sendo esse valor é muito superior ao registrado em qualquer outra região, o que denota o potencial da região para a produção de queijos e a produção de leite.

No RN, em 2014, 66,70% do leite captado foi pasteurizado, sendo as bebidas lácteas, queijos de manteiga, queijos de coalho, coalhadas e manteiga de garrafa os outros produtos que compõem o cartel de produtos. Há também a produção de leite caprino, contudo, a caprinocultura é ainda pouco desenvolvida na região, apesar das vantagens dessa atividade.

Referências

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