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REVISÃO DA LITERATURA

4) O financiamento econômico deve estar voltado para a economia e o mercado, porém a distribuição deve ser feita de maneira justa na sociedade O capital financeiro não tem

1.3. O Empreendedorismo e o uso sustentado dos recursos florísticos

1.3.1. O mercado para insumos de fitoterápicos e fitocosméticos

Os produtos com origem natural possuem uma boa aceitação no mercado. Atualmente essa tendência vem crescendo e suscitando as iniciativas nesse segmento de negócios. Com isso ampliam-se as oportunidades econômicas para as populações que dispõem dos recursos para disponibilizá-los para o mercado.

O comércio internacional de produtos florestais não-madeiráveis inclui cerca de 150 produtos. Os dados para mercados globais de medicamentos corporativos de ervas de 1996 são de U$ 14 bilhões (GAIA/GRAIN 2000) e o valor real pré-processado dos produtos no Brasil, de 1980-89, foi de $ 450 milhões (sic), apontando oportunidades de negócios com os produtos da floresta. O crescimento da demanda americana é estimado em 15 a 18% ao ano (GAIA/GRAIN, 2000).

Cada vez mais o interesse pela diversidade de recursos da Amazônia fica mais ostensivo, um exemplo disso está na lista de 14 empresas, a maioria estrangeira, divulgada pela mídia local. As empresas farmacêuticas têm investido alto na busca de novos medicamentos, cerca de US$ 300 bilhões.

Segundo dados de Barata (2001), o mercado mundial dos fitoterápicos é estimado hoje em US$ 22 bilhões, sendo US$ 400 milhões no Brasil. E o mercado cresce 12% / ano. O mercado de cosmético pode chegar a US$ 140 bilhões de dólares/ano e o Brasil exporta menos que US$ 70 bilhões. O mercado é promissor e,

segundo o autor, a Amazônia tem condições de se inserir, uma vez que na região já produz o óleo de andiroba, castanha, cupuaçu e buriti para a indústria cosmética. Empresas como The Body Shop da Inglaterra, a Aveda dos Estados Unidos e a Ives Rocher da França, a Natura no Brasil, têm usado as mesmas matérias-primas da Amazônia para seus produtos.

Barata (2001) menciona que a SUFRAMA pretende fazer um investimento de 30 milhões em projetos, visando colocar a Amazônia como um centro de produção de matérias primas cosméticas no Brasil.

A indústria cosmética possui uma particularidade, segundo Barata (2001) a cada ano ela precisa de inúmeros lançamentos, diferentemente da área farmacêutica, e para isso investe em 10% do mercado para adquirir matérias-primas, muitas de origem natural, sobretudo vegetal, pelos riscos provenientes das de origem animal.

Na análise da FIEAM - Federação das Indústrias no Amazonas (2001) o mercado consumidor é promissor para espécies vegetais amazônicas, o que precisa crescer, é o mercado produtor e/ou distribuidor. As plantas, dependendo da espécie, chegam ao consumidor final na forma sólida (in natura) em pacotes de cascas, raízes, sementes e folhas, ou após rudimentar processo de beneficiamento. Em algumas situações são comercializadas na forma líquida: óleos, xaropes, tinturas e vinhos.

Num estudo realizado pelo SEBRAE (2001) sobre o segmento de produtos naturais na região norte foram encontrados os seguintes elementos compondo a cadeia produtiva: 1. produção; 2. comercialização. A produção tem como origem o extrativismo ou cultivo, envolvem diversas organizações, configurando um processo de abastecimento informal, o qual é insuficiente e limita o crescimento do setor. A comercialização é realizada por uma rede de atravessadores, na qual o produtor/coletor

muitas vezes não realiza uma troca monetária. Também pode acontecer o agenciamento do produtor/coletor, garantindo ao agenciador privilégio de compras.

Os consultores do mencionado estudo do SEBRAE ainda apontam uma cadeia produtiva ideal para os produtos naturais, na qual os itens seriam: 1. informação; 2. produção; 3. beneficiamento; e 4. industrialização.

No item informação estaria a produção e a transferência de pesquisas sobre informações técnico-científicas, englobando, sobretudo a etnobotânica, a taxonomia, a química e a farmacologia. No que se refere a produção pode ser por meio de extrativismo sustentável e cultivo, para domesticar e melhorar geneticamente a espécie vegetal mantendo, ou elevando os níveis de rendimento do produto natural. O beneficiamento pode derivar um ou mais produtos na forma de insumos, gerando matérias-primas beneficiadas, constituindo-se de etapas como seleção, secagem, trituração e empacotamento. Por fim, a industrialização depende da aplicação que será dada na indústria de transformação, obedecendo as demandas do mercado.

A partir dessa cadeia ideal a informalidade daria lugar a fornecedores credenciados organizados para tal finalidade, além de eliminar os agentes intermediários na comercialização, na figura do marreteiro, regatão entre outros, que estabelecem laços de dependência entre o produtor/coletor. Por outro lado, impõe a presença de mais outros atores nesse circuito, pressupondo uma organização maior dessa cadeia para que de fato o segmento possa ser desenvolvido.

Iniciativas por diferentes organizações empresariais e de pesquisa vêm sedo feitas na região. O INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia com a colaboração do SEBRAE - Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas, vêm investindo em pesquisas e publicações nessa linha, nas quais são apontadas as espécies

amazônicas que são demandadas e aquelas que apresentam potencialidades para negócios sustentáveis.

A potencialidade das plantas amazônicas para insumos na indústria cosmética e na de fitoterápicos está sendo difundida, mas sempre há observações sobre o cuidado para a exploração das espécies, principalmente se forem de origem extrativista, o que demanda a qualificação de recursos humanos para atuar nesse segmento com política pública direcionando as ações da sociedade.

A estratégia do estado para atuar nesse segmento de negócios está embasada na política do Governo Federal por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia de regionalizar a economia por meio do Programa de Arranjos Locais de segmentos produtivos da economia estadual.

A intenção é a interiorização da atividade econômica, com base nas potencialidades dos recursos naturais do Estado, utilizando a metodologia de plataformas tecnológicas em arranjos produtivos ou cadeias produtivas.

Sabe-se que apesar da existência de uma Política do Estado as investidas ainda são lentas e pontuais. Por outro lado, o mercado está ávido na busca de fornecedores, gerando iniciativas de diferentes procedências.

Uma nova modalidade de mercado também está sendo experimentada a partir da preocupação com a degradação e a perda da biodiversidade, ele aparece como uma alternativa, cuja comercialização são produtos que carregam valores éticos e solidários, sobretudo oriundos de comunidades organizadas. Essas experiências se traduzem tanto no ponto de vista da oferta do produto tanto quanto no consumo.

As experiências são muito recentes nessa linha de comercialização. Esse mercado vem sendo organizado mais sistematicamente desde 2001, dois seminários foram realizados para a ampliação da proposta do comércio ético e solidário no Brasil.

O primeiro ocorreu no Rio de Janeiro, em novembro de 2001, e o segundo, em São Paulo, em julho de 2002 (França, 2002).

Paralelo a isso, observa-se, que as iniciativas de uso sustentável dos recursos não-madeiráveis vão se multiplicando.

É importante destacar que uma idéia comum a de que a utilização econômica dos recursos desempenha papel importante para a conservação da biodiversidade, também está ficando mais forte a idéia de que os recursos naturais oferecem novas oportunidades para os empreendedores.

Os caminhos estão sendo trilhados, para Anderson & Clay (2002) por causa das grandes distâncias e dificuldades de comunicação na Amazônia, tanto as comunidades como as corporações tendem a "reinventar a roda" quando iniciam seus negócios. Elas encontram os mesmos problemas e cometem os mesmos erros, praticados em dezenas de negócios anteriores.

A partir da identificação das dificuldades de iniciar e manter um negócio sustentável na Amazônia, os pesquisadores Anderson & Clay (2002) fizeram oito estudos de caso sobre empreendimentos sustentáveis na Amazônia, com isso eles conseguiram abstrair várias lições para quem pretende ingressar nesse ramo de negócios sustentáveis:

1. A primeira delas consiste em estabelecer objetivos alcançáveis, os empreendimentos analisados apresentavam objetivos ambiciosos e muitas vezes conflitantes;

2. Obter informações críticas antes de começar, o primeiro passo para isso é ter conhecimento dos recursos naturais locais, saber quais são economicamente promissores, saber sobre o mercado e dispor de recursos humanos necessários para converter esses recursos em produtos comercializáveis;

3. Especialização e diversificação, a diversidade implica vários produtos, mas buscando especializar-se em alguns recursos ou tipos de recursos;

4. Aumentar o valor do produto e reduzir os custos de produção no local é essencial para conseguir o sucesso financeiro;

5. Desenvolver parcerias seguras, pois considerando as condições adversas da Amazônia, na maioria das vezes, os apoios técnicos e financeiros são necessários até que o empreendimento comece a gerar lucros.

Diante disso, vale ressaltar que dependendo do que a empresa produz as dificuldades vão envolver oportunidades e riscos diferenciados, porém o que se percebe nas lições apresentadas de Anderson & Clay (2002) é que elas possuem muitas afinidades com as características do comportamento empreendedor apresentados pelo SEBRAE.

Por fim, ressalta-se que neste trabalho predomina uma idéia de conciliação entre interesse econômico e o ideário da sustentabilidade, apesar de ser extremamente difícil de operacionalizar a proposta nesta ótica não se pode cometer o erro de não tentar.

CAPITULO II