O Modelo Colombiano

Em 2006, Edith González Bernal conclui e publica sua tese de doutorado sob o título Formação do tutor para a Educação a Distância: fundamentos

epistemológicos, em que se propõe a analisar os conceitos de tutor e tutoria

utilizados no modelo colombiano de EaD assumidos pelo Instituto Colombiano para el Fomento de La Educación Superior27 (ICFES), na tentativa de identificar os modelos pedagógicos que sustentam a formação do tutor.

Segundo a autora, no contexto da formação integral que proclama a universidade colombiana, “a tutoria está dirigida a impulsionar e facilitar o desenvolvimento integral dos estudantes em todas as suas dimensões (intelectual, afetiva, pessoal, social, volitiva, transcendente, entre outras) (BERNAL, 2006, p. 62)”. Sendo assim, Bernal (2006) indica que, para que os objetivos de formação de estudantes possam ser alcançados, é necessário que o docente exerça a função de tutoria em EaD – função esta que carrega também valores, princípios e ideais institucionais e sua filosofia de projeto educativo - se

27 _{Para mais informações sobre o Instituto Colombiano para el Fomento de La Educación Superior} (ICFES), consulte: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt- BR&sl=es&u=http://www.icfes.gov.co/&prev=search

apropriando dos diferentes fundamentos epistemológicos que norteiam esta modalidade de ensino.

Bernal (2006) divide a proposta de formação de professores-tutores na Colômbia em duas etapas. No primeiro momento, nos anos de 1980, o trabalho do tutor era o de “um agente educativo, com a missão específica e deliberada de promover, facilitar e manter os processos de comunicação necessários para contribuir com o aperfeiçoamento do sistema educativo” (BERNAL, 2006, p. 64), em que se buscava treinar o tutor para assegurar a aprendizagem do aluno. Os módulos de estudo deveriam apresentar uma estrutura clara e objetiva, facilitando seu trabalho de mediação com os estudantes.

Na segunda etapa – fim da década de 1990 – com a ampliação do acesso à internet e aos recursos tecnológicos, a Universidade Nacional Aberta a Distância28 (UNAD), na Colômbia, única universidade no país dedicada à educação a distância, traça o papel do tutor

O tutor deve ser um mediador capaz de criar condições que permitam que os saberes tenham sentido para os estudantes, o que lhe exige um amplo conhecimento das dimensões epistemológicas, sociais e históricas do conhecimento [...]. Deve ser um formador em permanente processo de formação, possibilitador de encontros, gerador de espaços para a aprendizagem, formador de valores, responsável, de equilíbrio intelectual e emocional, coerente entre o que se vive e o que se ensina, cooperador na busca de superação, capacidade de compreensão, sinceridade e honestidade para reconhecer os limites do saber, comprometido com os processos de aprendizagem, não como o guia, mas como o acompanhante, e que conheça a metodologia à distância e os processos implicados nela. (BERNAL, 2006, p. 68, apud UNAD, 2002, p. 35, grifo nosso).

Neste contexto, reconhece-se a necessidade de que o tutor tenha conhecimento/formação/capacitação para além do conteúdo programático de determinado curso, devido as diversas implicações e desdobramentos que observamos à frente de plataformas de ensino. Cabe ressaltar que na Colômbia é nítido que a discussão e a visão do tutor como docente já acontece desde a década de 1980, enquanto no Brasil ainda tentamos discutir a formação específica para esta função - experiências isoladas entre erros e acertos na

28 _{Para conhecer mais sobre a Universidade Nacional Aberta a Distância (UNAD) consulte:} http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=es&u=https://www.unad.edu.co/&prev=search

tentativa de se encontrar uma diretriz para a tutoria na modalidade EaD. Podemos concluir que esta discussão está há pelo menos 30 anos atrasada no contexto brasileiro, o qual ainda foca seus estudos e pesquisas na função do tutor como mediador de conteúdos e não em sua formação específica, no campo da EaD, mantendo-o descolado da docência.

Desta forma, e com a intensão de dotar a EaD de uma base teórica que a fundamentasse, Bernal (2006) destacou os fundamentos epistemológicos necessários à formação do tutor na Colômbia, apontando os fundamentos filosóficos, psicológicos e da Teoria da Comunicação e Novas Tecnologias da informação, sendo que todos eles contribuem tremendamente para essa empreitada.

A autora indica que os fundamentos filosóficos devem abarcar a formação do ser humano ao longo da vida e o compromisso com a formação do sujeito- cidadão, consolidando uma política de educação que se pretende para o país.

Nos fundamentos psicológicos, o tutor deve conhecer e observar os postulados da psicologia que têm influenciado nos currículos e projetos educativos, destacando-se a aprendizagem significativa em que os processos cognitivos não se separaram da situação na qual o aluno aprende, enfatizando as “aprendizagens reflexivas, colaborativas, em relação às estruturas cognitivas já estabelecidas, e as escolhas individuais baseadas na motivação inata para a construção e apropriação do conhecimento” (BERNAL, 2006, p. 80).

Sobre as TIC, a proposta de formação do tutor deve reconhecer que nenhum recurso tecnológico é capaz de cumprir a função educativa por si só. Há de se integrar as ferramentas tecnológicas ao currículo contextualizando-as com o cenário educativo. Isso supõe que a utilização de TIC não se resume apenas ao uso de computadores e equipamentos diversos. Sua validade está no fato de incorporar aos processos educativos ferramentas que ofereçam a possibilidade de interação, comunicação, criação de redes e comunidades virtuais de aprendizagem enquanto suporte e instrumentos facilitadores da autogestão de seu tempo/espaço de estudos/participação/aprendizagem para o estudante.

Destacam-se ainda os fundamentos da aprendizagem colaborativa e o acesso global do conhecimento. Segundo Bernal (2006), no contexto da cibercultura, a velocidade com que se produz e se faz circular

informação/conhecimento, as metodologias e didática utilizadas na EaD devem ser questionadas, implicando em uma atitude de pesquisa constante. Segundo Bernal, a cibercultura traz uma mudança de perspectiva e impactos na formação de professores-tutores exigindo a “ampliação das funções tradicionais baseadas na explicação de conteúdos científicos a outras mais amplas, nas quais se integram atuações de assessoramento e apoio aos estudantes” (ZABALA, 2002, p. 37, apud BERNAL, 2006, p. 84).

A utilização de plataformas virtuais de aprendizagem requerem do tutor a capacidade de traçar estratégias que permitam ao estudante empreender, de forma autônoma e integrada, seus próprios caminhos de construção do conhecimento em rede, assumindo, para isso, uma posição de reflexão na ação e fazendo uso crítico das tecnologias.