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2 O TUTOR NO CONTEXTO DA EAD ,,

2.7 FORMAÇÃO CONTINUADA DE TUTORES: EXPERIÊNCIAS

2.7.4 O Que Levamos das Experiências Visitadas

As experiências visitadas revelam a mobilização de diferentes agentes e setores em busca de um caminho norteador para a nova função docente que surge, sob a designação de tutoria, tendo em vista a ampliação da oferta da EaD no mundo.

Observamos, no curso de Pedagogia a distância da UFJF, a proposta de formação por meio do Espaço de Formação Continuada de Tutores. Este espaço vai ao encontro das ponderações de Bruno e Lemgruber (2009), que apontam a necessidade de formação para a atuação em ambientes virtuais, mas destacam também a importância do conhecimento específico na área de atuação/disciplina e a qualidade da mediação, em que a função do tutor seja ampliada, passando do esclarecimento de dúvidas à construção coletiva do conhecimento. Cabe destacar ainda que a formação continuada desenvolvida neste curso integra ações online e presenciais – por meio de encontro mensais - , numa proposta de Educação híbrida.

A preocupação com a formação do formador também é observada na experiência da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Esta instituição busca capacitar o tutor reconhecendo que o sucesso da proposta inicial de formação para todos os docentes da rede estaria indissociada da qualidade da

mediação que iria ocorrer na plataforma do curso proposto. Bruno e Lemgruber (2009) indicam que “o tutor não pode simplesmente absorver os conhecimentos transmitidos pelos professores” (ZUIN, 2006, p. 949, apud BRUNO & LEMGRUBER, 2009, p. 6). Nesse contexto, a SEED buscou, inicialmente, ampliar a bagagem pedagógica dos tutores para as especificidades da modalidade EaD observando não só os conteúdos propostos para o curso.

A expansão da EaD na Colômbia também foi alvo de estudos e pesquisas no intuito de se traçar a função de tutoria não mais como esclarecedora de dúvidas. Por conseguinte, há um reconhecimento da necessidade de ampliar para além dos conteúdos curriculares a formação do tutor em busca da qualidade da mediação online. Chama a atenção que tais movimentos tenham se dado desde a década de 1980, sendo potencializadas a partir de 1990 com a Internet.

As três experiências visitadas comungam com a urgência em se reconhecer que a qualidade da mediação online exercida pelo tutor só se dá por meio de formação consistente, embasada, ampliada para além da ideia de agente esclarecedor de dúvidas, executor de autorias alheias ou monitor de processo.

De acordo com o relato dos entrevistados e dos resultados apontados no questionário, as pessoas que atuam hoje na EaD/UFJF não têm, em sua maioria, formação específica para esta modalidade, exercendo sua função num processo de constante transformação da EaD devido ao aperfeiçoamento das TIC e da expansão crescente da oferta e da matrícula de cursos nesta modalidade. A ausência de projetos de formação continuada para boa parte dos tutores torna esta transição precária e insuficiente quando observamos ações isoladas nos departamentos. Não há um ponto comum que possa nortear esta proposta no contexto da EaD/UFJF. Reconhecemos a autonomia dos departamentos, mas é preciso estabelecer uma diretriz comum.

Consideramos que a qualidade da educação na EaD está relacionada com a fundamentação da docência online. Para tal, observamos que elementos como a capacidade/habilidade científica e humanística dos sujeitos, a possibilidade real de aperfeiçoamento continuado, a atualização constante no que diz respeito aos avanços tecnológicos, a relação pedagógica estabelecida no processo de mediação e o conhecimento das dimensões epistemológicas sociais e históricas

do conhecimento devem ser considerados pois, sem elas, o processo educacional não se completa.

Percebemos com os achados na pesquisa de campo, após levantamento das ações que são desenvolvidas na UFJF, que a questão da formação de tutores não se encontra sistematizada. Ações pontuais são implementadas sem, no entanto, se estabelecer uma proposta de formação inicial e continuada.

A documentação e registros sobre o início das atividades da EaD/UFJF – e seus desdobramentos posteriores - de acordo com o verificado no Cead e a fala dos entrevistados, não se encontram organizados para consulta de pesquisadores. Há registros em mãos de professores, em departamentos e no próprio Cead, mas carecem de organização e sistematização. Após quinze anos da criação do Cead, nem mesmo este Centro possui o histórico de sua atuação. Concluímos que as gestões anteriores não se ativeram a este fato.

Observamos que tanto coordenadores de curso, de tutoria e tutores, em sua maioria, indicaram não ter formação específica em EaD, o que se constitui em dado importante para a proposição de um PAE com este fim. O caminho trilhado até o momento na EaD/UFJF se deu através da vivência dos erros e acertos, bem como no compartilhamento destas experiências com outras instituições que atuam na modalidade a distância.

Com relação ao trabalho de tutoria, percebemos que rotineiramente este sujeito assume de fato o exercício da função docente. A revisão da literatura indicou que ainda se define a função de tutoria como a de monitor, orientador, acompanhante, como se não houvesse implicações didático-pedagógicas no seu fazer acadêmico. No entanto, esta revisão indicou a tendência de que os tutores são responsáveis por fazer o curso efetivamente acontecer através da mediação diária e da intervenção pedagógica de conteúdos.

Ainda há outras questões que se apresentaram durante esta pesquisa e se tornaram dados relevantes. Apesar do reconhecimento externo à UFJF, os tutores não têm acesso à biblioteca, ao transporte e ao restaurante universitário, caracterizando a exclusão social deste colaborador no contexto da universidade. Assim, a precarização do trabalho de tutoria – objeto de diferentes pesquisas anteriores - extrapolou a questão de direitos trabalhistas e de reconhecimento da

função docente, se mostrando mais complexa do que este trabalho buscou apresentar.

Podemos considerar que seja urgente a realização de novos estudos sobre esta temática não só pela carga de responsabilidades exigida do tutor, mas também levando-se em consideração os achados desta pesquisa.

O próximo capítulo da dissertação, após apresentação do arcabouço teórico e dos resultados da pesquisa de campo, apresentará o Plano de Ação Educacional (PAE), que tem como proposta propor uma política de formação de tutores para a EaD na UFJF.

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