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2 O TUTOR NO CONTEXTO DA EAD ,,

2.4 A TUTORIA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Litwin (2001) já ponderava sobre o pensamento tradicional dominante que preconizava que o tutor orienta e monitora o estudante, mas não se envolve com os conteúdos. Surge assim a ideia de que ao materiais utilizados na EaD devem ser autoinstrutores, tendo que ensinar sozinhos, o que faz do tutor um acompanhante do processo educativo. Com a expansão da EaD, este mesmo pensamento passa por transformações em que o papel do tutor é ressignificado, passando de transmissor de informações para mediador didático-pedagógico no processo de construção do conhecimento.

Ao pesquisar trabalhos nos últimos 10 anos sobre o tema específico

formação do tutor, percebemos que o número de trabalhos publicados na área

proposta é pequeno. Encontramos uma produção sobre o tema no Google Acadêmico, nenhum registro no Scielo e apenas uma dissertação de mestrado19 no Banco de Teses da CAPES, 2011. A maioria dos artigos, teses e dissertações encontrados tratam da tutoria sob outros aspectos que não o da formação. No Google Acadêmico e no Portal de Periódicos da CAPES registramos o trabalho de Bernal (2008).

No Portal de Periódicos da CAPES/MEC encontramos o artigo Dilemas de

professores tutores iniciantes na Educação a Distância, deSirlene Fabris Costa e

Rita Buzzi Rausch, publicado em 2012. As autoras elegem como foco da pesquisa o professor-tutor iniciante e concluem indicando a necessidade de formação específica para atuação na EaD e que “os professores tutores iniciantes ainda não tem claro a conceituação da EaD, apenas que é um movimento atual e social, ou seja, ‘não tem volta’” (COSTA & RAUSCH, 2012, p.333).

Assim, nos propomos a observar dois aspectos considerados relevantes nesta pesquisa: a formação do gestor/coordenador e do docente que atua como tutor.

Sobre o primeiro aspecto, a formação do gestor/coordenador das práticas da gestão educacional na Educação a Distância e a compreensão de suas particularidades, Mill (MILL et. al.,s/d) afirma que são escassas as pesquisas

19 MINEIRO. Hélvia Moreira. Formação do tutor: um estudo sobre os aspectos teóricos e práticos do curso de formação de tutores a distância do IFCE. Disponível em: http://bancodeteses.capes.gov.br/

sobre gestão de EaD e diz que “consideramos a gestão educacional um campo de extrema importância para se compreender o conjunto do processo de ensino- aprendizagem na educação básica ou superior e, também, na educação presencial ou a distância” (MILL et. al.,s/d, p.2). Compreendemos que a prática de gestão vem sendo unificada no ensino superior, aspecto este que pode desconsiderar as particularidades e especificidades de cada modalidade de ensino. Ainda segundo os autores, são poucos os profissionais atuando na EaD que buscam compreender as especificidades desta modalidade e que, “embora de extrema importância para os gestores, trata-se de um assunto comumente relevado a um segundo ou terceiro plano” (MILL et. al.,s/d, p.2), e que a Educação a Distância é comumente vista como uma subcategoria de educação.

No contexto educacional brasileiro, em que o momento histórico-político do contexto de influência na proposição de políticas públicas se volta para a figura do gestor educacional, provocar a discussão acerca da gestão da EaD torna-se mais que desejável, senão imprescindível. Assim, consideramos que capacitar/formar gestores e coordenadores de curso para esta modalidade pode ser o ponto de partida para a consolidação da EaD.

O segundo aspecto analisado trata da formação docente para atuação na modalidade EaD. De acordo com Gatti (2009) a profissionalização docente é o grande desafio deste século e faz parte da agenda mundial de prioridades da UNESCO.

Valente (2009) nos fala do “estar junto virtual”, em que a construção do conhecimento depende de orientação, acompanhamento e interação que leve de fato o aluno da EaD a transformar informação em conhecimento, e que, “isso somente pode acontecer quando o professor participa das atividades de planejamento, observação, reflexão e análise do trabalho que o aluno está realizando” (VALENTE, 2009, p. 4).

Corremos em um círculo vicioso, em que se busca a qualidade da educação básica tanto em seus aspectos cognitivos quanto na dimensão humanista (a equidade, a igualdade de condições de acesso e permanência nas escolas públicas), mas os esforços para a profissionalização docente ainda apresentam falhas e lacunas.

Consideramos a expansão da oferta de formação superior via UAB um grande e precioso ganho para a profissionalização docente. Porém, o que questionamos nesta pesquisa é a formação do formador (tutor que atua na modalidade EaD) que forma, influencia, responde dúvidas, corrige tarefas e abastece um diálogo diário com o futuro formador (docente) da educação básica.

Sabemos que por trás de cada tutor existe um docente especialista da disciplina ofertada, mas é possível que este especialista acompanhe atentamente cada sala de aula virtual? Ou ainda, que possa garantir que os padrões mínimos de qualidade20 para a formação de futuros docentes da educação básica pública

sob sua responsabilidade – estão sendo observados?

Levando em conta esses questionamentos, faz-se crucial atentar para três fatores demasiadamente relevantes: a responsabilização do gestor/docente hoje discutida nas esferas públicas; a responsabilidade/competência das universidades em formar/capacitar continuamente seu quadro de tutores; e o não reconhecimento/institucionalização da tutoria no ensino superior como categoria profissional.

Gatti e Barretto (2009), apresentam um estudo (em parceria com a UNESCO) sobre a formação docente no Brasil intitulada Professores do Brasil:

impasses e desafios. As autoras indicam que depende, em parte, da formação

docente a construção de uma sociedade justa e igualitária nas questões econômicas, sociais e humanas. A profissão docente deve ocupar lugar significativo na formação da sociedade moderna

Além da importância econômica, o trabalho dos professores também tem papel central do ponto de vista político e cultural. O ensino escolar há mais de dois séculos constitui a forma dominante de socialização e de formação nas sociedades modernas e continua se expandindo (GATTI e BARRETO, 2009, p. 15).

20 Os padrões mínimos de qualidade para formação docente estão apontados no documento da UNESCO - Recomendação Relativa à Condição Docente/Recomendação OIT-UNESCO, 1966. Para saber mais informações sobre o documento acesse http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001515/151538por.pdf

No capítulo 4 – As licenciaturas a distância (GATTI e BARRETO, 2009, p. 89) -, a pesquisa indica a precarização do trabalho do docente que atua na tutoria na UAB

A tutoria tem sido, por sua vez, um dos aspectos mais vulneráveis na experiência de EAD. O exame de vários editais lançados para a promoção de cursos de EAD feito por Barreto (2008) evidencia a precarização das suas atividades. O tutor, segundo a autora, figura como elo mais frágil de uma cadeia de simplificações, um desdobramento do processo de esvaziamento da formação e do trabalho docente, “não podendo ser desvinculado da aposta centrada nos materiais ditos ‘autossuficientes’ e das tecnologias para sua produção e circulação” (GATTI e BARRETO, 2009, p. 115, apud BARRETO, 2008, p. 925).

De acordo com Gatti e Barretto (2009), a precarização do trabalho de tutoria - desrespeitosa ao trabalho do profissional qualificado – impede a consolidação de um sistema regular de Educação a Distância, “que requer financiamento permanente para assegurar a estabilidade de seus quadros” (GATTI e BARRETO, 2009, p. 115). Diante das afirmativas, questionamos como será possível às universidades parceiras da UAB garantir qualidade na formação dos alunos que recorrem a este projeto como meio de estudos na educação superior se não há possibilidade de se formar um quadro permanente de tutores.

Segundo as autoras “a condição precária que está sendo expandida para a sua contratação torna o vínculo do tutor com o programa extremamente frágil e não permite investir sistematicamente no seu aperfeiçoamento em serviço” (GATTI e BARRETO, 2009, p. 115). Diante deste cenário nos cabe analisar as possibilidades de investimento da universidade na formação continuada do tutor frente a instabilidade de um quadro de colaboradores tão vulnerável.

A pesquisa - de Gatti e Barreto (2009) - analisou o currículo e as ementas de 165 cursos de formação superior que promovem a formação docente. Dos cursos analisados, apenas na licenciatura em Pedagogia (71 cursos analisados) há uma disciplina que pretende instrumentalizar o professor para sua atuação frente aos recursos tecnológicos, resumida em “saberes relacionados à tecnologia: Gestão de Mídias Educacionais, Informática Aplicada à Educação, e Recursos Tecnológicos para a Educação, que focalizam a sua utilização” (GATTI e BARRETO, 2009, p. 119).

Concluímos, diante da pesquisa apresentada, que a maioria dos cursos superiores responsáveis pela formação docente (dos quais se originam os tutores) não incluem em seus currículos disciplinas para a formação profissional específica para atuação na modalidade EaD. Abordagens genéricas e pouco específicas também são observadas na questão da formação específica, as quais se estendem às disciplinas optativas – problema ampliado já que apresentam carga horária reduzida na totalidade do curso.

Verificamos ainda que a EaD não configura na proposta curricular dos cursos de Pedagogia analisados como modalidade de ensino, que incluem apenas: Educação Infantil, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos e Contextos não-escolares. Esta configuração de modalidades de ensino se repete na proposta/grade das disciplinas obrigatórias e optativas.

Dentre os cursos de formação docente analisados, apenas o curso de Pedagogia oferece a disciplina Tecnologias como optativa. Os demais não fazem nenhuma menção a modalidade a distância. “A articulação com as novas tecnologias para mediação na educação científica não apareceu nas ementas de praticamente nenhum dos cursos analisados” (GATTI e BARRETO, 2009, p. 151).

Com base nas especificidades apontadas acima podemos iniciar um ensaio sobre a formação do tutor no contexto da EaD apresentado na próxima seção.

2.5 A FORMAÇÃO DO TUTOR

De acordo com a Resolução/CD/FNDE nº 8, de 30 de abril de 2010, art. 9º, para exercer atividades típicas de tutoria é exigida “formação de nível superior e experiência mínima de 1 (um) ano no magistério do ensino básico ou superior, ou ter formação pós-graduada, ou estar vinculado a programa de pós-graduação” (BRASIL, 2010, p.9, grifo nosso). Tomando este princípio como ponto de partida, todo tutor é professor, mesmo que sua atuação como tutor não lhe exija o trabalho de professor. O que se vem discutindo é de que formação/capacitação adicional este professor necessita para atuar na modalidade a distância.

A necessidade de se suprir a EaD com uma base teórica fez com que se desenvolvessem diferentes estudos e pesquisas sobre o que pode ser feito nesta

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