• Nenhum resultado encontrado

O Movimento Ambientalista e as Grandes Conferências Internacionais: os caminhos da

4 DIMENSÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA

4.7 O porquê da quarta dimensão nas políticas públicas de educação ambiental

5.2.2 O Movimento Ambientalista e as Grandes Conferências Internacionais: os caminhos da

Mundialmente, o movimento ambientalista estimula uma reação de governos, que vai se materializar na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio-Ambiente humano realizado em 1972, em Estocolmo, Suécia. A educação ambiental passa a ser considerada como campo da ação pedagógica, adquirindo relevância e vigência internacionais (Medina, 1997).

Segundo Viola (1992), desde as reuniões preparatórias a proposta dominante era de que os recursos naturais se convertessem em patrimônio comum da humanidade e de crescimento zero, inspirada do Clube de Roma,28 que se caracterizou como instância preparatória da Conferência. No entanto, no Brasil, estas propostas receberam sérias divergências. Segundo Jacobi (2003) o Brasil, no auge do ‘milagre econômico’, à custa da aceleração do crescimento, da devastação da Floresta Amazônica, da implantação de indústrias poluentes, como a petroquímica, e da instalação de grandes projetos energético- minerais, encontrava-se politicamente sob forte influência do regime militar anti-democrático instalado em 1964. Por outro lado, diferentes movimentos sociais e entidades ambientalistas e de cidadania floresceram por todo país nos anos 70 e 80.

O entrevistado a seguir, aponta o período histórico de ditadura militar como o da emergência de práticas de enfrentamento da falta de liberdades democráticas, emuladoras dos antecedentes da política pública dos Coletivos Educadores, gerada pelo Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA) na gestão 2003/2008 e recorte deste trabalho. A seguir, um trecho de sua fala.

A concepção do Coletivo Educador começa no período de resistência à ditadura militar, onde a gente tinha a necessidade de se articular e tomar decisões horizontais (...) esta prática da horizontalidade para a tomada de decisões, dos círculos de cultura ambientalista, a mesma coisa que Paulo Freire faz com os “círculos de cultura”29 para a questão da educação...essa prática é orgânica na história do movimento ambientalista progressista, do movimento ambientalista que lida com a perspectiva da ação direta (professo universitário, diretor do DEA/MMA na gestão 2003/2008).

A partir da década de 1970, distintos grupos conseguem realizar campanhas de escopo regional e até mesmo nacional, indicando o início de um processo de abertura política, momento em que as forças instituintes começam a disputar seu lugar na arena política do país.

28 Em abril de 1968, reuniram-se na Itália 30 indivíduos, entre cientistas, industriais, economistas, pedagogos,

funcionários públicos, a convite de um empresário italiano preocupado em debater a crise atual e futura da humanidade. Desse encontro nasceu o “Clube de Roma” que produziu o relatório intitulado “Os limites do crescimento”, que influenciou e subsidiou os debates de Estocolmo (Czapski, 1998).

29Os “círculos de cultura”, método cunhado por Paulo Freire, de educação popular, têm o contexto histórico,

pedagógico e político como central para a prática libertadora e dialógica, onde seriam criados espaços para ouvir o outro e, assim, educá-lo e educar-se (Freire, 2009).

Oficialmente e na esteira dos desdobramentos de Estocolmo, nasce um marco na institucionalização, sob a ótica instituinte, da questão ambiental no Brasil: em 1971 é criada a SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente) vinculada ao Ministério do Interior, porém, sem vinculação com as reivindicações dos movimentos socioambientais nascentes, e mais pela influência de fatores externos e interesse de imagem no cenário internacional.

Já o surgimento da educação ambiental no Brasil, nas décadas de 60/70, segundo a entrevistada, vai além da perspectiva estritamente ambiental e dos poderes instituídos e traz influências da perspectiva política latino-americana de enfrentamento das violações dos direitos humanos.

O que vai se constituindo como educação ambiental no Brasil tem toda a influência do socioambientalismo, indo para esta questão latino-americana da cisão de direitos, da existência sincrônica de grupos culturais, expandindo para os direitos humanos. Com o surgimento de uma ideologia de esquerda latino-americana, comunitária, vai surgindo uma outra leitura da educação ambiental, com Paulo Freire, com as Comunidades Eclesiais de Base, com as ligas camponesas, que vai sendo misturado (professora universitária, pesquisadora da área de psicologia social e colaboradora da formulação e implementação da política DEA/MMA, gestão 2003/2008).

A I Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, ocorrida em Tbilisi, na Geórgia (ex-URSS), em 1977, ocorre como outro desdobramento de Estocolmo. Importante Conferência para a educação ambiental, pois nela foram estabelecidos princípios orientadores da educação ambiental até hoje adotados: crítico, ético, interdisciplinar e transformador. Segundo Novo (1996), avançou no sentido de que o público-alvo deveria ser toda a sociedade e não apenas crianças e jovens.

A Conferência se iniciou com reuniões regionais entre os anos de 75 e 77, na África, Estados Árabes, Europa e América Latina, promovendo estudos experimentais de educação ambiental. A importância e permanência dos resultados dessa Conferência dão indícios do reconhecimento da importância do diálogo com distintos territórios, culturas e grupos, saindo dos espaços oficiais dos poderes instituídos.

Em 1981, no Brasil, tem-se a primeira lei federal da área, instituindo a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6.938/81, um avanço, sob a perspectiva da institucionalização formal, apesar de não incorporar o acúmulo da Conferência de Tbilisi, é a primeira vez que a educação ambiental aparece num marco federal, mencionando que seja ofertada em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade (Brasil, 1981).

É também criado por lei o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão colegiado, com poderes deliberativos (poder para criar normas) como instância integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), dando sinais da abertura à participação, nas políticas de governo, de outros atores sociais, e portanto das forças instituintes.

Nesse período, tem-se no Brasil, por um lado, normas legais sendo aprovadas e, por outro, movimentos sociais se articulando e despertando para a questão ambiental. Grupos ambientalistas passam a influenciar vários movimentos sociais que, embora não tenham como eixo de ação a questão ambiental ou não se auto-identifiquem como ambientalistas, incorporam a questão ambiental como relevante em seu trabalho.

Após cinco anos de pesquisas (1983 a 1987) sobre a situação de degradação ambiental e econômica no Planeta, a Comissão Bruntland produz o Relatório “Nosso Futuro comum”, que cunhou o conceito de “desenvolvimento sustentável” e o de uma nova “ordem econômica internacional”, afirmando ser possível conciliar desenvolvimento e conservação. Tal concepção, vai provocar reações contrárias de parcela do movimento ambientalista, que questiona que o desenvolvimento – concebido como crescimento econômico, nunca poderá ser sustentável, defendendo o reordenamento da vida no planeta e não crescimento.

Internacionalmente, a questão ambiental está sob o calor dos debates em torno do Relatório Bruntland, que fomentará a Conferência das Nações unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio-92 ou Eco-92) e, no Brasil, sob a efervescência da Constituinte, aprovada em 1988 após a abertura política do país, é promulgada a Constituição Federal, que reforça a importância da educação ambiental, estabelecendo em seu artigo 225, inciso VI a garantia do “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (Brasil, 1981).

Importante ressaltar que, durante o momento de abertura democrática, com a Constituinte e suas deliberações de 1987-1988, os ambientalistas realizam pela primeira vez um exercício sistemático de lobby diante dos parlamentares, obtendo como resultado um texto constitucional avançado no que se refere ao meio ambiente, demonstrando a importância das forças instituintes estarem presentes nos processos constituintes das leis ou conteúdos das políticas públicas.

Mundialmente, o processo de globalização estava em curso, com as forças econômicas mundiais acelerando o processo de deterioração dos recursos naturais, especialmente nos países do terceiro mundo. No Brasil, iniciam-se mobilizações e articulações das distintas matizes do movimento ambientalista que se fortalecem e apresentam críticas à proposta de desenvolvimento sustentável e a educação ambiental a ele atrelada30. A Rio-92 se realiza dentro deste cenário de composição de forças.

30 Foram realizados oito encontros preparatórios e o Fórum contou com a filiação de aproximadamente 1200

organizações, com o desafio de preparar um relatório sobre o estado do meio ambiente e o desenvolvimento no Brasil, alternativo ao Relatório oficial (CZAPSKI, 1998)

5.2.3 As forças instituintes: a Rio-92 – da elaboração do Tratado de Educação