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A pedagogia dialógica, a pesquisa qualitativa, a etnografia e a multirreferencialidade –

A arte e a poesia se concebem na inspiração. A pesquisa, por sua vez, fundamenta-se no trabalho artesanal, fundado nos conceitos, proposições, perguntas, métodos e técnicas. Minayo (2001) denomina de ciclo da pesquisa um processo de trabalho em espiral, que começa com perguntas e termina com um produto provisório capaz de dar origem a novas interrogações.

O tratamento dos dados coletados se iniciou com a ordenação e classificação, para então, se chegar à análise propriamente dita, feita através da triangulação dos dados.

Para Patton (2002) a análise por triangulação parte do fato de que não há uma técnica capaz de explicar um fenômeno isoladamente e, assim, utilizou-se da combinação de técnicas e de fontes no estudo do mesmo fenômeno com abordagens qualitativas (e alguns casos, como na leitura dos questionários desta pesquisa, também quantitativas) pertinentes aos objetivos da pesquisa. A triangulação permitiu que a pesquisadora realizasse leituras mais completas e ricas (i) das descobertas geradas pelos diferentes métodos de coleta de dados, e (ii) da consistência das diversas fontes de dados dentro do mesmo método.

Segundo Becker (1994, p. 12) “os pesquisadores deveriam se sentir livres para inventar os métodos capazes de resolver os problemas das pesquisas que estão fazendo”. Isso

significa se pautar em livros e artigos sobre metodologia, mas também ir além, pois toda pesquisa tem um problema específico, que em aspectos importantes não é parecido com nenhum outro. Assim, a/o pesquisadora/o “não somente pode como deve improvisar as soluções” (p. 13), em especial, em ensaios nas pesquisas qualitativas.

A triangulação em pesquisas qualitativas, segundo Patton (2002) pode contribuir para a sistematização analítica dos dados coletados por distintas técnicas e métodos junto a diferentes sujeitos. Na análise final, procura-se estabelecer articulações entre os dados e os referenciais teóricos, respondendo às questões da pesquisa com base em seus objetivos e, desta forma, promovendo relações entre o concreto e o abstrato, o geral e o particular, a teoria e a prática.

Iniciou-se o ciclo da pesquisa pela análise documental e revisão bibliográfica e, portanto, antes do trabalho de campo, a análise partiu de três eixos analíticos: participação,

movimentos sociais e coletivos. Chegamos a estes eixos, a partir da análise documental e

com o resgate realizado dos ideais do movimento ambientalista no contexto histórico-cultural do Brasil e América Latina, cujos resultados são apresentados/analisados no capítulo/artigo 2. Estes três eixos se mantiveram implícitos como subsídio da análise por toda a pesquisa, buscando a presença, inicialmente quantitativa, em documentos18 e, na sequência, durante toda a pesquisa foram sendo desenvolvidos conceitualmente na relação com os objetos estudados.

Estes três eixos se constituíram em lentes para a releitura dos referenciais bibliográficos e dos documentos. Na literatura, buscou-se referencial sobre políticas públicas e institucionalização, adotando as dimensões trabalhadas por Frey (2000), conforme apresentado na introdução, em diálogo com a dialética regulação/emancipação propostas por Santos (2002), acrescentadas às contribuições teóricas de Baremblit (2002) acerca do movimento instituinte. Chegou-se, então, a dois pilares para se trabalhar o conceito de institucionalização: instituído e instituinte, que serão desenvolvidos nos capítulos/artigos 4 e 5.

Com este universo, uma nova rodada de análise de dados indiretos e diretos oriundos das testemunhas, trazendo o referencial da educação dialógica e crítica de Paulo Freire,

18No ProNEA (2003), o termo participação aparece 37 vezes, movimentos sociais, 15 vezes, e coletivo, nenhuma

vez. Já na versão após a consulta pública (ProNEA, 2005), participação aparece 36 vezes, mantiveram-se as 15 referências a movimentos sociais e o termo coletivo continua não aparecendo nenhuma vez. O termo coletivo vai aparecer fortemente (23 vezes) no ProFEA, bem como participação (23 vezes) e movimentos sociais (2 vezes).

resultou em três categorias para a análise de políticas públicas do campo da educação ambiental: formal/política, pedagógica/subjetiva e de planejamento/intervenção.

Tendo estas categorias como ponto de partida, foi trazido para a análise da dimensão pedagógica/subjetiva cinco conceitos defendidos pelo laboratório Oca de Educação e Política Ambiental da Esalq/Usp, como essenciais para processos educadores ambientalistas, e que fazem parte do arcabouço teórico desta pesquisa e, assim, incorporou-se os conceitos de

comunidade, identidade, diálogo, potência de ação e felicidade, que serão trabalhados no

artigo/capítulo 5

De posse destas categorias, com uma nova rodada no ciclo da pesquisa a partir da releitura dos dados e já com a totalidade dos dados coletados nas distintas técnicas, ocorreram novas formulações. Nesta etapa, buscou-se estabelecer as articulações entre os dados apresentados, os referencias teóricos e as categorias criadas na pesquisa.

Como resultado desta etapa, foi identificada a fragilidade na adoção exclusiva das três dimensões das políticas públicas apresentadas por Frey (2000), pois constatou-se a preponderância da perspectiva do pilar do instituído, respaldada nos estudos de Baremblit (2002) sobre o Movimento Instituinte e Santos (2002, 2008) com sua tese da fragilidade histórica do pilar da emancipação. A este contexto da pesquisa, somou-se a constatação da ausência da dimensão pedagógica/subjetiva nas propostas de políticas públicas, o que apontou para a necessidade da proposição de uma quarta dimensão, relacionada as forças sociais instituintes, nomeada de política do cotidiano.

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