• Nenhum resultado encontrado

2.1 A escola para as juventudes: quais os desafios e as possibilidades da

2.1.2 O multiculturalismo juvenil e os desafios da escola para a promoção da

A escola pública de ensino médio, no Brasil, se vê às voltas para encontrar maneiras de diminuir os índices de abandono, de reprovação e de evasão escolar. No ano de 2012, por exemplo, o abandono da Rede Estadual de Ensino do Ceará foi de 11,1%, representando em termos absolutos, 38.093 alunos que deixaram de estudar.22 Nesse mesmo ano, o desempenho dos alunos no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Estado do Ceará apontou que apenas 6,6% dos alunos concluíram o 3º ano do ensino médio com aprendizagem adequada, de acordo com a escala do conhecimento em Língua Portuguesa e Matemática23. Diante disso, a pergunta que se faz é: por que o jovem das classes populares que ingressam no ensino médio demonstram tão pouco interesse e tão baixo desempenho Nesse nível de ensino da educação básica? Não existe uma resposta fácil e pronta. Para Fanfani

22 Relatório de aprovação, reprovação e abandono do ensino médio, ano de 2012- COAVE/SEDUC/CEARÁ.

23 Resultados de desempenho e participação do ensino médio no SPAECE 2012 em Língua Portuguesa e Matemática. COAVE/SEDUC/CEARÁ.

(2000), isso pode ser explicado, em parte, pela massificação que ocorreu no atendimento desses alunos, a partir do momentos em que as escolas tiveram que fazer, muitas vezes, mais com menos, devido à falta de investimentos na educação proporcionais à expansão da matrícula.

Os jovens que chegam à escola são mais e diferentes. Para o autor, os jovens de hoje são bem diferentes dos primeiros “clientes” da escola pública. O processo de construção das subjetividades é diretamente influenciado pelo meio em que vivem.

Todas estas transformações na demografia, na morfologia e na cultura das novas gerações põem em crise a oferta tradicional de educação escolar. Os sintomas mais evidentes e estridentes são a exclusão e o fracasso escolar, o mal-estar, o conflito e a desordem, a violência e as dificuldades de integração nas instituições e, sobretudo, a ausência de sentido da experiência escolar para uma porção significativa de adolescentes e jovens latino-americanos (em especial aqueles que provêm de grupos sociais excluídos e subordinados) que têm dificuldades para ingressar, progredir e se desenvolver em instituições que não foram feitas para eles. (FANFANI, 2000, p. 2)

Como a escola mantém uma distância da realidade dos seus alunos, não parece significativo para eles a perda desse espaço. Outro fator advém das mudanças dos objetivos do ensino médio, que causam um desencanto para esse novo aluno. Destaca Fanfani (2000) que os pobres, quando chegam ao ensino médio, não encontram mais o prestígio social de antes nem os resultados materiais esperados, como os postos de trabalho, por exemplo, causando certa frustração. Isso porque esses jovens chegaram tarde à escola quando seus objetivos são outros. Muitas práticas escolares não atendem ou não significam objeto de interesses dos jovens, posto que seu contexto de cultura, de valores, de atitudes e suas redes de sociabilidades não coincidem com as relações existentes no interior da escola. Para Fanfani (2000, p. 8),

[...] hoje, é impossível separar o mundo da vida do mundo da escola. Os adolescentes trazem consigo sua linguagem e sua cultura. A escola perdeu o monopólio de inculcar significações e estas, a seu tempo, tendem à diversificação e à fragmentação. No entanto, em muitas ocasiões, as instituições escolares tendem ao solipsismo e a negar a existência de outras linguagens e saberes e outros modos de apropriação distintos daqueles consagrados nos programas e nas disposições escolares.

A escola, nesse contexto, não pode mais estruturar seu trabalho apenas na prática da difusão do saber. Ao contrário, precisa reconhecer a necessidade de construir novas relações a partir do multiculturalismo trazido pelas novas gerações, requerendo uma nova forma de conduzir os processos de convivência, de ensino e de aprendizagem. Assim sendo, é preciso uma reorganização do trabalho escolar que desperte valor nos jovens que já vivem em situações de severas desigualdades sociais e que não estão dispostos a se sacrificarem mais ainda para aquisição de uma “recompensa” futura.

Aposta, pois, Fanfani (2000, p. 14), que, mesmo diante desse desafio, a escola pode estruturar e ter possibilidades de melhor atender às expectativas dos jovens. Assim, elenca as seguintes características:

a) Uma instituição aberta que valoriza e considera os interesses, expectativas, e conhecimentos dos jovens.

b) Uma escola que favorece e dá lugar ao protagonismo dos jovens e na qual os direitos da adolescência se expressam em instituições e práticas (de participação, expressão, comunicação, etc.) e não só se enunciam nos programas e conteúdos escolares.

c) Uma instituição que não se limita a ensinar, mas que se propõe a motivar, interessar, mobilizar e desenvolver conhecimentos significativos na vida das pessoas.

d) Uma instituição que se interessa pelos adolescentes e jovens como pessoas totais que se desempenham em diversos campos sociais (a família, o bairro, o esporte, etc.) e não só pelos alunos aprendizes de determinadas disciplinas (a matemática, a língua, a geografia, etc.). e) Uma instituição flexível em tempos, seqüências, metodologias, modelos de avaliação, sistemas de convivência, etc e que leva em conta a diversidade da condição adolescente e juvenil (de gênero, cultura, social, étnica, religiosa, territorial, etc.).

f) Uma instituição que forma pessoas e cidadãos e não "expertos", ou

seja, que desenvolve competências e conhecimentos

transdisciplinares, úteis para a vida e não esquemas abstratos e conhecimentos que só têm valor na escola.

g) Uma instituição que atende a todas as dimensões do desenvolvimento humano: física, afetiva e cognitiva. Uma instituição na qual os jovens aprendem a aprender com prazer e que integra o desenvolvimento da sensibilidade, a ética, a identidade e o conhecimento técnico-racional.

h) Uma instituição que acompanha e facilita a construção de um projeto de vida para os jovens. Para isso deverá desenvolver uma "pedagogia da presença" caracterizada pelo compromisso, a abertura e a reciprocidade do mundo adulto para com os adolescentes e os jovens (GOMEZ DA COSTA A.C. 1997 e 2000).

i) Uma instituição que desenvolve o sentido de pertinência e com a qual os jovens "se identificam”.

Esse conjunto de características remete à escola e a seus atores a oportunidade de inaugurar uma forma de relação em que a construção coletiva seja a matriz do seu trabalho. É necessária a abertura de espaços de participação para os diferentes por meio da compreensão e da valorização de sua cultura e condições sociais.

Outro fator é criar expectativas positivas junto aos adolescentes e jovens como seres capazes de inferir no seu meio familiar e social para novas perspectivas de vida. A escola tem a oportunidade de contribuir com esses novos atores para a construção de um mundo melhor, no meio da crise de valores e referências sociais positivas que vivemos hoje.

A proposta do PPDT na dimensão apresentada por Fanfani (2000) para o sucesso dos diferentes sujeitos que ingressam atualmente na escola, como é o caso das classes populares, traz a concepção de uma escola que promova a desmassificação e chegue à individualidade do aluno na busca de encontrar e promover, junto a esse sujeito novo, uma identidade que o leve a criar expectativas positivas diante do seu contexto social. Práticas como o levantamento sociobiográfico, o dossiê da turma, o Conselho de Turma e os atendimentos individualizados buscam ver o aluno na sua individualidade para encontrar nova forma de interação e integração ao ambiente escolar, de forma exitosa. De acordo com a Chamada Pública de Adesão do PPDT,

O Projeto Diretor de Turma caracteriza-se, fundamentalmente, por um conhecimento aprofundado e sistematizado do aluno. Na mediação que se realiza entre os alunos e os demais professores da turma, promove-se o desenvolvimento de um trabalho cooperativo, que oportuniza aos professores conhecer as problemáticas que fazem parte do cotidiano de cada aluno e implicam diretamente no seu desempenho escolar. (CEARÁ, 2010, p. 1)

É nessa nova forma de “agir” dentro da sala de aula que o PPDT aposta em uma nova visão do aluno em relação a esse processo de ensino que conhece e compreende sua realidade, para a elaboração de práticas diferenciadas e mais próximas de suas necessidades e objetivos escolares.

De acordo com o que foi exposto, buscou-se verificar como a proposta do PPDT vai ao encontro desse novo modelo de escola, pela pesquisa dos seus efeitos junto aos alunos, professores e direção da EEEP Júlio França, município de Bela Cruz.

Assim, segue uma breve descrição da metodologia utilizada na referida pesquisa, bem como a análise dos resultados alcançados.