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2 O PRIMEIRO MANDATO PARLAMENTAR DE JOSUÉ DE CASTRO:

2.4 O NACIONALISMO REFORMISTA DE JOSUÉ DE CASTRO

Pode-se afirmar que a Frente Parlamentar Nacionalista (FPN) significou uma reação de um grupo de desenvolvimentistas, motivados politicamente em reduzir a ascendência da corrente internacionalista junto ao governo federal. Isto porque, com o crescimento industrial brasileiro vivenciado nos anos 1950, ―alguns economistas e políticos desenvolvimentistas entendiam que uma maior internacionalização da economia era pressuposto para o progresso‖ (DELGADO, 2007, p. 369), pois isto traria capital e tecnologia para incrementar a produção local.

Contando com um efetivo que variou de 50 a 70 parlamentares, sua luta mais agressiva era pelo controle dos lucros das empresas estrangeiras, além de contribuir com políticas de extensão dos benefícios do desenvolvimento para todas as regiões do país. Mais do que atuação prática de articulação parlamentar, FPN também era sistematizadora, junto com o ISEB, de políticas nacionalistas para o país, assumindo claramente sua função ideológica e buscando parceira com os movimentos sociais, articulando e representando suas reivindicações na Câmara dos Deputados.

Deste modo, de elemento de pressão institucional de caráter suprapartidário (com predomínio de filiados ao PTB), a Frente Parlamentar Nacionalista foi paulatinamente passando para o papel de ―organizadora‖ política, apresentando demandas dos movimentos sociais junto à Câmara dos Deputados.

As entidades que tiveram na FPN uma importante interlocutora no Parlamento Nacional foram, por exemplo: a UNE, inúmeros sindicatos, o Comando Geral dos Trabalhadores do Brasil, após sua fundação em 1962, as Ligas Camponesas e o Movimento de Educação de Base (MEB). As iniciativas da Frente Parlamentar Nacionalista encontraram no jornal diário Última Hora e nos semanários O Nacional e O Semanário importantes canais de divulgação. (DELGADO, 2007, p. 369)

Além disso, destaca Delgado (2007) que a FPN se tornou também um espaço de representação das demandas dos comunistas, que até então não tinham sua legenda legalizada. Este convívio entre comunistas e nacionalistas promoveu uma troca de informações que certamente influenciou ambos os grupos, chegando ao ponto de promover uma confusão entre estas duas plataformas.

Em 11 de julho de 1957, a Frente Parlamentar Nacionalista apresentou uma resposta aos ―oportunistas que acusam o governo JK de dirigismo‖. Nesta ocasião, coube ao deputado Bento Gonçalves (PR-MG) ler o manifesto do Grupo de Ação Política Pró-Desenvolvimento Econômico- social do país, o qual atua com o objetivo de "libertação econômica da nossa pátria, dentro de rigoroso critério democrático". Isto se dava por meio da "defesa integral do patrimônio econômico-social do país que deve ser racionalmente utilizado para promoção e defesa do bem-estar social da comunidade brasileira".

Neste programa ao governo e à nação, em que Castro participou ativamente, utilizou-se do aporte da ideologia isebiana e na Teoria dos ―dois brasis‖, criada por Jacques Lambert. A primeira defendia, na figura de Mendes de Almeida e Vieira Pinto que "A intervenção do Estado na economia deveria ser orientada no sentido de suprir as carências não atendidas pela iniciativa privada‖ E ainda, que ―Aos empresários de origem nacional, caberia produzir os bens agrícolas e industriais do país, utilizando toda a capacidade de produção existente". (ABREU, 2007, p. 424)

Já a teoria dos ―dois brasis‖ afirmava esquematicamente que o Brasil arcaico, pobre, analfabeto e atrasado, servia e transferia recursos ao Brasil moderno, rico, educado e avançado.

Deste modo, coube a Josué de Castro expor a dimensão doutrinária que fundamentava as diretrizes da Frente Parlamentar Nacionalista, argumentando que era preciso entrosar a política administrativa e social do país com a política

econômica, como desabafou: "Não é mais possível na fase atual de

desenvolvimento nacional conceber-se diretrizes isoladas no campo da administração, da política social e da economia". (CASTRO, 11 jul. 1957)

Para isso, a confecção de um plano estrutural que considere esses três fatores era algo fundamental para coordenar forças em um mesmo sentido. Esta organicidade seria útil na hora de aplicar os recursos "dentro de um rigoroso critério de prioridade que dê atendimento a essa urgente situação de debelar essas doenças locais que atentam entretanto e põe em perigo a saúde geral da economia da Nação". (CASTRO, 11 jul. 1957)

Mediante este preâmbulo de Josué de Castro, a Frente Parlamentar Nacionalista apresentou, por meio da intervenção do deputado Bento Gonçalves (PR-MG), seus princípios. São eles:

1) Defesa da Constituição e da legalidade: apenas a conduta dentro da legalidade constitucional representa um caminho seguro para a superar as dificuldades e debelar a crise intelectual, moral e econômica que martiriza o país;

2) Legitimidade do poder: atender a vontade geral por meio de um processo eleitoral sem vícios;

3)A superação do desequilíbrio Estrutural brasileiro: este é o fator que caracteriza o subdesenvolvimento do Brasil "tanto num sentido horizontal, pela justaposição de diferentes áreas geo-econômicas, como no sentido vertical pela absurda distribuição da renda que se concentra com lucros excessivos nas mão de um pequeno grupo de privilegiados." (GONÇALVES, 11 jul. 1957) Há também o desnível entre indústria e agricultura e entre a economia urbana e rural;

4) Adequação da política administrativa: sair da estrutura arcaica e semi-colonial que amortecem o resultado das providências tomadas, sendo urgente a descentralização de sua execução, com a criação de autarquias e sociedades de economia mista ou pública com autonomia financeira e administrativa.

Com base nestes princípios, o deputado prosseguiu apresentando as propostas iniciais da FPN são elas (GONÇALVES, 11 jul. 1957):

a) Formação de uma frente nacional (com elites dirigentes e as camadas populares) para a defesa do desenvolvimento brasileiro

b) Nacionalização (empresas com capitais genuinamente nacionais) e monopólio estatal (no caso do petróleo) das fontes de energia;

c) Política de expansão das indústrias de base;

d) Transformação da estrutura agrária para dar acesso do homem rural a sua exploração;

e) Expansão seletiva da produção agrícola para satisfazer as necessidades da população brasileira;

f) Reaparelhamento dos meios de transporte e suas instalações;

g) Entrosar recursos e serviços civis e militares para superar a inadequação dos meios de transporte nacionais;

h) Planificação da política de saúde para otimizar os investimentos, principalmente nas endemias e doenças de massa;

i) Adequação dos planos educacionais para qualificar a mão-de-obra necessária ao desenvolvimento;

j) Política fiscal de restrição ao esbanjamento e ao luxo e de apoio à aquisição de equipamentos;

l) Levantamento metódico do potencial nacional de matérias primas, revisão da concessão de jazidas e minas;

m) Alargamento do mercado externo, por meio de relações diplomáticas e comerciais com novos mercados;

n) Política exterior de defesa da paz mundial;

o) Encarar o país como um todo, estabelecendo para cada região as metas de participação no desenvolvimento global;

p) Propugnar por uma reforma eleitoral que possa sanear o sistema representativo dos vícios e deturpações vigentes;

q) Reestruturação administrativa dos ministérios: separação do ministério da Fazenda em Ministério do Tesouro e da Economia; criação do Ministério de Minas e Energia e a transformação do Ministério da Agricultura num Ministério da Produção, pois as questões industriais se vêem deslocadas no Ministério do Trabalho.

r) Maior unidade de ação entre os Ministérios, de forma a ampliar o seu rendimento e concentrar sua ação administrativa;

Deste modo, Bento Gonçalves encerra seu pronunciamento com o seguinte apelo à nação: "Se a ação dos homens públicos não se fizer sentir com a energia e a decisão reclamadas no memorial que acabo de ler preconizamos dias difíceis para a nacionalidade". (GONÇALVES, 11 jul. 1957) Certamente, as ameaças de golpe estavam fortes o suficiente para não serem mais consideradas hipotéticas, mas sim uma realidade que se avizinhava.

É interessante observar que as propostas de reformas apresentadas no manifesto supracitado configuram a FPN na perspectiva do ―nacionalismo reformista‖, o qual se diferenciava do ―nacionalismo dirigido‖ da época de Vargas pelo fato de ter se vinculado a uma organização mais autônoma dos movimentos sociais, a qual via no nacionalismo uma saída para a emancipação do país, no qual:

As palavras nacionalismo, modernização distributiva e reformas sociais adquiriram dimensão de macroprojeto político, que pressupunha a influência da população brasileira, em seu sentido mais amplo, nas opções econômicas a serem adotadas como políticas públicas. (DELGADO, 2007, p. 364)

O mais rico nestas propostas da FPN é o fato delas virem das bases, não se originando apenas da caneta de meia dúzia de intelectuais. Como analisa Delgado (2007, p.365), a fundação da Frente foi precedida por uma ampla mobilização dos seguintes grupos: intelectuais da Cepal e do ISEB, militantes da UNE, dos movimentos camponeses e sindicais e, políticos e cidadão filiados ao PTB e ao PCB.

Foi nesta perspectiva de articulação com os movimentos sociais que Josué de Castro teve o livro Três personagens, publicado pela editora Casa do Estudante, braço da UNE no campo editorial. E ainda que, na sessão de 30 de julho de 1957, Castro se pronunciou congratulando os estudantes por ocasião de seu vigésimo Congresso Nacional, registro esse realizado com o claro objetivo de consolidar a unidade das forças populares em torno do projeto nacional reformista. Nesta oportunidade afirmou que ―o Brasil pode ter esperança em sua juventude‖, pois a mesma se organiza com seriedade em seus propósitos: ―buscam a salvação para o país por meio da defesa integral de nosso patrimônio, da defesa nacionalista da nossa riqueza material, da nossa riqueza humana, da nossa riqueza cultural." (CASTRO, 30 jul. 1957)

É importante observar que este movimento de aproximação culminou com a formação, alguns anos depois, da Frente de Mobilização Popular (FMP), uma das experiências mais ricas da história política das esquerdas no Brasil, só comparável à Aliança Nacional Libertadora como esforço de união de diversas origens doutrinárias47:

A aliança sindical entre comunistas e trabalhistas teve participação importante na conformação da Frente de Mobilização Popular [fundada em 1963], agregando-se aos grupos orientados pelas posições nacionalistas de esquerda, reunindo, por exemplo, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e deputados da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN). (SANTANA, 2007, p. 264)

47

A Frente de Mobilização Popular, segundo Santana (2007, p. 264), ―reuniu marxistas de extração stalinista ou trotskista; as esquerdas cristãs e socialistas; a esquerda do PTB; integrantes da Frente Parlamentar Nacionalista; organizações de trabalhadores urbanos, camponeses, estudantes e subalternos das Forças Armadas; lideranças como Leonel Brizola e Miguel Arraes‖.

Em 12 de dezembro de 1957, Josué de Castro teceu sua análise sobre como a economia brasileira deveria se expandir, acusando-a de estar em desacordo com os princípios vigentes na economia mundial. Na verdade, o grande tema de seu discurso em plenário era o planejamento econômico e suas vantagens administrativas.

Segundo ele, o mundo se esforçava para planejar a economia universal de forma positiva e realista, "através de tratados bilaterais, através da formação de blocos econômicos regionais, tentando o que se chama de mercados comuns, pela complementação dos interesses econômicos de vários países" (CASTRO, 12 dez. 1957), mesmo aqueles países que têm divergências ideológicas.

Deste modo, era incompreensível que a expansão econômica brasileira não ocorresse de forma planejada, disciplinada, "de forma que sejam defendidos os interêsses das diferentes regiões do país, restabelecendo o equilíbrio econômico nacional, em benefício da coletividade brasileira". (CASTRO, 12 dez. 1957)

Esta economia de ―blocos regionais‖ serviria para guiar tanto para a política externa quanto a interna, devendo evitar o que se dava na economia brasileira, a qual ―cresce de modo empirista e improvisado, gerando um verdadeiro conflito de interêsses regionais‖. Em sua análise, afirmou: "Só concebo o regional como uma expressão singular do nacional‖, o qual sem planejamento "se exterioriza pela agressão dos mercados por parte das regiões produtoras". (CASTRO, 12 dez. 1957)

Um exemplo desta agressão encontra-se no caso da economia açucareira, ―cujo falso dirigismo não vem favorecendo o interêsse da coletividade‖. Apesar disto, Castro fez questão de frisar que sua crítica não implicava num desacordo com a política econômica do presidente da república, mas se apresentava contrária à atuação do Instituto do Açúcar e do Álcool. Reafirmou não estar defendendo os interesses dos usineiros, mas "das populações que vivem da economia do açúcar, que são das mais miseráveis do Brasil e que ficarão ainda mais miseráveis". (CASTRO, 12 dez. 1957)

Assim, sugere uma revisão dos planos de distribuição das quotas estabelecida pelo Instituto do Açúcar, um estudo para elaborar política de excedente e a promoção do escoamento da produção para os países socialistas, por meio de convênio com estes países e do restabelecimento das relações comerciais com outras nações. Deve-se também padronizar nacionalmente o percentual da mistura do álcool com a gasolina e realizar estudos para o aproveitamento do álcool como

matéria prima para a fabricação de borracha sintética, cujo parque industrial seria instalado no Nordeste, utilizar o bagaço da cana na indústria de celulose e equipar a agricultura do Nordeste para lhe aumentar a produtividade.

"É lamentável constatar que infelizmente a maior parte dos planos de economia nacional, se bem que concebidos com a maior dose de boa vontade, sofrem uma certa miopia que não lhes permite apreender o sentido da economia internacional, as suas diretrizes e a sua conjuntura vigente". (CASTRO, 12 dez. 1957) Isto faz com que os ciclos da economia brasileira se esvaiam antes de trazer os benefícios e os proventos que poderiam. Assim, sua concepção visa aproveitar estrategicamente o cume dos ciclos econômicos para alavancar a economia nacional, afirmando que se houvesse na fase de prosperidade dos ciclos:

a previdência de conceber planos de continuação e de expansão dêstes ciclos, ou retirar dos proveitos as poupanças necessárias para conceber novos ciclos que fizessem expandir cada vez mais a nossa economia. Infelizmente o que vemos na História da Economia do Brasil é a sucessiva periódica dos ciclos de prosperidade com as crises graves que provocam a destruição dos possíveis benefícios daquela fase de prosperidade. (CASTRO, 12 dez. 1957)

―Foi isso que aconteceu com o ciclo da borracha e é isso que vai acontecer com a indústria açucareira do Brasil‖, declarou Castro. Para ele o problema está no aumento da concorrência no mercado externo e nas limitações do mercado interno para absorver a produção nacional. Com isto, o Instituto do Açúcar e do Álcool estabeleceu uma política de cotas para evitar a superprodução, mas o problema é que esta foi elaborada de tal forma que "que deslocou a prioridade da produção do açúcar do Nordeste para a região Sul‖ (CASTRO, 12 dez. 1957), afetando em cheio a economia do Estado de Pernambuco.

Pela segunda vez Castro tratou, em Plenário, dos interesses do Estado de Pernambuco (a primeira foi ao defender a indenização por Fernando de Noronha), o qual de primeiro produtor nacional passou para segundo, atrás de São Paulo. Castro não percebia este conflito como um "antagonismo de interesse" entre os estados do Norte e do Sul, mas entre grupos de pressão do Sul que deformam o interesse nacional expresso pelo Estado.

O deputado Nestor Duarte observou que havia um ―ressentimento de pernambucano‖ no discurso de Castro, o qual afirmou que sua revolta não era de

fundo sentimental, mas técnico, pois caberia ao poder público, ao invés de estimular

a concorrência entre as regiões, harmonizar os interesses regionais, atendendo os

aspectos locais e integrando-os no conjunto da realidade nacional. Fez então um apelo "para que se estruture uma política açucareira que contigencie melhor o econômico e o social". E concluiu: ―Sempre me pronunciei contra qualquer política de protecionismo sentimentalista à região do Nordeste". (CASTRO, 12 dez. 1957)

Essa demanda de Castro por planejamento regional antecipava-se à criação da SUDENE e refletia, em grande medida, o início do debate da questão regional do Brasil, que se colocou com intensidade na década de 1950, expresso pela "necessidade de se corrigirem os desequilíbrios regionais", com especial ênfase no atraso do Nordeste frente ao Sudeste (VESENTINI, 1986, p. 116)

A distinção básica entre a orientação de Castro e a do governo Juscelino estava na forma de conceber a ―ação coordenadora do planejamento público‖, para criar infra-estrutura, pois o governo JK se baseou nos investimentos privados no Nordeste, numa ação ―claramente pensada para a aceleração da acumulação, e nunca para melhorar os padrões salariais dos trabalhadores‖. (VESENTINI, 1986, p. 132) Enquanto Castro desejava uma ação coordenada governo/investidores privados com fins de descentralizar a riqueza nacional.

Desse modo, erapatente o objetivo governamental de promover uma rápida aceleração na acumulação do capital, o que significava ampliar o consumo de Bens de Capital (bens intermediários e insumos básicos), em detrimento dos Bens de Consumo não Duráveis (roupas, alimentos, remédios etc.). Assim, sua lógica se fundava em transferir os trabalhos da produção de bens de consumo para a produção de bens de produção. Em contrapartida, numa visão sistêmica e humanizada, Castro não concebia que a produção de bens de capital pudesse se desenvolver no Brasil com a continuidade de sua estrutura econômica desequilibrada e com o povo faminto. Logo, nada de tirar de um para o outro, mas de reforçar o primeiro para ampliar, de modo sustentável, o segundo.

Sintomaticamente Josué de Castro iniciou o ano de 1958 se pronunciando em nome da Frente Parlamentar Nacionalista, da qual havia se tornado segundo vice- presidente. Nesta oportunidade, iniciou sua fala de modo categórico:

Sr. Presidente, cada vez mais se acentua a necessidade de que o desenvolvimento econômico-social do Brasil se processe de maneira

harmônica e equilibrada. [...] precisamos preocupar-nos com o desenvolvimento do País, a fim de evitar os graves desequilíbrios econômicos que ora verificamos e que constituem talvez as raízes da crise tanto social, como política que ameaça o regime e a democracia".(CASTRO, 21 maio 1958)

Em seguida, desenvolveu o assunto o qual se inscreveu para falar: apontou a exploração do petróleo como a "pedra de toque da emancipação econômica, social e política do nosso povo" e congratulou-se com o governo federal pela nomeação do Coronel Alexinio Bittencourt48 para presidente do Conselho Nacional do Petróleo, percebendo este fato como positivo para aqueles que aspiram um desenvolvimento real do Brasil, explicando: "que se processe êsse desenvolvimento de tal forma que decorram benefícios para todos os brasileiros, e não apenas por uma pequena classe privilegiada". (CASTRO, 21 maio 1958) O nome de Bittencourt era polêmico entre os nacionalistas radicais, visto que havia defendido (em 29 de março de 1958, por ocasião da assinatura das chamadas Notas Reversais, quando era presidente do Conselho Nacional do Petróleo) que empresas privadas pudessem, em parceria com a Petrobrás, explorar o gás boliviano.

No seu segundo pronunciamento de 1958, Castro insistiu na temática da crise sócio-econômica do Brasil, iniciando sua intervenção do seguinte modo:

Sr. Presidente, nesta hora difícil que o País atravessa como reflexo da crise econômica que tem repercussões imprevistas no campo social, julgo oportuno e necessário que todos aquêles que têm parcela de responsabilidade na vida pública estejam atentos para evitar a formação de focos de agitação social que incrementam a dissenção social reinante ou venha a criar a possibilidade de aumento da tensão social reinante... (CASTRO, 07 nov. 1958)

Em seguida detalhou a razão de sua fala: veio fazer um apelo às autoridades competentes para que atendam as solicitações dos estudantes da Faculdade de Engenharia de Pernambuco, os quais estavam em greve para melhoria do nível do ensino, solicitando aulas práticas e a reestruturação da grade curricular. Como nem

48 Em 29 de março de 1958, foram assinadas as chamadas Notas Reversais, que atualizaram o Tratado de Roboré (de 1938), o qual autorizava o Brasil a explorar o petróleo boliviano. Alguns meses

depois, em novembro de 1958, o coronel Alexinio Bittencourt denunciou a gestão de Roberto Campos à frente do BNDE, acusando-o de pressionar as empresas brasileiras, interessadas em explorar o petróleo boliviano, a receberem financiamento da Pan-American Land Oil & Royalty Co., promovendo a desnacionalização desta atividade. Após sua iniciativa, foi instaurada uma CPI para verificar o caso, a qual confirmou suas suspeitas e forçou Roberto Campos a se demitir do cargo.

a direção da escola, nem a reitoria os atendeu no justo pleito, Castro "como pernambucano, conhecedor dos problemas da Universidade" veio tornar público esta situação, a qual, de tão grave, já conseguiu a adesão de outras escolas como a Faculdade de Direito, a Escola de Química e a de Ciências Médicas. Esta mobilização contou também com o apoio da UNE, que estava organizando uma greve geral dos estudantes, em protesto contra a indiferença com que os colegas da Faculdade de Engenharia de Pernambuco foram tratados.

Por fim, advertiu para o perigo da subversão que o descaso do poder público pode causar: "Aí está para o país o perigo que os estudantes se levantem para moralizar a situação". (CASTRO, 07 nov. 1958), indicando que sua intenção era:

O meu objetivo não é outro senão o de assegurar a tranqüilidade interna do Brasil, através do respeito real às autoridades. Mas as autoridades que cumpram com o seu dever, senão haverá a