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O nascimento…do nosso desígnio com a História e a Arte

Capítulo 1 – O Massacre…do Enquadramento Teórico

1.1.4. O nascimento…do nosso desígnio com a História e a Arte

A história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro.

Miguel de Cervantes

objetivo de qualquer uma das áreas de ensino é formar indivíduos críticos, reflexivos, capazes de encarar a sociedade, de a questionar, assim como a si próprio, testando e desafiando os seus limites e as suas capacidades. A escola deve estimular o aluno, incitá-lo a ir mais longe, a não se conformar e acomodar, despertar as suas habilidades e competências, ou até mesmo desenvolver novas, mesmo que isso, por vezes, os coloque em posições menos confortáveis. É preciso experimentar. Por vezes, deixar a teoria, que não deixa de ser importante e indispensável, e mergulhar na prática. O aluno só será capaz de o fazer se a escola lhe proporcionar isso, se o professor estiver disposto a tal.

A História acaba por ter uma função crucial na formação do cidadão. Revela um passado que está estritamente ligado ao presente, e que poderá mudar o futuro.

Possibilita um melhor entendimento do mundo. Como afirma Confúcio, Se queres prever

o futuro, estuda o passado. Apesar disso, infelizmente, o potencial da História parece não

ser reconhecido. É, por vezes, considerada como algo descartável, que pode, inclusive, ocupar um lugar secundário nos currículos obrigatórios, o que fica visível quando a disciplina vê a sua carga horária reduzida, como aconteceu recentemente. Disciplinas como o Português e a Matemática, consideradas estruturantes, ganham mais espaço e são valorizadas, enquanto a História vê, constantemente, a sua relevância ser menorizada. Não esqueçamos que a História pode contribuir para que o aluno desenvolva diversas competências, nomeadamente, as que se encontram no Perfil dos Alunos à Saída da

Escolaridade Obrigatória. Assumindo tamanha importância, apesar de nem sempre

reconhecida, é essencial levar os alunos a reconhecer o seu valor, a sua importância e a sua utilidade. Numa altura em que a sociedade aparenta desvalorizá-la, é preciso fazer com que eles gostem de História. Consideramos que o docente assume um papel primordial nesta questão, uma vez que é ele quem escolhe de que forma conta e fala sobre História. A escolha dos métodos que implementa na sala de aula está nas suas mãos e,

7 Inspirado na pintura “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli, de 1485-86. Óleo sobre tela, 172 x 278 cm. Localizada no Galleria degli Uffizis, Itália.

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como tal, convém que essa seleção contribua para cativar o aluno. Além disso, é urgente distanciamo-nos do processo de memorização e reprodução dos saberes transmitidos.

Felizmente, a História é uma disciplina que permite uma multiplicidade de abordagens no processo de ensino/aprendizagem. São muitos os recursos que podem ser trabalhados e são muitas as áreas que podem ser envolvidas, proporcionando uma aquisição de conhecimentos mais colorida, diversificada e envolvente. Para nós, em particular, a Arte e a Imagem, intimamente ligadas uma à outra, podem constituir

propostas aliciantes e frutíferas. Com efeito, como fruto dessas duas propostas, e tendo em conta todo o contexto envolvente do presente estudo, surgiu o nosso desígnio – a nossa missão – que nos levou até uma expressão artística em específico: a Pintura. Assim sendo, numa união entre as potencialidades, que nós acreditamos e consideramos, que a Arte e a Imagem dispõem, surgiu a nossa vontade de abordar a História com e através de obras de arte pictóricas, proporcionando aos alunos diferentes experiências. Colocar o aluno num

mundo em que a Artee aHistóriacaminham de mãos dadas.

Na verdade, a História, como já referimos, é uma disciplina que permite esta pluralidade. Afinal, a Arte está inserida nos programas de História, tanto no ensino básico, como no secundário. Deste modo, o ensino de História passa pelo ensino da História da Cultura e da Arte. Se são realizadas abordagens superficiais, ou seja, se a Arte não é lecionada com a mesma importância que qualquer conteúdo político ou económico, isso é responsabilidade do professor. É evidente que o nível e ano de escolaridade dos discentes também deve refletir-se no tipo de abordagem. Contudo, não é desculpa para que não haja um tratamento sério e significativo. Até porque o estudo da Arte permite uma multiplicidade de abordagens e experiências na sala de aula.

O que encontramos, atualmente, nos documentos oficiais, nomeadamente nas

Metas Curriculares, é uma abordagem que coloca o estudo da Arte no final de cada capítulo ou tema. Portanto, primeiro estuda-se o contexto político, social e económico

de determinada época, e depois chega a parte da Cultura e da Arte. Por exemplo, principia-se com uma abordagem ao Antigo Regime a nível político, económico e social, e só depois se avança para o estudo do Barroco. Deste modo, o aluno começa a estudar determinado movimento artístico, quando, à partida, já compreendeu a sociedade que o viu nascer. Essa sequência facilita a compreensão dos conteúdos e valoriza a produção artística enquanto parte de um contexto, que se revela importante conhecer. Posto isto,

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podemos afirmar que a Arte, quando olhamos para os documentos oficiais, é incluída nos programas de História. Disso não restam dúvidas. O que pretendemos fazer com este estudo é recorrer à obra de arte, neste caso a Pintura, para proporcionar diferentes experiências ao aluno. Objetiva-se, por exemplo, recorrer à Pintura não só para momentos em que se estuda determinado movimento artístico, mas também como fonte no estudo de conteúdos de cariz político, económico ou social. Uma Pintura, quando bem observada e analisada, pode contar muitas estórias e permitir o acesso a uma rede de pormenores ricos. Ela tem uma vida que deve ser explorada.

Refletir sobre imagens, obras de arte, objetos artísticos, é colocar à disposição dos estudantes um corpo de conhecimentos que lhes permite abrir os referenciais artísticos, desenvolvendo-lhes a autonomia e o sentido crítico. O sentido crítico assenta no olhar que permite ver para além do óbvio, é aquele que busca o desejo de ver mais do que lhe é dado a ver, é o que busca sentido e reflexão incluindo a atenção e a sensibilidade. O olhar crítico desconfia, reelabora, reconfigura.

Mónica Oliveira (2017, p. 21)

Acreditamos, tal como Mónica Oliveira (2017), no potencial da obra de arte, neste caso em forma de imagem pictórica, para permitir ao aluno aceder a um poço de conhecimento e desenvolver a sua autonomia e o seu espírito crítico, que o levará, por sua vez, a ver mais além, e a questionar aquilo que lhe é dado à partida. Todavia, consideramos que ela é capaz de muito mais, nomeadamente enquanto fonte histórica. A nossa metodologia foi construída nesse sentido. Assim, pretendemos contribuir, ainda que de modo bastante simbólico, para um maior enraizamento da Arte na Educação, neste caso recorrendo à Pintura, para transmitir conhecimentos em História e para colocar o

aluno em contacto com a obra de arte, concorrendo para desenvolver uma imensidade

de competências e habilidades que acreditamos serem possíveis incrementar. Bem sabemos que é uma gota no oceano, mas não deixa de ser um contributo.

Revelado o nosso desígnio, e uma vez que já falamos de Arte e da sua inclusão no sistema educativo português, importa agora abordar os dois eixos fundamentais que faltam: a Imagem, no ensino da História em particular, e a arte da Pintura – a protagonista do estudo.

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O encontro da Imagem com o ensino da História 8

Isn't she lovely?

Isn't she wonderful?

Isn't she precious?

Isn't She Lovely, de Stevie Wonder

uma disciplina como a História, com uma função social tão forte, que revela a memória de um passado aliado ao presente, e até mesmo indicador do que não deve ser o futuro, as barreiras do sistema educativo são ultrapassadas. Afinal, o seu ensino constitui-se como um alicerce para um melhor entendimento do mundo. Nesse sentido, as abordagens dos seus conteúdos devem promover no aluno o desenvolvimento do seu espírito crítico, e de um olhar reflexivo e atento sobre o passado e o presente. As possibilidades são muitas, mas umas assumem-se mais eficientes e aliciantes do que outras. Para nós, a Imagem, pelas qualidades infinitas com que se apresenta, assume o papel principal.

Basta um olhar atento ao redor para reconhecer a ação das imagens. Elas passeiam – plebeias, mas altivas – por todas as cidades. As imagens simulam situações possíveis que são úteis para as realizações científicas. A nossa identidade depende do retrato na carteira que afinal nos certifica, autoriza e constrói. Além de muito mais. Eduardo Neiva (1993, p. 11)

Já alguma vez parou para pensar no poder e na importância que uma imagem tem? No mundo… na nossa vida… Consegue enumerar todas as suas qualidades? Para nós

daria uma lista infinita! Última pergunta: Sabe ler uma imagem? Não, esta não é uma

pergunta sem lógica… Faz todo o sentido. Neste subcapítulo, vai poder observar o percurso da Imagem na Historiografia, assim como o seu papel enquanto recurso pedagógico no ensino da História em particular. Não deixaremos de fazer um balanço sobre a multiplicidade de recursos que, hoje, se podem apresentar numa aula de História. No final desta leitura, irá perceber que a História como disciplina tem um encontro

marcado com as fontes visuais (Knauss, 2008, p. 151). Além disso, vai compreender os

motivos de termos colocado este leque de questões.

8 Inspirado na pintura “O encontro” de Gustave Courbet, de 1854. Óleo sobre tela, 132 × 150 cm. Localizada no Museu Fabre em Montpellier, França.

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