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3 LEIS FEDERAIS BRASILEIRAS E PROJETOS DE LEI

3.2 O novo Código de Processo Civil (Lei Federal 13.105 de 2015)

Pelo novo Código de Processo Civil (CPC) a mediação e a conciliação devem ser estimuladas em todos os momentos do processo (art. 3, §3º da Lei Federal 13.105). Como vimos, por meio dessas soluções alternativas de controvérsias, pode-se chegar a uma transação caso ambas as partes façam concessões de parte de seus direitos.

O artigo 165 do Novo Código de Processo Civil diz que os tribunais criarão centros judiciários de solução de conflitos. Ademais, o artigo 167 menciona a possibilidade de as partes escolherem câmaras privadas de conciliação que deverão ser inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional.

Outra novidade do novo CPC de 2015, no artigo 174, é a de que União, Estados, Municípios e Distrito Federal criarão Câmaras de Conciliação e Mediação. No âmbito da União, inclusive, já há a Câmara de Conciliação e Arbitragem da Advocacia-Geral da União (CCAF) desde 2007, mencionada no item anterior. O objetivo da CCAF, na época de sua

criação, era justamente reduzir os litígios judiciais que envolviam os órgãos e entidades da Administração Pública Federal.

Segundo o que agora há no novo Código de Processo Civil de 2015 em seu artigo 319, VII, diferentemente do que havia no Código de Processo Civil de 1973, acrescentou-se como pedido a necessidade de o autor da ação fazer a opção pela realização ou não da audiência de conciliação e mediação.

Art. 319. A petição inicial indicará:

VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

As ações próprias do Direito Tributário são a Ação Declaratória, a Ação Anulatória, a Ação de Repetição do Indébito, a Ação de Consignação em Pagamento e a Ação de Embargos do Executado, além do Mandado de Segurança. Por sua vez, as ações de iniciativa do fisco são basicamente a Execução Fiscal e a Cautelar Fiscal. O Projeto de Lei 5.082 de 2009, entretanto, em seu art. 31, §5º, não permite a transação em processo judicial envolvendo ações mandamentais (Mandado de Segurança) ou em ações cautelares (tutela de urgência antecedente ou Ação Cautelar Fiscal).

Preenchido os requisitos essenciais e não sendo o caso de improcedência liminar do pedido (houver enunciado de súmula, ou acórdão em julgamento de casos repetitivos ou entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência contrário à pretensão do autor, ou decadência ou prescrição verificada desde logo pelo juiz – artigo 332 do Código de Processo Civil de 2015), o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação.

Pode-se suscitar o questionamento se essa audiência se realizará também nas lides tributárias. Considerando que o artigo 174 do próprio Código de Processo Civil de 2015 determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem criar câmaras de mediação e conciliação para a solução consensual de controvérsias na esfera administrativa (art. 174) e que, na mesma linha, como será visto mais adiante, a Lei de Mediação (Lei Federal 13.140 de 2016), que entrou em vigor um pouco antes do Código de Processo Civil de 2015, é aplicável também quanto às causas que envolverem a Administração Pública. Percebe-se que essa ideia nova pode vir a surtir efeitos no Direito Tributário sim, porquanto, nesses diplomas legislativos, não houve regra no sentido de se excepcionar a aplicação às causas do Direito Tributário. O que há no Código de Processo Civil e que pode levar uma parte dos magistrados a rejeitar a transação tributária é o §4º, II, do artigo 334, pois o

entendimento prevalecente é o de que o tributo é indisponível em qualquer situação, logo não admitiria autocomposição.

§ 4o A audiência não será realizada:

II - quando não se admitir a autocomposição.

Mas se houver lei específica do ente respectivo responsável pela instituição ou majoração do tributo, ou seja, que tenha a competência tributária respectiva do tributo em litígio permitindo a transação, não haverá motivos para que o juiz se negue a realizar a audiência de mediação e conciliação, contanto que o sujeito passivo desde o ajuizamento da petição inicial indique essa lei ou então, mesmo sem o pedido dele, na contestação a Fazenda alegue tal lei. Quando for o réu, poderá apresentar petição com 10 (dez) dias de antecedência contados da data da audiência, pelo artigo 334, § 5º do CPC, e, quando houver litisconsórcio, o desinteresse na realização deve ser manifestado por todos os litisconsortes pelo artigo 334, § 6º do CPC. Logo, a menos que ambas as partes tenham feito pedidos se negando a realizar a composição consensual, a audiência preliminar de mediação e conciliação não deverá acontecer.

Como forma de punir aquele que não comparecer a essa audiência prévia, ainda, o CPC/2015 impõe uma multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado (artigo 334, §8º do CPC). Esse artigo não deveria ser interpretado apenas quando houvesse litígio entre particulares, pois se o próprio Estado ou a União não comparecerem à audiência, pelos seus respectivos procuradores, estar-se-ia a criar situação desvantajosa apenas ao particular, que nunca receberia os valores se os procuradores faltassem.

Entretanto, como forma de se estimular as fórmulas alternativas de resolução de controvérsias, caso haja justa causa para o não comparecimento, deve tal fato ser esclarecido ao Juízo, até como forma de posteriormente vir a ser realizada outra audiência de conciliação e mediação a resolver o litígio. Caso a Jurisprudência entenda que é aplicável a multa a favor apenas dos Estados e da União, quando elas forem partes, haverá mais um benefício aplicado apenas à Fazenda Pública, além dos casos de não aplicação de revelia ou de prazo em dobro para contestar ou recorrer.

Obtida a transação pela autocomposição será reduzida a termo e homologada por sentença pelo artigo 334, §11º, do Código de Processo Civil. Ou seja, terá a eficácia de sentença, podendo haver apelação caso uma das partes entenda que por algum motivo os termos do acordo estão em descompasso com o que foi estabelecido na audiência. Caso

transite em julgado, valerá como título executivo extrajudicial.

Mais recentemente, o próprio STJ, como forma de se adaptar ao Novo Código de Processo Civil de 2015, noticiou, no dia 14/10/2016, que houve alteração um dia antes no seu Regimento Interno com o objetivo de prestigiar a mediação e dar celeridade aos processos, através de duas emendas (23 e 24), sendo a emenda 23 relacionada ao processamento e julgamento dos recursos repetitivos e a emenda 24 instituidora da criação do Centro de Soluções Consensuais de Conflitos para estimular a redução de litígios.

O texto aprovado diz que o ministro relator pode encaminhar de ofício um processo para o centro de mediação. Caso uma das partes não queira participar da mediação, basta se manifestar por petição. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA)

O STJ vem há anos aplicando a súmula 7 quando não pode analisar o contexto probatório em sede de recurso especial. Neste caso, ao invés de não julgar o processo, o relator poderia, caso entendesse cabível a transação, realizar a autocomposição nesse Centro de Soluções Consensuais. Mas, obviamente, isso deveria apenas ser realizado quando houvesse no caso concreto os requisitos para a transação: lei autorizadora, concessões recíprocas, autoridade competente, com o objetivo de terminar o litígio e evitar uma execução fiscal.