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5. O PAPEL DA PSICOLOGIA SOCIAL E DA PSICOLOGIA

5.6 O papel do psicólogo à luz da Psicologia Comunitária cearense

Temos visto, portanto, que a ação de psicólogos no trabalho com as comunidades tem uma história que já dura décadas. Embora caminhando sem tanta visibilidade, ou pelo menos de forma não institucionalizada, não podemos esquecer nem menosprezar os trabalhos desenvolvidos por estudantes, professores e profissionais vinculados ao Núcleo de Psicologia Comunitária – NUCOM15, ou que dele fizeram

15 O Núcleo de Psicologia Co munitária (NUCOM) foi constituído oficialmente no Departamento de Psicologia da UFC em 1992, sob a coordenação do Prof. Cezar Wagner e da aluna Ana Luisa Teixeira Menezes; no entanto, seu nascimento foi bem anterior, em 1983, com a instalação do Projeto de Extensão “Atendimento Psicossocial dos Moradores do Bairro Nossa Senhora das Graças do Pirambu”. A mudança de projeto para núcleo teve por objetivo amp liar a atuação da Psicologia Co munitária, assegurando o tripé Ensino-Pesquisa-Extensão, o que caracteriza u m núcleo universitário. Sua missão é contribuir para o

desenvolvimento do sujeito comunitário e da Psicologia Comunitária na perspectiva de uma sociedade democrática e de cidadãos conscientes e amorosos e os objetivos, definidos já na sua

fundação, são:

- integrar o Curso de Psicologia às comunidades e instituições que atuam na área, mantendo uma relação de diálogo, trabalho e convivência, necessários ao desenvolvimento da co munidade, da instituição e da própria Universidade.

- Desenvolver conceitos, métodos e instrumentos em Psicologia Co munitária, visando à ampliação do ensino, da pesquisa e da extensão no Curso de Psicologia.

- Contribuir para a experiência profissional do estudante e Psicologia na área social e de comunida des. (XIMENES et al, 2004)

parte, na feitura de uma práxis de Psicologia Comunitária em tantos municípios e comunidades do Estado do Ceará.

Em pesquisa, Barros (2007) sistematiza três dimensões diferentes, porém indissociáveis, que compõem a atuação do profissional de Psicologia Comunitária, da perspectiva da Psicologia Comunitária cearense:

1. Dimensão Teórica: Esta permite que o(a) profissional possa tecer uma leitura da realidade, de modo a entender seus atores e as dinâmicas comunitárias onde estes se movimentam. Tal dimensão fundamenta a compreensão da relação entre os fenô menos e os processos ao mesmo tempo sociais e psicológicos que são pertencentes à tessitura em que estão as pessoas e os grupos com os quais o(a) psicólogo(a) trabalha, a fim de contribuir para a amp liação das positividades e para construção de possíveis soluções para as problemáticas ali existentes. Para isso, opta pela utilização de conceitos e categorias que funcionam como uma lente que traz consigo uma v isão de ser humano, de psicologia, de sociedade e da relação entre esses três aspectos;

2. Dimensão Ético-política: Juntamente co m a questão teórica, a dimensão ético-política guia e regula a atuação do(a) psicólogo(a), pois auxilia, determinantemente, a defin ição de ideais a seguir, de processos a construir e de princíp ios-chave a serem assumidos. Ela assinala, assim, as potencialidades, os limites, as intencionalidades e as implicações da atuação, bem co mo assessora a demarcação de objetivos e metas. Esta dimensão traduz-se nas posturas, nas relações e nas ações do(a) profissional de psicologia, bem co mo na forma co mo este vê as pessoas a quem seu trabalho visa a abranger. São os aspectos ético-políticos que ajudam o(a) profissional a determinar: quando e junto a quem atuar; que valores promover e que representações despotencializar; o grau de imp licação ou distanciamento do(a) profissional em relação a alguns grupos - na direção do compro misso ou do enfrentamento, por exemplo; o tipo de relação que o(a) psicólogo(a), no desempenho de suas funções, estabelece com os grupos e as pessoas da comunidade, na direção da subordinação, do autoritarismo ou da colaboração, a título de ilustração. Portanto, os aspectos valorativos correspondentes a esta dimensão dizem respeito ao “porque e junto a quem determinadas ações serão realizadas”.

3. Dimensão Metodológica: Nesta, tem-se um conjunto de técnicas e instrumentos que é utilizado a fim produzir determinados efeitos. Desta feita, seu alicerce está no “como” exp licitar princípios, operacionalizar idéias, e através disso, permitir a construção de novas concepções junto com a comunidade. A dimensão metodológica se faz necessária na medida em que ajuda a resolver problemas, a transformar aspirações em realizações e a conectar aspirações e ações. Além das questões técnicas, a dimensão metodológica engloba também aspectos estratégicos, posto que, no afã de viabilizar determinada solução que foi proposta a um problema, co mpreende questões tais como: inserção no modo de vida co munitário, acesso, sensibilização e mobilização das pessoas e dos grupos ali existentes, formas de abordar determinados temas, disponibilidade de recursos materiais e organização das pessoas para realizar determinada ação; (P. 21 e 22 ).

Portanto, para a Psicologia Comunitária cearense o psicólogo é um facilitador de processos dialógicos, pela a criação e ampliação de espaços que promovem as potencialidades e habilidades pessoais e comunitárias.

Ainda segundo a proposta defendida há pouco, é necessário uma compreensão teórica que dê conta da realidade e do contexto no qual os sujeitos estão inseridos, do qual também são agentes e no qual podem atuar e operar mudanças. Nesta abordagem teórica, não há espaço para uma visão “psicologizante”, que considera os aspectos subjetivos como entidades próprias de um sujeito isolado do social. A teoria assume a função de dar conta das relações entre fenômenos e processos que são ao mesmo tempo sociais e psicológicos, e que possibilitem que o trabalho do psicólogo contribua para a ampliação dos aspectos positivos e a formação de possíveis soluções para os problemas diversos.

A atuação deste profissional também abarca uma dimensão ético-política, comprometida com propósitos libertadores e emancipatórios, a qual é refletida nas atitudes, relações e ações dos profissionais de Psicologia e na visão que estes têm das pessoas a quem seu trabalho se destina, os quais as consideram como interlocutores cognoscentes e capazes de pronunciar e transformar o mundo que os mediatiza (FREIRE, 1987).

A terceira dimensão defendida por Barros (2007) aponta para a necessidade de o psicólogo comunitário ter uma metodologia clara, que esteja em consonância com as dimensões teórica e ético-política, e que dê corpo a estas, transformando aspirações em ações. Este profissional pode, portanto, lançar mão tanto de aspectos estratégicos como de técnicas e instrumentos desenvolvidos a partir das outras duas dimensões, o que possibilitará efetivamente a obtenção de seus objetivos.