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2. O PERCURSO METODOLÓGICO

4.2 O Papel do Sistema Conselhos no debate da Psicologia e políticas

O Sistema Conselhos foi criado em 20.12.1971 pela Lei no. 5. 766, no governo do presidente Médici:

Art. 1º - Ficam criados o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia, dotados de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, constituindo, em seu conjunto, uma autarquia destinada a orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo e zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe. (CFP,1999, p. 39).

A Ata de eleição do primeiro Conselho Federal de Psicologia (CFP), entretanto, data de 20 de dezembro de 1973, dois anos depois da lei de sua criação. Neste período, seu papel era basicamente fiscalizador e era usado como instrumento de controle numa relação clientelista com o governo ditatorial da época (CFP, 2004).

Foi a partir do IV Plenário do CFP, empossado em 1982 que a relação subserviente com o Estado começou a ser rompida e um novo discurso começou a vir à tona – o discurso da democracia, da participação e de preocupações sociais.

Duas novas preocupações apareceram em 1983: o CFP começou a desenvolver uma atuação política junto aos órgãos que direta ou indiretamente se relacionavam co m o espaço da Psicologia, buscando obter condições favoráveis à categoria e ao atendimento da população; e iniciou debates sobre como seria um CFP que não mais decidisse de cima para baixo, mas que trabalhasse muito mais como catalizador das decisões que fossem tomadas de baixo para cima, e o tom anti-presidencialista do Novo Regimento Interno e a unanimidade no entendimento de que todos os presentes às Assembléias pudessem fazer sugestões, ambos em fins de 1982, bem exemp lificam esta questão. (CFP, 2004, p. 6).

Com a redemocratização do País após o regime militar, inicia-se um processo democrático de consulta à categoria para definição de direcionamentos para a profissão. Assim, em 1994 foi realizado o primeiro Congresso Nacional da Psicologia, intitulado “Processo Constituinte: Repensando a Psicologia”.

Desde então, o Sistema Conselho regularizou a realização de congressos nacionais da Psicologia, de forma periódica, com o objetivo de ampliar o debate sobre diversas questões da prática psicológica e ainda delinear o plano de ação para sua própria gestão administrativa (CFP, 2004).

Em 1996, acontece o segundo Congresso Nacional da Psicologia, com o título “O Psicólogo Vai Mostrar Sua Cara”, cujo principal objetivo foi avaliar a legislação

sobre a regulamentação da profissão, reafirmando a necessidade de participação dos psicólogos na defesa de uma formação de boa qualidade, de uma prática profissional sintonizada com as questões éticas e sociais e de uma entidade nacional representativa dos anseios dos psicólogos (CFP, 1996).

O resgate histórico sobre a Psicologia realizado no II CNP encaminhou a temática do III Congresso Nacional da Psicologia – “Psicologia e Interfaces: Políticas

Públicas e Globalização”, realizado no ano de 1998, em Florianópolis, apontando para

a necessidade de se refletir sobre como, onde e para que caminha a inserção do psicólogo nos serviços públicos (CFP, 1998). Nesse encontro, foi proposto um item, “Políticas Públicas”, com base no qual foi estabelecido que caberia aos conselhos profissionais desencadear campanha nacional em defesa dos serviços da saúde mental públicos de qualidade, incluindo todas as áreas da Psicologia, sob uma concepção mais ampla de saúde mental, e promover atividades no contexto nacional no dia 10 de outubro – Dia Mundial da Saúde Mental, em parceira com outros colegiados profissionais. Foi também deliberado que os conselhos profissionais deveriam lutar pelo fortalecimento das políticas públicas, nos campos da educação, saúde, assistência social, em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), procurando agir em conjunto com entidades de representação profissional e movimentos sociais organizados em defesa da cidadania; por fim, deliberou que cabe ao CFP e aos CRPs constituírem banco de dados sobre órgãos, fóruns e programas de políticas públicas existentes em âmbitos regional e nacional e mapear projetos e trabalhos realizados pela categoria, divulgando este material através dos meios de comunicação, contribuindo, assim, para o exercício profissional e a cidadania (CFP, 2004).

Vai, então, se delineando a inserção dos psicólogos nas políticas públicas. Com origem no III Congresso Nacional, houve aumento significativo de teses9 sobre a prática do psicólogo nas Políticas Públicas, o que demonstra o interesse cada vez maior dos psicólogos no debate sobre o assunto, influenciando inclusive o tema do IV Congresso Nacional da Psicologia – “Qualidade, Ética e Cidadania na Prestação de Serviços

Profissionais: Construindo o Compromisso Social da Psicologia”, realizado em 2001,

em Brasília, e que, entre outras coisas, apontou para a necessidade de atualização no Código de Ética dos Psicólogos, e para a expansão da oferta e da qualidade dos serviços

9 Tais “teses” referem-se aos temas e propostas levados ao debate nos congressos, desde os pré- congressos, passando pelos regionais até chegarem aos congressos nacionais de Psicologia.

oferecidos à população, a uma maior articulação do Sistema Conselho no campo dos direitos humanos e nas políticas públicas, como saúde, idosos, crianças, família, mulher, controle social, educação, segurança pública, reforma psiquiátrica e também da relação com a mídia e movimentos sociais (CFP, 2001).

Ao pensar uma possibilidade de atuação nos serviços públicos, no sentido de firmar o compromisso social da Psicologia e dar visibilidade às possibilidades de atuação dos psicólogos nas políticas públicas, o Conselho Federal de Psicologia lançou e monitorou o Banco Social de Serviços, iniciado em maio de 2003 e encerrado em agosto de 2005, o que representava uma experiência voluntária da categoria em alguns projetos sociais, na qual os psicólogos escolhiam em qual dos projetos pretendiam trabalhar, assinavam um termo de adesão ao trabalho voluntário e desenvolviam as intervenções nas instituições parceiras do Banco Social, seguindo orientações e diretrizes do projeto no qual se inscreveram.

O projeto do Banco Social de Serviços teve por objetivos:

- Contribuição para a busca de alternativas para problemas sociais brasileiros;

- Fortalecimento de populações em situação de vulnerabilidade social; - Fortalecimento das propostas de atendimento da população em situação de vulnerabilidade social;

- Abertura de novos canais de negociação com o poder público sobre possíveis

demarcações e contribuições do profissional psicólogo à efetivação de políticas

públicas;

- Contribuição na formação dos psicólogos para a atuação na área social. (CFP, 2005, p.7).

E os resultados esperados eram os de:

- Fortalecimento dos recursos subjetivos do público alvo (trabalhadores em situação de desemprego, adolescentes em conflito com a lei, usuários de serviços de saúde mental, egressos do sistema penitenciário, etc), para o enfrentamento da situação de vulnerabilidade;

- Fortalecimento do público alvo como sujeitos de direitos;

- Amp liação da rede de apoio utilizada pelo público alvo dos projetos (familiares, serviços e dispositivos de sociabilidade existentes na comunidade);

- Maior divulgação e articulação entre serviços existentes de setores diversos para os profissionais e para o público alvo;

- A mpliação e aperfeiçoamento das intervenções desenvolvidas pelas instituições parceiras;

- Aperfeiçoamento e fortalecimento de políticas públicas nas áreas de trabalho/desemprego; criança e adolescente; saúde mental/ desinstitucionalização;segurança pública/encarceramento; aprendizagem/ escolarização; mídia e cidadania. (CFP, 2005, p. 7).

A discussão sobre o Compromisso Social e as Políticas Públicas continuou presente no V Congresso Nacional de Psicologia, realizado em 2004, novamente em Brasília, o qual teve por título “Protagonismo Social da Psicologia: as urgências Brasileiras e a Construção de Respostas da Psicologia às Necessidades Sociais”. O V CNP definiu as novas diretrizes da Psicologia para o triênio seguinte, nas quais a inserção do psicólogo nas políticas sociais se tornou evidente. Os eixos da discussão deste CNP foram “Políticas Públicas; Inclusão Social e Direitos Humanos” e “Exercício Profissional”. Nesse encontro, o projeto “Banco Social de Serviços” obteve a avaliação crítica da categoria ao considerá-lo referência, sinalizando, entretanto, que este serviço deveria ser efetivo e não um projeto de voluntariado. Foram indicados assim estudos que culminaram em 2005 com a criação do “Centro de Referência em Psicologia e

Políticas Públicas - CREPOP”, em parceria com o Fórum de Entidades Nacionais da

Psicologia Brasileira - FENPB, representando uma nova etapa do compromisso social da profissão de psicólogo no Brasil, para “produzir uma nova identidade profissional

marcada pela prestação de serviços a indivíduos, grupos e instituições, sobretudo àqueles grupos vinculados às principais áreas de necessidades sociais”. (CFP, 2006, p.

9).

O CREPOP tem como propósito ampliar a atuação do psicólogo na esfera pública, buscando fazer um mapeamento sobre a realidade atual da prática do psicólogo nos serviços públicos brasileiros, sistematizar e difundir o conhecimento e as práticas psicológicas aplicadas ao setor público estatal, apresentando os seguintes objetivos:

Pro mover o desenvolvimento do conhecimento sobre Políticas Públicas no meio profissional dos psicólogos.

Identificar oportunidades estratégicas de participação da Psicologia nas prestações de serviços previstas nas ações desenvolvidas pelas Políticas Públicas.

Registrar a existência de co mpetência acu mulada na profissão.

Identificar as limitações tecnológicas presentes na atuação do profissional em Políticas Públicas.

Apresentar propostas de ação profissional que respondam a demandas identificadas;

Esclarecer sobre possíveis alternativas técnicas e metodológicas;

Construir e disponibilizar referências para o exercício profissional no âmb ito das Políticas Públicas;

Contribuir para a construção de Políticas Públicas humanizadas, fortalecendo a compreensão da dimensão subjetiva presente nestas políticas;

Pro mover a interlocução da psicologia com os espaços de formulação, gestão e execução em Políticas Públicas. (CFP, 2006, p. 10-11).

Podemos identificar como eventos impulsionadores da criação e fortalecimento do CREPOP os seminários de Psicologia e Políticas Públicas, promovidos, dentre outras entidades, pelo CFP, e iniciados em maio de 2001, tendo até hoje quatro edições, sendo o último realizado em maio de 2007.

O IV Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas, dentre outras temáticas, inaugurou o portal eletrônico do CREPOP, espaço que fortalece ainda mais o diálogo da Psicologia com as políticas públicas, divulgando pesquisas e documentos sobre a atuação dos psicólogos nas diversas políticas, abrindo espaço de consulta pública sobre a elaboração de documentos relacionados ao tema e disponibilizando uma biblioteca virtual com divulgação de produções, leis e endereços eletrônicos de entidades, todos voltados ao trabalho nesta área.

4.3 De qual compromisso social estamos falando: possibilidades e limites nas