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O Par Amoroso como Fator de Mudança no Tipo de Apego

No documento JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTIAGO (páginas 153-157)

Apêndice I – Análises de Regressão do QVPM sobre a EVA Moderadas pela Nacionalidade

Capítulo 4 – Apego: Continuidade e descontinuidade

4.3. O Par Amoroso como Fator de Mudança no Tipo de Apego

Podemos começar esta introdução com o que Simpson, Rholes, Campbell, e Wilson (2003) nos dizem acerca do apego e das suas mudanças. Eles, tal como Bowlby já havia previsto, comprovaram que o apego e os modelos internos mudam quando existe

incongruência entre as representações internas acerca de si e dos outros e a realidade que a pessoa vive. Ou seja, o estilo de apego mantém-se quando existe congruência entre as percepções que a pessoa tem e os seus modelos internos, e altera quando surge a

incongruência. Estes autores também verificaram que a congruência entre os modelos internos e a percepção da realidade é em parte moldada por esses modelos internos. Em outras

palavras, a manutenção assim como a mudança do apego é o resultado de um processo ativo no qual os modelos internos geram informação congruente através das percepções e dos comportamentos sociais.

Esta “tensão” entre as percepções e os modelos internos ditam a mudança ou a manutenção dos modelos de apego que a pessoa tem. Assim, um adulto com apego inseguro, não se mantém com esse tipo de apego apenas devido às suas experiências de infância, mas

sim porque ele continua agora a experienciar os seus mundos sociais de maneiras que mantêm e justificam essa insegurança (Simpson et al., 2003).

No entanto, também já Murray, Holmes, e Griffin (1996) tinham sustentado que as relações amorosas estáveis dependiam da capacidade de ver os parceiros imperfeitos de uma maneira idealizada. Dessa forma, a relação tinha maiores probabilidades de se manter apesar dos conflitos e dúvidas, quando os parceiros se idealizavam um ao outro. E essa idealização aumentava o grau de satisfação que eles tinham na relação e diminuía os conflitos e dúvidas que surgiam, o que na verdade, acabava por criar a relação que eles desejavam. Desta maneira, os modelos internos positivos acerca de si e do outro protegeriam contra as inevitáveis acomodações, tais como o declínio da satisfação e o aumento do conflito. Os autores concluem com os vários estudos que mostraram a importância da autoestima e dos modelos internos positivos acerca de si e dos outros na criação e continuação da relação, assim como o seu impacto na estabilidade e satisfação nessa relação.

Quando temos em consideração a teoria do apego, e aquilo que Bowlby (1990) sustenta acerca do cuidar e do ser cuidado, percebemos que o apego existe nos dois sentido e de alguma maneira os dois sistemas acabam por estar relacionados. Com o tempo estes dois comportamentos (o de apego e o de cuidar) vão mudando e se adaptando, passando a criança a ser cada vez menos dependente do cuidador (menos cuidada) e este permitindo que ela

explore cada vez mais o meio e que o faça por si mesma. E ao longo dos anos e da vida, podemos observar que, de acordo com as circunstâncias, todos nós acabamos por apresentar ou um comportamento de apego (em situações de perdas, de separações ou de necessidades emocionais) ou um comportamento de cuidar sempre que alguém necessite de apoio ou tenha necessidades emocionais.

criamos quando crianças, certamente que estarão presentes no relacionamento amoroso. Porém, Bowlby (1990) sugeriu que os modelos internos poderiam alterar na presença de um acontecimento significativo na vida da pessoa, sendo que alguns desses acontecimentos poderiam ser o casamento, o nascimento de um filho ou o falecimento de um ente querido. Ou seja, os modelos internos que se formam através das relações podem ser modificados pelas relações, assim como também pelas situações e acontecimentos que a pessoa vive. Mas, não podemos deixar de lado que a principal função das relações de apego é para fornecer

sentimentos de segurança (Sroufe e Waters, 1977).

Com tudo isto em mente, percebemos que as relações interpessoais, amorosas ou não, têm a capacidade de mudar o tipo de apego que a pessoa traz de criança. Collins e Read (1994) teorizaram que as relações têm a capacidade de alterar as representações mentais da vinculação na presença de experiências corretivas. Assim, e de forma a promover a mudança, as experiências dessas relações devem modificar os modelos internos que a pessoa tem de si e dos outros. Estas experiências ajudariam o indivíduo a modificar e a desenvolver uma visão diferente e mais positiva de si e dos outros, assim como a lidar melhor com as suas emoções.

No entanto, a situação de mudança do estilo de apego já tinha sido encontrada por Fuller e Fincham (1995) no seu estudo, onde 35% dos indivíduos mudaram o seu estilo de apego ao longo de dois anos, sendo que essa mudança tinha a ver com as mudanças dos modelos mentais acerca do parceiro. Também Baldwin e Fehr (1995) encontraram cerca de 30% de indivíduos que alteraram o estilo de apego, mas neste caso as mudanças ocorreram entre uma semana e vários meses. Estes autores, no entanto, questionam a metodologia usada para determinar o tipo de apego dos indivíduos e avançam com a ideia de que o apego pode refletir a situação relacional que a pessoa vive no momento.

apego, encontraram mudanças nessas representações do apego em casais ao longo dos dois primeiros anos de casamento. Estas mudanças nas representações do apego deviam-se quer ao contexto no qual os indivíduos viviam, quer aos fatores intrínsecos de cada indivíduo. Os resultados que Davila et al., (1999) encontraram seguem as observações de Hazan e Shaver (1994), que mostraram que os indivíduos se tornam mais seguros com o aumento do tempo de relação. Ou seja, o que Davila et al., (1999) encontraram foi que as mulheres tendiam a ter representações de si mesmas como mais seguras e a estarem mais confortáveis quando dependentes dos outros, assim como menos ansiosas acerca de serem abandonadas, e certamente que isto teria a ver com o fato delas se sentirem mais confortáveis nos seus casamentos à medida que o tempo passa e ao verificarem que o casamento vai durar, ou mesmo devido à transferência das funções do apego para a pessoa com quem estão a viver.

Igualmente Main (1999), Bowlby (1988) e Crowell, Treboux, & Waters (2002) sugerem que as pessoas têm a capacidade de alterar a vinculação desde que exista um contexto seguro e de confiança, podendo este contexto ser uma relação amorosa. Também Moreira (2006) argumenta que a vinculação depende e é específica da relação em que a pessoa se encontra. E igualmente Duemmler e Kobak (2001) defendem que o apego muda ao longo do tempo da relação, corroborando o que Collins e Read (1994), Moreira (2006) e outros têm vindo a demonstrar.

Ademais, Simpson et al., (2003) sustentam que a relação pode ativar o afeto positivo ou negativo e as cognições ligadas às experiências de apego da infância. Desta maneira, a relação atual poderia reativar essas experiencias e cognições da infância (modelos internos) e desse modo levar a pessoa a apresentar um determinado modelo de apego. E tal como vimos no início desta seção, a maneira como nos vemos a nós mesmos e como vemos o outro, ou a maneira como nos idealizamos e idealizamos o outro, são determinantes para a manutenção

ou mudança do tipo de apego que a pessoa apresenta. Da mesma forma, a maneira como a pessoa se vê e é tratada nas suas relações sociais pode alterar os seus modelos internos, desde que exista um conflito entre eles e a realidade que ela vive (Simpson et al., 2003).

Este capítulo estaria incompleto sem fazermos referência a uma situação que nos parece importante e também interessante: o sistema comportamental de cuidar. Bowlby (1990), assim como George e Solomon (1999) e outros autores trataram do tema e

argumentaram que este sistema de cuidar está ligado ao comportamento de apego e de ser cuidado. Ou seja, o adulto, e concretamente, a relação romântica, é uma relação de ser

cuidado e de cuidar. Estamos assim perante dois comportamentos que se complementam e que estão presentes na relação amorosa. Os autores partem do princípio de que o sistema de cuidar é recíproco e evolui em paralelo com o sistema de apego. Desta maneira, nós podemos ver a relação amorosa não apenas pelo ponto de vista do apego, mas também pelo ponto de vista do cuidar. E quando entramos em linha de conta com estes dois sistemas de comportamento, percebemos que eles ativam e eliciam diferentes e importantes modelos internos. E assim torna-se evidente a necessidade de mudança destes modelos internos, sejam eles os modelos de apego ou os modelos de cuidar sempre que queremos mudar os padrões de comportamento. E isto também nos coloca perante a necessidade de mudança e adaptação sempre que tal se torne necessário no dia-a-dia do indivíduo.

4.4. Espaço Temporal Necessário para a Relação Amorosa ser Considerada uma

No documento JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTIAGO (páginas 153-157)