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3. BASE CONCEITUAL

3.1. PATENTES

3.1.1. O patenteamento nas Universidades

Tradicionalmente, o ensino e a pesquisa têm sido as principais missões da Universidade, porém com o aumento da globalização surgiram novas perspectivas sobre o papel da Universidade no sistema de produção de conhecimento para o desenvolvimento de inovações (RASMUSSEN; MOEN; GULBRANDSEN, 2006; OKANO et al., 2015).

As Universidades devem avançar a fronteira do conhecimento científico e um indicador muito significativo deste resultado são as patentes (KENNEY; PATTON, 2009). Embora, a patente sozinha não seja evidência suficiente do comportamento Empresarial da Universidade, ela é um dos primeiros passos direcionados para implementar novos conhecimentos em negócios reais (METS, 2010).

Internacionalmente, a instituição responsável pelas questões relativas à propriedade intelectual é a Organização Mundial da Propriedade Intelectual - OMPI, criada em 1967, intergovernamental, com sede em Genebra, na Suíça. O objetivo da OMPI é: proteger a propriedade intelectual; assegurar a cooperação administrativa entre as Uniões de propriedade intelectual; e acelerar os desenvolvimentos econômicos, sociais e culturais (PEREIRA; MELLO, 2015; WIPO, 2017a).

Segundo Leydesdorff e Meyer (2010), o Bayh-Dole Act nos EUA foi avidamente promovido pela OCDE como uma receita para a comercialização da pesquisa universitária e a lei incentivou outros Governos a desenvolver legislações similares, permitindo que os pesquisadores fossem financiados pelo Governo Federal para depositar patentes e emitir licenças de patentes a outras partes (MEYER, 2007).

O Bayh-Dole Act normatizou o efeito que já vinha ocorrendo sobre a pesquisa universitária, aumentando a importância dada pelas Universidades para a pesquisa aplicada (SAMPAT; MOWERY; ZIEDONIS, 2003). De acordo com Henderson, Jaffe e Trajtenberg (1998), OECD (2000), Mowery et al. (2001) e Siegel, Waldam e Link (2003), após esta lei, a criação de escritórios de transferência de tecnologia tornou-se generalizada nas Universidades americanas com resultados significativos no aumento do patenteamento e transferência de tecnologia para as Empresas (TORKOMIAN; GARNICA, 2009).

Nos últimos anos, principalmente após o Bayh-Dole Act de 1980, as instituições de ensino superior estão sob constante pressão para aumentar o fluxo de conhecimento, know-

how, e participação conjunta com a indústria e sociedade, e um dos meios utilizados para

Alguns autores, como Nelson (2004), argumentam que as atividades comerciais podem ser uma ameaça à liberdade acadêmica tradicional e a pesquisa básica, bem como acarretar conflitos de interesse (HENDERSON; JAFFE; TRAJTENBERG, 1998; ETZKOWITZ, 1998; ETZKOWITZ; WEBSTER, 1998). Existe apreensão por parte da Universidade de que as pesquisas básicas sejam prejudicadas pelo aumento do interesse em pesquisas aplicadas capazes de gerar patentes e que as invenções comercializáveis não necessariamente implicam em avanços na fronteira do conhecimento. Etzkowitz e Leydesdorff (1997) também argumentam que na “Triple Helix” a aceitação da comercialização como missão da Universidade constitui uma "revolução acadêmica".

Vários estudos, no entanto, mostram que a excelência científica, medida por padrões de publicações e citações, está altamente correlacionada com a produtividade das patentes desenvolvidas pela Universidade (LACH; SCHANKERMAN, 2003; STEPHAN et al., 2007; BALDINI; GRIMALDI; SOBRERO, 2007). Segundo Leydesdorff e Meyer (2010) a terceira missão da Universidade inclui novas formas de educação, incubação e compromissos de longo prazo com o desenvolvimento social.

Os pesquisadores acadêmicos e as Universidades têm vários benefícios por se envolver em patentes e atividades de licenciamento (AUTM, 2003; OECD, 2003), tal como a melhoria da reputação do campus por excelência, contribuindo para o recrutamento dos alunos mais inteligentes e do mais brilhante corpo docente (FLORIDA, 1999). Os benefícios a nível da faculdade incluem uma influência positiva sobre a carreira dos pesquisadores e ganhos financeiros (OECD, 2003), o acesso direto aos laboratórios e ao know-how da indústria (GRIMALDI; VON TUNZELMANN, 2002).

Os pesquisadores que patenteiam são motivados pela troca de conhecimento com representantes da indústria (STEPHAN; EVERHART, 1998; OWEN-SMITH; POWELL, 2001; COUTINHO et al., 2003), de forma a obter insights em sua própria pesquisa e testar a aplicação prática da sua própria teoria (LEE, 2000).

Segundo Baldini (2011), muitos pesquisadores podem ser favoráveis às atividades de patenteamento, mas não conseguem patentear, pois suas pesquisas levam a resultados não- patenteáveis ou porque não conseguem reconhecer o potencial comercial de suas invenções, visto que para a patente ser concedida o Órgão Regulador das Patentes exige que a invenção seja uma novidade, não trivial e tenha aplicabilidade industrial.

No entanto, a Universidade tem buscado atuar no ensino e na pesquisa e, simultaneamente, comercializar os resultados da pesquisa acadêmica, de forma a contribuir

para um maior desenvolvimento econômico e social do país (FRITSCH; SLAVTCHEV, 2007; MARTIN, 2012; GALEANO; MORALES-MENENDEZ; CANTÚ, 2012).

Desde o surgimento da ciência moderna, o financiamento da pesquisa tem sido associado com as expectativas de benefícios econômicos e sociais. Poucos autores acreditam que o patenteamento na Universidade ameace a viabilidade a longo prazo da pesquisa fundamental (MARTIN, 2012; PEREIRA; COSTA; MELLO, 2015). A implementação de políticas públicas visa estimular o processo de inovação, gerando benefícios para a sociedade, através da criação de empregos e Empresas startups (PEREIRA; MELLO, 2015).

O patenteamento proveniente da interação Universidade-Empresa permite a transferência de tecnologia sem a necessidade de averbação de um contrato de licenciamento, agilizando o processo de desenvolvimento da inovação (KRUGLIANSKAS; MATIAS- PEREIRA, 2005). As interações Universidade-Empresa são mais observadas nos Estados Unidos, França, Japão, Reino Unido e Israel e beneficiam tanto o setor acadêmico quanto o setor privado (MOWERY; SAMPAT, 2005; MCKELVEY; HOLMEN, 2009; GRIMM, 2011; KANAMA, 2012; LAWSON, 2013; GAO; GUO; GUAN, 2014). As Universidades são beneficiadas, por exemplo, com a diversificação das fontes de financiamento e as Empresas reduzem os riscos, repartem os custos e realizam pesquisas exploratórias em novas áreas (MOWERY; SAMPAT, 2005; MCKELVEY; HOLMEN, 2009; PEREIRA; COSTA; MELLO, 2015).

Mansfield e Lee (1996) dizem que a interação Universidade-Empresa pode estimular o

desenvolvimento de novas pesquisas. A busca por projetos abertos com foco comercial

oferece oportunidades para que os alunos usem habilidades, técnicas e ferramentas aprendidos em sala de aula na resolução de problemas práticos na Empresa. Dessa forma, através deste processo, os alunos ganham as habilidades, conhecimento, confiança e empenho para testar suas habilidades inventivas e empreendedoras (WEILERSTEIN, 1999).

Porém, segundo Fontana, Geuna e Matt (2006) e Wang et al. (2014) as diferenças de objetivos entre Empresas e Universidades acarretam muitos conflitos de interesse entre as partes. Enquanto a Empresa busca soluções práticas e rápidas, a Universidade está preocupada com o aprimoramento de teorias e o desenvolvimento de investigações, os quais não necessariamente se encaixam no perfil da Empresa.

As interações Universidade-Empresa devem ser parte de uma estratégia de longo prazo, em que Empresas e acadêmicos trabalhem juntos em projetos conjuntos de desenvolvimento educacional (GODDARD; ROBERTSON; VALLANCE, 2012).

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