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3. BASE CONCEITUAL

3.1. PATENTES

3.1.2. O patenteamento nas Universidades brasileiras

No cenário brasileiro, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é o responsável pelas questões relacionadas à propriedade industrial. O INPI foi criado em 1970 a partir da Lei nº 5.648 e é uma Autarquia Federal, vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O INPI tem como missão criar um sistema de Propriedade Intelectual visando promover a inovação, de forma a favorecer os desenvolvimentos tecnológico, econômico e social (INPI, 2017). Uma de suas atribuições refere-se a concessões de patentes e averbações de contratos de transferência de tecnologia.

Segundo o INPI (2017), a Propriedade Intelectual abrange a Propriedade Industrial (patentes, marcas, desenho industrial, indicações geográficas, transferência de tecnologia e repressão à concorrência desleal), os direitos do autor e conexos (obras literárias, musicais, artísticas, arquitetônicas e filmes), o registro de softwares e a proteção sui generes (topografia de circuitos integrados, proteção de cultivares e conhecimentos tradicionais).

Em meados de 1950, o Brasil sob a presidência de Juscelino Kubitschek adotava uma política de abertura comercial aos investimentos estrangeiros, buscando atender o mercado interno, e não havia uma preocupação no desenvolvimento de atividades de P&D (PEREIRA, 2008). Em 1969, o presidente Emílio Médici implementou o I PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) com o objetivo de reconstruir e modernizar as instituições públicas e privadas investindo em infraestrutura e dar continuidade ao acelerado crescimento que o Brasil vinha atingindo (GREMAUD; TONETO JÚNIOR; VASCONCELLOS, 2007).

A Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de 1971 não concedia patentes para invenções em algumas áreas tecnológicas de crescente importância, entre elas a farmacêutica e a de produtos químicos (BRASIL, 1971). Isso levou a um menor quantitativo de patentes depositadas durante muitos anos nas Universidades e em alguns institutos públicos de pesquisa importantes, como a FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz) e a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Em 1985 foi criado o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) através do Decreto nº 91.146, o qual passou, posteriormente, a ser chamado de MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), passando a coordenar o trabalho de execução dos programas e ações que consolidam a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) a partir da incorporação das duas mais importantes agências de fomento do País: a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e suas unidades de pesquisa (MCTI, 2016).

Segundo Dahlman e Frischtak (1993), o Brasil em 1990 já tinha um sistema nacional de C, T & I, porém estava incompleto com apenas um sistema universitário e um sistema de pós-graduação e de instituições de pesquisa, apresentando muitos problemas, como: falta de investimentos em inovação, pouca atividade patentária e um mau gerenciamento em ciência, tecnologia e inovação (MCTI, 2012).

Com a assinatura do Acordo TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property

Rights), o Brasil por ser signatário desse acordo foi impedido de discriminar áreas

tecnológicas em suas leis de concessão de patentes e possibilitou o surgimento de uma nova Lei da Propriedade Industrial – Lei nº 9.279 (BRASIL, 1996) que substituiu a Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de 1971 (CORREA, 2007). Houve um pequeno aumento do número de depósitos de patentes pelas Universidades, eliminando as restrições ao patenteamento nas áreas da química, biotecnologia e alimentos, as quais são áreas de destaque nas pesquisas de Universidades brasileiras.

Segundo o INPI (2017b), a proteção dos direitos relativos à propriedade industrial efetua-se mediante a concessão de patentes para as naturezas de Patente de Invenção (PI) e Patente de Modelo de Utilidade (PMU). Para que uma invenção seja patenteável como PI, é necessário que ela tenha aplicabilidade industrial, seja uma novidade e uma atividade inventiva. Já no caso da PMU, além de ter aplicabilidade industrial e ser uma novidade, a solicitação deve ser caracterizada como ato inventivo (melhoria funcional) (BRASIL, 1996).

Se nos Estados Unidos o marco regulatório do patenteamento nas Universidades é considerado o Bayh-Dole Act de 1980, no Brasil esse marco é a chamada Lei da Inovação promulgada em 2004, ou seja, quase 25 anos mais tarde. De acordo com a Lei da Inovação (BRASIL, 2004), toda Instituição Científica e Tecnológica (ICT), incluindo-se as Universidades, deve possuir um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), que, entre outros objetivos, deve cuidar das questões relativas ao patenteamento e licenciamento dos resultados das pesquisas acadêmicas.

A partir do Decreto nº 2.553/98 (BRASIL, 1998) que regula direitos e obrigações relativos à Propriedade Industrial e com a Lei da Inovação (BRASIL, 2004) percebeu-se um maior interesse dos pesquisadores em questões atreladas a ciência e a indústria, e a transferência de tecnologia, evidenciados, principalmente, pela criação de escritórios de transferência de tecnologia dentro das Universidades (CHAMAS, 2002; TORKOMIAN, 2009). Com a entrada em vigor dessas novas legislações, um número cada vez maior de ICTs passou a integrar o sistema de Propriedade Intelectual (RITTER DOS SANTOS; MELLO, 2009).

Com a Lei da Inovação do Brasil (BRASIL, 2004), os Núcleos de Inovação Tecnológica - NITs nas ICTs seriam os responsáveis pelo incentivo à proteção e à inovação tecnológica no âmbito das Universidades, assim como pelo gerenciamento das invenções comercializáveis geradas pelos pesquisadores (GONZALEZ-PERNIA et al., 2013). A Lei da Inovação legitimou e viabilizou a interação ICT–Empresa como estratégia para fortalecer o relacionamento da pesquisa pública com as Empresas, aumentando a autonomia destas instituições para regularem e formalizarem estes relacionamentos (LOTUFO, 2009; SOUZA; BARBASTEFANO; PEREIRA, 2011).

Apesar de algumas mudanças normativas, o Brasil ainda se mostra incipiente no que tange ao patenteamento e a transferência de tecnologia. As ICTs têm dificuldades diversas para a estruturação de seus núcleos de inovação tecnológica (NITs), devido à falta de uma política mais contundente quanto ao caráter crucial da atividade inovativa (SANTOS, 2009).

Em 2016, foi aprovado o Código de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) a partir da Lei nº 13.243/2016 (BRASIL, 2016). A nova lei altera pontos na Lei de Inovação e em outras leis relacionadas ao tema, principalmente, no sentido de promover a interação ICT- Empresa como estratégia principal de estímulo à Inovação (RAUEN, 2016).

De forma a sintetizar os principais marcos legais da Inovação no Brasil, conforme detalhados anteriormente segue a Figura 10.

Figura 10 - Principais marcos legais da Inovação no Brasil Fonte: Elaboração própria

As mudanças normativas tiveram principalmente o objetivo de flexibilizar a relação Universidade-Empresa, favorecendo a participação do pesquisador da Universidade junto a Empresa, porém ainda existem muitas dificuldades para o desenvolvimento de inovações que possam proporcionar maior desenvolvimento econômico e social.

Lei nº 9.279 - Propriedade Industrial Lei nº 10.973 - Lei da Inovação 1971 1996 2004 1970 1985 1998 2016 Lei nº 5.648 - Criação do INPI Decreto nº 91.146 - Criação do MCTI Lei nº 13.243 - Novo marco legal

da C, T & I Lei nº 5.772 - Código da

Propriedade Industrial

Decreto nº 2.553/98 - Propriedade Industrial

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