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PARTE II – Procedimentos de pesquisa: instrumentos de investigação e

3.1 As representações sociais do patrimônio cultural em Pombal

3.1.2 O patrimônio como uma atribuição de valor

As questões de número 3, 4, 5, 6, 7 e 8 tinham por objetivo tratar especificamente da concepção de patrimônio cultural, nos permitindo analisar o

patrimônio pela ótica da atribuição de valor, nas suas dimensões materiais e imateriais, e como suporte para a memória e a identidade dos grupos sociais entrevistados.

Nas questões 3 e 4 foi solicitado aos entrevistados que definissem, o termo “patrimônio” e, baseando-se nisso, listar os elementos da cidade de Pombal que para eles, eram representativos do seu patrimônio.

Ao articular as respostas da questão 3 pôde-se identificar qual o conceito de patrimônio, e em quais parâmetros, aspectos e dimensões ele é associado. Para tanto foi considerado o universo total dos entrevistados.

Assim, temos a conceituação do patrimônio como um bem que, pertencente à coletividade, seja tomado individualmente ou em conjunto.

Todo bem pertencente ao cidadão ou a própria comunidade. (homem, 50-59 anos, superior).

Patrimônio eu entendo como um conjunto de bens. Que representam ou que expressam a cultura, a tradição, os costumes de um povo [...]. (homem, 30-39 anos, médio completo).

O patrimônio também esteve associado à herança, algo adquirido e passado de gerações em gerações.

Patrimônio é, como se diz, uma lembrança de muito tempo que fica para o resto da vida. (homem, 40-49 anos, médio completo).

Patrimônio, para mim, é o que é adquirido e preservado, como os prédios tombados que são patrimônios da nossa história, da cidade de Pombal. (mulher, 50-59 anos, médio completo).

Outra resposta bastante citada foi a que associa o patrimônio a algo antigo, que conta a história, relativo a um passado.

Assim, ao meu entender, patrimônio seria uma coisa muito antiga que tenha na cidade e que a gente tem que preservar aquilo. (homem, 40-49 anos, médio incompleto).

Patrimônio é tudo aquilo de coisas antigas, coisas que são nossas. (homem, 60-69 anos, médio completo).

É na verdade, uma síntese de uma certa comunidade, de um certo povo, de uma história. (homem, 40-49 anos, superior).

O patrimônio é algo que guarda a nossa história, guarda muito bem a nossa história. (homem, 50-59 anos, médio incompleto).

Patrimônio é tudo que faz parte da história de um povo, da cultura, da tradição. (mulher, 50-59 anos, superior).

Alguns entrevistados relataram a ideia de que patrimônio é algo que deve ser preservado. Esse algo a ser conservado muitas vezes foi associado à noção de herança e tradição, sendo exemplificado através de algumas edificações, espaços urbanos e eventos:

O patrimônio é uma coisa antiga que vem de tradição, como no caso da festa de N. S. do Rosário, que é uma festa tradicional, que reúne todas as pessoas da própria cidade e de cidades vizinhas. (homem, 50-59 anos, fundamental incompleto).

Como a Igreja do Rosário, a Igreja Matriz, essa escola, a Cadeia pública, a Estação ferroviária, tudo são prédios tombados. Então são patrimônios construídos ao longo da nossa historia que se torna patrimônio da cidade. (mulher, 50-59 anos, médio incompleto).

Então nós temos esse grande bem que é a Igreja do Rosário, nós temos o Coreto bar, [...] a Coluna da hora. Então é isso. É tudo que a gente tem como bem, que seja bem material, que seja bem cultural. (homem, 40-49 anos, médio completo).

Assim, com a análise das respostas obtidas na questão 3, verificamos que a noção de patrimônio elaborada pelos entrevistados associa-se, em parte, à concepção vigente no meio acadêmico e aos conceitos também encontrados nas definições de diversos teóricos do meio. Percebemos que, na maior parte das vezes, o patrimônio está associado a valores – históricos, culturais, artísticos – que ultrapassam as características físicas dos bens as quais são justificadas pelos seus significados simbólicos no imaginário do grupo social, significados esses que devem ser reconhecidos e transmitidos às gerações futuras através da ideia de herança.

Na questão 4, os sujeitos foram indagados sobre quais elementos poderiam ser qualificados como integrantes do acervo patrimonial pombalense. Ao fazer essa classificação, os entrevistados basearam-se no conceito de patrimônio elaborado na questão anterior.

Assim, temos todos os entrevistados referindo-se à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, como o principal elemento do patrimônio cultural da cidade de Pombal, a qual pode ser justificada tanto pela sua forma arquitetônica, componente da paisagem urbana da cidade desde o seu início, como pelos valores e significados que lhe foram atribuídos ao longo do tempo. A Igreja do Rosário, como vimos no capítulo anterior, está intimamente ligada à história da conformação

urbana da cidade de Pombal, e a articulação entre o fato histórico, o monumento arquitetônico e os sentidos atribuídos ao lugar através dos festejos da festa do Rosário podem juntos, ter destacado a Igreja do Rosário como o principal bem do patrimônio cultural pombalense.

Pra nós aqui, o ícone é a igreja do Rosário, claro, hoje é o principal. Porque além de falar, tem também neste ícone, uma marca, não só, social, mas uma marca religiosa. E sabe-se que o religioso, quando ele é contextualizado vai além do momento, vai além da época, atravessa gerações, atravessa história, vira tradição. Então eu acho que hoje um dos principais, é uma referência principal, eu vejo a igreja do Rosário. (homem, 40-49 anos, superior).

As outras respostas se referiam às diversas construções que compõem o centro histórico da cidade, outras ligadas às vivências individuais de cada sujeito, além da festa do Rosário como um evento de cunho histórico, tradicional e religioso. Como se pode constatar através dos depoimentos abaixo:

Arquitetônicos, com certeza, é primeiro a Igreja do Rosário, o conjunto de praças, isso incluindo a Praça Getúlio Vargas e a Praça Centenário, a Coluna da hora, a Casa da cultura. (homem, 30-39 anos, médio completo). Os principais patrimônios são a Igreja do Rosário e a festa do Rosário que é uma festa religiosa e eu gosto. (homem, 50-59 anos, fundamental incompleto).

Eu acho que o principal patrimônio da minha cidade é esse centro histórico, é a Igreja do Rosário, é a Igreja Matriz, essas duas Praças, que eu não conheço no interior da Paraíba nenhuma cidade que tenha essa beleza. (mulher, 50-59 anos, superior).

A Casa da cultura, a própria Estação ferroviária, a Igreja do Rosário. Nós temos um cruzeiro também que é muito importante, ele é um cruzeiro praticamente esquecido, chama-se o Cruzeiro do bairro do cruzeiro, que fica na parte alta da cidade ao nascente. (homem, 50-59 anos, médio incompleto).

Como vimos no primeiro capítulo, o patrimônio é uma construção cultural, em que se estabelece uma relação bastante estreita entre as noções de valor e patrimônio, uma vez que será considerado como patrimônio cultural aquilo que é representativo para o grupo social. Isto é, o patrimônio é algo a que são atribuídos valores em certo espaço de tempo por determinada sociedade.

Essa qualificação do patrimônio a partir da atribuição de valores apareceu na fala de alguns entrevistados, especificando propriamente o valor histórico, arquitetônico e cultural, em que se percebe embutida a ideia de preservação daquilo

que é antigo, que foi herdado. É preciso ressaltar que o termo valor não foi usado expressamente pelos entrevistados, mas apareceu como ideia subjacente em diversas falas.

Assim, verificamos com a análise das questões, que os elementos mais identificados, pela população, como patrimônio, são os bens culturais apropriados pelos sujeitos, seja por comporem a paisagem urbana há bastante tempo, seja por se relacionarem a eventos festivos tradicionais da cidade, ou ainda, por consistirem em fatos históricos que compõem a memória individual e/ou coletiva dos grupos sociais, evidenciando a relação entre o conceito de patrimônio visto na questão anterior e aquilo que é usualmente classificado como tal nos meios acadêmicos.