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2.3 A festa do Rosário em Pombal

2.3.3 Os lugares da festa

O centro da cidade de Pombal é também o espaço central da festa do Rosário, onde as suas principais atividades partem ou terminam no largo da Igreja do Rosário.

O espaço da festa é organizado de forma a abranger todos os grupos participantes e todas as festas que a compõem, mesmo sendo o lado sacro do festejo, aquele que encoraja a prática e induz o compromisso da continuidade e da criatividade para as festas dos anos seguintes.

Pombal se preparou para a festa quinze dias antes do seu início, e ao chegar à cidade, no dia 30 de setembro de 2010, foi percebido que o lugar da festa não estava delimitado apenas pelos seus elementos urbanos permanentes, mas, sobretudo, pelos novos componentes incorporados ao espaço, como enfeites, barracas, palcos e parques, espalhados pela via principal da cidade e pelo largo da Igreja do Rosário, transformando o espaço cotidiano no espaço festivo e sagrado.

Deste modo, “as festividades religiosas ultrapassaram a área limitada do interior dos templos, avançando para o espaço público, a céu aberto, possibilitando um deslocamento das manifestações e ritos baseados no estimulo da fé, da devoção e da oração, para objetivos profanos” (SANTANA, 2009, p. 61). Dessa maneira, o patrimônio material configura o ambiente para os acontecimentos e eventos ligados a imaterialidade, assim como afirma Chagas:

Esse patrimônio material, documento inquestionável dos feitos artísticos e históricos, memoria das realizações das comunidades – no tempo e no espaço – configura a ambiência, a cenografia por assim dizer, para que nela se desvele o acontecimento do grande teatro da existência humana. Palco privilegiado dos eventos vinculados à imaterialidade cotidiana dos exercícios dos saberes e fazeres, da realização das tradições, da efetivação do tirocínio politico. Em suma: do conjunto das praticas que inoculam nos espaços as qualidades imateriais que os transformam em lugares plenos de significados, e que os tornam repositórios de identidade, relicários de lembranças privilegiadas (CHAGAS, 2004, p. 16).

Assim, por meio da festa – prática essencialmente social – são atribuídos valores ao espaço urbano que ultrapassam a esfera objetiva, ligado mais aos símbolos, às relações afetivas com o espaço, à identidade e à memória individual e coletiva do que ao sentido geográfico do termo. Aqui o patrimônio material – edificado e urbano- ultrapassa o conceito de lugar e espaço físico, para ser um

“lugar de memória, que apresenta dimensão material e funcional, mas principalmente simbólica” (NORA, 1993, p. 21).

No largo da Igreja do Rosário, um grande palanque foi montado para celebrar as missas da novena, juntamente com outro montado em sua lateral, para a apresentação de bandas religiosas, e ambos compunham o espaço para as celebrações religiosas. No interior da Igreja ou no seu largo, os devotos participaram da festa orando, pagando promessas, se confessando e cantando com fé à Nossa Senhora do Rosário.

Nesse momento, a Igreja do Rosário adquire uma maior importância na configuração espacial e religiosa em função da festa, pois o centro religioso de Pombal, no restante do ano, é a matriz de N. Sra. do Bonsucesso, distante apenas algumas dezenas de metros da Igreja do Rosário, que normalmente tem suas portas abertas apenas aos domingos.

Figuras 25 e 26: A festa do Rosário, em dois momentos.

Fonte: Acervo de Marcos Lacerda e Verneck Abrantes de Sousa19. Acervo de Taise Farias, 2010.

Ao longo de todo o canteiro central – Praça Dr. José Ferreira de Queiroz – parques infantis e barracas de comidas e brinquedos foram montados compondo, juntamente, com as outras barracas na Praça Getúlio Vargas, o espaço de celebração da festa após as missas, denotando as diferentes maneiras de viver a religião entre a devoção e o lúdico.

O parque de diversões, as barracas de jogos, os bares, lojas, hotéis, ou seja, todo o comércio local se beneficiam economicamente da festa, além da Irmandade

do Rosário e da própria Igreja, que recebem muitos donativos durante a realização do evento.

Figuras 27 e 28: O parque e as barracas de jogos ao longo da Praça Dr. José Ferreira Queiroz. Fonte: Acervo de Taise Farias, 2010.

Outros lugares extremamente importantes na configuração das atividades religiosas da festa do Rosário são as ruas por onde passam as procissões e a própria casa do Rosário. Segundo Ayala, um conjunto de casas, localizadas na atual Rua do Rosário, pertencia à Irmandade do Rosário, que as alugava como meio de aumentar suas rendas. Do conjunto resta hoje apenas a casa do Rosário que, durante a festa, se torna um local sagrado onde se guarda o rosário e para onde os fiéis se dirigem.

Figuras 29: Os fiéis em frente a casa do Rosário. Fonte: Acervo de Taise Farias, 2010.

A festa do Rosário de Pombal, como se vê, ocupa múltiplos espaços da cidade, transformando-os em “lugares de memórias” com caráter religioso, outros propriamente profanos, e outros ainda reunindo ambos os atributos. É através

dessas diferentes manifestações que os participantes que compõem a festa interagem com o espaço, organizando, recriando e interrompendo o cotidiano.

Assim, a festa é única, uma nunca será igual a outra, principalmente com relação à participação dos indivíduos, ainda que o objetivo seja o mesmo. Isto porque os participantes serão sempre distintos. Dessa maneira, a maior riqueza dessas festas é o conjunto de possibilidades de continuidade e inovação, o que as faz serem sempre atuais.

PARTE II – Procedimentos de pesquisa: instrumentos de investigação e