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4 ATIVIDADE DE ESTUDOS COMO IMPULSIONADORA DO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR.

4.2 Do pensamento empírico ao pensamento teórico.

4.2.1 O pensamento empírico.

Necessariamente esta reflexão sobre os tipos de pensamento e suas diferenças perpassa a relação entre atividade e pensamento, pois, como já evidenciado pelas vias de nosso referencial teórico, a gênese para o desenvolvimento das capacidades humanas se dá em sua atividade criadora, o trabalho, ou seja, todos os conhecimentos e capacidades dos homens são produtos das suas atividades práticas objetivas. As atividades cognitivas e entre elas o pensamento, não apartam-se desta realidade. Em resumo, as representações generalizadas que se originam no trabalho humano, mediatizadas pela linguagem, possibilitam aos seres humanos a abstração dos conhecimentos sensoriais que constitui a origem do desenvolvimento histórico do pensamento. Conforme afirma Davídov:

[...] a formação das representações gerais, diretamente ligadas com atividade prática, cria as condições indispensáveis para realizar a complexa atividade espiritual que habitualmente se chama pensamento. Para este são características a formação e utilização das palavras-denominações que permitem dar à experiência sensorial a forma de universalidade abstrata. Graças à dita forma pode-se generalizar a experiência nos julgamentos, utilizá-la nos raciocínios [...] (DAVÍDOV, 1988, p. 123, tradução nossa).

No processo histórico de seu desenvolvimento, os homens resolveram primeiramente seus problemas e tarefas que eram apresentados no plano prático de sua atividade. O pensamento de tipo empírico-classificador tem sua gênese nestas resoluções das experiências práticas da vida, tendo como principais características a representação no reflexo psíquico da realidade, que se concretiza pelo processo de comparação dos elementos externos dos objetos, possibilitando apartarem-se desses objetos as propriedades idênticas e gerais. Neste ato de comparação, separam-se as características, elementos e particularidades gerais dos objetos, levando ao conhecimento prático e permitindo determinar as particularidades de uma classe definida de especificidades.

No pensamento empírico, os processos de reflexão sobre a realidade se limitam a resolver tarefas de classificação dos objetos segundo as aparências externas, identificando-a pela comparação dos dados sensoriais concretos, tendo como objetivo específico a separação dos elementos formais que se generalizam, para realizar sua classificação. Para em um segundo momento, identificar os objetos sensorialmente concretos, com a finalidade de incluir em algum conjunto qualquer de características.

No pensamento empírico todos os dados de conhecimento da realidade são sensoriais, os sujeitos concebem todos os elementos da identidade, do conteúdo, do ato racional imediato, ou seja, o conceito se concretiza pelos traços comuns captados diretamente das relações imediatas com os objetos, consequentemente, são descobertos pela via única da comparação desses mesmos traços exteriores. Na comparação, são captadas as diferenças presentes nos objetos, sendo realizado o isolamento das particularidades, resultando na abstração universal das relações destas. Tal processo tem como consequência a comparação das propriedades mais formais do objeto, que para a teoria empírica do pensamento se configura como apropriação do conceito. Davídov (1988) nos ajuda entender essas características do pensamento empírico ao afirmar que

Em nosso ponto de vista, estas características podem-se atribuir ao pensamento que temos descrito como empírico. Seu princípio é também a generalidade formal dos objetos examinados (com todas as consequências que dele se derivam). Portanto se pode chamar a este pensamento de discursivo empírico. Sua principal função consiste na classificação de objetos, na construção de um firme esquema de “determinantes”. Este tipo de pensamento pressupõe duas vias, sobre o que falo acima: a via “de baixo para cima” e a via “de cima para baixo”. Na primeira se constrói a abstração (conceito) do formalmente geral, que por sua essência não pode expressar na forma mental o conteúdo especificamente concreto do objeto. No caminho “de cima

para baixo” esta abstração se satura de imagens visuais concretas do objeto correspondente, torna-se “rica” e “com conteúdo”, porém não como construção mental, mas como combinação das descrições e exemplos concretos que o ilustra (DAVÍDOV, 1988, p. 107-108, tradução nossa, grifos no original).

A base para formação do pensamento empírico está na observação, na discriminação e na designação dos objetos em suas relações, que apenas refletem as características exteriores dos objetos, fenômenos e nexos com a realidade; ou seja, o pensamento empírico se sustenta unicamente nas representações visuais e sensoriais, colocando, formalmente, as propriedades gerais e as propriedades particulares dos objetos em um mesmo plano, não compreendendo o movimento das relações existentes na realidade.

Portanto, o pensamento empírico se concretiza na seleção de imagens, modelos e conjuntos de propriedades que estão presentes nas formas externas e aparentes dos objetos. Por isso, para a apropriação do conhecimento, pela via empírica discursiva de pensamento, são fundamentais os meios sensoriais de apreensão que se limitam às experiências práticas de conhecimentos. Como consequência, no pensamento empírico, a compreensão se constitui pelas vias de expressões verbais, que designam as representações aparentes e exteriores, compreendidas como conceitos e como fonte de fixação do conhecimento apropriado.

Para Davídov (1988, p. 124), o pensamento empírico assegura aos homens apenas as representações no campo da discriminação e designação das propriedades dos objetos; essa limitação faz com que, no pensamento empírico, não se constitua a formação das representações no âmbito das ações mentais. O pensamento empírico, dessa forma, tem grande importância para os sujeitos, mas limita-se às experiências sensoriais e às representações externas da realidade, o que restringe esse tipo de pensamento à aparência do mundo dos fenômenos e à formação de conceitos cotidianos ou espontâneos.