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O planeamento estratégico de novos aeroportos

PARTE III – Contribuição para uma visão estratégica

Capítulo 6 – Factores operacionais relevantes

6.3 O planeamento estratégico de novos aeroportos

O planeamento surgiu da necessidade de prever e prevenir problemas que possam surgir a partir de um conjunto de decisões contraditórias e de acções descoordenadas. A ocorrência de problemas por imprevidência e ausência de acções de planeamento torna-se ainda mais grave, quando se trata de projectos de grandes dimensões, como são os casos da expansão ou da construção de um aeroporto, em que avultados e continuados investimentos se encontram em jogo e em que, por outro lado, as condições logísticas a oferecer são extremamente sofisticadas e exigentes.

Assim, de acordo com as questões a seguir mencionadas, requere-se a identificação e comparação entre benefícios e custos, e uma ideia clara dos objectivos e deveres de quem se encontra envolvido em tomadas de decisão integradas em acções de planeamento.

Apresentam-se em seguida alguns objectivos importantes apoiados por recomendações internacionais (TRB. Simpósio, 1992):

• O sistema de planeamento dos transportes aéreos deve ser um processo contínuo e interactivo que requer coordenação e cooperação, a nível nacional, regional e local, dos vários actores intervenientes;

• É um processo que envolve a identificação a todos estes níveis das necessidades, opções e propostas que visam o desenvolvimento de novas iniciativas;

• Este sistema de planeamento deve abranger as necessidades de todos os sectores económicos e sociais envolvidos e deve reflectir todos os interesses legítimos, quer sectoriais, quer regionais e nacionais;

• O sistema de planeamento deve preocupar-se com a procura mas, também, com a necessidade de assegurar a existência de uma infraestrutura de grande qualidade e segurança, tendo em consideração os objectivos não só económicos, mas também, os ambientais e sociais;

• Este processo de planeamento envolve conhecer as possibilidades e restricções actuais, mas terá que ter uma visão de futuro, identificando metas a cumprir e enumerando os critérios de sucesso, ou seja, saber onde estamos e para onde devemos ir;

• A estratégia de planeamento pode ser entendida como uma ferramenta útil para pensar, para avaliarmos e questionarmos vários cenários através da fórmula “E se...?” (What if...?);

• O planeamento é indispensável para o estabelecimento e cumprimento esclarecido de prioridades.

A Federação Americana da Aviação divulgou o seguinte esquema cujo encaminhamento considera necessário praticar (FAA, 1999), Figura 6.2.

Figura 6.2 – O processo contínuo de planeamento. Fonte: Adaptado de Strategic Airport Planning, 1999.

Assim, planeamento estratégico é um processo contínuo que se inicia com a identificação da problemática e com o estabelecimento de finalidades e objectivos, aos quais estão associadas políticas e legislação. De seguida deve-se proceder ao levantamento do sistema já existente. Por um lado, não deve esquecer-se a influência que as actividades geradas pelo novo empreendimento têm ao nível da população e do emprego. Por outro, há que conhecer muito bem as falhas do actual sistema, quer das carreiras aéreas, quer do funcionamento das aeronaves, falhas que deverão ser minimizadas ou mesmo eliminadas. Posteriormente far-se-á uma análise de todas as alternativas e classificar-se-á o seu desempenho para se concluir qual é o melhor cenário, procedendo-se por último, à sua implementação.

O planeamento deve iniciar-se com a análise das grandes questões, tendo em linha de conta os constragimentos existentes e todas as implicações operacionais. Um bom exemplo

são as preocupações ainda pertinentes da BEA – U.S. Bureau of Economic Analysis reveladas em 1965 (BEA, 1965).

• É importante garantir a integração das ligações rodoviárias e ferroviários aos aeroportos.

• A ideia de uma grande aeronave VTOL – “Vertical Take Off and landing” faz parte dos projectos do futuro que não deverão ser postos de lado, pois os grandes aeroportos exigem cada vez terrenos mais amplos disponíveis que estão cada vez mais afastados dos centros das cidades.

• Será assim razoável continuar a prever cada vez mais, novos e maiores aeroportos ? Caso se tivesse dado maior atenção a estas grandes questões e se, no passado, as boas regras do planeamento tivessem sido praticadas, muitos erros hoje verificados poderiam ter sido evitados.

A melhor forma de aproximação é entender a estratégia de planeamento como uma oportunidade de perguntar “E se...?”, descobrindo várias hipóteses possíveis e construindo os correspondentes cenários. O confronto da fundamentação de cada um desses cenários permitirá a eliminação dos menos favoráveis para chegar àquele que melhor responde à realidade pretendida.

Há um conceito que deve estar sempre presente na actual sociedade global que é o facto de todos os aeroportos se encontrarem interligados. É por isso fácil compreender que a construção de uma infraestrutura aeroportuária não influencia apenas o país onde é construído, mas também os seus vizinhos ou até os países mais longínquos. Este fenómeno acontece, não só pela concorrência que se gera e que existe entre aeroportos, mas também pela frequência com que se alteram as rotas. Face a estas interacções, a gestão das empresas aeroportuárias e das companhias de aviação, foge em grande parte, ao controlo das suas próprias organizações, com efeitos nos planos de investimento e na qualidade dos serviços. Na realidade a competição existe não só dentro de cada país como também entre países (Caves, 1993).

Qualquer planeamento tem por isso que reconhecer a existência da competição nacional e internacional, para que os cenários elaborados sejam realistas. Os projectistas têm que confrontar a competição interna em diversas áreas, como também, a competição externa

que resulta da interacção entre aeroportos. Acrescenta-se ainda, que a própria competição interna afecta as interacções externas, no que respeita à preferência dos utilizadores perante ofertas diferentes de diferentes companhias aéreas e suas escalas.

A utilização de cenários para simulação do futuro é muito importante, na medida em que os cenários não podem ser constrangidos por concepções do passado, devendo antes incluir potenciais mudanças a nível tecnológico, a nível da gestão, da regulamentação, das políticas e dos factores económicos.

A estratégia a seguir precisa assim de considerar todas as variáveis intervenientes no funcionamento do sistema de aviação. Nelas se inclui naturalmente, a base sobre a qual o sistema opera, ou seja, a sua total dependência das qualidades e facilidades oferecidas pelas infraestruturas aeroportuárias.

Embora cada aeroporto se encontre separado espacialmente dos restantes, eles encontram-se em geral agrupados por jurisdição ou função. O mercado aeroportuário integra o movimento das aeronaves, o controlo do espaço aéreo e a infraestrutura aeroportuária. Estes são os pilares da navegação aérea que tendo como base a ciência e a tecnologia, exigem sem constrangimentos, recursos adequados sempre em evolução.

Devem por isso ser criadas as condições necessárias para que a expansão ou a construção de novos aeroportos, a sua exploração, operação e manutenção, bem como a formação de recursos humanos em todas as modalidades, disponham de todas as condições necessárias à sua eficácia e segurança.

Todos os factores mencionados anteriormente têm uma importância estratégica para o desenvolvimento económico e social. O seu impacte territorial e ambiental é enorme. A sua aceitação por parte das comunidades que serve é indispensável, como mais uma vez será desenvolvido no capítulo seguinte.