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5.1 PLANEJANDO PROJETOS

5.1.2 O planejamento na escola municipal

Na ESCOLA MUNICIPAL a equipe pedagógica demonstrou muito interesse em participar da pesquisa, segundo a coordenadora Nísia, responsável por receber esta pesquisadora. Numa conversa inicial soube-se que ela não tinha muita experiência na elaboração de projetos, mas havia disponibilidade em participar mesmo assim. A professora Myriam apresentou-se de maneira simpática à observação e questionou se haveria intervenção, o que foi negada pela pesquisadora. Porém, ela se mostrou disponível caso necessitasse, pois via nisso uma possibilidade de aprender também, conforme se expressou: “Mulher, era bom que você pudesse intervir. Não coça não, sua língua?” e continuou dizendo “eu gosto demais de trabalhar com projeto. E uma pena que no [...] não trabalha com projetos. A gente fica amarrado em trabalhar com conteúdos fragmentados” (Informação verbal à pesquisadora em março de 2008).

A segunda visita à escola, no início de março de 2008, não marcou o princípio das sessões de observação, pois ainda havia crianças na fase de adaptação. Choros e muitas lágrimas espalhavam-se por todos os lados e espaços da escola. Desse modo, encaminhada a sala de coordenação, foi oportunizada uma breve conversa com a Prof.ª Zila que perguntou qual o objetivo daquela visita. Ao explicar-lhe o motivo, perguntou se não poderia participar, embora estivesse trabalhando com literatura infantil nos anos iniciais, situação que não impedia sua participação e atendia aos critérios já apresentados para definição dos sujeitos.

Tomada a decisão, oportunamente houve a participação no planejamento, o qual foi acompanhado pela Coordenadora Nísia, ocorrendo sempre nas segundas-feiras (Prof. Zila) e nas quartas-feiras (Professora Myriam). No tocante a Professora Zila, respondeu ao roteiro de entrevista e definiu a turma a ser observada. Demonstrou a intenção de elaborar um projeto de leitura para melhorar a aprendizagem, haja vista o índice do IDEB64 desta escola ter sido bastante baixo, o que deixou os professores preocupados.

As professoras Nísia e Zila encaminharam a sistematização de um projeto. Partiram inicialmente do tema definido pela Secretaria Municipal de Educação: LER E

64 IDEB: O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep em 2007 e representa a

iniciativa pioneira de reunir num só indicador dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do Inep a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios. Disponível em:

http://portalideb.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10&Itemid=13 – acesso em 30/12/2008. 23:30h

ESCREVER – objeto de desejo de todas as áreas do conhecimento e definiram como sub-

tema e titulo: VIAJANDO PELO MUNDO DA LEITURA.

Mesmo explicando que a pesquisa não contemplava uma intervenção e que o objetivo era de apenas vê-las atuando, ainda assim pediram para que fosse lido o que haviam escrito, ficando esta atuação restrita a leitura do que haviam produzido, não havendo nenhuma sugestão de acréscimo ou modificação. A partir dessa leitura pôde-se constatar que as professoras seguiram os elementos constituintes do projeto, isto é, começaram pela definição do tema, sua justificativa e o traçado dos objetivos. As tarefas não foram planejadas nesse momento, ficando para o encontro seguinte.

A Coordenadora Nísia apresentou a pesquisadora uma cópia do plano do projeto da Professora Zila (anexo três). Esse processo trouxe à tona um fato: o plano não previa o produto final do trabalho, apenas uma referência ao processo de avaliação. Ao ser questionada, a Coordenadora Nísia disse “não saber da necessidade de um fechamento”. Logo ela anotou umas sugestões para ver com a professora Zila (sessão de observação do planejamento - em março de 2008)

A Professora Myriam veio conversar sobre o trabalho da pesquisa e deu algumas informações importantes, afirmando que trabalhava de forma quase permanente com projetos; que no ano de 2007 desenvolveu vários projetos, e que no ano de 2008 talvez começasse em abril. Nesse primeiro momento – entre fevereiro e março às professoras estavam realizando tarefas para o diagnóstico e a construção do relatório inicial das turmas. Informou ainda que foram elencados alguns conteúdos, pois facilitava a escolha do tema do projeto. Pode-se perceber que o projeto nascia da necessidade de trabalhar os conteúdos definidos pelas professoras.

Através da fala da Professora Zila pôde-se perceber essa realidade, quando afirmou – “Para darmos início ao nosso projeto, que será utilizado em sala sobre Monteiro Lobato, discutimos desde a formação até dar corpo ao mesmo” (sessão de observação do planejamento - em abril de 2008)

Quanto ao projeto, as professoras Myriam e Zila questionaram se era necessário citar os livros e os filmes em DVD que seriam utilizados, e concluíram que sim, para manter o controle do que fosse feito durante o ano. Nesse encontro pôde-se compreender que o projeto elaborado era anual do qual iriam emanar o que estavam denominando de ‘mini-projetos’.

Concluída essa primeira fase da observação do processo de planejamento do projeto, foram iniciadas as sessões nas salas de aula. As primeiras aconteceram na turma da Professora Myriam e, paralelamente, na sala de Zila.

O domínio das etapas de sistematização dos projetos pelas professoras não se confirmou através do processo de planejamento, pois apesar de as identificarem, no momento de elaboração havia uma preocupação demasiada com os conteúdos em detrimento aos objetivos. Essa situação dificultou a elaboração do plano dos projetos embora neste estivessem contemplados os elementos essenciais.

A partir das observações realizadas viu-se que embora o planejamento se desse coletivamente, as professoras conduziam de forma autônoma os planos. Segundo a professora Myriam “Na maioria das vezes prefiro desenvolver sozinha, nada contra o trabalho coletivo, mas tenho mais autonomia e flexibilidade para aplicar e até mesmo de avaliar” (informação verbal à pesquisadora em abril de 2008). Levando em consideração as colocações das professoras e com base nas observações realizadas no planejamento65, pode-se afirmar que

embora a temática fosse a mesma, o percurso metodológico que seguiram teve por base a realidade de cada turma. Assim sendo, cada professora conduziu o processo de realização do projeto de acordo com suas particularidades, utilizando-se de atividades que entendeu melhor se adequarem as suas necessidades. O sentido do trabalho coletivo estava no processo de reflexão e tomada de decisões, mediante a discussão e a busca de soluções no grupo a problemas específicos.

Na verdade, essa condução individual não seria contestada se o projeto fosse da turma (classe), isto é, se ele tivesse se originado de uma situação real dos alunos e planejado em conjunto com a professora, garantindo uma certa autonomia. Porém, não foi esse o caso. O plano foi elaborado pelo grupo de professoras, numa iniciativa coletiva de intervenção e inovação, desse modo pedia que essa acontecesse de forma similar.

5.2 AD-MIRAR É PERCEBER O OUTRO: A OBSERVAÇÃO NOS CANTINHOS