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O planejamento, a organização e o desenvolvimento do conselho de classe

Já analisamos e definimos o conceito de CC. Também já analisamos o processo histórico de implantação do mesmo no Brasil, por meio dos estudos de Rocha (1986) e Dalben (1992). Agora, buscaremos refletir sobre os aspectos que envolvem seu planejamento, organização e desenvolvimento.

Vale relembrar que o CC funciona como uma instância colegiada de avaliação que analisa o desempenho dos alunos e de todo o trabalho pedagógico da escola e delibera ações imprescindíveis para seu bom desenvolvimento (Santos, 2006). Para tanto, a organização do CC deve estar em consonância com os objetivos do PPP da escola. Nessa perspectiva, o PPP enfrenta quatro desafios:

• Garantir a realização do Conselho de Classe como momentos de reflexão sobre a aprendizagem, a atuação docente e o trabalho pedagógico, evitando que essas reuniões se tornem mera formalidade burocrática. O Conselho de Classe é muito mais que burocracia. Nesses momentos é que o professor avalia o seu fazer e o desenvolvimento do aluno como um todo. O conselho contribui para a reorganização do trabalho pedagógico. • Garantir a qualidade do trabalho pedagógico, reorganizando o tempo pedagógico de forma que os professores tenham espaço nas reuniões do Conselho de Classe e nas coordenações pedagógicas para discutir, refletir, estudar e avaliar o fazer pedagógico, analisando os avanços ocorridos na aprendizagem a fim de que o trabalho seja redimensionado. A qualidade do trabalho pedagógico só será garantida se houver possibilidade de intenção de reorganizar o tempo. • Garantir a participação de pais e alunos em momentos escolares anteriormente reservados à participação de professores. O projeto pedagógico construído coletivamente propõe a co - responsabilidade no processo educativo e o rompimento com as estruturas autoritárias de manutenção de poder, por isso necessita garantir a participação de todos os envolvidos em todos os eventos que compõem o trabalho pedagógico, garantindo voz e vez a todos. • Garantir o desenvolvimento da avaliação comprometida com a aprendizagem do aluno e a sua inserção social crítica. Nessa perspectiva, a avaliação é voltada para a formação do aluno capaz de pensar e tomar decisões. (Santos, 2006, p. 49).

Em seus estudos, Guerra (2010) enfoca a linguagem como um importante mediador do diálogo durante a avaliação no CC. Para ela, a prática discursiva entre o coordenador pedagógico e os professores, durante as reflexões críticas nos Conselhos de Classe, permite “observar e perceber os problemas do cotidiano escolar em busca de soluções cabíveis”. (Guerra, 2010, p. 14). Nesse contexto, a colaboração se faz imprescindível, pois permite uma prática e um aprendizado coletivo. Já a capacidade de articulação do coordenador pedagógico permitirá uma “ação construída em conjunto, buscando transformar práticas e negociar ações”. (Guerra, 2010, p. 16).

52 Durante o Conselho de Classe, todos os participantes devem avaliar os alunos de forma colaborativa. Sendo assim, é necessária uma constante negociação de sentidos entre os participantes, para que todos verbalizem suas experiências, concordâncias e discordâncias, relacionando pensamentos e paradigmas aos discursos dos demais e vice-versa. Em tal caminho, percebemos que a colaboração pode gerar conflitos, questionamentos e críticas. Porém, esses aspectos propiciarão o crescimento e a tomada de decisão da parte de todos do grupo. (Guerra, 2010, p. 16).

Através do apoio e da construção mútua entre pares, aprendemos a nos colocar no lugar do outro, a compreender nossas falhas para superá-las, a confiar em nossas práticas positivas, sempre colaborando e nos completando com a troca de experiências e ajudando a minimizar as ansiedades em cima de uma base democrática, com a participação igual de todos. (Guerra, 2010). Nesse sentido, antes das deliberações do CC, precisamos nos concentrar na troca de experiências e na reflexão sobre o que precisa ser mudado, transformado. “É possível pressupor que alterações na organização e no desenvolvimento do Conselho de Classe quanto à intervenção do Coordenador com os Professores podem propiciar transformações qualitativas na interpretação da realidade por parte do corpo docente, conduzindo, assim, transformações na ação”. (Guerra, 2010, p. 23).

Dessa forma, desde o planejamento do CC é necessário o trabalho colaborativo no sentido de construir juntos, de ouvir o outro de priorizar a linguagem como aspecto importante na construção do que se pretende. “A linguagem medeia toda a organização do Conselho, desde avisos orais, bilhetes e cartazes até o próprio momento do Conselho”. (Guerra, 2010, p. 24).

Guerra (2010) elenca alguns fatores que são fundamentais quando analisamos e organizamos o CC: o lugar físico, o tempo de duração e o modo de se expressar. Para ela, “de acordo com os efeitos que o Coordenador Pedagógico pretenda produzir ao ser ouvido pelos Professores, a reflexão percorrerá um caminho participativo ou um caminho mais autoritário”. (Guerra, 2010, p. 26).

Percebemos então, a importância da reflexão sobre a prática pedagógica para identificarmos e interpretarmos os problemas e fazer deliberações durante o desenvolvimento do CC. Para Guerra (2010), existem três vertentes de reflexão nesse processo: a reflexão sobre a ação; a reflexão sobre a ação; e a metarreflexão.

Na primeira vertente, o Professor reflete sobre o que faz na sala durante a aula, ou os Professores e o Coordenador Pedagógico pensam juntos no momento do Conselho de Classe. Na segunda, o Professor reflete sobre o significado que atribui às ações realizadas na sala de aula, ou o Coordenador e os Professores refletem sobre esse ponto coletivamente no Conselho. Na terceira e última, o Professor busca novas formas de pensar e soluções para os problemas de sua sala de aula ou, reunindo com seus pares e o Coordenador, reavalia os problemas do Conselho de Classe também com vistas a novas propostas. (Guerra, 2010, p. 38).

Ainda de acordo com essa autora, é fundamental que o coordenador pedagógico entre em sala para acompanhar de maneira colaborativa a aula do professor, para que

53 possa ajudá-lo a analisar os resultados de sua prática pedagógica no CC. Para ela, “é preocupante o fato de muitos Professores afirmarem que se sentem “solitários” no dia a dia de suas aulas, que não receberam ou receberam pouca orientação durante o bimestre ou trimestre sobre a função e a importância do Conselho de Classe”. (Guerra, 2010, p. 49). Ao planejar o CC, a equipe responsável pela gestão pedagógica da escola precisa colocá-lo no centro de suas reflexões, já que o mesmo está relacionado com todas as atividades da instituição escolar. (Guerra, 2010).

Para que o CC seja planejado com sucesso, Guerra (2010) dá algumas orientações: comunicar a data com antecedência, ressaltando a importância da participação de todos; fixar cartazes nos murais da escola para relembrar a todos; articular o horário para que todos ou a maioria possa participar; planejar o horário de início e término de acordo com a necessidade e importância das reflexões e deliberações para cada turma; estabelecer datas para que os professores entreguem os resultados de desempenho dos alunos para que todos possam analisar durante o CC; desenvolver um modelo de ficha de acompanhamento com dados relevantes para análise no CC, trazendo a visão dos professores e a visão dos alunos; orientar para um preenchimento adequado da ficha para uma real compreensão da prática pedagógica. A utilização dessa ficha “só é justificável quando os dados registrados se transformam em conhecimentos orientadores para o redimensionamento da prática pedagógica, pois, sem esse objetivo, essa será uma atividade puramente burocrática, não surtindo efeito na prática docente”. (Guerra, 2010, p. 61).

Para o desenvolvimento de um CC de sucesso, seria necessário: colocar na lousa algumas informações importantes que guiarão seu desenvolvimento; relembrar os objetivos do CC; distribuir carômetros (fotos dos rostos dos alunos de cada classe) para que todos possam reconhece-los; analisar gráficos do aproveitamento por disciplina; elaborar planilhas do perfil pedagógico e disciplinar das turmas; escolher um responsável pela ata; esclarecer a importância da opinião de todos os participantes; ref letir sobre a prática de sala de aula e dos objetivos educacionais; garantir a real participação de todos os segmentos; procurar referir-se sempre aos critérios de avaliação estabelecidos no PPP e às reflexões advindas de reuniões pedagógicas coletivas; garantir a ética do trabalho em grupo (decisão pela maioria); e elaborar novos encaminhamentos da prática docente e novas orientações para o desenvolvimento do corpo discente. (Guerra, 2010).

É no desenvolvimento do CC que aparecem as inseguranças e as dúvidas e todos os seus integrantes devem agir colaborativamente na construção das soluções, do conhecimento.

O Conselho de Classe é um momento de fundamental importância para a finalização da avaliação dos alunos, pois é nesse espaço que os participantes podem desconstruir e reconstruir sua prática, buscando avaliar os alunos frentes aos objetivos propostos, pautados em critérios estabelecidos em que a linguagem é

54 o instrumento propiciador da compreensão da própria prática, possibilitando uma transformação. . . . os participantes têm oportunidades de levantar hipóteses, posicionando-se, negociando e estabelecendo conclusões. Esse espaço facilita que se percebam como parte de um processo dinâmico de construção coletiva, em que o pensar coletivamente é enfatizado. Ao construir significados coletivamente, mesmo estando definidos durante o Conselho de Classe, os papéis não são rígidos, eo diálogo que permeia toda a atividade cria oportunidades para cada participante apropriar-se do falar, do pensar e do fazer, acrescentando recursos para atividades presentes e futuras. (Guerra, 2010, pp. 75-76).

Se um discurso é permeado pelas ideias dos outros, é preciso ter claro que, ao compreender uma enunciação, ou seja, atribuir-lhe uma significação, o ouvinte já está assumindo uma posição diante desse discurso e tendo uma atitude responsiva ativa – posicionando-se frente ao que ouviu, dizendo se é a favor ou contra, emitindo sua opinião, para depois elaborar uma resposta ou simplesmente continuar o discurso. Essa questão é tão importante que, mesmo se uma pessoa não der resposta alguma sobre algo, ou se não emitir opinião sobre algum fato, já se posiciona. (Guerra, 2010, p. 79).

O registro das reuniões do CC em atas ou em fichas elaboradas para tal finalidade é imprescindível para que os participantes possam ter acesso ao que foi deliberado e colocar em prática. Dessa forma, podemos afirmar que o CC não termina, está sempre sendo desenvolvido antes, durante e após as reuniões específicas para isso.

4.4 A relação entre o conselho de classe, a avaliação institucional e a gestão escolar