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Para Betini (2009), há algum tempo, a avaliação ultrapassou os muros da escola e passou a fazer parte do interesse de toda a sociedade que a utiliza como medição da qualidade de ensino ofertada tanto por escolas públicas, quanto privadas. As avaliações externas, como forma de prestação de contas por parte do Estado, têm grande influência nesse processo.

A avaliação é algo que perpassa todos os momentos de nossas vidas. Desde que acordamos, avaliamos o tempo, a roupa a ser usada, o café e, assim por diante. Sendo assim, ela é inerente ao ser humano e imprescindível para nossa existência, já que dependemos dela para executarmos nossas ações. No entanto, devido a sua complexidade, ainda cometemos erros ao executá-la (Betini, 2009).

Ao analisar um conceito de avaliação definido por Luckesi, Betini (2009) defende que o ato de avaliar possui três variáveis imprescindíveis para o seu sucesso. A primeira, trata- se do julgamento de valor. Ao avaliar, precisamos emitir um juízo, no qual apresentamos muita dificuldade, pois temos medo das consequências. Outra variável é o conjunto dos dados relevantes sobre os quais fazemos nossos julgamentos de valor. Por isso, precisamos ter consciência dos objetivos da escola, de suas metas, de seus planejamentos. Ou seja, não tem como avaliar uma instituição sem conhecer seus objetivos, seus projetos. Nessa variável, segundo esse autor, é muito importante a peridiocidade e o feedback dado a quem é avaliado: “O ato de avaliar se torna mais eficaz e menos traumático quando se dá

31 em períodos regulares sequenciais acompanhados do feedback envolvendo a participação do avaliado.” (Betini, 2009, p. 49). A última variável é a ação que é praticada depois da análise das duas variáveis anteriores. Essa ação pode reforçar os pontos positivos e corrigir os pontos negativos, transformando a realidade avaliada.

Para esse autor, não existe uma receita para a avaliação, já que ela deve partir da realidade de cada escola: “Mudar o status quo exige quebras de paradigmas, transformações históricas e ideológicas. É um processo lento, trabalhoso e que envolve vontade política.” (p. 50). Somente através da prática e do pensamento dialético e histórico, a avaliação deve ser realizada, pois “a prática da avaliação passa também pelo processo de democratização da escola.” (p. 49). A participação de todos os envolvidos “dará à escola legitimação política à sua ação educativa.” (p. 49). Em consonância com tais ideias, Albuquerque3 (2000) afirma que

a avaliação é elemento constitutivo do próprio fenômeno político e histórico – motor de qualquer ação social. Avaliar significa um constante refazer. Ela é histórica enquanto movimento, por isso não é um fim em si mesma, é componente para; é um meio político de se fazer educação e é um instrumento pedagógico de se fazer política. (Albuquerque, 2000, p. 13).

Ainda segundo Albuquerque (2000), a avaliação no meio escolar é um instrumento político-pedagógico que permite a conscientização da realidade escolar, o que “contribuirá para o exercício da crítica institucional de modo responsável e abrirá espaços para a construção coletiva de decisões que façam acontecer a qualidade da educação.” (p. 11).

A avaliação “possibilita desmistificar o conteúdo ideológico subjacente aos planos e diretrizes governamentais; desvela caminhos e clarifica prováveis consequências; permite compreender melhor os próprios mecanismos seletivos da escola pública e abre novas possibilidades para interpretação da organização do trabalho pedagógico escolar.” (Albuquerque, 2000, p. 11-12).

Por sua vez, Freitas, Sordi, Malavasi e Freitas (2011) afirmam a existência de três níveis de avaliação: a avaliação da aprendizagem, a avaliação institucional e a avaliação em larga escala.

De acordo com as Diretrizes de Avaliação da SEEDF (2014), a avaliação da aprendizagem é

a avaliação realizada pelos professores em sala de aula.” (p. 60). A intenção da SEEDF, por meio do Sistema Permanente de Avaliação do DF, é que “a avaliação se constitua em um processo contínuo, participativo e com perspectiva formativa, cuja análise das informações favoreça a reflexão e o redirecionamento do trabalho pedagógico, uma vez que permite ao professor, em tempo hábil, diagnosticar a

3 Escreveu o prefácio do livro “Avaliar com os pés no chão da escola: reconstruindo a prática pedagógica no

ensino fundamental”, organizado por Maria Helena da Costa Carvalho, constante nas referências bibliográficas desse estudo.

32 aprendizagem do estudante e seu ritmo, bem como intervir sobre as dificuldades encontradas. Além disso, pode oportunizar o processo de autonomia e de protagonismo dos estudantes, pois subsidiará a autoavaliação ao tomar consciência do próprio aprendizado. (pp. 60-61).

A avaliação de redes ou em larga escala, no Brasil, é um tipo de avaliação externa elaborada pelo Ministério da Educação (MEC), através do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), tendo como objetivo “diagnosticar a educação básica no país e contribuir para a melhoria de sua qualidade, oferecendo subsídios concretos para a formulação, a reformulação e o monitoramento das políticas públicas voltadas para a educação básica.” (Inep, 2017, p. 7).

Para tanto, o SAEB utiliza dois instrumentos: os testes de desempenho (aplicados aos alunos, contemplando os conhecimentos em Língua Portuguesa e Matemática); e os questionários contextuais (aplicados aos alunos, professores, diretores e aplicadores dos testes, contemplando os aspectos socioeconômicos e de contexto) (Inep, 2017).

Por outro lado, a avaliação institucional, segundo Lück (2012):

Consiste em um processo sistemático, abrangente e contínuo de observação, coleta e análise de dados, interpretação e julgamento da realidade e prática escolares, em seus desdobramentos e interações, tendo por objetivo contribuir para a melhoria contínua do trabalho educacional e seus resultados. . . a avaliação institucional escolar corresponde a um processo que associa ação e reflexão que contribui para o desenvolvimento da competência da escola na realização de seu papel socioeducacional. (Lück, 2012, p. 39-40).

Os três tipos de avaliação (aprendizagem, institucional e externa ou larga escala), em seus diferentes níveis (sala de aula, escola e sistema, respectivamente) devem ser desenvolvidas de forma articulada e de acordo com sua abrangência, ou seja, uma não pode fazer o papel da outra (Freitas, 2007).

Explicar o desempenho de uma escola implica ter alguma familiaridade e proximidade com o seu dia-a-dia, o que não é possível para os sistemas de avaliação em larga escala realizados pela Federação ou pelos estados, distantes da escola. A própria elaboração desses sistemas pode beneficiar-se da proximidade com a rede avaliada, envolvendo-a no planejamento da avaliação. (Freitas, 2007, p. 979).

O tema avaliação tem uma estreita ligação com as políticas públicas educacionais, principalmente nas últimas duas décadas, provocando discussões polêmicas sobre os seus níveis de aplicação, principalmente o de larga escala. No entanto, percebemos que tais discussões se têm atenuado nos últimos anos com um olhar mais construtivo em relação aos seus usos e resultados.

Sem o intuito de desprezar o valor que cada nível de avaliação possui para o desenvolvimento da escola e de seus atores, esse estudo se propôs a analisar, com maior intensidade, o nível da avaliação institucional, por se realizar no coletivo da escola e pela forte ligação que a mesma possui com a prática da gestão escolar democrática e com o CC.

33 A avaliação institucional da escola é um processo que envolve todos os seus atores, com vistas a negociar patamares adequados de aprimoramento, a partir dos problemas concretos vivenciados por ela. Se a avaliação em larga escala é externa, a avaliação institucional é interna à escola e sob seu controle. . . . A avaliação institucional é um processo de apropriação da escola pelos seus atores, não na visão liberal da “responsabilização” pelos resultados da escola como contraponto da desresponsabilização do Estado pela escola, mas no sentido de que seus atores têm um projeto e um compromisso social. . . . O apropriar-se dos problemas da escola inclui um apropriar-se para demandar do Estado as condições necessárias ao funcionamento dela. Mas inclui, igualmente, o compromisso dos que fazem a escola com os resultados dos seus alunos. (Freitas et al., 2011, pp. 35-36).

A avaliação institucional é importante, pois as condições do ambiente escolar interferem diretamente na aprendizagem dos alunos, aprendizagem essa que não depende exclusivamente do aluno ou do professor, mas de uma soma de fatores escolares que devem ser considerados na hora de avaliar (Betini, 2009):

É preciso autocontrole como um olhar contínuo sobre nossas ações, sem, portanto, conotações negativas burocráticas do controle pelo controle. O conceito de auto- regulação contrapõe-se e complementa o sentido positivo do controle, uma vez que busca a automodificação, a transformação da escola. A ação reguladora da escola será exercida pela própria escola por meio de seus múltiplos atores em processos por ela definidos. A visão interna da escola também poderá ser complementada pela visão externa, isto porque a escola não se encerra em si mesma, é uma instituição da sociedade e deve ser avaliada pela sociedade. (Betini, 2009, p. 69).

Ao refletir sobre a avaliação institucional, nos esbarramos no conceito de qualidade que exige a responsabilidade de todos os envolvidos para ser alcançada. Temos, assim, a responsabilidade da escola e a responsabilidade do Estado. Da escola, porque é ela que irá desenvolver as ações necessárias e do Estado, porque é ele que deve garantir os recursos para que essas ações aconteçam. Esse processo bilateral que exige o comprometimento da escola e do Estado é chamado de qualidade negociada. Nessa via de mão dupla, faz-se necessário um pacto entre todos os atores do processo educativo, numa teia em que cada um tem o seu papel e sua responsabilidade. (Freitas et al., 2011).

Se, por um lado, a avaliação externa, como o SAEB, tem o Estado como personagem principal, por outro, a avaliação institucional não possui um protagonista, ou seja, todos os envolvidos na educação escolar são importantes, num processo dialógico, para que ela aconteça: “A qualidade da educação de uma escola não depende apenas da ação de sua direção, mas envolve todos os atores da escola que estão interessados em práticas educativas que elevem o nível de educação dos alunos.” (Betini, 2009, p. 78).

Sendo assim, analisaremos, agora, o que a SEEDF entende por avaliação institucional, por meio de suas atuais diretrizes.