• Nenhum resultado encontrado

Vale ressaltar a importância de a avalição institucional andar de mãos dadas com o PPP da escola, pois é através das deliberações dessa avaliação que se constrói o PPP e, a partir do que foi construído, volta-se à avaliação para verificar o que está dando certo ou não e o que precisa ser melhorado ou modificado.

Por projeto político-pedagógico entendemos uma proposta de trabalho da escola elaborada coletivamente que orienta (e responsabiliza) a ação dos seus atores, bem como formaliza demandas ao poder público e cria as condições de trabalho adequadas na escola. É, portanto, um instrumento vivo e dinâmico que pauta compromissos bilaterais, onde o protagonismo é da escola. (Freitas et al., 2011, p. 40).

35 Nesse contexto, a avaliação institucional é uma ótima ferramenta para o desenvolvimento de uma gestão democrática que prioriza a escuta, o diálogo, a reflexão e a elaboração de procedimentos responsáveis que garantam o desenvolvimento da escola, reconhecendo que os problemas vão além da sala de aula e transbordam os muros da escola:

Assim, pensar em avaliação institucional implica repensar o significado da participação dos diferentes atores na vida e no destino das escolas. Implica recuperar a dimensão coletiva do projeto político-pedagógico e, responsavelmente, refletir sobre suas potencialidades, vulnerabilidades e repercussões em nível de sala de aula, junto aos estudantes. (Freitas et al., 2011, p. 35).

Por seu lado, Lima (2012), ao refletir sobre a avaliação institucional, afirma que ela

pode tirar do nível privado o que precisa ser público, ou seja, a responsabilidade ética em todos os níveis e setores por onde se engendra o processo avaliativo. À medida que se desvelam fragilidades e potencialidades, estas podem convergir para o crescimento da escola pública democrática e de boa qualidade. (Lima, 2012, p. 90). Freitas (2007) também se refere à importância da qualidade negociada quando afirma que é necessário criar uma parceria entre escola e governo, numa relação bilateral de responsabilização, por meio da avaliação institucional que será apresentada pelo PPP da escola.

Ao se referir aos estudos de Bondioli, Freitas (2007) explica que definir qualidade é o mesmo que explicar sua natureza: “seu caráter negociável, participativo, auto-reflexivo, contextual/plural, processual e transformador.” (p. 975) e cita Bondioli (2004):

A qualidade não é um dado de facto, não é um valor absoluto, não é adequação a um padrão ou a normas estabelecidas a priori e do alto. Qualidade é transação, isto é, debate entre indivíduos e grupos que têm um interesse em relação à rede educativa, que têm responsabilidade para com ela, com a qual estão envolvidos de algum modo e que trabalham para explicitar e definir, de modo consensual, valores, objetivos, prioridades, idéias sobre como é a rede (...) e sobre como deveria ou poderia ser. (Bondiolo, 2004 como citado em Freitas, 2007, p. 975).

No entanto, e, para tanto, a escola precisa de autonomia que será conquistada no dia-a-dia desse processo de se auto-conhecer, fundamental para que planeje suas ações e crie seus próprios instrumentos de avaliação. Geralmente, a avaliação externa se impõe quando a escola, por razões internas diversas, não consegue ser eficaz na sua própria avaliação (avalição institucional), permitindo que outras abordagens lhe substituam em detrimento dos reais interesses da escola. Nesse contexto, é imprescindível que ela tome cuidado para que a avaliação externa não ocupe um espaço indevido anulando os efeitos e a importância da avaliação institucional e da aprendizagem. Para isso, ela precisa buscar “uma saída mais racional e menos dolorosa do que esperar que os instrumentos externos ou de larga escala sejam nossos únicos parâmetros e balizadores.” (Lima, 2012, p.91).

36 Nessa construção dos instrumentos de pesquisa, a escola precisa estar ciente de sua missão, de sua intenção, de sua função social, precisa conhecer seus alunos, sua comunidade escolar e local. Por isso, é tão importante que a avaliação institucional esteja conectada com o PPP da escola. Nesse contexto, o feedback das análises feitas pelos diversos segmentos da escola é tão importante quanto a avaliação em si (Freitas, 2011). Sem esse retorno, a avaliação perde sua função: “uma vez que o terreno avaliativo, para ter legitimidade política, precisa ser dialético.” (Lima, 2012, p. 92).

Já vimos que a avaliação institucional pode ser vista como um instrumento de alcance da qualidade escolar, por meio da ação-reflexão-ação de toda a prática escolar. Para Betini (2009):

a avaliação institucional só fará sentido quando estiver intimamente ligada ao projeto político-pedagógico da escola, como guia das ações educativas da escola; à direção em suas dimensões pedagógica e administrativa, como suporte às ações educativas da escola; ao trabalho coletivo ou à qualidade negociada, entendida como uma construção coletiva e contínua. (Betini, 2009, p. 75).

Para tanto, ela deve estar em consonância com o PPP da escola, pois, ao avaliar, a escola estará expressando questões epistemológicas, metodológicas e políticas (Albuquerque, 2000). Essas ideias também foram corroboradas por Sias (2018), que afirma que, ao ser inserida no PPP, a avaliação institucional precisa ter seus objetivos bem definidos para que obtenha resultados favoráveis:

A peça chave na questão da avaliação institucional é o projeto político-pedagógico da escola e suas relações com a gestão escolar. Tem como pressuposto a gestão escolar democrática e participativa e articula seus compromissos em torno à construção do projeto pedagógico da escola. Neste sentido, parte de uma concepção de educação [grifo do autor] aceita pelo coletivo e que deve unir as ações deste na escola. Inclui não só a comunidade interna da escola, mas envolve relações com a família e com a comunidade externa mais ampla. A escola não pode pensar a si mesma desconhecendo suas relações com seu entorno. (Feitas et al., 2004, p. 68). Nesse contexto, a participação de toda a comunidade escolar é fundamental para que todas os setores escolares sejam avaliados e, consequentemente, melhorados.

Ao elaborar o PPP e ao avaliar a instituição, a escola projeta suas intencionalidades, aquilo que deseja e pretende realizar tendo como intenção atender demandas e ir em busca de uma escola melhor para a sua comunidade, levando-a a um processo de autonomia das ações no cotidiano escolar (Sias, 2018, p. 6).

E completa:

Essa aceitação só acontecerá se a instituição escolar mobilizar os sujeitos para a efetiva participação. Para tanto, devem ser realizadas reuniões periódicas apresentando à comunidade escolar a importância da avaliação institucional, o porquê de sua realização, seus objetivos, propostas, procedimentos, assim como as ações a serem realizadas após a avaliação, de forma que a comunidade compreenda a necessidade e a importância desta ação para a instituição escolar (Sias, 2018, p. 7).

37 A avaliação institucional implica mudança, ou seja, todos os envolvidos no processo precisam estar abertos a isso, precisam “querer mudar” e estar conscientes de que tal mudança é um processo lento, contínuo e longo (Sias, 2018).

A avaliação institucional permite que a escola se aproprie de seus problemas e de suas necessidades, que podem ser relatados no PPP, com estruturação de melhorias, cobrando condições do Estado e assumindo compromissos com melhorias dos resultados.

Dessa forma, a avaliação institucional abrange igualmente a avaliação da aprendizagem, que também deve ser discutida pelo coletivo da escola e estar em seu PPP, e a avaliação externa, que deve ser aproveitada em suas reflexões e discussões:

A avaliação em larga escala de redes de ensino precisa ser articulada com a avaliação institucional e de sala de aula. Nossa opinião é que a avaliação de sistema é um instrumento importante para monitoramento das políticas públicas e seus resultados devem ser encaminhados, como subsídio, à escola para que, dentro de um processo de avaliação institucional, ela possa usar estes dados, validá-los e encontrar formas de melhoria. A avaliação institucional fará a mediação e dará, então, subsídios para a avaliação de sala de aula, conduzida pelo professor. Entretanto, sem criar este mecanismo de mediação, o simples envio ou a disponibilização de dados em um site ou relatório não encontrará um mecanismo seguro de reflexão sobre estes. Os dados podem até ter legitimidade técnica, mas lhes faltará legitimidade política. (Freitas, 2007, pp. 978-979).

Por fim, ressaltamos que não adianta construir um PPP para ficar numa gaveta ou apenas para cumprir uma exigência do sistema. É necessário administrá-lo, consultá-lo e adequá-lo às necessidades da escola, por meio da avaliação institucional. Para se chegar a algum lugar, esse projeto deve sair da gaveta e sua construção e acompanhamento devem estar “alicerçados em uma administração participativa, coletiva, em que as decisões sejam democratizadas e que o seu processo de avaliação e revisão seja uma prática coletiva constante, como oportunidade de reflexão para mudanças de direção e reavaliações de caminhos.” (Betini, 2009, p. 134).